Música, por favor.
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Defender que a vida deve ser um calvário, uma prova de
obstáculos, uma sucessão de derrotas é do pior que há. É uma estupidez, é uma
coisa mórbida.
A vida deve ser fácil, suave, cheia de sucessos, com as
pessoas a gostarem uma das outras, a ajudarem-se mutuamente, leais, generosas,
cada pessoa deve ter direito ao seu grande amor (ou a mais do que um), aos seus
momentos de arrebatada paixão (se necessário for, intercalados por momentos de
drama para acentuar ainda mais o calor da paixão), a vida deve poder ser vivida
sem rupturas insuportáveis, sem tragédias, sem sofrimentos prolongados. A vida
deve ser uma sucessão de realizações, deve proporcionar motivação, entusiasmo,
alegria. A vida deve ser uma feliz procura de conhecimento, de experimentação,
de descobertas surpreendentes e boas.
Sebastião Salgado com Lélia (que dizem que 'costura as suas imagens') |
As pessoas com mais de sessenta (eu, se tudo me correr
como desejo, hei-de lá chegar, e depois serei
septuagenária e, depois, por aí fora, até ser uma centenária bem
disposta e atilada da cabeça – e façam o favor de perceber que isto sou eu a
falar na brincadeira, não sou maluca ao ponto de pensar que a vontade tudo pode) devem concordar comigo pois, como já
aqui o referi, as pessoas, à medida que têm mas experiência de vida, vão percebendo
melhor o que é a tolerância e a felicidade. Mas os que são jovens devem achar que inalei qualquer coisa estranha (por
exemplo o gás do riso – que levou a Demi Moore ao hospital, imagine-se uma
coisa destas), que devo estar a flutuar algures num qualquer limbo bem acima da
realidade.
Nada disso. Tenho os pés bem assentes na terra, movo-me
em terrenos em que a racionalidade e o pragmatismo são indispensáveis.
Contudo, o que penso é o que escrevi e isso é todo um programa
de vida.
Acredito que nos foi dada (pelos nossos pais – por quem
mais havia de ser?) a possibilidade de vivermos e que é agora e só agora que
deveremos usar os meios que temos ao nosso alcance para desfrutarmos essa experiência
da melhor maneira possível.
Índios Zo'e do Pará |
Sendo supostamente dos poucos seres racionais à
superfície da terra, porque nos haveremos de portar mais irracionalmente do que
os animais das demais espécies?
Que não se pense que isso significa usar à labúrdia todos
os recursos, espatifar com tudo à nossa volta numa insana luta hedonista - o prazer pelo prazer do prazer, como
se não houvesse amanhã. Há amanhã para nós, para os nossos descendentes, para
as gerações futuras e o que deveremos querer, de forma consistente e sustentada, é um mundo cada vez melhor em que
as pessoas vivam em paz e harmonia entre si e entre si e a natureza.
Oração de agradecimento em Oaxaca, Máxico |
O que isto significa é que pensar assim é sinónimo de:
- não fazer da expiação, do sofrimento, do empobrecimento, do desemprego, uma prática política;
- é não fazer da amargura e azedume uma forma de estar;
- é não querer que a comunicação social se alimente de tudo o que é mesquinho, negativo, deprimente;
- é querer que se divulgue o que é bom, belo, feliz e não, sistematicamente, o que é mau, horrível, angustiante;
- é querer que a arte em todas as suas formas seja de divulgação obrigatória desde a mais tenra idade;
- é querer que, nas escolas, se ensine os jovens a serem melhores cidadãos, a saberem lidar com o inesperado, a saberem conhecer-se, a serem lutadores, exigentes, a terem auto-estima
- é ensinar, mas ensinar mesmo, filosofia, psicologia (a par da língua portuguesa, das matemáticas, de outras ciências, das demais humanidades, etc, etc .) pois o País precisa de gente com saber, com técnica – mas gente culta, informada, bem formada, que saiba pensar, que saiba lidar com os outros, que saiba vencer as suas próprias limitações, que perceba que há sempre mais para além do que já se sabe;
- é ensinar a dar, é ensinar a receber, é ensinar a partilhar
- …. e mais coisas neste comprimento de onda.
Sei que quem me esteja a ler e tenda para o pessimismo
vai achar que isto é xarope e do mau, que isto poderia ser convertido num livro
de capa azul e muitas florzinhas e borboletas, com a minha cara retocada, rosada e sorridente e,
lá dentro, muitas fotografias do género, passarinhos, carinhas larocas, frases
a bold e muita auto-ajuda.
