Mais uma vez o Governo falha todas e cada uma das previsões: o PIB, o consumo, o investimento, o défice e a dívida - e todos vamos pagar por isso.
É uma vergonha que, todos os dias, todos os membros do Governo continuem a justificar o continuado desastre desta política com a herança de Sócrates.
A realidade, porém, é que, depois de dois anos e meio de austeridade, depois de 35.000 milhões de euros roubados à economia, depois de 400.000 postos de trabalho destruídos e milhares de empresas levadas à falência, o défice é praticamente igual ao que herdaram e a dívida pública não fez senão aumentar.
Pode ser que um dia eles acabem por ter razão, mas sobre as ruínas de um país devastado, depois de terem desqualificado para sempre o valor do trabalho como factor de produção, depois de terem enviado para a emigração os melhores do país, comprometendo para sempre o seu futuro, depois de terem vendido tudo o que tem valor estratégico e económico, e sepultado qualquer veleidade de modernização na economia, na investigação, na energia. E mantendo, intacto, o mesmo Estado que o país não consegue suportar, porque confundiram o corte de salários e pensões com o corte permanente da despesa do Estado.
Espero bem que o país não se esqueça de ajustar contas com essa gente um dia.
Esses economistas, esses catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes, como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto de sabedoria.
Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo- -lhe que apresentasse como seu programa nada mais do que o programa da troika — o que ele fez, aliviado por não ter de pensar mais no assunto.
Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar.
Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates — o culpado de vinte anos sucessivos de défice das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha, que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika.
Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficava sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no, mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente, queiramos acreditar que não mediram as consequências.
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- O texto acima resulta de excertos da crónica semanal de Miguel Sousa Tavares no Expresso deste sábado, dia 19 de Outubro de 2013, crónica que ele designou por 'Recapitulando'.
- Poderia aqui juntar também excertos do arrependido Daniel Bessa, antes tão apoiante deste Governo e agora já tão desiludido,
Quando tudo isto começou, pensei que subir impostos, baixar salários e reduzir pensões poderiam fazer parte de soluções intercalares, mas não fariam parte da solução definitiva. (...)
- ou excertos da crónica de Nicolau Santos, 'Anatomia de uma ficção desesperada',
A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2014 é uma ficção desesperada, controlada por funcionários estrangeiros de segunda e elaborada por uma ministra com alma de contabilista (sem ofensa para a classe...)
- ou excertos da crónica de um outro arrependido, João Duque, crónica que intitulou 'Vender os anéis e ficar sem os dedos'
Talvez o Governo esteja a prever que o 'prego' seja a saída para muitas famílias, mas recordo que no próximo ano, depois de nos terem esturricado os dedos, o castigo vai continuar, porque é isso que o nosso desequilíbrio impõe na ausência de crescimento económico, embora para o ano já não existam anéis...
- ou poderia referir todos os outros cronistas ou jornalistas que mostram nesta edição do Expresso, como ultimamente em todas, o mais profundo repúdio pela destruição e injustiça irreparável que o desGoverno de Passos Coelho e Paulo Portas está a levar a cabo no País - mas tornaria este post ainda maior, mais aborrecido de ler.
Mas não posso deixar de referir Marcelo Rebelo de Sousa no seu exercício semanal na TVI com Judite de Sousa (hoje mais bonita, melhor encarada e, sobretudo, melhor maquilhada) pelo seu cinismo, pela inutilidade dos seus comentários, tão cheios de artificialismos, de manobras e conselhos e contra conselhos - e tão desligado, de facto, da dura vida real.
Marcelo Rebelo de Sousa, mestre dos jogos de sombras, interpreta tudo à luz do tacticismo e dos jogos partidários, como quando acha inteligente que Cavaco Silva deixe passar o Orçamento e apenas se limite a enviá-lo para fiscalização sucessiva de modo a que os resultados só saiam para o ano que vem, evitando desta forma uma crise política. Para pessoas que se deixam dissolver nos cenários que conjecturam, como é o caso do comentador Marcelo Rebelo de Sousa, a vida real das pessoas que, por cada mês que passa, mais se degrada, nada conta. O que conta para ele são as habilidades palacianas - e isso é muito revoltante. A desgraça e a insegurança das pessoas deveriam merecer-lhe mais respeito.
Passos Coelho pode mandar detonar o país inteiro, Portugal pode estar devastado, numa irreversível derrocada, as pessoas podem estar a asfixiar debaixo das ruínas, que Marcelo Rebelo de Sousa vai continuar a dar as tácticas para que Cavaco Silva se saia bem e para que se consiga evitar que a responsabilidade caia em cima de Passos Coelho. E, por inverosímil que possa parecer, haverá ainda alguns que continuarão a dizer que a culpa foi de Sócrates (quiçá até por ter, um dia, perguntado, a um tal de Luís se, na televisão, ficava melhor de um lado ou de outro).
Mas fazer o quê? O mundo é mesmo assim, cheio de coisas e de gente que não dá para entender. Gente que gosta de ver tudo ao contrário ou que gosta de atirar areia para os olhos dos outros sempre haverá. Nada a fazer.
Arrependido, o Daniel Bessa? Nem pensar! Ainda há poucos dias afirmou que «o corte nas pensões de sobrevivência não ofende o sentido de justiça»!!!
ResponderEliminarQuanto ao Marcelo, continua igualzinho ao que sempre foi. Desde os tempos em que inventava "factos políticos" no Expresso e no Semanário, ao longo destes anos todos não aprendeu nada de nada. Para ele, a política é apenas um jogo tático de manobras e de intrigas, em que cada um procura mostrar que é mais chico-esperto do que os outros.
Não partilho a admiração que a "Um Jeito Manso" manifesta por José Sócrates, mas reconheço que ele soube fazer-se acompanhar por um Mariano Gago, por exemplo, que foi um dos melhores ministros que Portugal teve desde há muitos anos. E não perdoo o verdadeiro assassinato político e de caráter de que Sócrates foi vítima por parte de uma trituradora máquina de propaganda, montada por aqueles que agora estão no poleiro para mal dos nossos pecados.
P.S. - O Daniel Bessa Coelho (é verdade: ele também se chama Coelho) foi meu colega no liceu. Tenho boas recordações dele nesse tempo, em que foi um dos alunos mais brilhantes, apesar de ser bastante modesto. Quem o viu e quem o vê!
este miguel(m pequeno mesmo) , não é o mesmo que meteu o rabo no meio das pernas e se retractou (estes gajos são machos-de trazer pela algibeira)
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