Escrevi há pouco sobre as misérias nacionais, sobre a indigência que grassa no país - sendo que a maior das quais é a governativa - e sobre outros temas igualmente deprimentes. Por isso, quem estiver afim de ler sobre o que acho da redução de salários, flexibilização da legislação laboral, medidas de austeridade e outros ingredientes da receita relvo-passista (e não estiver para imagens ou bailaricos de natureza suspeita) pode passar directamente para o post seguinte.
Women at the Bath - Tamara de Lempicka |
É a história de duas pessoas que se casaram por amor e cujo amor se intensificou a cada ano que passava, ainda que fossem infiéis um ao outro constantemente e por mútuo consentimento.
Ambos amaram pessoas do seu próprio sexo, mas não exclusivamente, e o seu casamento não só sobreviveu à infidelidade, à incompatibilidade sexual e a longas ausências, como se tornou mais forte e melhor em resultado disso. Conseguiram dar um ao outro liberdade total, sem perguntas ou censuras. O casamento teve êxito porque só na companhia um do outro encontravam uma felicidade permanente e completa, e, se for visto como um porto de abrigo, os outros casos de amor eram meros portos de escala. Era para esse porto de abrigo que ambos voltavam, era aí que ambos tinham a sua base.
[Nigel Nicolson, falando do casamento dos seus pais, Vita Sackville-West e Harold Nicolson, na introdução do livro 'Retrato de um Casamento' - tema a que voltarei oportunamente]
Vita (1892 - 1962) e Harold (1886 - 1968) na sua casa em Sissinghurst, Kent, em 1960 |
Lembrei-me de referir este trecho, por me lembrar que Vita foi uma das amigas de Tamara de Lempicka (1898-1980), pintora de que, se puder, vos falarei amanhã ou um outro destes dias e que, em termos de estilo de vida, teve alguns pontos de similitude com Vita Sackville-West.
*
E, a propósito ou talvez não, convido-vos agora a ver mais um bailado pelo Grupo Corpo, Onqotô, este um pouco diferente dos outros que aqui tenho partilhado convosco. A coreografia é de Rodrigo Pederneiras sobre música de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik. Belíssimo.
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Bom, mas já sabem, no post seguinte, escrito há pouco, há conversa sobre a actualidade portuguesa e aí a coisa fia mais fino. Caso queiram testemunhar as fúrias que, de vez em quando, se apoderam de mim, desçam, portanto, um pouco mais.
Já agora e como de costume, gostaria muito que me visitassem também na minha outra casa, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje as minhas palavras voam levantadas por um ventinho que sopra de leste e que nasce da poesia de Daniel Filipe. A música é uma maravilha, vozes divinas ao serviço de Mozart em Cose Fan Tutte.
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E tenham, Caríssimos Leitores, uma bela sexta feira!
Amiga:
ResponderEliminarSimonne de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, viveram felizes. Este casal, também. Será este o segredo da felicidade?
Para mim, não dava. Sou possessiva, ciumenta, exclusivista.
O que é meu, tem que ser só meu.
Tenho momentos, que desejo um pouco de solidão, mas consigo isolar-me no meio de muita gente.
Tenho necessidade de saber, que se estender a mão, outra mão agarra a minha.
Cada pessoa, é feliz à sua maneira.
Se eles foram felizes assim, bom para eles. Comigo, não dava.
Abraço
Mary
Concordo plenamente consigo.
ResponderEliminarObrigada pela sua indignação que representa a nossa.
O que fizeram e continuam a fazer ao povo português é criminoso e ninguém é responsabilizado, fico triste com o coração pequenino a ver os jovens a sair do país, é injusto não os deixarem viver e ajudar o seu país.
Beijinho Ana
Penso como a Mary, que um casamento assim para mim não dava. Nunca fui casada, mas uma coisa que não aceitaria, seria uma traição. E eu também sei que nunca o faria. Se me apaixonasse por outra pessoa, sei que teria que o dizer. Não seria capaz de viver na mentira. São formas de pensar, e se as pessoas conseguem ser felizes doutra maneira, pois porque não?
ResponderEliminarEstou curiosa de ver o seu post da Tamara de Lempicka.
Vou ler com atenção os últimos pots, que tenho vindo aqui espreitar, mas não li com atenção porque estava cansada.
