No sábado choveu muito, esteve uma ventania terrível. Numa rua por onde passei não havia ninguém mas vi seis chapéus de chuva partidos, perdidos.
As ruas levavam água como rios apressados.
Em casa, foi da janela que olhei o rio. Ia verde quase chumbo, bravio, o vento altera-lhe os humores, a chuva tolda-lhe os sentidos. Não havia veleiros, os navegadores recolhidos. Nem vi gaivotas, certamente todas em terra.
Em casa, foi da janela que olhei o rio. Ia verde quase chumbo, bravio, o vento altera-lhe os humores, a chuva tolda-lhe os sentidos. Não havia veleiros, os navegadores recolhidos. Nem vi gaivotas, certamente todas em terra.
Mas este domingo o tempo amainou, o céu limpou, os veleiros saíram. E eu, em terra, vendo-os elegantes, deslizando sobre um caudal aquietado, o azul a voltar às faces do rio.
Nunca andei num veleiro. Não deve ser fácil. Prefiro vê-los no bailado sobre as águas, nos braços do vento, tombando, volteando -- eu de fora, apenas vendo.
Tenho um amigo que tem um veleiro grande. Faz viagens longas, arrisca-se muito, viagens que duram semanas. Cada vez tem mais dificuldade em arranjar amigos que queiram partilhar os riscos que ele gosta de correr. O mar alto, os lugares complicados atraem-no. Por vezes, tem que contratar pessoal para trazer o barco de volta porque os amigos não aguentam, regressam de avião. Quando sabem que ele está a engendrar uma viagem, fazem-se escondidos, evitam atender-lhe o telefone. É ele que o relata, divertido. Sempre o conheci assim, destemido. Agora já anda quase pelos setenta anos e ainda não ganhou medo.
Mas aqui, no Tejo, o mar mesmo quando esverdece e embravece, é pacífico, bravurinha boba, mero arrepio da pele do rio.
Neste domingo, voltaram alguns veleiros mas não as gaivotas, dessas nem sinal, nem um grito, nem um voo. Talvez soubessem que o mau tempo estava para voltar, que não valia a pena o regresso por tão pouco. Não sei. Nem uma.
Pessoas também poucas. Mas os gatos disseram presente, como poderão ver mais abaixo. Um belo domingo para se passear. Vamos lá.
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Portanto, queiram -- se estiverem para isso, claro -- acompanhar-me na minha jornada domingueira, e desçam, para já, até ao capítulo seguinte.
Linda jornada.
ResponderEliminarA cor do Tejo ...no final do verão passado vi as cores da água do Tejo como nunca tinha visto..em setembro o tom azul deixava qualquer um deslumbrado...este ano já por duas vezes que quase tomou esse azul...existem pelo menos três aproximações ao rio que me encantam....a saída da CRIL em Algés....a ponte Vasco da Gama..descer do Camões em direção ao rio...coisas.
Partilho. Adoro descer ao Tejo vinda Príncipe Real abaixo, Camões, Rua do Alecrim. E gosto imenso da Vasco da Gama, subtil, curvilínea. Mas também gosto muito de passar a 25 de Abril, alta, elegante, Lisboa e o Ginjal, um de cada lado. E gosto de ver o mar de todo o lado, na aproximação da CRIL, ainda rio, da marginal ao longo das praias, quase oceano.
ResponderEliminarE gosto de todas as suas cores mas, de facto, quando está azul vibrante, é lindo, irradia luz.
Direi mais: cenas.