Paciência. Podem fazer os sorrisinhos complacentes e
superiores que tanto se me dá.
Sei por prática que isto é saudável e que é possível.
Se na mesma organização houver um sector que segue esta
linha de conduta e um outro em que de cima vêm exemplos de derrotismo, de
inércia, de rivalidade, as diferenças dentro de cada departamento são notórias. De
um lado teremos pessoas motivadas, lutadoras, generosas, bem dispostas e, do
outro, teremos pessoas abúlicas, desinteressadas, ressabiadas, improdutivas.
O País tem que sair da fossa em que se encontra e na qual
parece que há quem queira que fiquemos enterrados, vivos.
Serra Pelada |
Não podemos globalmente, como nação, expiar culpas que não são de toda a população, não podemos deixar-nos para aqui ficar sendo geridos por quem não sabe nada de coisa nenhuma, um governo que a única coisa que sabe fazer é obedecer cegamente a ordens, mesmo quando as ordens conduzem ao caos, à penúria e à desestruturação social como se vê que está a acontecer na Grécia.
Para clarificar o que penso: acho que, na situação em que estávamos, endividados por décadas de desequilíbrios estruturais, com os 'mercados' a atacarem-nos como cães esfaimados, com as taxas de juro a dispararem dia após dia e com as agências a não nos largarem as pernas, não podíamos ter deixado de recorrer a ajuda financeira nem podemos deixar de pôr em prática medidas de reestruturação e de contenção de
gastos despropositados. Na altura em que li o memorando da troika concordei com
grande parte do que li. Era um programa de racionalização bem feito. O drama é o prazo tão curto pois não se fazem ajustamentos destes em 3 anos, o drama é querer ser mais papista que o papa e desatar a fazer tudo e mais do que isso, com medidas avulsas e a
correr, sem olhar aos danos colaterais ('custe o que custar' diz Passos Coelho numa bravata que lhe há-de, um dia, sair cara e depois se verá quem é o piegas) e, pior, muito pior que isso, o drama é não
equilibrar esse plano com um outro de relançamento da economia.
O facto de olhar apenas para um dos lados da equação e à bruta, tem provocado todo este desequilíbrio suicidário.
O que há a fazer é ter um pensamento estruturado para
o país, um pensamento baseado na confiança, na auto-estima, na motivação, no
conhecimento, e pô-lo em prática de forma balanceada: racionalização de gastos
por um lado e relançamento económico, por outro - e tudo acompanhado por políticas humanistas e de incentivo ao conhecimento.
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Peço agora a vossa melhor atenção para Bunker Roy e a sua notável Universidade dos Pés Descalços.
(Está legendado e dividido em duas partes - mas, por favor, tentem ver tudo)
(Está legendado e dividido em duas partes - mas, por favor, tentem ver tudo)
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Tenham, meus Caros, um belo dia!
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(PS: Já o disse no título e penso que não oferecem dúvidas pois têm inegavelmente a sua marca, mas não é demais repetir: as fotografias, de uma sensibilidade tocante, são de Sebastião Salgado.)
Cara UJM:
ResponderEliminarGostei do “post”. Obrigado por ele.
Termina com duas lições de mestres:
* não procures soluções fora, mas dentro (eu quase acrescentaria: “de ti”);
** primeiro, ignoram-te; depois, riem-se de ti; depois, combatem-te; por fim, tu vences! (Gandhi).
J. Rodrigues Dias
Passo só para deixar um forte abraço.
ResponderEliminarO factor tempo, esse ditador, não me permite ler, calmamente, deliciada, descontraída, este post.
Espero, poder amanhã ter esse enorme prazer.
Uma noite tranquila.
Abraço.
Caro J. Rodrigues Dias,
ResponderEliminarTemo sempre ser um bocado repetitiva. Mas acho que a situação do País é tão grave e a apatia e passividade dos portugueses tão angustiante que não me canso de bater na mesma tecla. Os portugueses têm que gostar de si próprios, têm que ser inovadores, exigentes, criativos, têm que descobrir e reinventar uma maneira de isto voltar a ser uma nação valorosa. Até pareço uma nacionalista conservadora e bafienta a falar. Mas, de facto, sou nacionalista e sou orgulhosa de o ser (embora não seja bafienta nem conservadora)
Adorei a frase do Gandhi. Não conhecia. Obrigada.
Olá, Teresa!
ResponderEliminarTão querida!
Muito obrigada. Cá terei um cházinho à sua espera, venha quando tiver tempo, a porta está sempre aberta para as companhias agradáveis.
Um beijinho.