terça-feira, junho 17, 2025

3 postais

 

Postal 1

Quando, à tarde, fazemos caminhadas alargadas, por vezes cruzamo-nos com jovens que vêm de algumas obras e vão apanhar um autocarro lá mais ao fundo. Todos negros, pele absolutamente negra, 

Fico sempre agradada com o seu perfume. Cheiram a banho fresco, a cuidados com o corpo e com o rosto. 

Fico a pensar que devem dormir em bairros clandestinos, se calhar sem casa de banho, em casas frágeis e temporárias, ou em quartos, se calhar vários colchões no chão. Nas obras devem ter possibilidade de tomar banho e de se arranjar. Vêm bonitos, bem arranjados.

Devemos muito a estas pessoas que fazem as nossas casas e arranjam as nossas estradas e jardins e que vivem tão precariamente. Pessoas como nós.


Postal 2

Íamos a caminhar à beira da praia, sempre linda e ainda mais ao entardecer. 

À nossa frente ia um jovem alto e robusto, encorpado, aspecto de jogador de rugby. Vinte e muitos, trintas e poucos anos, pernas grossas, peludas, todo ele robusto e musculado, mas sem ser daquele género de ginásio, mais o género desportista de desporto de equipa. Cabelo curto um pouco despenteado, barba. Vestido casualmente, risonho, bem disposto. 

Ao lado dele, um outro jovem em tudo o oposto. Mal chegava ao ombro do calmeirão, perninhas fininhas, todo ele magrinho, um cabelo fino, algo esvoaçante, óculos brancos, graduados. Para acompanhar a passada firme e larga do grandão, o magrinho parecia uma frágil libelinha quase saltitando em volta. Ao ir atrás deles, pareceu-me reparar que, de vez em quando, as mãos quase se tocavam. Conversavam, riam, de vez em quando abrandavam ligeiramente, parecia-me que o grande lenhador percebia que o outro estava com dificuldade em acompanhar a sua passada ampla. 

Perguntei ao meu marido: 'Não é um casal, pois não?'. O meu marido ia focado no nosso cão e noutros pois há sempre quem deixe os seus sem trela e há que evitar encontros destes, pois facilmente tendem para o confronto. Olhou de relance e foi categórico: 'Não!'. 

Mas, nessa altura, pararam ambos, o mais baixo agarrou a cara do grandalhão, pôs-se em bicos de pés e deu-lhe um beijo na boca. O outro correspondeu. Deve ter sido o primeiro beijo pois desataram a rir como se tivessem dado um grande passo, depois abraçaram-se. Depois, prosseguiram de mão dada, o magrito quase esvoaçava de alegria. O grandão sorria também mas de forma contida, quase como quem não quer a coisa. 

Tomara que não seja apenas um namoro de verão, que seja um amor para a vida.


Postal 3

Passou por nós um homem gordo a andar de bicicleta. Ia de calções e tshirt mas, pela forma como ia sentado e pela sua forma avantajada, ia com o rabo meio de fora. Ao lado dele, correndo, preso por uma trela, um cão. 

Quando me cruzei com ele pensei que estava com ar de ir com os copos. 

Passado um bocado, já mais adiante, um estrondo, um grito. Olhámos. O homem estava no chão, a bicicleta caída, e o cão, solto, muito admirado a olhar para ele. O homem deu outro grito pelo cão, mas o cão estava imóvel., notoriamente assustado com a queda do dono. 

Parámos para vermos se era precisa ajuda. O homem, a custo, tentava levantar-se. Mais uma vez fiquei com a sensação que não estava especialmente sóbrio. O cão aproximou-se, arrastando a trela. Finalmente, o homem conseguiu montar-se outra vez na bicicleta, o rabo ainda mais de fora. E lá prosseguiu, meio aos esses. O cão ao lado, a levar o dono à trela.

