O grande estadista Vai-Estudar-ó-Relvas vai esta terça-feira apresentar aos partidos com assento na Assembleia da República as grandes linhas para o Orçamento para 2013.
Contudo, de véspera, alguma coisa já começou a ser conhecida e, claro, só coisas extraordinárias. Coisas na linha das anteriores: inusitadas, perigosas, sem nexo.
Eu gostava que alguém me viesse dizer que isto é para os apanhados porque, se isso não acontecer, vou ficar a pensar que ou eles estão doidos, eles e quem ainda os apoia, ou, então, que fui eu que endoideci.
Ainda mal as empresas acabaram de pôr em prática os cortes no valor das horas extraordinárias, por via do absurdo 'pacote laboral' - e que corte violento ocorreu...! tão violento que (read my lips) os patrões já estão a compensar os trabalhadores atribuindo-lhes novos susbsídios - e já ouço que o governo quer aplicar novo brutal corte, reduzindo para metade o que já tinha sido tão cortado. Mas o que é isto? Atentar contra a dignidade das pessoas? Porque é que não lhes apontam, antes, uma pistola à cabeça para que trabalhem sem receber um chavo?
Esta gente não pode ser boa da cabeça!
E ouço que se preparam também para mandar para o olho da rua mais cerca de 50.000 funcionários públicos, grande parte das quais professores, mas também das autarquias e empresas municipais. Tudo no mesmo ano. E que, para ajudar à festa, quer prolongar já a idade de reforma no estado para os 65 anos. Medidas recessivas em cima de medidas recessivas. O efeito cumulativo de todas estas medidas é napalm para a economia, uma coisa irreversivelmente arrasadora.
Gaspar, com aquela sua conhecida dificuldade em alinhar dois raciocínios de seguida, diz, em voz mal articulada, desconchavada, que não quer participar num concurso de adjectivos: enorme? colossal? e que no final se verá qual o melhor adjectivo. Pois, não é preciso esperar pelo fim Sr. Gaspar-não-acerta-uma: já chegámos ao fim há muito tempo. O resultado das suas políticas já está à vista: um colossal incumprimento de todas as metas.
Foi aos mercados, diz ele, e que isso é uma vitória. Brilhante. Destrói o país mas vai aos mercados. Olha que bom.
E resta saber a que mercados foi ele. Soam insistentes rumores de que foi a segurança social e bancos portugueses que acorreram. Ah a banca... que bonzinhos e cooperantes que agora estão e que estranhamente caladinhos que andam. Será que se estão já a alinhar para filar a CGD?
Gaspar, com aquela sua conhecida dificuldade em alinhar dois raciocínios de seguida, diz, em voz mal articulada, desconchavada, que não quer participar num concurso de adjectivos: enorme? colossal? e que no final se verá qual o melhor adjectivo. Pois, não é preciso esperar pelo fim Sr. Gaspar-não-acerta-uma: já chegámos ao fim há muito tempo. O resultado das suas políticas já está à vista: um colossal incumprimento de todas as metas.
Foi aos mercados, diz ele, e que isso é uma vitória. Brilhante. Destrói o país mas vai aos mercados. Olha que bom.
E resta saber a que mercados foi ele. Soam insistentes rumores de que foi a segurança social e bancos portugueses que acorreram. Ah a banca... que bonzinhos e cooperantes que agora estão e que estranhamente caladinhos que andam. Será que se estão já a alinhar para filar a CGD?
Mas volto ao (des)governo: ou esta gente é destituída de capacidades cognitivas ou são uns bombistas falhados ou, então, volto a dizer, sou eu que, de repente, fiquei tapada de todo.
Porque, do que vejo o que posso dizer é que não sabem nada de nada - nem sabem fazer operações elementares. Ao atirar tanta gente para o desemprego, estes que agora se anunciam mais todos os das empresas privadas, ao retirar rendimento livre (aos que trabalham ou são donos de uma casa) através do brutal aumento de impostos, estão a retirar liquidez à economia. Ora, desta forma, o buraco vai cavando cada vez mais fundo. Assim é impossível, aritmeticamente impossível pagar a dívida, cumprir o défice.... e sobrevivermos. Impossível.
É que, como a nossa frágil economia assenta sobretudo no consumo interno, estas medidas levam directamente ao colapso.
Diz o inteligente Passos Coelho que estas medidas serão bem sucedidas se os mercados europeus para os quais exportamos não se forem abaixo porque estas medidas assentam no pressuposto que a economia portuguesa vai reanimar através das exportações. Novo disparate.
