segunda-feira, junho 16, 2025

Dia bom depois de noite de pesadelo

 


O pessoal e o pessoalzinho esteve todo cá em casa (com excepção para o menino mais crescido que está a preparar-se para um exame dentro de dias) e, portanto, dia bom e animado e feliz. 

O cão esteve um bocado reactivo e portou-se mal, mas isso são outros quinhentos. Vamos ter que fazer alguns ajustes na convivência em dias de alegria colectiva e repasto na mesa do exterior pois hoje esticou-se e não foi pouco. Cão mais do caraças, este. Bolas. 

Parece um fofo, um santinho, não é?
E muitas vezes até é.
A minha filha diz que parece que se ri.
Pois, pois... O pior é quando se estica

Adiante.

Levantei-me cansada e agitada pois, não sei porquê, voltei a ter pesadelos. Acordei assarapantada com a situação e custou-me a acalmar-me. E o pior é que umas horas antes tinha sucedido a mesma coisa. Da primeira vez, levantei-me, bebi água e voltei a adormecer... para voltar aos pesadelos.

O do meio da noite já nem me lembro o que era mas o que me fez acordar de manhã foi uma coisa muito estúpida. Tinha ido às compras, tinha que ir para casa pois tinha o jantar para fazer e vinham todos cá, e, em vez de ir de carro, fui num carrinho minúsculo, quase parecia um corta-relvas com um banco e um volante. Mas, às tantas, do nada, apareceu uma portagem com uma cancela. E aquilo não reconheceu a minha viatura e não deitava bilhete, nem aceitava o cartão nem levantava a cancela. E todos os carros atrás de mim apitavam. E eu não conseguia sair dali pois também não havia funcionários. E o carrinho deixou de funcionar, já não arrancava. Então, levantei-me e fui a empurrar aquela carripanazeca até a uns escritórios lá mais à frente. Estavam duas funcionárias na conversa e não me ligavam nenhuma. Quando insisti para que me atendessem, disseram que o sistema não estava preparado para veículos como o meu e que, por isso, não podia passar. E estavam com ar desdenhoso por eu estar com aquele carrinho. Eu explicava que era por razões ecológicas, que, só para mim, era disparate andar num carro grande. Mas elas faziam um ar de gozo, como se eu estivesse a receber o tratamento devido. E eu perguntava como é que, então, eu ia para casa. Não queriam saber, não era da responsabilidade delas. Depois disseram que iam fechar o escritório, que eu tinha que sair. E assim fizeram. Fiquei na rua, debaixo de uma chuva a cântaros. Queria ligar para o meu marido mas, com tanta chuva, não conseguia, o telemóvel não funcionava. Quando finalmente consegui, não sabia o nome daquela rua nem havia ninguém a quem perguntar. O meu marido dizia para eu olhar em volta para identificar qualquer coisa. Mas eu olhava e só via prédios todos iguais, nada que me dissesse minimamente onde estava. E o tempo a passar, eu com o carrinho carregado de comida para confeccionar, a família toda a ir lá jantar a casa e eu sem saber como sair dali.

E foi isto. Completamente absurdo. Mas uma aflição.

Não sei porque é que isto me acontece. Não fui para a cama com o estômago cheio que é o que parece que costuma provocar sonos agitados. O meu marido diz que foi a série dinamarquesa que me impressionou. Não creio. Isto é o tipo de sonho que tenho recorrentemente: ou não sei onde estacionei o carro e ando às voltas, carregada de sacos, com compras pesadíssimas, e sem ter ideia onde procurá-lo e os miúdos estão cansados, não querem andar mais, ou, nesta demanda, passo por estradas à beira de precipícios ou com buracos enormes e perigosos e, como sempre, vou com os miúdos e tenho medo que caiam ou que se percam de mim, ando sempre a contá-los para ver se estão todos. Sarilhos assim.

Cenas reais em que não sabia onde tinha deixado o carro pois não o encontrava onde julgava estar, aconteceram-me duas vezes. E não é agradável. Uma pessoa fica meio zonza, sem saber se há-de pensar que roubaram o carro ou se há-de pensar que teve uma branca estranhíssima

Ou estar a conduzir e perdida de todo sem saber onde estava, isso também já me aconteceu pelo menos umas três ou quatro vezes e também não foi nada, nadinha, agradável, especialmente em duas vezes de noite, em lugares que eu desconhecia de todo, pelo que nem conseguia dizer onde estava (numa das vezes, numa era pré gps, e noutra vez, numa era pré-waze, em que o gps do carro desconhecia aqueles lugares e não atinava (nem falava) pelo que me pôs a fazer percursos completamente erráticos. Uma pessoa tem a sensação que pode ter caído num buraco negro sem noção de como de lá há-de conseguir sair.

Mas uma coisa é a realidade e outra são os sonhos. Contudo, a verdade é que estes meus pesadelos me deixam ansiosa. Acordo debaixo dum estado de nervos como se a situação fosse real, e, a noite passada, da segunda vez, porque já eram horas de me levantar, nem tive ocasião para dormir sossegadamente em cima daquele disparate, pois isso talvez me tivesse acalmado. 

Ao levantar-me, sentindo aquele aperto de ansiedade, até me fez lembrar o que me acontecia durante aqueles anos em que o meu pai estava a definhar progressivamente e nós sempre com o credo na boca à espera que aquele equilíbrio instável se desequilibrasse de vez, ou, mais recentemente, naqueles tempos terrivelmente angustiantes que precederam a morte da minha mãe, quando me levantava a sentir-me enervada, parece que sempre com medo de receber alguma má notícia. Na volta ainda são reminiscências desses tempos. A nossa cabeça tem mecanismos autónomos, não basta a gente dizer-lhe que 'está tudo bem, não há razão para stresses', que ela não nos obedece.

Quando isto acontece, no dia seguinte, quando vou para a cama até vou com medo de ter mais uma noitada repleta destas aflições nocturnas. 

Enfim. Já é tarde, tenho que ir. Pode ser que esta noite seja tranquila, não é?

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Desejo-vos uma boa semana

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