Acho que tem dado para perceber: paciência para política nacional ou internacional igual a zero. Por muito que sinta, ao de leve, bem lá ao fundo, um certo sentimento de culpa por me apetecer continuar alheada de tudo o que mantém acesa a chama da comunicação social, a verdade é que não há nada que pegue nas minhas mãos e as ponha a escrever aqui. Talvez seja uma certa necessidade de futilidade como forma de descanso, ou talvez seja a minha cabeça que anda cansada. Não sei.
É como se, de tudo o que se passa, só um tema me convocasse mas que, a ele, de propósito eu fizesse orelhas moucas.
Latente, há um tema que me preocupa em permanência e que se sobrepõe a todos os outros: o dos refugiados. Mas não quero continuar a falar nele, acho que as palavras já estão gastas.
Penso que o que se está a passar é de consequências duradouras e imprevisíveis pelo que há que olhar mais longe e não nos determos exclusivamente nos acontecimentos individuais [que, quando alguma coisa mais escandalosa acontece (como, por exemplo, uma criança dar à costa), lá marcam a actualidade]. Mas a verdade é que, independentemente de preocupações a médio ou longo prazo, há o drama humano actual. Países em guerra sujeitos a toda a espécie de vandalismos e atrocidades -- e, consequentemente, gente atormentada, sem trabalho, sem casa, sem ter o que comer, que se põe a caminho com os filhos nos braços, atravessando todas as fronteiras: as do mar revolto, as de muros com arame farpado, as do medo. Depois, quando alcançam terra firme e chegam onde pensavam que seria um céu, encontram tendas, frio, falta de condições, desconfiança, hostilidade. Isto preocupa-me em permanência; e dói-me como devem doer as dores tristes de um doente desenganado.
Mas penso também nas populações que acolhem esta gente que vem de outros mundos, de outras civilizações. Medo também. Razoável, compreensível esse medo. Perigoso esse medo.
E quando se poderia pensar que, por uma vez, alguém iria agir pondo as pessoas em primeiro lugar, não senhor: jogam-se os interesses das armas, do petróleo, equacionam-se os equilíbrios geoestratégicos, empurra-se com a barriga, assobia-se para o lado, fazem-se contas. O costume. A guerra continua, o terrorismo continua, os traficantes de refugiados continuam, as mortes no mar continuam. E a comunicação social relega o tema para um canto qualquer do meio da peça jornalística porque 'já não há pachorra' para os refugiados.
E eu, que já tantas vezes aqui falei nisto, penso que vocês, meus Caros Leitores, também já não devem ter paciência para esta minha choradeira, quase me sinto a chover no molhado, a patinar em seco -- e, de facto, a ser inconsequente.
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Portanto, mudemos de assunto. Já não é época de Carnaval pelo que não será a melhor altura para nos divertirmos por essas bandas mas, de qualquer maneira, vamos lá. Para o Brasil, pois claro. E, com vossa licença, vamos com a Ópera do Malandro.
Geni e o Zepelim
Geni e o Zepelim
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A assassina mais famosa do Brasil vai passar a Páscoa fora da prisão
Suzane (Von Richthofen), hoje com 32 anos, é a criminosa mais mediática do Brasil por ter participado na morte dos pais em 2002, aos 18 anos.
A feliz família Von Richthofen |
Em 1999, a abastada família Von Richthofen, constituída por Manfred, engenheiro alemão imigrado no Brasil, Marísia, bem-sucedida psiquiatra descendente de portugueses e libaneses, e os filhos Suzane, então com 15 anos, e Andreas, de 12, foi passear ao Ibirapuera, maior zona verde de São Paulo.
Lá, Andreas encantou-se com as manobras de Daniel Cravinhos, 17 anos, um campeão de aeromodelismo. Mais tarde, com Andreas como cupido, Daniel e a bela Suzane iniciaram namoro.(...)
Lá, Andreas encantou-se com as manobras de Daniel Cravinhos, 17 anos, um campeão de aeromodelismo. Mais tarde, com Andreas como cupido, Daniel e a bela Suzane iniciaram namoro.(...)