Para que aquela ideia luminosa fizesse sentido, ter-se-ia que desviar a economia de consumo para uma economia assente na industrialização, com produção de bens transaccionáveis. E isto é, de facto, o que deve ser feito. Só que, valham-me todos os santinhos, não se faz isso em um dou dois ou três anos! Faz-se no mínimo numa década. No mínimo! Pois se andámos durante 30 anos a fechar fábricas, a destruir a frota pesqueira ou a pôr de lado os campos cultiváveis (obrigadinha, Dr. Cavaco Silva...!), como pode alguém querer voltar com as sardinhas ao prato num ano ou em dois? Só gente doida. E, para mais, onde é que está o dinheiro para financiar empresários para, do nada, se porem agora a inventar produtos, inventar fábricas, admitir pessoal, conseguir descobrir como se exporta e quais os mercados adequados?
Com a população a caminhar rapidamente para a miséria, com os desempregados a perderem já o direito ao subsídio de desemprego e já com muitos milhares de famílias sem um cêntimo de rendimento (quase 300.000 pessoas deixaram de receber subsídio de desemprego ou RSI!), como se aguenta um País assim durante uma década?
Ou será que o que estas mentes brilhantes querem é que isto passe a ser coutada de angolanos e colombianos e chineses para virem para cá eles fazer fábricas, contratando a cêntimo uma população esfomeada que, por um prato de lentilhas, se vai predispor a trabalhar seis dias por semana, doze horas por dia, sem direitos, sem nada?
O que se está a passar, com o país a atravessar um período tão crítico, e entregue a um grupo de gente incompetente para além do normal, é um filme de terror. Temo ser repetitiva e maçadora mas não consigo deixar de falar nisto.
Na gestão de umas finanças públicas, a gestão da dívida e a gestão do défice orçamental são duas frentes de uma batalha que tem muitas frentes. Dívida há sempre e é normal que haja. Não tem a ver com boa e má gestão. Dívida há sempre. Tem é que ser equilibrada, tem que haver cobertura para ela. E tem que ser bem gerida. Há até um tipo de dívida que não se paga: é a dívida permanente relativamente à qual se pagam apenas os juros. E há dívidas que foram contraídas para serem de curto prazo e que, por negociação normal, passam para dívidas de médio ou longo prazo. Claro que os bancos ganham sempre pois, se se paga mais tarde, paga-se mais juros mas, desta forma, alivia-se a tesouraria em anos maus.
Mas também temos que ver que estamos a pagar a dívida (a dita dívida soberana) a juros que rondam, em média, os 4,5% e os privados, então, podem pagar as suas dívidas a 7 ou 8% ou mais. No entanto, para a Alemanha, por exemplo, os juros são, respectivamente, 1 e entre 3 e 4%. Veja-se pois a disparidade de condições de competitividade entre a Alemanha e nós, pobres países esmifrados até à medula.
O que deve ser feito e, se fosse feito com inteligência, sê-lo-ia conjuntamente entre a Espanha, a Itália, a Grécia, a Irlanda, Portugal e uns quantos mais, seria negociar com os bancos credores a redução das taxas de juro e a dilatação dos prazos de amortização - ou isso, ou deixar de pagar.
Aqui chegados, logos os medricas de serviço vêm dizer, ah e as reformas? e os ordenados? Porque se eles não aceitarem isso, a troika pode ficar ofendida e cortar-nos o dinheirinho.
Pois o que tenho a dizer-vos é que negociar matérias deste tipo não é para medrosos, é para gente com estômago e com sangue frio. E alguém que reúna esses requisitos sabe que se vários devedores aparecerem a dizer que não pagam, os bancos credores não poderiam arriscar uma situação desta pois já não têm margem para grandes imparidades, ou seja, para encaixar nos balanços grandes montantes de incobráveis e, logo, optariam pelo mal menor, o de aceitar renegociar a dívida. Não tenham dúvidas.
E isso já iria aliviar as finanças, libertando meios para a economia. E, acabando simultaneamente esta inenarrável sangria através dos impostos, talvez a economia, ao longo de uns dez anos, conseguisse pôr a cabeça fora de água e fazer com que a industrialização renascesse.
Quem diz isto em relação à dívida, diz também em relação ao défice. O défice, numa gestão saudável, deve ser zero. O ideal será até que haja um superavit. Mas só é possível isso em períodos de crescimento.
Ou seja, manda o mais elementar bom senso que o foco da gestão pública, numa altura recessiva, deixe de ser a redução do défice e passe a ser o crescimento.
