Música, por favor
Jane Siberry - Calling all Angels
Os sinos tocam a rebate.
Notícia de quinta feira: a economia cai ainda mais aceleradamente
do que o próprio Banco de Portugal
tinha previsto. É a recessão a cavar uma cova mais funda. O BdP, a insuspeita
entidade governada pelo insuspeito Carlos Costa, revê em baixa as previsões.
Claro. Quando se trabalha tão afanosamente no sentido da destruição do tecido
económico e quando se retira tanto dinheiro da economia, o que se esperaria? Claro que o consumo cai abruptamente e
todo o edifício vai ruindo.
E a receita fiscal diminuiu. Apesar do pesado
agravamento da carga fiscal, apesar de todos nós recebermos muito menos, a colecta é inferior.
Claro. De que é que estavam à espera...?
Com tantas empresas a colapsarem ou a patinarem, é
natural que os resultados (leia-se: ‘lucros’) caiam a pique (e o IRC,
acompanha a queda, é claro). Com tanta gente desempregada ou a ganhar menos, é natural
que o IRS também caia. Com tantas dificuldades, é natural que o consuma caia e,
portanto, menos IVA. Era difícil prever isto? Eu acho que não. Eu acho que isto era mais do que óbvio, um óbvio do mais
cristalino que há.
Quando a economia é atacada, todos os impostos que dela
dependem, caem também. Aumentá-los numa altura de definhamento económico é pura
parvoíce. O efeito é sempre contraproducente pois, ao agravar a carga fiscal,
depaupera-se ainda mais a economia. Medidas destas aceleram os movimentos
recessivos. Medidas destas nestas alturas põem a história a andar para trás,
anulam o desenvolvimento atingido, dão cabo da vida de uma geração. São
inaceitáveis.
Claro que há quem se fie na virgem e mesmo com a fera enraivecida a correr na sua direcção, se deixe estar quieto à espera que a virgem salte
da azinheira para vir em seu socorro. Não haverá muita gente assim mas ainda há
alguns.
Ou é isso ou, então, não é por parvoíce, mas sim, acções estudadas para que isto fique tão de pantanas que, quem queira, possa vir
comprar tudo a preço da uva mijona. O tecido empresarial todo nas mãos de estrangeiros (e mais: de estados estrangeiros!)
É verdade que a dívida baixa, isso é verdade. E assistimos aos nossos fantásticos governantes a gabarem-se disso. Mas, de
facto, é mesmo aquela coisa de deixar de gastar dinheiro a comprar ração para o
cavalo – poupa-se é certo. A chatice é que o cavalo, ao fim de algum tempo,
morre. Será isso pormenor?
Perante este lindo cenário, as consequências são as óbvias: os juros voltam a subir, o risco do País enfrentar a bancarrota volta a subir. E o BdP prevê que este ano o País vai perder mais cerca de 170.000 postos de trabalho.
Se me perguntarem se eu acho que Passos Coelho, Miguel
Relvas e respectiva entourage já perceberam que estão a fazer asneira da grossa,
posso confessar-vos que não estou certa disso. Acho, isso sim, que tudo isto é muita areia para
a camioneta deles.
O mais que Passos Coelho consegue, seguindo certamente um
conselho do gabinete de Imagem (onde lhe devem ter dito para se
mostrar solidário com os sacrifícios dos pobrezinhos), é dizer o que disse no
Congresso do PSD e passo a citar: ‘Como se costuma a dizer, isto está a sair-nos
do lombo’. Gente erudita exprime-se assim.
Quanto a Miguel Relvas, não nos esqueçamos que se
licenciou apenas há 4 anos e em Ciências Políticas e Relações Internacionais,
coisa em que o dizem influente e exímio, mas, note-se, isso é matéria que se
encontra a anos luz de números, de ciência exacta, de gestão económica. O negócio dele é outro.
Isto, meus Caros, é muito preocupante. As
pessoas estão a ficar sem dinheiro, há gente demais a ficar sem emprego, há
empresas demais no limiar da sobrevivência, a economia afunda-se a uma velocidade crescente – e, no Governo, não há capacidade
ou vontade de inverter caminho.
E cá estamos, ainda em Março, e já com um Orçamento Rectificativo que não apenas vem repor a nabice de se terem esquecido de orçamentar as despesas originadas pela absorção do fundo de pensões dos bancos, como também de se terem enganado a prever as receitas, e, também, de se terem enganado a prever as despesas. Enganaram-se redondamente. Nabice, nabice pura, incompetência primária.
