sexta-feira, março 18, 2016

Sapatos encarnados


Agora que já falei da Dilma, do Lula, da Suzane e da Sandra, dita Sandrão e de outros perigosos amores, permitam que fale de sapatos vermelhos.


Num comentário a um post mais abaixo, o Leitor P. Rufino escreveu:  Sapatos de salto alto vermelhos...Nunca! Não entendo como uma mulher se pode julgar elegante usando-os. E eu, que tantas vezes concordo com ele, desta vez não posso estar em mais completo desacordo.

Mas, se me quiserem acompanhar, vamos em passo de dança: tango, mais propriamente. Te he visto pasar (com sapatos vermelhos, por supuesto):


Quando eu era pequena, coisa de três ou quatro anos, comecei a querer ter voto na matéria no que a escolha de sapatos se referia. E a opção era sempre a mesma: sapatos encarnados. Na altura, a oferta era escassa: sandália inglesa ou sapatinhos fechados e, claro, tudo nas cores naturais das peles ou, quanto muito, pretos ou azuis escuros. Nada às cores. A minha mãe conta que corria todas as sapatarias da cidade à procura de sapatinhos encarnados. De todos os outros eu não gostava, não queria. E, muitas vezes, depois de muito calcorrear as ruas comigo pela mão, acabava por descobri-los. 
Até estou aqui tentada a mostrar: estou sentada numa banqueta de fotógrafo, vestido com golinha de renda, cabelos levemente ondulados, pelos ombros, franja cobrindo a testa, mãos juntas no regaço, sorrindo (estou sempre a rir nas fotografias), os pés cruzados em baixo, meias curtas também de rendinha e, claro, sapatinhos encarnados, de camurça.
Depois disso, muitos outros.

Aliás, tirando talvez quando era adolescente, tenho ideia de que sempre tive sapatos encarnados. Geralmente de camurça.

Presentemente tenho três pares de sapatos encarnados. Não é que os tenha comprado ao mesmo tempo: não, claro. Só que, como estrago pouco os sapatos, vão-se juntando pares de várias gerações.

Tenho uns bem altos em encarnado vivo; outros com salto alto mas não tanto como os primeiros e numa camurça já vintage, com um franzido em cima que, depois, quase acaba numa espécie de pequeno folho no peito do pé, num encarnado que é mais bordeaux do que vermelho; e uns terceiros em camurça num encarnado vivo, debruados com um filet brilhante preto; esses têm uma sola preta de cunha de tamanho intermédio e prestam-se a um vestuário mais prático.

Claro que o uso de sapatos encarnados requer atenção ao vestuário e aos adereços. Se não houver cuidado, facilmente a mulher, ao andar na rua, poderá dar a ideia de que anda a fazer o trottoir.

Exemplifico com o que, por vezes, uso.

Por exemplo, posso usar calças justas de seda preta, uma blusa de decote em bico, branca com riscas fininhas verticais pretas, e conjugar esse conjunto com os sapatos altos encarnados. Usarei, então, um baton encarnado e um anel com pedra da mesma cor. 

Ou posso usar uma saia e meias pretas, uma blusa de seda bordeaux com bolinhas pretas e, aí, conjugar com os sapatos vintage no mesmo tom.

Ou, num registo mais informal, usar umas calças direitas, justas, pretas, com uma blusa preta com decote, um colar comprido encarnado, uns brincos da mesma cor, e conjugar com os sapatos encarnados debruados a preto, de cunha. Ou calças brancas, blusa branca com bolinhas encarnadas, brincos de bolinha pequena encarnada, e esses mesmos sapatos

E não acho que qualquer dos conjuntos fique excessivo ou deselegante. Aliás, gosto mesmo.

Não uso com muita frequência pois coisas mais vibrantes (digamos assim), para que não se tornem vulgares, não apenas têm que ser conjugadas com alguma sobriedade como a sua utilização não deve ser banalizada.

E embora no meu local de trabalho, que me lembre, nunca tenha visto nenhuma das outras mulheres com sapatos altos encarnados, não me sinto exótica ou despropositada quando os uso. Ou, se os outros acham isso, eu não dou por tal. E não dou porque, a bem da verdade, me estou nas tintas para o que pensem ou deixem de achar. Quando me arranjo, faço-o para ficar a meu gosto. E só não digo que isto dos sapatos encarnados é coisa que, provavelmente, está no meu DNA porque dizer isso, sim, é uma daquelas coisas que, de tanto ser dita, já se vulgarizou.