Ou seja, o grave de tudo isto, não é apenas o absurdo de cada uma das medidas em particular: é o conjunto. Mais: o pior não é tudo isto, o pior é que isto vem na sequência de um ano e meio de experimentalismos que se traduziu num buraco de todo o tamanho. E, contra tudo o que seria lógico, em vez de perceberem que andaram a fazer tudo ao contrário e corrigirem a rota, não senhor: carregam ainda mais na dose. Tudo isto é tão irracional que até dói.
Por tudo isto e por mil razões mais tais como:
- Não se pode ter um primeiro ministro e demais ministros que, onde quer que vão, são chamados de gatunos
- Não se pode ter um ministro de estado que mostra em público que não concorda com nada do que se passa no governo mas, hélas, a quem falta depois a coragem e o sentido de Estado para bater com a porta
- Não se pode ter um Governo em que os empresários dizem que têm vontade de fazer greve
- Não se pode ter um Governo de quem todos os anteriores apoiantes (Catroga, Medina Carreira, João Duque, etc, etc, etc) dizem publicamente, alto e bom som, o que Maomé não disse do toucinho
- Não se pode ter um Governo a quem o Presidente da República não perde uma oportunidade para dar públicas e ferozes bicadas
- etc, etc, etc
por tudo isto, dizia, não acredito que este Governo se aguente muito mais. E este Orçamento não pode ir avante. Mas é que não pode mesmo.
Levantemo-nos, pois, com o orgulho que ainda nos resta. E que ninguém diga de nós, portugueses,
Assim os claros filhos do mar largo
atingidos no sonho mais secreto
caíram de um só golpe sobre a terra
e foram possuídos pela morte
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Todas as imagens que ilustram o texto são pinturas do pintor da carne que se dissolve, da degenerescência, do desânimo que se arrasta amargamente pelo chão, Francis Bacon.
O poema que termina o texto chama-se 'Assim os claros filhos' e é de Sophia de Mello Breyner Andresen
**
Se vos apetecer espairecer na minha companhia (há gostos para tudo, não é?), convido-vos a visitarem uma casa da minha memória, uma casa já só feita de palavras e doces recordações, em volta da casa de Sophia e ao som de um belo cisne a quem Camille Saint-Saëns. É já ali no Ginjal e Lisboa, a love affair.
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Desejo-vos uma bela terça feira!
Isto não é mesmo para os apanhados. Apanhados fomos nós por esta. Gente esperta, expedita, todos grandes empreendedores. Portugal tornou-se numa amarga comédia.
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ResponderEliminarBom dia, UJM
A situação é deveras aterrorizante. No corte das despesas do Estado o alvo foi precisamente os funcionários públicos, direitinhos para o desemprego, quando haveria tanto por onde cortar.
É como diz, devíamos associar-nos aos outros países com dívida pública e, juntos, enfrentarmos o autoritarismo dos tais mercados, sem rosto.
Pelo rumo que as coisas estão a tomar duvido que consigamos erguer a face. Subscrevo o que diz nestas palavras, um resumo de todo este descalabro:' Assim é impossível, aritmeticamente impossível pagar a dívida, cumprir o défice.... e sobrevivermos. Impossível'.
Beijinhos
Olinda
Olá JCM,
ResponderEliminarEspertos, expeditos e empreendedores era até razoável que fossem. Mas qual quê? Pouco espertos, atarantados, e académicos calinas, isso sim.
Eu também gostaria de dizer que isto é uma comédia, uma fantochada, uma brincadeira com marionetas, mas qual quê? Drama puro.
Eu sempre me guiei muito pela minha intuição. Quando foi aquela macacada da TSU escrevi logo nesse dia que aquilo não ia adiante. E agora estou crente que esta gente 'vai de asa' não tarda. O que pode atrasar isto é que os dois que podiam despoletar isso não são gente para gestos desse tipo. O Paulo Portas está agarrado ao seu tão querido MNE e dali não quer sair. Cavaco Silva gosta de 'mandar bocas', dizer umas indirectas, dar entrevistas a jornais de outros países, mas dar um murro na mesa e mandar passear estes inaptos é coisa para a qual não está talhado. Fosse o Mário Soares a estar em Belém e isto já tinha tido uma solução.
Mas o mal não se resolve só tirando de cá estes seres bizarros: tinham que ser pessoas credíveis e fortes e tenho que tirar o chapéu a Monti.
Vários Monti's e outro galo cantaria na Europa.
Vamos ver como isto se vai resolver. Mas vai resolver. Caso contrário acaba em guerra.