Um beijinho e bom fim-de-semana
Este tema, o do amor conjugal, parece-me muito interessante, ainda mais na perspectiva em que o aborda. Aguardo o desenvolvimento das ideias que aqui deixa suspensas, com as quais aprenderei alguma coisa, como sempre acontece.
ResponderEliminarTamara de Lempicka não conheço bem, Vita Sackville-west, um pouco melhor, especialmente a sua amiga Virginia Woolf, cujo casamento também não era muito convencional.
E, já agora, lembrando grandes mulheres que viveram casamentos libertos dos constrangimentos da fidelidade, evoco Lou Andreas Salomé. Na minha perspectivá, é uma mulher fascinante, original e criativa não só naquilo que escreveu, mas também no modo como viveu. Fascinam-me a sua vida, as suas amizades, os seus amantes, o seu marido...
Todas estas pessoas se destacaram, no seu tempo. As chamadas relações abertas estão apenas acessíveis aos seres excepcionais?
Olá Mary!
ResponderEliminarSimone de Beauvoir parece que até era um bocadinho ciumenta mas depois habituou-se à ideia de ter o seu 'gato' (feio todos os dias, diga-se...) sempre rodeado de pretendentes.
Eu penso que cada situação tem que ser vista num determinado contexto. Há situações em que um interesse de um membro do casal por outra pessoa pode ser vista como uma traição mas há outras em que é apenas um interesse que se manifesta e que não tem nada de traição.
Tenho conhecido pessoalmente tantas situações que não consigo generalizar. Há 'casos' que são uma brincadeira, há 'casos' que são um caso sério, há 'casos' que são uma coisa estranha.
De todos aqueles a que tenho assistido - e nunca me dá para censurar, apenas para constatar - os que me fazem mais confusão são os que resultam de meninas novinhas que acham que se se armarem em 'alpinistas' junto de um doutor, engenheiro, director ou administrador, mais facilmente trepam na carreira. Nestas situações, vejo muitas vezes os homens a tentarem não 'ver' o que lhes é apresentado pelos olhos adentro - e, claro, muitas vezes, ao fim de muita insistência, acabam por ceder à tentação.
Mas os casos que resultam de um interesse genuíno não os vejo como traições mas sim como coisas que acontecem e que, muitas vezes, acabam por se extinguir. De todas as vezes a que assisti a casos desses, sempre vi o maior respeito e cuidado em não magoar o 'respectivo(a)'.
Agora uma coisa tenho como certa: os ciúmes excessivos, a insegurança, a desconfiança acabam por lesar a qualidade de uma relação.
Eu odeio ciúmes e também não sou ciumenta. Acho que as coisas devem funcionar numa manifestação de estar com o outro, um dia de cada vez, sem querer juras de amores eternos. Pode acontecer que, neste regime, quando se dê conta, o somatório de um dia a seguir a outro dia, acabe por dar muitos anos.
E claro, para uma relação funcionar tem que haver uma mão disposta a agarrar outra mão (mas, uma vez mais, acho que isso tem que ser voluntário, não uma obrigação).
Este casal, Vita Sackville-West e Harold Nicolson, foram talvez um dos casos mais extremos mas a verdade é que o filho os relata como um casal inseparável e feliz.
Um abraço, Mary.
Ana,
ResponderEliminarResponderei, então, no post abaixo.
Bjs,
Ana
Isabel, olá!
ResponderEliminarTenho um amigo, casado há milhares de anos e feliz com a mulher e com os filhos. Há uns anos entusiasmou-se com outra mulher, por sinal também minha amiga. Com o tempo o entusiasmo deu lugar a um amor a sério. Mas ele continuava a gostar da mulher como antes, só que agora gostava das duas, reconhecendo em cada uma as respectivas qualidades. Por gostar tanto da mulher, não queria magoá-la tanto mais que gostava dela tanto como antes.
A minha amiga, apaixonada por ele, gostando muito dele e respeitando o amor que ele sentia pela mulher, também tinha mil cuidados para que nunca fizessem nada que pudesse magoar a mulher dele.
Esta situação durou anos. Ele continuou feliz com a mulher e igualmente feliz com a minha amiga. Lá conseguia arranjar maneira de ter tempo para, na prática, ter duas famílias.
Até ao dia que achou que deveria contar à mulher, esperando que ela percebesse que o amor dele por ela se mantinha intacto. Ela teve um choque e ele acabou por sair de casa. Agora vive essencialmente com a minha amiga mas mantém intacto o afecto pela mulher com quem, aliás, está frequentemente.
