Largar tudo e optar por uma vida minimalista em que todos os pertences pesam cerca de nove quilos e cabem numa mochila, trabalhar em regime de voluntariado em jardins em troca de um lugar para dormir, não é para qualquer um. É o próprio Theo que reconhece que, se tivesse filhos, certamente não teria enveredado por uma vida assim, desligada da posse de bens materiais, vivendo em comunhão com a natureza.
Fala de forma tranquila, parece em paz consigo próprio e com a vida que leva e com o que o rodeia.
Quem passa por uma situação como tenho passado recentemente, tendo que me desfazer do que os meus pais laboriosamente juntaram durante toda a vida, os meus filhos pouco querendo, eu não tendo onde guardar mais coisas, e, forçosamente, tendo que dar tudo (ou quase tudo) a quem quisesse e precisasse, percebe que o júbilo que vem da posse é efémero e, na verdade, destituído de sentido.
No meu caso, poderia ter optado por vender tudo o que não tinha destino dentro da família. Meio mundo me recomendou. Mas não quis fazê-lo. Preferi dar. Muitas pessoas pobres foram lá e escolheram o que quiseram. Ficaram felizes como se lhes tivesse saído a sorte grande. Mobílias, louças, roupas, bibelots. Pessoas que dormiam em camas articuladas metálicas e, de repente, têm uma mobília de quarto, bons lençóis, bons cobertores, boas colchas. Outras saíram felizes com tachos de inox de boa qualidade. Jarras e molduras. Tantas coisas. Claro que se me parte o coração. Claro. Claro. Custa-me muito. Mas, não tendo nós onde colocar as coisas, penso que dar a quem precisa é a solução mais digna. Penso que as pessoas devem sentir-se orgulhosas por terem coisas tão boas e imagino-as a dizerem que são coisas da casa da Professora, coisas que a filha resolveu dar.
Mesmo aquilo que trouxe aqui para casa, por serem coisas especiais, com significado muito específico, por não ter onde colocar, acabei por deixar na garagem. E refiro-me a dois cadeirões, uma escrivaniha, um louceiro, um móvel pequeno. Já antes tinha trazido colchas e toalhas de renda e coisas assim.
Agora foi tudo o resto.
Claro que me custa que coisas boas, de que eles tanto gostavam, acabem na minha garagem, sendo que, de certeza, não vou dar-lhes uso. A esperança que tenho é que, daqui por uns anos, quando os meus netos tiverem as suas casas, venham cá abastecer-se. Mas quererão eles móveis deste género? O meu marido diz que não e aborrece-se comigo, diz que trazer esta meia dúzia de coisas é apenas aumentar o problema que estamos a deixar para os nossos filhos um dia que tenham que ser eles a dar destino às nossas coisas.
Compreendo. Mas toda a nossa vida foi formatada para 'termos' coisas. Mas, pensando bem, na realidade, parece inteligente ter o mínimo de coisas, não deixar tralha e encargos para os nossos descendentes.
Não sei se António Mexia, sempre tão blasé, sempre tão cheio de si próprio (embora fingindo que não), é mais feliz que Theo du Plessis. Tenho muitas dúvidas.
Partilho o vídeo no qual este último mostra como é a sua vida. Penso que é um vídeo muito sereno, muito agradável de ver. Está traduzido.
Freedom of Less: One Man's Minimalist Journey
Choosing a different path in life, one that breaks away from the norm, can often feel lonely. The pressure to conform is constant, with those around you eager to pull you back to the familiar and the comfortable. So to walk the path that is truly your own, you must first connect with who you are at the deepest level — your emotions, your desires, and what truly drives you. This journey requires stepping away from what society says you should be, and instead discovering your truth for yourself. In the end, life is about making deliberate choices, setting your own pace, and defining your own purpose with each step forward. This film is a reflection on the courage it takes to follow that unique, authentic path, even when the world encourages you to turn back.
Back in 2021 we shared a story featuring Theo, called "Being Simply Beautiful". It has received almost 2 million views to date, and comments continue to pour in, sharing appreciation for this man and his journey. We've also received many questions about his personal situation and how he sustains his chosen lifestyle.
We recently heard that Theo was building a food garden on a farm near where we live. So we decided to use the opportunity to revisit with him to bring you this follow up film, answering some of the many questions that we have received.
Quem como eu não tem descendência tem bem a noção de como a posse é efémera. Até pela sucessão, que não é coisa evidente.
ResponderEliminarMas, juro-lhe, tive quem na parentela me viesse exigir os trapos da mãe, enterrada uma semana antes.
Por vezes esquecemo-nos que estamos de passagem. E algumas pessoas, então, de tão agarradas e gananciosas que são, dá ideia que pensam que não apenas são praticamente eternas como que, um dia que acabem por ir, pensam levar tudo com elas. Faz impressão....
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