quinta-feira, junho 07, 2012

Uma receita fatal para os portugueses: redução de salários, estrangulamento fiscal, flexibilização do regime laboral, intensificação das medidas de austeridade. Empobrecimento, desemprego, insegurança. Pergunto: isto é bom para quem...?!


Uma economia competitiva é uma economia predominantemente composta por empresas competitivas. Para as empresas serem competitivas devem, em primeiro lugar, ter uma gestão muito profissional e competente.

Para tal, para além de uma liderança exemplar, com visão estratégica e uma correcta compreensão dos factores críticos de sucesso, são essenciais quadros muito competentes e bem preparados. Refiro-me a técnicos preparados para negociar em contexto internacional, quer a nível das compras, quer das vendas, técnicos muito bem preparados a nível financeiro e de controlo de gestão, técnicos que saibam como devem ser geridos os recursos humanos, técnicos que saibam tornar cada vez mais eficientes os processos de produção e manutenção, etc.

Uma empresa para ser competitiva tem que ter gente capaz, motivada, gente que sinta que faz parte de um projecto comum. Como tal, gente justamente remunerada.

É uma estupidez, mas uma estupidez que raia a burrice encartada, pretender que os salários devem baixar mais (quando já são vergonhosamente baixos quando comparados com os dos parceiros de UE). 

É uma estupidez, mas uma estupidez que raia o descaramento mais desavergonhado, pretender que o País precisa de flexiblizar ainda mais as já tão precárias condições de trabalho (ou seja: despedir ainda mais facilmente, despedir ainda mais barato, reduzir ainda mais os subsídios de desemprego e pagá-los cada vez por menos tempo). É inaceitável e estúpido. 

É uma inutilidade criar programas para encaixar nas empresas jovens, subsidiando esses estágios. É caridade, apenas isso. Retira os jovens da rua, o que é bom mas não é solução para o problema. Soluções que têm por base a caridade não vão a lado nenhum.

Empresas sem fundo de maneio, com problemas de tesouraria, sem dinheiro para pagar matérias primas, sem mercado porque os consumidores não têm poder de compra, têm problemas que não se resolvem se puderem admitir estagiários.

O que o País precisa é de programas inteligentes de estímulo ao desenvolvimento, actividades novas, novas empresas, e, também, condições para que as empresas que existem se aguentem (o que acontecerá se a economia funcionar e se a carga fiscal deixar de ser um garrote). Tal como existe nos Estados Unidos ou em países europeus, que se ponham no terreno programas de reabilitação urbana, ou que se lancem programas integrados e sustentados para actividades ligadas ao mar (pesca, aquacultura, investigação marinha, etc, etc), que se aposte com pés e cabeças numa indústria de turismo, que se perceba a riqueza económica associada às actividades ligadas à cultura, etc, etc. 

Claro que para isso é preciso governantes inteligentes, com visão, com cultura, com autonomia mental.

Gente que pouco sabe seja do que for, gente que parece que emprenhou pelos ouvidos a partir de cartilhas mal paridas, gente que se subjugou a um outro país da forma mais incompreensível e ridícula que já se viu e que parece estar cá apenas para cumprir um programa pseudo-ideológico a soldo de investidores e especuladores sem rosto, nunca será capaz de o fazer.

Portugal, de facto, tem tido na sua história períodos honrosos mas tem tido, também, períodos de apatia, de desnorte, de gastos à tripa forra, de mediocridade e mesquinhez. Este período que agora atravessamos é um desses períodos históricos para esquecer.

Aliás, não é impunemente que Portugal viveu durante quase 50 anos debaixo de um regime sem liberdade, sem democracia, sem estímulo ao conhecimento, louvando a pobreza, a ignorância e o isolamento. Talvez 30 e tal anos não tenham sido suficientes para limpar das mentes os resquícios destes tempos sombrios, pequeninos. 

Depois há os que regressaram de África nesse período e tiveram que adaptar-se a um novo mundo, apanhando os anos de dinheiro fácil, o período mais áureo do cavaquismo, de dinheiro fácil, em que era fácil trepar apesar do mérito duvidoso. Claro que a maioria dessas pessoas é gente lutadora, gente de mérito. Mas há os meninos que se enfiaram nas Jotas dos partidos, que, passado algum tempo, quase sem saberem ler nem escrever, já andavam pelos governos, já andavam nas empresas nomeados pelos partidos. Muita mediocridade, muita. E aí andam agora, governantes.