E eu respeito isto e, tendo assistido de perto a tudo, nunca achei que houvesse aqui qualquer traição.
Podia contar mais uns quantos casos, todos diferentes, mas todos muito nascidos de afecto, de respeito - e do acaso (ou seja, foram coisas que aconteceram).
Talvez por tudo isto eu seja tão tolerante e tão compreensiva em relação a situações deste género.
No entanto, tal como referi acima, fico incomodada quando vejo uma miúda (a maior parte das vezes com marido ou namorado) com a saia pelo umbigo, o decote pelo umbigo, a confidenciar às amigas que 'tem que fazer pela vida'. Isso aí já me parece uma subversão total de valores e nesses casos mais do que achar que estão a trair os namorados ou maridos estão a trair-se a elas próprias (mas como não têm consciência que chegue para isso, não acham que estejam a fazer nada de mal). Isso a mim, muito sinceramente, incomoda-me um bocado.
Mas enfim, o homem é o homem e as suas circunstâncias...
Um beijinho, Isabel
Olá Leitora de A Matéria dos Livros,
ResponderEliminarA vida de Lou Andreas Salomé é fascinante e a correspondência entre ela e Rilke uma preciosidade.
Tal como referi acima, o homem é o homem e as suas circunstâncias. Os meios literários, artísticos em geral, as mentes livres, os meios boémios, propiciam a troca livre de afectos e a manifestação livre da sensualidade.
Como relatei acima, nas empresas muito grandes, especialmente quando há muita gente de ambos os sexos, especialmente em idades que propiciam o gosto pela descoberta, também são meios em que pululam as trocas de afectos não 'regulamentares'.
Acima relatei um caso. Agora vou relatar outro. Fui muito amiga de um homem que tinha antes sido administrador numa empresa na qual se tinha interessado por uma das directoras. Contou-me ele que, ao longo de toda a sua vida, que sempre tinha sido muito movimentada, sempre tinha tido muitos casos. Mas, jurava a pés juntos e com emoção, que a única de quem gostava mesmo era da mulher. Que sempre tinha tido todos os cuidados para a mulher não perceber nada porque nem queria imaginar que a podia fazer sofrer.
Mas um dia tinha sucedido o impensável. Ia ele a sair de noite do prédio da dita directora/amante e a dirigir-se para o carro, quando de outro carro sai a mulher dele.
Ele conta que ficou envergonhado como nunca tinha imaginado sentir-se. Para grande desgosto dele a mulher tinha sido informada por telefonema anónimo e tinha ido ali confirmar.
E a mulher encostou-o à parede. Se ele acabasse com o 'namoro', ela perdoava, não fazia perguntas e nunca mais se falava no assunto. Mas apenas se ele lhe jurasse que nunca mais voltaria a acontecer.
Ele, conhecendo-se e não querendo correr o risco de a voltar a desapontar, não foi capaz de jurar e, tristíssimo, saíu de casa.
Foi viver, contrariado, com a namorada mas a coisa não correu extraordinariamente porque de quem ele gostava mesmo era da mulher. E durante anos durou este braço de ferro. Ele ia visitar a mulher, iam almoçar juntos, e ele sempre implorando que ela o deixasse voltar e ela sempre impondo a mesma condição.
Ao fim de uns anos ela morreu.
Algum tempo depois morreu ele.
Tenho dificuldade em fazer juízos de valor em situações assim, tenho dificuldade em usar a palavra traição.
Talvez eu seja muito pouco convencional na forma como encaro estas situações. Mas acho que a moral em excesso, o espírito censório, o excesso de controlo, não são coisas muito saudáveis.
Grande parte dos casamentos que vi acabarem resultaram em parte de ciúmes, perseguição à vida do outro, inseguranças que acabam por ser doentias e, do outro lado, vontade de fugir ao controlo, vontade de resgatar alguma liberdade individual.
Mas, enfim, cada situação faz sentido integrada nas suas circunstâncias. E cada um sabe de si.
(São lugares comuns mas são afirmações sensatas)
Amiga:
ResponderEliminarVistas as coisas desse ponto, talvez consiga entender as suas razões.
Talvez porque o meu primeiro amor a sério, foi e é o meu marido, talvez porque a paixão que vivemos, foi muito forte, talvez, talvez... Mas cada um sabe de si. Se são felizes assim, quem sou eu, para criticar?