Riem-se de quê? Riem um do outro? - só se for isso... |
Vítor Gaspar não sabe o que é gerir uma pasta de finanças (dizem que é jeitoso como estudioso nos bancos centrais mas isso não sei; o que sei é o que vejo e o que vejo é que, a fazer o que está a fazer agora, vem dando sucessivas mostras de que se engana vezes demais). Perigoso isto.
Mario Draghi, no BCE, nos últimos meses, fez aquilo que tinha que ser feito: injectou liquidez na economia europeia, emprestando dinheiro barato aos bancos. Fez isto para ver se consegue reanimar minimamente a economia. Contudo, cá, essas medidas não produzem efeito porque o País está ser governado por pessoas que não percebem estas questões elementares, que não conseguem estabelecer qualquer nexo causal, que continuam apostadas no estrangulamento económico.
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Se a prece de Calling all Angels, linda, já acabou, é agora vez de pormos esta a tocar
Maria Bethania - Teresinha, composição de Chico Buarque
Sinceramente, isto deixa-me apreensiva e desgostada e tira-me a vontade de brincar, de ficcionar.
Assim, nem tenho grande ânimo para vos contar o que se passou hoje
com Eva. Dir-vos-ei apenas meia dúzia de coisas:
1. Teve
lugar uma entrevista para um jornal de referência sobre a operação da véspera (a
aquisição de uma grande empresa). Por ser uma mulher interessante e dada a
comportamentos assim 'a modos que' out of the box, desafiaram-na para uma sessão fotográfica um
pouco diferente. Concordou. A coisa teve lugar no seu gabinete. Depois de uma
noite bem dormida, Eva estava pronta para a guerra. O fotógrafo tinha-lhe dito
que gostava de explorar o seu lado sexy até para evidenciar que uma mulher pode
ser atraente, preservar esse lado feminino e sedutor e ser capaz de compatibilizar isso com a
assertividade na condução nos negócios. Coisas assim despertam a curiosidade de
Eva, desafiam-na, divertem-na. Em casa pensou nas roupas que haveria de vestir. Pensou num vestidinho simples, coisa singela - e pérolas. Bastam pérolas para criar todo um ambiente. Depois pensou que precisaria de música para se desinibir e logo lhe veio à ideia a Teresinha, a história da sua vida cantada pela Diva. Assim foi. Esteve com tanto à vontade que o fotógrafo, o jornalista e
sua secretária estavam surpreendidos.
Numa das fotografias fez questão de estar
sentada à secretária de modo a que se vissem alguns dos objectos que lá tem,
especialmente uma certa moldura. Insistiu com o jornalista que gostaria que se
visse essa fotografia pois, explicou, é um instantâneo de um momento de
especial romantismo. O jornalista e o fotógrafo ficaram um pouco atrapalhados
mas disseram que sim e nada perguntaram, até porque a fotografia é explícita.
2. Na
entrevista zurziu forte e feio neste governo. E defendeu o empreendedorismo, a
boa gestão, uma estratégia de desenvolvimento, de conhecimento, de reforço de
competências desde os bancos da escola, de reforço da formação profissional no seio das empresas. Explicou, e exemplificou para que ficasse bem claro, que o problema da competitividade do País não está, nem nunca esteve, na legislação laboral. Explicou que a motivação dos trabalhadores é fundamental, que a boa organização dentro das empresas é fundamental, que uma liderança forte é fundamental, que trabalhar-se seguindo uma estratégia ambiciosa é fundamental.
3. Perguntaram-lhe
se são verdadeiros os rumores que correm de que está ligada à maçonaria. Eva
disse que só respondia a questões que tivessem que ver com as empresas, com o
contexto em que as empresas operam e com questões de ordem geral relacionadas
com o país em que vive.
4. Perguntaram-lhe
se é verdade que apoia pessoalmente algumas causas humanitárias. Confirmou mas
disse que não as publicita, que apenas divulga as causas que as suas empresas apoiam
e que apenas o faz como incentivo a que muitas mais façam o mesmo e contou que são várias e contou como os trabalhadores das empresas estão envolvidos e solidários nas acções que levam a cabo. O empreendedorismo social e o voluntariado são
causas que apoia com apaixonada convicção.
Eva, fecha então os olhos, apaziguada, cansada da guerra. A poesia produz nela este efeito.
Damien Rice - The Blower's Daughter
da banda sonora de Closer
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A poesia é Litania de Eugénio de Andrade.