Não vou falar de nomes apenas porque tantos são os casos que ilustram o que aqui digo: Borges, Relvas, Passos Coelho, etc, etc, etc, etc, etc, ou seja, é fastidioso enumerá-los. Pululam.

O País está mais pobre, mais inseguro, menos competitivo, mais dependente, mais insignificante. Manuela Ferreira Leite, Rui Rio, Pacheco Pereira, e tantos outros nomes insuspeitos do PSD não têm poupado críticas à forma como este governo tem estado a fazer mal, um mal profundo e de efeitos duradouros, ao País.

É uma tristeza isto. A cada dia que passa Portugal está mais distante de um ideal de uma Europa progressista, desenvolvida, culta, forte. 

Hoje em dia ficamos orgulhosos ao ser suficientemente duros para infligir dor nos outros. Se ainda vigorasse um costume mais antigo, pelo qual ser duro consistia em suportar a dor, e não em impô-la, talvez devêssemos pensar duas vezes antes de preferir com tanta insensibilidade a eficiência à compaixão. [Tony Judt in Um Tratado sobre os nossos actuais descontentamentos]

Isto tem que mudar.

8 comentários:

  1. Amiga:
    Está mesmo irritada e cheia de razão.
    Estou na mesma.
    Fui a Sesimbra à festa dos avós. No dia 17, vou para ficar uns dias.
    Queria ver se ainda ia uns dias a França, Normandia, Castelos do Loire, Paris. Não sei se terei coragem. Sinto-me em baixo.
    A miséria que nos rodeia, dá-me vontade se fugir. Mas sinto-me mal, por haver gente com fome e sem casa, e eu ir gastar dinheiro a passear.
    Dói-me o estado a que chegámos. Tenho vontade de matar estes tipos, que fizeram do nosso "Jardim à beira-mar plantado", um gueto de miséria, maldade, desespero.
    Compreendo a sua revolta. É igual à minha e de alguns mais.
    Hoje estou chata.
    Beijinho
    Mary

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  2. Acho que me enganei no post. Comentei no outro post e devia ser neste.
    As minhas desculpas.
    Beijinho Ana

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  3. Nunca fui uma pessoa revoltada. Revoltei-me quando em janeiro de 2011 me vieram ROUBAR descaradamente uma parte significativa do meu ordenado, uma vez que é a minha única fonte de rendimento. Conformei-me com a ilusão de que iam efectivamente fazer alguma coisa de válido e que fariam o mesmo que exigiam ao povo(nós) já sacrificado. Mas não!
    E começa a ser revoltante, mesmo para quem é paciente, ver que se pede aos outros o que NUNCA se faz.
    Confesso: hoje apetece-me chamar a esse pessoal todo, por quem não tenho o mínimo respeito (pouquíssimas excepções) nomes feios, muito feios. Embora eles se "ralem" pouco.

    Desabafei!