O amor, é uma coisa estranha, muito estranha. Mas viver sem o conhecer, não queria.
Beijinho
Mary
Mary,
ResponderEliminarTal como já aqui contei, um amigo meu diz que casei tão cedo que aproveitei e juntei o casamento à 1ª comunhão. E o casamento tem sido uma maravilha. Claro que tem havido desentendimentos pelo meio, até porque sou uma criatura temperamental. Mas como sou temperamental e muito primária, dá-me com a força de um vendaval e, mal passa, já mal me lembro o que esteve na origem. Esqueço-me (mas é que me esqueço mesmo...). e ele é quase a mesma coisa. Somos inseparáveis, amigos, cúmplices, companheiros. Mas respeitamo-nos nas nossas diferenças, admiramo-nos mutuamente.
Mas eu não me considero exemplo porque sei que o que resulta comigo, não resultaria com outras pessoas. E coisas que resultam muito bem com outras pessoas, a mim viravam-me do avesso.
Não foi, no entanto, o meu primeiro namorado e aliás até costumo dizer que me casei tão cedo porque estava já farta de namorar (embora com ele apenas tenha namorado pouco mais de 1 ano).
Mas tenho presenciado entre familiares, amigos e colegas tantas e tão diferentes histórias que me habituei a respeitar, a aceitar e a tentar compreender (quase) todas as situações desde que perceba que há genuíno afecto, respeito. Quando isso acontece entre duas pessoas a quem acontece gostarem uma da outra apesar de estarem casadas com outras de quem também gostam, o que tenho visto é algum sofrimento pela situação criada e alguma ansiedade sobre a melhor forma de lidar com a situação.
Um dia vou contar a história verdadeira de uma amiga minha, história que é muito curiosa. Ela passou de mulher 'trocada' a 'a outra' relativamente a outro casamento - mas lidou com isso de uma forma completamente estapafúrdia porque sempre foi muito formatada para que 'a outra' é a má da fita. Já pensei várias vezes contar isto mas tenho que ter cuidado para não ser explícita porque claro que não quero expô-la, até porque sou amiga dela.
Às tantas quem me lê deve pensar que vivo num antro de gente estranha... Mas não: vivo num meio do mais civilizado que há. A sério.
Acho que pior devem ser os meios hospitalares... uma amiga minha que é médica relata histórias umas atrás de outras e, quando eu fico de olhos arregalados, ela remata sempre: 'há lá muitas camas, que é que queres...?'
Um beijinho, Mary!
As histórias começam a ficar curiosas. Também os meios hospitalares são propícios... o meio escolar não, deve ser o excessivo número de professoras e a infantilidade reinante.
ResponderEliminarNos vários casos relatados,verifica-se que o conjuge que inicia uma relação extraconjugal é o homem. E o contrário? As mulheres também têm essas "iniciativas"? E o seus maridos aceitam? Penso que não é qualquer homem que é capaz de o aceitar ou perdoar...
Um beijinho
Bom fim-de-semana
Leitora de A Matéria dos Livros,
ResponderEliminarNos casos que referi de jovens que provocam 'casos' com 'superiores', os casos que tenho visto são sempre jovens mulheres.
Nos casos que referi, especialmente o primeiro caso de que falei, um meu amigo e uma minha amiga, não foi ele que começou. Nem ela. Foi mútuo. Assisti a tudo. Ao princípio era brincadeira. Uma gracinha dita por ele, ela a rir-se, outras vezes era ela que dizia uma piada e ele respondia. E depois a coisa foi-se tornando sério.
No caso do administrador com uma directora que eu me lembre também foi mútuo. Ele achava-a gira, ela achava-o inteligente. Trabalhavam juntos, havia admiração, foi tendo graça.
Aliás, pensando bem, dos casos de que me lembro em que houve afecto a sério foi sempre uma coisa mútua. Avanços e recuos, receios, atracções - sempre uma coisa a dois. Não tenho nada ideia de que os homens sejam uns conquistadores, uns vilões e as mulheres umas vítimas. Não, nada disso.
Mesmo nos casos de namoro por diversão entre homens e mulheres casados (e não um com o outro) não tenho ideia de que tenha sido o homem a dar o primeiro passo. Pelo contrário, a haver alguém que dê o primeiro passo, é capaz de ser geralmente a mulher.