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Dias felizes

Be happy

4 comentários:

  1. Chamem-me o que quiserem.
    -- imigras, mariconeros e cafeteirolas.
    ---Devemos muito a essas pessoas--- Eu acho que não devo nada, e também acho que quem eventualmente lhes deve, é quem os contrata e lhes paga mal, de resto se eles nos são uteis, Portugal também lhes é util.
    --- não é um casal pois não --- Um casal é OU ERA um conjunto de dois, um macho outro femea, grotescamente já alteraram isso em nome da liberdade. Pobre liberdade, como se servem de ti.
    --- beber vinho é dar o pão a um milhão de portugueses --- Disse o eleito melhor português, por uns portugueses da qualidade tacanha dele. Alguns ainda fazem questão de homenagear essa dica, antes que se esqueçam. Ou então é para se esquecerem que vivem em liberdade.
    3 TELEGRAMAS
    1- A BLASFÉMIA É A MELHOR DEFESA CONTRA O ESTADO GERAL DE BOVINIDADE
    2 - A DOR DA QUEDA É MAIOR QUE A ALEGRIA DO SALTO
    3 – VIVA CADA DIA COMO SE FOSSE O ULTIMO. UM DIA VOÇE ACERTA.

    Bom fim de semana
    M.Linho

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    1. Caro Manuel Linho,
      Habitualmente não publico este género de comentários pois não apenas não se enquadram neste espaço, que pretende ser um espaço de respeito, inclusivo, bondoso, como são comentários que, de certa forma, normalizam o que são atitudes perigosas, de desinformação e ostracização.
      Hoje publico pois considero que também é bom que se perceba o que vai na cabeça das pessoas de que se alimentam os partidos populistas e de extrema-direita.
      Um casal é um conjunto de duas pessoas que se amam e se sentem atraídas uma pela outra. Ninguém escolhe a sua orientação sexual pelo que ninguém pode ser responsabilizado por ter nascido assim. Dois homens que se sentem atraídos um pelo outro têm tanto direito à felicidade e ao respeito alheio como os casais heterossexuais.
      E, a menos que viva numa gruta no meio da montanha, claro que deve muito aos imigrantes. Desde logo estão a contribuir para a Segurança Social e o dinheiro das suas contribuições é precioso para o equilíbrio das contas já que Portugal é um país de fraca natalidade e, felizmente, de longa esperança de vida. E, além do mais, largos sectores do mercado de trabalho são maioritariamente ocupados por imigrantes. Sem eles, a economia levava um tombo de todo o tamanho.
      Tenha um bom dia.

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  2. Cara UJM.
    Acabei de ver um miudo deputado do chega, fazer uma infeliz analogia na AR, precisamente a proposito da entrada de imigrantes, mas quando UJM refere que Portugal é um país de fraca natalidade, quase lhe dá razão com a sua -dele- falsa preocupação com a teoria da substituição. Sem eles a economia levava um tombo claro, como a de alguns já levou, sempre que alguém, a bem da economia, decide -libertar- algumas centenas ou milhares de pessoas, como decerto já fez, ou com alguns que foram libertados para depois ver alguns emigras ocupar o seu lugar com menos custo para a economia, do patrão claro. Ou com o aumento da rendas graças a outros emigras que também fizeram disparar o preço das casas, mesmo as de luxo por aqueles que compraram vistos gold. Quanto á orientação ou desorientação sexual de cada um, lembro-me logo logo da TINA, WHAT LOVE GOT TO DO WHIT IT. Seja como for cada qual come do que gosta, mas nem todos sentem necessidade de fazer marchas de orgulho, e se há paises onde a homosexualidade é proibida, noutros qualquer dia é obrigatória. E para esclarecimento final, tenho a dizer que se fosse sozinho e tivesse menos umas dezenas de anos, ia viver numa montanha, onde pudesse ficar sem observar ou ser atingido pela maldade, a hipocrisia e outras qualidades do mundo civilizado. No pós 25 de Abril, quando deixei de ser cego, havia quem me chamasse comunista, outros fascista, outros maluco, palerma, ingénuo ou anjinho, faça a sua escolha.
    Abraço
    ML

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    1. Tantas confusões que para aí vão. Não há mão de obra 'nacional' suficiente para o País funcionar. Se os imigrantes se fossem embora a economia pararia. Não é ideologia: é estatística, é realidade.
      Mesmo que os empregadores pagassem o dobro, não resolveriam nada, não saem 'portugueses de gema' de debaixo das pedras. Para além disso, os custos disparariam e os 'portugueses de gema' iriam queixar-se que as coisas estavam muito caras.
      Quanto à homossexualidade não sei onde vive. É que pelas minhas bandas ninguém alguma vez tentou convencer-me a ser gay. Mas, mesmo que tentassem, não iam conseguir. A orientação sexual não é uma opção. Sou e serei sempre heterossexual. Nasci assim.
      Dias felizes para si

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