Após dias de planeamento, a 31 de outubro de 2002, Suzane e Daniel convidaram Cristian [irmão de Daniel] a participar do assassínio dos Von Richthofen, simulando um roubo seguido de morte e usando o ingénuo Andreas, à espera dos três num cibercafé, como álibi. Munidos de barras de ferro, Daniel e Cristian mataram Manfred e Marísia enquanto estes dormiam. Suzane esperou noutra divisão da mansão.(...)
Quatro anos depois, os namorados foram condenados a 39 anos e meio de prisão e Cristian a 38 e meio. Andreas, hoje um químico conceituado, jamais perdoou a irmã.
Em 2014, Suzane foi notícia na prisão ao tornar-se o motivo da separação de Sandra, conhecida como Sandrão, que havia sequestrado e morto um adolescente, e Elise, que matara e esquartejara o marido infiel.
O casal Suzanne e Sandrão |
A sequestradora largou a esquartejadora e casou-se com a parricida na cadeia do Tremembé.(...)
Nesta Páscoa, pela primeira vez desde 2006, Suzane foi autorizada a sair da prisão mas a polícia não divulga para casa de quem ela vai. Como em tudo na vida de Suzane, a imprensa estará atenta.
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[Sobre o mediático Caso Richthofen, acompanhado a par e passo pelos media brasileiros, há informação a pontapé na internet e, digo eu, não tarda teremos romances e filmes sobre tão inacreditáveis ficções]
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Entretanto, Daniel Cravinhos, o ex de Suzane, preso na penitenciária Doutor José Augusto Salgado, a P2 de Tremembé, em 2012 conheceu a biomédica Alyne da Silva Bento, filha de uma agente penitenciária, que tinha ido ao presídio visitar o irmão, preso por suposto roubo, e o coup de foudre aconteceu. Passado pouco tempo casavam numa cerimónia íntima para 50 pessoas. A noiva chegou ao local por volta das 14h, vestida de branco com um véu preso a uma tiara. "Esse é o momento mais feliz da minha vida. Te amo", declarou Cravinhos do altar.
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E, enquanto Suzane vai passar a Páscoa a casa, provavelmente deixando Sandrão cheio de saudades, e enquanto Daniel e Alyne continuam in love, Lula e Dilma, sua querida, continuam a fazer queimadas no Planalto, ameaçando fazer o Brasil pegar fogo e, tanto fazem, que um dia ainda acabam a fazer companhia a Suzane, Daniel, Sandrão e outros personagens de novela da Globo.
Lê-se, ouve-se e vê-se e não se acredita. Não sei se Lula é culpado ou inocente e gostava que fosse inocente mas sei que, face a todas as dúvidas e indícios, a última coisa que ele devia fazer seria usar o Estado como escudo protector. Ao aceitar ser ministro para escapar ao cerco, Lula mancha irremediavelmente o seu percurso de muitos anos de luta e resistência. A Justiça pode estar a abusar, e parece óbvio que está, e mil interesses podem estar a movimentar-se na retaguarda, mas há que saber manter distanciamento e elevação -- e não vejo isso no comportamento de Lula. Custa-me até dizer isso, mas não estou a gostar do que estou a ver.
E Dilma, ao agir da mesma forma surreal, está a portar-se como uma vulgar cacique, daquelas criaturas que, desesperadamente, desrespeitam a dignidade do cargo que ocupam - e quase parece querer vazar os olhos, cegar para não ver.
Se ela, perante tudo o que se passa no palácio e nas ruas, renunciasse ao cargo e provocasse novas eleições agiria com o desprendimento que se exige às pessoas que estão na vida pública, agiria com decência e transparência. Assim, exibe ao mundo um comportamento que acho que envergonha os que acreditaram neles.
Não sei o que vai acontecer no Brasil mas temo que não seja coisa boa. Nem sei se há alternativas estáveis e robustas que possam tomar as rédeas daquele descalabro quando Dilma for ao chão - porque, pelo rumo que as coisas estão a tomar, vai.