Mas, diga-se em abono da verdade que, porque gosto de andar com sapatos de cor, identicamente tenho sapatos amarelos, azuis claros, cor-de-rosa, verde seco, brancos, etc -- só que estes não existem em trilogia, tenho apenas um par de cada. Mas, claro, com nenhuns me agrada tanto como sobre os belos sapatos altos encarnados.
(E que ninguém, se faz favor, me deixe cá comentários a dizer que eu escrever isto é coisa de nova-rica porque não é, é é de coquette ou girly, o que quiserem).
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E, se ainda não estiveram por lá, queiram, por favor, descer até ao forrobodó do Brasil. Casos de polícia, de justiça, de amores e desamores: há de tudo.

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8 comentários:

  1. Nem todas os poderão usar, é certo UJM. Você pode! :-)

    L.

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  2. Também gosto de um sapatinho vermelho de boa qualidade. (aqui sim...a boa qualidade tira a vulgaridade)

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  3. Boa noite UJM
    Estou a imaginar a minha caríssima UJM ( actuamente eu imagino-a assim tipo Anne Bancroft ) com uns sapatos Walter Steiger vermelhos, em camurça e sem aquela horrível sola compensada à frente.
    Uma óptima noite é o que lhe desejo
    HB

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  4. Olá Humberto, boa noite!

    Não, acho que não, tenho ideia que ela geralmente tinha um semblante carregado, parecia sempre um bocado amarga. Tenho essa impressão. Por isso, acho que não. Sou mais descontraída, nem tenho um ar tão bem arranjado. Acho eu. Não me ocorreria identificar-me com ela.

    E tem razão: aquelas sapatolas compensadonas não, não gosto.

    E obrigada porque já me fez rir.

    Uma boa noite para si, Humberto!

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  5. Olá UJM!
    Bom, já me ri consigo! Cá li alguns exemplos de situações que descreveu dos tais sapatos vermelhos que refere. Vamos lá ver, se todo o conjunto, vestido, etc, for dessa cor, os sapatos condizem e a escolha aceita-se. Concedo! De contrário, já não gosto de ver. Acabam por ser demasiado – digamos - “chamativos” e eu tenho alguma inclinação para não gostar, genericamente falando, desse tipo de atitudes, de quem quer que seja e no que quer que seja, embora aceite que há excepções. Depende das situações em que se enquadram. No caso desses tais sapatos, poucas mulheres os podem/devem poder usar, sobressaindo elegantes. Depende de muita coisa: do peso, do corpo, da altura, talvez até da cor do cabelo e, naturalmente, da idade de cada uma. Da mesma forma que há roupa que não se coaduna com certas idades, o mesmo se aplica relativamente a um par de sapatos vermelhos de salto alto. Continuo a preferir ver um par de sapatos de salto alto pretos numa mulher do que vermelhos. É certo que tenho tido azar, pois do que vi até hoje, das poucas experiências que me foi dado observar, de mulheres calçadas de sapatos vermelhos de salto alto, não combinavam com elas (pelas razões atrás mencionadas) e deste modo não gostei. Mas, lá está, consigo ficam seguramente bem. Vamos imaginá-la: cinquenta e coisa anos (mas se tiver 60, 70, ou 80 é o mesmo - um mulher, quando é interessante, física e intelectualmente, não tem idade), uma mulher muito elegante, cabelos castanhos, cerca de um metro e setenta, (posso dizer, sem ousar ofender, atraente?), muito feminina, executiva, informal ao fim-de-semana (e em casa à noite), com um gosto muito particular e cuidadoso na forma de se arranjar, com personalidade, culta, independente, progressista, activa, romântica e com gosto para se vestir. Bom, então, com um vestido vermelho, os sapatos vermelhos de salto alto ficam-lhe bem. Não tenho dúvidas.
    Tenha uma boa noite! Amanhã irei desfrutar o Dia do Pai, que meus filhos têm sempre a gentileza de nunca se esquecerem. É mais importante do que essa história dos aniversários. Para mim, pelo menos.
    P.Rufino

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  6. Olá P. Rufino,

    Não exactamente como refere. Se alguns aspectos são subjectivos, outros não. Mas a sua descrição é generosa e, se eu fosse assim, seria um espanto. Mas não sou um espanto, sou uma mulher normalíssima.

    Um bom fim de semana e um bom Dia do Pai, um dia muito feliz.

    E obrigada pela sua simpática imaginação!

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  7. De tudo o que escreveu só não concordo com as bolinhas nas blusas! E viva a cor, na roupa, na casa, no carro, em todo o lado!!! Rita

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  8. Olá Rita-boa-Onda,

    Corrijo. O que a minha blusa bordeaux tem não são bem bolinhas, tem umas pintinhas pequeninas ovaladas em preto, muito discretas. É bonita, acredite.

    E estou consigo: viva a cor e a alegria!

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