Se quiserem respirar luminosas partículas, convido-vos a clicarem aqui para irem até às minhas palavras que voam em volta de uma fotografia que fiz há bocado e de uma certa Pele de Carmim de Ana Marques Gastão. Mendelssohn hoje é magnífico. É no meu blogue Ginjal, claro.
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E tenham, Caríssimos, uma belíssima sexta feira!
sabe, há governos que são marionettes, os ministros e o chefe bonequinhos de madeira movidos por cordelinhos controlados pelo dono deles que está atrás, escondido da vista. por ex, quando eles os bonecos riem, foi porque lhe puxaram os cordeis da boca e do riso.
ResponderEliminarsão portanto paus vestidos mandados, pois as marionettes são de madeira e trapo, e é nos bastidores que é decidido o guião por quem manda verdadeiramente nos bonequinhos.
claro que há fantoches que nos fazem rir, outros chorar, outros assustam-nos.
Diariamente assistimos à actuação desses fantches que fazem os movimentos que lhes mandam e o que ouvimos são as vozes que estão atrás, a dos donos nos bastidores.
em certos casos, os donos nem estão nos bastidores, estão longe, em africa, asia, sei lá, e nos bastidores detrás dos cenários com os cordelinhos estão os seus testa de ferro, procuradores, representantes, sei lá, seguindo as ordens que transmitem em seguida às marionettessei.
antes os espectaculos de fantoches faziam rir as crianças que queriam mais, hoje os mesmos espectaculos perturbam e assustam os adultos.
melhor ver outra coisa de facto.
Eva é bem empresaria intencionada mas não vai ser facil para ela.
Jeitinho amiga:
ResponderEliminarContinuo com pouco tempo.
O Gaspar e o Pedrocas, estão a rir-se de nós.
Quanto à Eva. Cada vez gosto mais dela. Gestora de tudo, até das atitudes. Tudo é estudado, premeditado. Provocadora: a história da foto é genial.
Mas acima de tudo, Eva é mulher. Tem necessidade de carinho, de amor.
E, segundo a frase de Eugénio (como ele sabe de sentimentos femininos!), "Todas as glórias do mundo não valem uma noite de amor",
É tão, mas tão verdade.
Beijinho amiga
Mary the granny.
PS. O pormenor das pérolas, é um achado.
M
É assustador pensar o que fizeram e continuam a fazer com o nosso maravilhoso país.
ResponderEliminarBonito o poema.
Um bom fim-de-semana, que se aproxima
Cara UJM:
ResponderEliminarUma bela opção, como sempre, “calling all angels” , para acompanhar a análise política.
Cirúrgico o seu sublinhado, de mais um linguajar popular com que Passos Coelho nos tem brindado, mas este bem popular, não admira que seja necessário regressar aos exames no 4.º ano, também anotei.
É triste ver para onde estão a arrastar o País que vai sendo vendido a retalho, e ao desbarato, a outros estados, e a que estados?
Passos Coelho disse que a situação se vai agravar, e parece que a estratégia é essa, que a economia bata no fundo, porque a partir daí só poderá crescer, mesmo sem medidas estruturais. Mas … e o sofrimento de tantos jovens, de tantas famílias, de tantos portugueses, é o País a definhar… como irá recuperar?
Eva afigura-se, dia a dia, cada vez mais surpreendente, uma mulher extraordinária: Boa mãe, boa gestora, ainda consegue colecionar arte, ouvir boa música, ser solidária, ser chiquérrima, e ter a poesia como luxo necessário ao grande amor , porque nesta mundo louco, a única Loucura que vale a pena é o Amor.
E tenha uma boa noite. Um abraço da
Leanor formosa e segura
Gostei bastante deste seu Post, mas afazeres vários “para não levar no lombo”, impedem-me de tempo para um comentário mais pensado.
ResponderEliminarNum filme, há uns anos, alguém dizia: “o nosso homem em Hong-Kong está a ocupar-se desse assunto”. Diria que por cá, “o nosso homem em Massamá” (até rima) está a ocupar-se de nós. Ao que vejo, sem arte. Como dizia e bem, com menos receita fiscal, mas mais impostos, com menos consumo, mais falências, menos estímulos ao tecido empresarial - a âncora, por excelência, onde deveria “repousar” (a nossa) Economia. Enfim!
Quanto ás risadas daqueles 2, só se for daquilo que irão prometer no próximo dia 1 de Abril.
Eva é uma grande mulher. Aquele ponto 2 é: “assim mesmo!”