Penso que quando os maridos sabem, é como quando as mulheres sabem: momentos de susto, de surpresa, de aflição. Não acho que os homens, nisto dos afectos, sejam muito diferentes das mulheres.
De qualquer forma, dos casos a que tenho assistido, geralmente ninguém quer que o marido ou mulher saiba porque gostam muito dele ou dela, não querem magoar, no fundo há sempre a esperança que o 'caso' não se torne tão dramaticamente sério que tenha que haver rompimento. Por isso, não me parece correcto nestes casos usar a palavra traição.
Mas a ver se consigo arranjar maneira de contar a história de uma amiga minha que não conseguiu ultrapassar o estigma de ser 'a outra', agindo sempre de forma ambígua e estranha. Sempre achei isso muito curioso (embora sempre tenha convivido muito bem com a situação).
Não resist a fazer novo comentário. Eu penso que não sou uma pessoa muito convencional e até nada já, hoje, me choca. Não gosto de criticar ninguém, penso que realmente cada um sabe de si, mas parece-me uma forma egoísta de pensar, um homem ou uma mulher que tem "casos", vai vivendo, tudo às escondidas e diz que "não quer magoar" quem está lá em casa a viver na ignorância.
ResponderEliminarMas também acredito e acho que vem de encontro ao que disse anteriormente, que o amor por uma pessoa pode acabar e nascer por outra.
Mas isto são apenas diálogos, porque realmente cada um sabe de si. E a educação que tivemos, o meio onde trabalhamos, até os amigos, muitas vezes levam-nos a agir de forma que se calhar não agiriamos noutras circunstâncias. Esses de "casos" de meninas que abundam por aí, a subir à custa de chefes, são muito fruto disso mesmo: do meio que o proporciona.
Cada um tem que tentar ser feliz à sua maneira, o ideal seria mesmo sem magoar ninguém.
Amiga:
ResponderEliminarQuando disse que, o meu marido foi o meu primeiro amor, não disse que, foi o meu 1º namorado, ou 1ª paixão. A verdade é que tive muitas paixões e muitos namoros. Mas não levava nada a sério. Eram paixões assolapadas, que duravam pouco, acabavam num mar de lágrimas, que secavam, assim que aparecesse outro.Também casei cedo, também sou muito temperamental, com tendência para o drama, quer dizer: cai o pano, acabou a peça, já nem me lembro do papel, às vezes estúpido, que fiz.
Eu e ele somos diferentes, ele muito introvertido, eu não, mas respeitamos e aceitamos o outro, como é.
Como vê, Amiga, há pontos de contacto entre as nossas histórias.
Mas enquanto a minha Amiga, tem uma vida fora de casa, a minha experiência de vida vem apenas, do facto de ler muito, ter uma mente aberta e não ser burrinha de todo.
Daí, certas coisas me surpreenderem um pouco. Mas não me chocam.
Um dia falamos mais sobre tudo isto.
Abraço
Mary
Um Post que motivou uns comentários bem interessantes, onde temas como a traição e o ciúme foram objecto de abordagem muito particular.
ResponderEliminarCreio que todos nós conhecemos exemplos de casos que envolveram essas situações. Há pessoas que lidam melhor, outras pior com estas situações. Ainda recentemente a mulher de um amigo nosso trocou-o por outro. Ela uma bonita mulher que fez há pouco 50 anos, cansou-se da vida com ele – a passar agora por momentos difíceis (de que não tem culpa, sendo mais uma vítima desta Crise), decidiu-se reiniciar a vida com um terceiro, 6 anos mais novo. Só aos poucos este nosso amigo começa a recuperar. Lentamente. Outro caso, o de um familiar, divorciaram-se, mas ela não se conforma, apesar de inicialmente ter aceite a ideia. Faz-lhe cenas (toca-lhe interminavelmente à campaínha de casa para que ele reconsidere e recomecem de novo!).