A corrupção, a justiça pouco transparente, os crimes, o vale-tudo, as paixões sem freio, o mediatismo, a indignidade banalizada -- tudo é de tal forma excessivo que, sendo real, mais parece uma telenovela caricatural, daquelas em que aparece uma bicha maluca, uma lésbica sapatona, uma mulher do povo, brega mas armada em chique, um sinhôzinho Malta, assassínios gratuitos, invejas, denúncias, advogados e juízes, polícias e ladrões, todos a namorarem com todos, tudo doido, tudo a improvisar a toda a hora.
Mas não é uma novela, é tudo real. Uma loucura o que se está a passar num país como o Brasil, uma dor de alma, uma tragédia, uma ópera bufa, um carnaval, uma cegada, uma vergonha, um susto, uma cobóiada.
Entretanto, por lá, contra todas as previsões, a Bolsa disparou. Dizem que a explicação é simples: os investidores esfregam as mãos de contentes perante a expectativa de que o impeachment aconteça. Portanto, quanto daquilo a que se assiste é fabricado também não sei dizer. O que sei é que os mercados não dormem.
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Entretanto, por lá, contra todas as previsões, a Bolsa disparou. Dizem que a explicação é simples: os investidores esfregam as mãos de contentes perante a expectativa de que o impeachment aconteça. Portanto, quanto daquilo a que se assiste é fabricado também não sei dizer. O que sei é que os mercados não dormem.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, disparou nesta quinta-feira (17) e fechou em alta de 6,6%, a 50.913,79 pontos. Essa foi a maior alta percentual diária da Bovespa desde 2 de janeiro de 2009, quando havia subido 7,17%.
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E já agora, para vermos como, perante a incrível realidade actual, são inocentes e credíveis as personagens da Globo, aqui ficam Porcina e Sinhôzinho na novela Roque Santeiro.
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E já cá venho para falar de sapatos encarnados.
Até já.
E já cá venho para falar de sapatos encarnados.
Até já.
Vem a senhora com este arrasoado todo para fingir não tomar partido, à boa maneira do jornalismo à portuguesa, enquanto vai induzindo a opinião de culpabilidades do par Dilma-Lula.
ResponderEliminarE remata que a bolsa, perante o colapso do governo actual em benefício da perspectiva imediata da direita, à passos lá do Brasil, voltar ao pote grande, sobe astronomicamente.
E desse sinal, tão elucidativo, nem uma ideiazinha consegue retirar do que verdadeiramente se passa?
E outros sinais como os apelos ao golpe militar ou pinochetada não lhe dizem nada? Nem sabe de sinais como foram por cá os casos "casa pia" ou "Sócrates" também comandados e exercidos por magistrados que, tal como os de lá, acham que políticos eleitos e legítimos não os podem incomodar nem beliscar mas eles podem incomodar ao ponto de mandar prender políticos sem provas?
Vá lá, não se torne em um "manso jeito".
Não tenho procuração da Bloguer (digo da Bloguer porque não a conheço mas admito que seja uma mulher) para a vir aqui defender, mas como leitor diário do "umjeitomanso" não posso deixar de dizer que o José Neves está a ser injusto no que escreve no seu comentário. Se tivesse seguido os seus textos diários não seria tão assertivo nas afirmações que faz.
ResponderEliminarOlá UJM. Como quase toda a gente que assiste à distância ao Carnaval, não posso através de notícias de televisão perceber o ambiente que reina no Brasil nesses dias. O único que sei, porque fui lá antes e depois de Lula-Dilma, é que os pobres estavam a viver melhor. A última vez que lá fui não havia tanta gente a trabalhar em lugares de subserviência, mais pessoas tinham casa própria, carro ou mota, o comércio estava mais atractivo e frequentado. Até o facto do sistema judicial estar a funcionar para combater a corrupção é um acontecimento que eu não esperaria há uns anos atrás. Não sei se a melhora foi devida ao governo ou ao dinheiro do petróleo, mas temo que com este Carnaval fiquem sem ambos. É uma pena. Rita
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