E vou ouvir música, aquela que aqui nos é proposta. Está uma bela noite, por estas bandas onde resido. Apetece!
Um bom fim de semana!
P.Rufino
Bom dia, UJM
ResponderEliminarAdorei esta análise político-social que aponta caminhos que poderiam ser a solução para muita da insanidade que grassa por aí.
A Eva, gostei muito dela, também a dar o seu contributo nas áreas que nos atormentam hoje em dia e também no voluntariado. Também não deixa de alimentar o espírito...tudo faz parte da vida.
Desejo-lhe um bom domingo.
Beijinhos.
Olinda
Olá Caro Patrício,
ResponderEliminarVários dias depois de ter escrito isto, volto para responder aos comentários.
Os países andam a ser governados por fracas figuras escolhidas por quem não tem grandes escolhas a fazer.
Mas, não o contrario, há interesses (fundos de investimento, bancos, investidores, seguradoras, etc, etc) que se movimentam nos bastidores e que vão levando a ´gua ao moinho deles.
Eva é uma pequena ilha de boas intenções, lá isso é.
Obrigada pelas suas palavras sempre tão lúcidas.
Maria,
ResponderEliminarSó hoje, agora à noite, consigo ter um pouco de tempo para aqui responder aos comentários. Tenho que pedir desculpa pela demora.
Gostei imenso da sua compreensão. Revejo-me sempre no que lê nas minhas palavras.
Eugénio conhecia bem a alma feminina (quem sabe, até, talvez por ser homossexual). Escrevia de emoções, de amor e paixão, como as mulheres gostem de ler - presumo que os homens também gostem, com alguma inveja, da luminosidade e pureza das palavras.
Obrigada. Agora, na brincadeira, ia despedir-me, chamando-lhe 'avózinha'... mas acho que a Mary é mais uma super avó que os netos adoram do que uma frágil avózinha... Certo?
Beijinhos.
Olá Isabel,
ResponderEliminarPois é. Portugal é, talvez por carga genética, nem sei, um país permanentemente adiado. Tenho pena.
O poema é lindo, eu acho. Mas sou suspeita, não é...? Gosto muito deste poeta.
Um abraço e uma boa semana.
Olá Leanor, formosa e segura,
ResponderEliminarGostava muito de ver o país a evoluir no bom sentido, sentir que andamos a construir um país decente, moderno, com muitas perspectivas para os mais novos e, afinal, vejo que se está a empobrecer, a regredir, a destruir o pouco que se tinha. isso enche-me de pena.
Eva, no meio deste ambiente, tem dificuldades em afirmar-se mas é uma lutadora, luta sem abdicar daquilo que é e isso é muito.
Obrigada pelas suas palavras que tão bem espelham sempre o que penso quando escrevo e que são um permanente incentivo.
Um abraço. E tenha uma óptima semana.
Caro P. Rufino,
ResponderEliminarEspero que o fim de semana tenha sido repousante depois de dias tão cansativos.
Um dia os portugueses vão ter melhor alternativa do que o 'homem de Massamá' (porque agora, de facto... este Tozé Seguro não me inspira muito...) e, quem sabe?, aí,talvez alguém passe a fazer alguma coisa em prol do progresso deste pobre país.
Eva desespera neste ambiente mas luta, luta. Luta sem abdicar do que é, como mulher.
Espero que tenha gostado das músicas. Por acaso, sendo de géneros distintos, neste dia gostei muito das três músicas que escolhi.
Obrigada pelas palavras. Uma boa semana!
Olá, Olinda de Xaile e colar de pérolas, com um baú repleto de belas escolhas,
ResponderEliminarMuito obrigada pelas suas palavras.
Eva, a heroína da minha história, é uma lutadora e pratica na sua vida os princípios por que se rege.
O exercício activo da cidadania, o voluntariado, a generosidade (o que é diferente de caridade) estão sempre presentes na sua vida.
Um abraço, Olinda e tenha uma bela semana!
Jeitinho Amiga:
ResponderEliminarTenho amigos homossexuais. São as melhores "amigas", que uma mulher pode ter, desde que não tenham o azar, de se apaixonarem, pelo mesmo homem. São fieis, sabem guardar segredos, coisa que aqui para nós, é raro entre mulheres.
Eugénio, compreendia as mulheres, com uma delicadeza, uma naturalidade, que um macho man, nunca teria.
Beijinhos da avó cheia de sono e cansada, mas feliz.
Maria