    Beijinhos

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  4. Um Post para reflectir.
    Com alguma pompa e circunstância, este Governo vem tentar atirar areia aos olhos dos jovens, vendendo-lhes caridade, travestida de solução para o desemprego com que se defrontam. Primeiro, o Governo deveria resolver as razões que estão na origem desse desemprego e, nesse sentido, procurar estimular a economia, ou seja, as empresas, quer as existentes, quer as que potencialmente poderiam, ou poderão vir a aparecer. Empresas, como aqui é dito, sem fundo de maneio, sem crédito e sem consumidores, não podem subsistir. Não podendo, não há soluções milagrosas para o flagelo do desmprego (jovem em particular), como as que este “desgoverno” nos quer fazer convencer. Por outro lado, também não é com salários baixos e a tal flexibilidade que o Governo defende - soluções terceiro-mundistas típico do neo-liberalismo primário que varre o País – que se vai conseguir sair da crise e permitir o arranque para o desenvolvimento. A revitalização da economia (ao contrário do que Passos+Gaspar+Álvaro, etc pensam) passa por outras medidas, como formação profissional, reestruturação e inovação de muitas empresas (para o que é preciso apoios financeiros e estimulos fiscais, entre outras medidas). Portugal poderia aproveitar alguns bons exemplos bem sucedidos, existentes na Europa, como a Dinamarca, Suécia, onde se conjuga a competitividade do tecido industrial com um modelo social avançado. E também, como muito bem é aqui referido, nalguns aspectos, nos EUA. Esta gente que nos governa (e a troika que a financia) não nos vê como um país, mas como um laboratório. Não vê pessoas, mas números. Despreza-nos, mas rasteja (Passos, Borges, Relvas, Gaspar, etc) perante a corja de especuladores estrangeiros e que nos entrega a juros de usura o dinheiro para continuarmos a subsistir – que não é o mesmo que ajudar. Não há estímulos à economia, nem aos consumidores. Há carga fiscal a mais, mas menos receita, há estrangulamento ao crescimento e ao consumo, há empresas a falir, mas entrega-se milhões à banca, que teremos de pagar com os nossos impostos e reduções salariais e que cobrará a juros elevados ás empresas que precisar de crédito. Um país gerido/governado por medíocres. “É uma tristeza”, disse e concordo. Outro dia ouvi de dois jovens (a casarem brevemente), amigos de uns sobrinhos, ele e ela, futuros Jotas, a trabalharem ambos em 2 escritórios de advogados, com toda a naturalidade, o seguinte: “ela inscrever-se-ía no PS e ele no PSD, já que o CDS ainda não é uma força a considerar e assim teriam mais chances de sucesso profissional”! Ouve-se e não se acredita. Mas este, ao que vejo, parece ser a mensagem que esta mediocridade que nos vem governando, desde há uns anos, vai passando – para se ter sucesso profissional. Felizmente, que semelhante receita não todos a compram. Como os meus filhos, que nutrem um profundo desprezo por esta gente medíocre.
    Alguma vez “seremos parte da tal Europa desenvolvida, progressista, culta e forte?”
    P.Rufino

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  5. Olá Amiga Mary,

    Que a irritação não a deixe perder a vontade de fazer um passeio tão bonito. E lá porque há muitas pessoas em aflição, isso não quer dizer que, quem tem possibilidades de o fazer, se deixe ficar sem usufruir aquilo a que tem direito. As coisas não funcionam assim: temos que lutar para que todos tenham direito aos mínimos mas isso não significa que não haja quem viva acima dos mínimos.

    Vá, Mary, que é um passeio maravilhoso. O Vale do Loire é lindo e a Normandia ainda mais maravilhosa é. Podendo, vá até Honfleur que é um sítio lindíssimo. Já aqui falei de um hotelzinho encantador em que lá fiquei e que se chamava Le Chat. Acho que já não há ou já mudou de nome mas era um encanto.

    Quanto a esta desgraceira que para aqui vai, é um horror de falta de visão, de falta de estratégia, de falta de dignidade, de falta de competência e de falta de tudo o que é essencial. Mas agora não pense nisso para não lhe falta a vontade de ir passear.

    Um beijinho, Mary!

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  6. Olá Ana,

    isso que refere é do que mais me enfurece.

    Há um filme que se chama 'Este país não é para velhos'. Deste Portugal do Passos e do Relvas o que podemos dizer é que 'Este país não é para novos'.

    Um país tal como uma família mantém-se se tiver a capacidade de se rejuvenescer. É dos jovens que vem o sangue novo, a vitalidade... e também é dos novos que vêm as novas famílias, o consumo, os descontos que vão equilibrar os fundos de pensões.

    Um país sem jovens está condenado. Um governo deve ter como missão tornar o país um sítio sustentável, de futuro, com capacidade para se rejuvenescer, para se manter equilibrado.

    Assim é como quando uma aldeia se vê condenada à desertificação: só com velhos, até que os velhos vão morrendo, isolados.

    Esta forma de governação é má, estúpida, absurda, revoltante.

    Uma coisa é gerir bem, fazer contas, saber fazer projecções para saber quais os investimentos possíveis e desejáveis, etc - outra é dar cabo da vida da população e afugentar os mais novos, deixando os mais velhos entregues à sua sorte e à voracidade dos mercados.