Por mim, nunca fui dado a ciúmes e em tempos, ainda na faculdade, acabei com uma namorico em virtude disso mesmo. Talvez esteja errado, mas considero o ciúme uma atitude de insegurança. Quanto á traição, ás vezes acontece sem se esperar e sem se solicitar. Uma amiga, aqui há uns anos, confessou-me que tinha traído o marido (durante uma viagem de trabalho ao estrangeiro, num daqueles encontros de acaso) e sentindo-se culpada pretendia confessar-lhe para, como dizia, “para aliviar o que lhe ía na alma”. E queria a minha opinião. Fui muito directo com ela e com todo o respeito pela sua confiança na minha pessoa, perguntei-lhe se ainda gostava do marido: “que sim, talvez mais ainda”. Aconselhei-a a nunca lhe revelar esse episódio, bem vistas as coisas sem consequências de maior no relacionamento deles. Para quê? Reflectiu, hesitou, mas veio a concordar comigo. E a relação deles continua como sempre. Bem. Aqui há tempos, num aniversário, sussurrou-me: “ficarás sempre com um segredo meu!”. Sorri-lhe e com um bj afectuoso, somos todos bons amigos, disse-lhe que “não sabia a que se referia”.
Mas, enfim, a pergunta que fica é: E se nos toca a nós? Julgo que ou se aceita, ou se não, deve partir-se para outra – com dignidade. Afinal há males bem piores. Como perder quem se ama por doença, ou acidente (casos que tive a infelicidade de conhecer).
P.Rufino
PS: E depois há relações em que a palavra ciúme é coisa do Além, como aquela entre Roxelana (a bela ucraniana) que de concubina de Suleimão o Magnífico passou a sua Mulher e que viveram entre si, até á morte dela, uma paixão sem limites (as cartas dela para Suleimão são interessantíssimas!).
Amigo Rufino:
ResponderEliminarDesculpe meter-me na conversa, mas gostei do que contou.
Como já assumi, sou ciumenta. Não excessivamente, mas sou.
O conselho que deu à sua amiga, salvou-lhe o casamento, mas eu, não sei se o seguiria, embora o ache sensato.
Quanto a fazer cenas de ir bater à porta, se um dia o meu marido se fosse embora, tenho a certeza, de que nunca o faria. Nunca fui capaz de mendigar restos de amor, nem mesmo de amizade. Se o aceitava se ele voltasse? Talvez. Sou um pouco de agir por impulso.
O seu comentário fez-me pensar.
Maria
Estimada Maria,
ResponderEliminarDeixo-lhe aqui um abraço afectuoso, se me é permitido. Sabe, se alguma vez sucedesse comigo, preferia não saber. Ás vezes, episódios esporádicos, ainda que conscientemente praticados, acabam por ter pouco impacto nas relações. Porquê afecta-las, se as denunciarmos? Na vida, sempre procurei guiar-me por aquilo que é mais importante, deixando de algum modo de lado o menos relevante. Em matéria de sentimentos, esta talvez egoista receita, poupa-nos muitas decepções. Mas quem sabe se estarei totalmente errado?
A vida, à medida que vamos envelhecendo, como é o meu caso e de muitos de nós, passa tão rápido que o melhor é poupar o mau para que o bom se possa gozar.
Um avô meu aconselhou-me a fazer um balanço da vida aos 75. Um dia, se lá chegar vou tentar. Só espero que não me desiluda a mim próprio. Acho que não, mas quem sabe? Poupar-nos a sofrimentos sentimentais é, teoricamente, mais fácil do que parece. Mas díficil se não houver vontade. E ás vezes não há. Mas tal não é defeito se calhar, mas tão só humano.
Um bom Domingo Estimada Maria!
P.Rufino
Isabel, olá de novo,
ResponderEliminarTenho uma certa dificuldade em ajuizar quando se trata de sentimentos que, por natureza, acontecem involuntariamente.
Como referi anteriormente, distingo os 'casos' que têm oportunismo ou 'cálculo', dos que acontecem inesperadamente.
Do que tenho assistido, quando acontecem casos involuntários, há ansiedade para lidar com uma situação que é imprevista, que não se sabe no que vai dar e há, também, sempre, muita preocupação em não magoar alguém de quem se gosta e que se respeita. Tenho testemunhado vezes sem conta que o afecto não é, sempre, exclusivo ou seja, tenho testemunhado que quando acontece uma situação assim mantém-se, incólume, o afecto anterior e nasce um novo afecto. Não percepciono isso como uma traição.
Mas, como muito bem diz, há as circunstâncias, há o meio, há os amigos, e tudo influencia a forma como as situações se manifestam.
Mas acho que nunca se deve ser muito redutor, deve haver sempre compreensão e tolerância pois é sempre difícil perceber o que se passa na vida e no coração dos outros.
Um beijinho, Isabel.
