terça-feira, outubro 06, 2015

"A CDU subiu em votos, em % e em mandatos. O que seria se não tivesse sido um desastre" - escreve um Leitor num comentário. Eu respondo.


Vamos com música mas, a sério, apesar da conversa ser um bocado da pesada, levem o vídeo para a brincadeira, sim? Já sabem que gosto de provocar mas é mesmo só para nos rirmos - por favor, que ninguém se sinta ofendido. Quem não tenha um sentido de humor muito forte, não ponha isto a tocar, está bem?

As imagens alinham pelo mesmo comprimento de onda, uns quantos comunas (estou a brincar!) numa onda hipster - para o post ficar mais cool.

Ora, portanto, avisos feitos, vamos lá.




Conforme escrevi ontem à noite, acho que o PCP foi um dos derrotados das eleições. Subiu um deputado, teve mais alguns votos, subiu qualquer coisa na percentagem. É verdade. Mas foi pouco. Tão pouco que, a bem de uma correcta interpretação dos factos, os resultados devem ser encarados como uma derrota. Vejamos:


1. Se há reforma, talvez a única, que este desgoverno levou a cabo foi (mais) uma reforma laboral. A sua sanha persecutória em relação aos trabalhadores não conheceu limites. Quem os ouvisse falar, diria que o mal de Portugal estava nos direitos dos trabalhadores ou nos seus salários. Vai daí, atacaram à bruta. 

Eu, que sempre trabalhei (e ó senhores, há tanto tempo que já trabalho...) em empresas em que se procedeu a reestruturações implicando redução de efectivos, sei bem como nunca, antes, os direitos dos trabalhadores foram impedimento de modernização do tecido empresarial nenhum ou do que quer que fosse. Não era preciso ter cortado mais direitos. Se a economia estava (e está) anémica e se o investimento estava (e está) paralisado, tal nunca se deveu a qualquer privilégio por parte dos trabalhadores. Coitados dos trabalhadores. Foi uma coisa quase desumana, a forma como foram atacados os seus pobres direitos. Para além do mais, os trabalhadores portugueses, de forma geral, sempre ganharam menos que os seus congéneres europeus. E o salário mínimo em Portugal é insultuosamente baixo.

Portanto, eleger os trabalhadores como alvo a abater, teria dado aos sindicatos motivo mais que legítimo de capitalização de descontentamento. Ora, a CGTP parece que se atrofiou ao longo do mandato do PSD+CDS. 


2. Se há sindicato conotado com a CGTP, e logo com o PCP, é o dos Professores. Ora, se há ministério que tenha desencadeado uma ofensiva também quase insultuosa contra os professores, obrigando-os a testes humilhantes, tratando as escolas como redutos de gente relapsa e mandriona, foi o da Educação. Ora, onde andou o Mário Nogueira ao longo deste nefasto período? A dormir na formatura? Porque é que não encabeçou uma luta que seria mais do que legítima?


3. Se há classe que tenha sido destratada como se de uma chusma de preguiçosos se tratasse foi a dos funcionários públicos -- não apenas os referidos professores mas também os dos tribunais, os das repartições públicas, os das Lojas do Cidadão que fecham uma atrás de outra, etc. E, no entanto, onde andaram os sindicatos afectos à CGTP que, em governos anteriores, por mil vezes menos, não deram tréguas? Onde andou e onde anda a célebre Ana Avoila?


4. Se há grupo de pessoas que foi acossado como se de cães vadios se tratasse foi o dos desempregados: foi-lhes reduzido o subsídio e a sua duração. É como se não trabalhassem porque fossem pouco amigos de trabalhar. Imagino o sofrimento destas pessoas. Parecem esquecidas, como se vivessem num limbo, como se ninguém lhes desse voz. No outro dia contaram-me de um que morreu de repente, estava na sala, apoiava o filho nos estudos, era a sua ocupação. Andava numa aflição, o subsídio de desemprego estava a chegar ao fim, não sabia como iriam viver já que a mulher também está desempregada. O familiar que me contou isto disse-me 'já não vai passar pelo medo que tinha, o de ver o subsídio a chegar ao fim'. Engoli em seco; e não me sai isto da cabeça.


E podia continuara enumerar pontos que revelam como, tais e tão ferozes os atentados por parte do governo, que seria expectável que o PCP subisse de forma notória. Seria expectável que o PCP soubesse capitalizar o descontentamento dos trabalhadores, dos desempregados, dos que empobreceram, dos que viram os filhos partir e que isso se traduzisse num significativo aumento de votos e, logo, de deputados. Seria expectável que se posicionassem, firmemente, como a terceira força política do País.

E, no entanto, não. O que conseguiram a mais é nada quando comparado com o que seria expectável. Foram ultrapassados pelo Bloco de Esquerda, mas ultrapassados por gente que tem uma energia que não se compadece com a atitude conservadora do PCP, com as suas análises auto-indulgentes, com o ódio patológico que têm ao PS. As pessoas não percebem que o grande inimigo do PCP seja o PS e não o PSD e o CDS que, de facto, são o rosto (e os braços) dos 'mercados', dos escritórios de advogados que negoceiam a venda das empresas a quem quer que seja que passe na rua, dos especuladores, das instituições financeiras, etc, etc. 

O PCP tem gente de qualidade, gente honrada, gente dedicada (e se eu sei que tem, podem crer que sei -- tenho-os bem perto de mim). Mas não sabem interpretar o ar do tempo, há ali um feudalismo mental que os mantém agarrados a estigmas ancestrais. A cada nova eleição, se percebe a falta de élan dos comunistas. Há gente nova no PCP, há sim, mas parece que, pouco tempo de lá estarem, já foram triturados pela lógica partidária do PCP: argumentam da mesma maneira, têm os mesmos ódios, envelhecem, perdem o viço. 

E isso traduz-se nas urnas e tem a sua expressão no peso decrescente que têm na Assembleia da República. É pena mas a vida é mesmo assim, é natural que os partidos esvaeçam com o tempo -- a menos que se reinventem. E o PCP ainda não soube reinventar-se.

...

 E é isto, para já é o que me ocorre dizer sobre o tema. Agora vou pregar para outra freguesia.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma terça-feira feliz. 

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1 comentário:

  1. Quanto aos professores. Ninguém consegue unir a classe . Só quando da nomeação dos professores titulares. Aí estiveram os 120 mil (acho) na rua. E a porrada nos professores foi grande com Sócrates e (nem gosto de dizer o nome. ...a ministra). Depois foi só continuar. ..com o que Sócrates criou. E para mudar...hum. UJM manso não se zangue. É sensível e carinhosa. Calma isto mais ano menos ano entra nos eixos.

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