    Revoltante. Começo a falar nisto e fico 'piurça', fula da vida.

    Vou acabar para não dar cabo da sua paciência...

    Obrigada por me aturar...!

    Um beijinho, Ana!

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  7. Olá Isabel,

    Desabafou e desabafou muito bem!

    Pois: roubaram-lhe parte significativa do seu rendimento para pagar os juros que as instituições financeiras impõem, para pagar os desmandos que os bancos fizeram a emprestar dinheiro a especuladores, para pagar o buraco do BPN que deu dinheiro a ganhar a muito boa gente que por aí anda a rir-se, para pagar os lapsos do Vítor Gaspar, etc, e até para pagar o ordenado milionário a António Borges e outros que tais.

    É revoltante, é mesmo muito revoltante.

    E o que me enerva mais é que sei que tudo isto que está a ser feito e que atira empresas e famílias para a falência não resolve problema nenhum porque todos os problemas subsistem e porque estas medidas estão a destruir a economia e porque a venda das melhores empresas ao estrangeiro é uma coisa irreversível e dramática.

    E também mais não digo porque, ora bolas!, hoje é sexta feira à noite que é noite para a gente descontrair e não para nos enervarmos...

    Mas temos mesmo que manifestar o nosso descontentamento porque isto é um abuso a troco de coisa nenhuma.

    Não a maço mais, Isabel...

    Um beijinho e bom fim de semana!

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  8. Olá P. Rufino,

    Um belo manifesto o seu comentário, no qual me revejo totalmente.

    Este governo não se inspira noutros bons exemplos porque simplesmente não os conhece. O conhecimento de Passos Coelho resume-se a Singapura, um país com uma cultura que não tem 'puto' a ver com o ocidente europeu, sem democracia, uma realidade que não é transponível nem queremos que o seja. Quanto a Relvas presumo que pouco saiba para além dos negócios com Brasil e África, conforme se tem sabido pela comunicação social. E Vitor Gaspar é um homem de estudos e o Álvaro é professor no Canadá. Claro que não sabem de coisa nenhuma e isso vê-se em tudo o que fazem e dizem.

    Somos uma cobaia. Somos como os meninos da Casa Pia que eram oferecidos para serem cobaias de ensaios clínicos (já para não falar de outras coisas). Indefesos, carentes, disponíveis para que façam o que quiserem.

    Odeio pensar que Passos Coelho nos coloca nesta situação de servilismo perante a Alemanha, perante os 'homens de preto' como Rajoy lhes chama, perante os Borges, perante as Goldman Sachs e outros que tais. E ainda andam depois, como o Gaspar quando foi aos EUA a dizer que os portugueses são muito submissos ou lá o que foi que ele disse, ou o Passos Coelho a dizer que agradece aos portugueses por serem muito pacientes.

    E se eu não estivesse aqui em público bem lhes dizia o que deviam fazer com a paciência e a submissão... Mas, sendo assim, não digo e fico aqui a rosnar baixinho...

    Claro que, tem toda a razão, por tudo isto há uma parte significativa de jovens que abomina a política, nem se vão recensear. E haverá os que acham que só se progride se andarem de pin na lapela, se andarem agarrados a um partido.

    Poderia aqui contar a história verdadeira de uma pessoa incompetente que saiu de uma empresa onde não ia a lado nenhum (devido à sua incontornável incompetência e preguiça) para se inscrever numa lista para as autárquicas e que aí está a trabalhar numa posição de bradar aos céus numa autarquia. Assim vai este país governado por gente medíocre.

    Temos que ser mais exigentes. Eu por aqui vou refilando, embora com a consciência que é o mesmo que nada. Mas enfim, um dia ainda vou descobrir uma forma mais efectiva de fazer alguma coisa por este país (... desde que seja uma maneira que não me faça 'saltar a tampa' a cada 5 minutos, que aturar gente estúpida e ignorante a tempo inteiro deve ser dose...)

    Fico-me por aqui, P. Rufino, que as sextas feiras à noite não são para a gente se estar a massacrar a falar de gentinha incompetente.

    Tenha um bom fim de semana, de preferência descontraído e bem disposto!

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