Mary,
ResponderEliminarJá me ri com as suas paixões assolapadas e com as zangas que se evaporam. Eu também sou bem assim.
Quanto àquilo que referiu ao Caro P. Rufino, de pensar que jamais farias 'cenas tristes' de ciumeira, eu também seria capaz de jurar que eu também não.
No entanto vi uma pessoa que me é muito próxima fazer as coisas mais inacreditáveis com ciúmes, coisas inimagináveis. E é uma mulher evoluída, vivida, uma mulher do seu tempo. E, no entanto, fez coisas que eu acho que nem uma 'mulherzinha' desesperada faria. Doida de ciúmes.
Mas os ciúmes dão cabo da cabeça das pessoas, cabo da vida. Quem padece deles ou quem, em determinada fase da sua vida, se vê aprisionado na armadilha que são os ciúmes, atravessará certamente um período da vida para esquecer.
Enfim.
Um beijinho, Mary.
Caro P. Rufino,
ResponderEliminarGostei bastante de ler o seu comentário/testemunho.
Referi, na minha resposta acima à Maria, que uma pessoa que me é muito próxima fez coisas inacreditáveis quando soube que o marido tinha 'outra'. Já uma vez no blogue falei deste caso.
Ele sempre foi uma pessoa naturalmente predisposta a pular a cerca: alegre, bon vivant, divertido, amigo do convívio e da festa, amigo da irreverência, um pândego. Por onde passava era inevitável dizer graçolas a qualquer elemento do sexo feminino com quem se cruzava. Não era com qualquer intenção. Era assim e tinha imensa graça. A mulher ficava 'podre' de ciúmes mas era mais forte que ele.
Ela é muito bonita, muito elegante, sempre muito bem arranjada, exercendo um cargo de direcção numa prestigiada organização deste país. E no entanto, apesar disto tudo, sempre foi de uma insegurança aflitiva e isso matou o casamento deles.
Ele sempre 'na boa' e ela sempre a censurá-lo, sempre zangada, sempre amuada.
E fazia-lhe uma marcação cerrada, sempre a ligar-lhe, sempre a perguntar onde é que ele estava, etc.
Depois uma vez, ao fim de anos, ele começou mesmo a 'andar' com outra pessoa. Só que a mulher, sempre a controlá-lo, desconfiou (aliás, desconfiava mesmo quando não havia razão).
Ele, que gostava imenso da mulher, passou tempos de aflição, já que estava também a apaixonar-se por esta 'outra'. Nós sabíamos o que se passava mas todos o encobríamos para a poupar.
Um dia a mulher 'apanhou-o' mesmo e aí foi quase o fim do mundo. E não descansou enquanto não descobriu quem era a outra, telefonava-lhe, fez coisas do além, do além mesmo.
Acabaram por se separar pois o marido andava doido com o que a mulher fazia. Passado pouco tempo deixou a 'namorada' mas, apesar das súplicas, não voltou para a mulher.
Mais tarde arranjou uma outra mulher com quem agora vive.
Esta mulher de que estou a falar e de quem sou muito próxima chora ainda os tempos de felicidade que viveu com o marido, antes de ele a ter trocado. Mas eu, que acompanhei o casamento desde sempre, nunca me lembro de os ver verdadeiramente felizes pois ela vivia atormentada e nunca deixou que o casamento respirasse. Disse-lhe isto mil vezes mas os ciúmes sempre foram mais fortes que ela.
Quanto ao conselho que deu à sua amiga, claro que acho ajuizado e sábio, eu faria o mesmo.
Coloca-se a si próprio a questão sobre como reagiria se fosse consigo. Eu também. Claro que preferia não saber. Se tudo estivesse bem, se não me sentisse afectada em nada, então para quê andar a atormentar-me?
E se a coisa evoluísse mesmo no sentido do rompimento, então, apesar do desgosto, penso que a minha reacção acabaria por ser 'adeusinho, vai à tua vida que eu vou à minha'. E talvez pensasse aquilo que sempre penso quando alguma coisa corre mal:' fecha-se uma porta? Não há problema: abre-se outra, ou duas janelas, ou qualquer coisa!' ou, então, 'há mais marés que marinheiros' e partia para outra.
Enfim... acho eu... espero bem que fosse assim. Mas sei lá.
Um bom domingo!
PS: Agora fiquei foi com a pulga atrás da orelha com a Roxelana e com o Suleimão. Tenho que ir saber mais.