Olá Olinda,
ResponderEliminarHá quem ganhe com os nossos dramas. Quando fechamos as empresas uma a uma, passando a importar, ganham os que nos vendem. Quando não temos dinheiro para pagar e pedimos emprestado, ganham os que nos emprestam dinheiro. Vão-nos esvaziando os bolsos e as casas para canalizar o dinheiro para os credores que ganham taxas de juro mais altas do que noutros países.
O empobrecimento dos povos em agonia é o enriquecimento dos senhores que dominam os mercados. Claro que, para isso, têm que ter à frente dos governos gente que não tem competência, cultura, experiência, patriotismo.
É o que nos está a acontecer, para mal dos nossos pecados. Mas não há governo que se aguente - em democracia - governando contra toda a população, toda.
Acho que é chegada a altura de toda a gente descontente se manifestar de todas as maneiras ao seu alcance.
Em suma: gostei muito de ler as suas palavras. Concordo e apoio.
Obrigada, Olinda. Um beijinho.
PS: Achei um piadão ao seu sentido de humor e generosidade colocando a explicação de como se faz um xaile para bebé...
Cara UJM,
ResponderEliminarRelvas & Cia, já me enfadam de tanta grosseria comportamental e tanta asnice mal disfarçada. Procuram calcar o povo como quem esmaga formigas, mas creio que não chegarão a bom porto. Para este dueto, cúmplices na Tecnoforma, recordo a expressão latina, muito usada por Cícero “Asinus asinum fricat”, ou: “Um burro coça o outro”, face à cumplicidade e ajuda mútua entre dois “tipos” cultural e intelectualmente pouco dotados, mas iguais na sua essência e tendência para fazer o mal. Mais não direi.
Cada vez me sinto mais desiludido com os organismos como o FMI e quejandos que se divertem a fazer experiências de forte e tenebroso impacto económico nos países europeus. Realmente, mete-me confusão danada que os mentores dessas instituições, “troikanos” militantes, estejam a gerir países, sem uma réstia de sensibilidade para tais funções. Questiono-me, muitas vezes, apesar da experiência de alguns em actos de governação, se saberão algo sobre a essência e maneira de ser dos povos grego, português irlandês, etc? Conhecerão as realidades destes países? Duvido, por vezes, se conhecem a realidade dos seus próprios países.
Habituaram-se, desde jovens, a viver encostados a esquemas de chico-espertismo financeiro e sempre auferiram grandes remunerações à custa de erros económicos alheios e de actos de agiotagem, sem limites. Saberão o que é viver com 200 ou 300 euros, num mundo de usurários e oportunistas? Não sabem nem nunca saberão, pois falta-lhes a vivência dos factos ou a convivência, tu-cá-tu-lá, com os explorados.
Acho que os seus últimos textos sobre a situação do país e os erros de conduta política são oportunos, explícitos e verdadeiras lições para se extraírem ilações. Contudo, como já disse a nossa amiga Maria, noutro contexto, “eles” não passam por aqui, pois além de fugidos do povo, andam longe de quem os quer elucidar.
Parabéns e obrigado pelas suas lições. Continue a carga e seja, acima de tudo, sempre feliz. Muita saúde.
Caro dbo,
ResponderEliminarLer o que escreve é sempre um gosto. Escreve muito bem e é muito oportuno e directo. Estou em total sintonia com o que diz.
Asnos, mesmo, estes sujeitos desqualificados. Oportunistas, mesmo. Aprendizes nem sei de quê, impreparados, inaptos.
E os do FMI, tirando alguns mais séniores que já não estão para se maçar muito, está também cheio de júniores, de académicos sem vida fora das paredes blindadas do FMI. E estes senhoritos do FMI entretêm-se a testar modelos econométricos com os quais subjugam os povos entregues à sua triste sorte. E agora vêm reconhecer que se enganaram e que o efeito devastador da austeridade é o dobro ou o triplo do que supunham. Veja isto! Que impunidade! Destroem a vida de milhares, milhões de pessoas, e agora, como se nada fosse, reconhecem que se enganaram...
E estes palermas que para aqui andam a fingir que nos governam, sem sentido crítico, sem noção da vida real, sem perceber o efeito na vida das pessoas, desprezando as pessoas (como se eles próprios não fossem também pessoas - mas, se calhar, é porque não são pessoas, são asnos, como diz) acatam tudo, sem lhes ocorrer que a porcaria dos modelos que seguem religiosamente podem estar errados.
O que havemos de fazer para nos vermos livres desta gente que está a destruir a vida de todos nós?
..
Finalmente: gostei muito da forma como terminou o que escreveu. Obrigada.
Saúde, felicidades e que a nossa força não esmoreça, temos que ir à luta!