Quando de manhã saí de casa, ia, como sempre, meio aluada, a olhar para o céu, a perceber a intensidade e o sentido da ondulação das árvores que já fazia antever a ventania que à tarde se faria sentir. Ia com o telemóvel na mão pois posso sempre receber uma chamada ou uma mensagem ou pode surgir algum motivo para ser fotografado.
E, então, sem que estivesse para tal preparada, vi um esquilo aqui mesmo ao pé de casa. Estava no caminho. Olhou para mim e deixou-se ficar. Pus-me de roda do telemóvel, à procura da câmara. Quando avancei, num ápice, subiu ao pinheiro mais próximo e ficou ali, ao alto, a observar-me. Pé ante pé, aproximei-me, ainda com a ideia de o fotografar. Mal levantei os olhos do telemóvel já ele tinha desaparecido.
Andei de volta do pinheiro mas já não o vi.
Entretanto, sob os pinheiros, quase por todo o lado, há incontáveis pinhas roídas. Vejo agora também muitas bolotas no chão.
Fui lá para baixo caminhar. Parei para olhar lá para cima, para o pinheiro onde ele tinha estado. Nada. Tinha desaparecido. Quantos mais animais haverá escondidos nas ramagens, nas tocas, atrás de pedras?
Estava nestes pensamentos, absorta, quando olhei em frente. Até me arrepiei. Estava à minha frente. Parado. Claro que não sei se é o mesmo. O meu marido diz que acha que há vários.
Fiquei parada. Ele olhou para mim e depois, de novo num passe mágica, desapareceu.
Qual a amplitude dos saltos, qual a velocidade, qual a função matemática que descreve os seus percursos, isso eu não sei. Mas, tivesse eu uma câmara, certamente lá chegaria.
Se eu dissesse isto que acabei de escrever a alguns dos meus netos para lhes mostrar a abrangência e a beleza da matemática, perguntar-me-ia: 'E para que é que serve saber quais as funções matemáticas que descrevem os saltos, as corridas, os percursos dos esquilos?'. E eu talvez não tivesse na ponta da língua a resposta que inequivocamente demonstraria que é melhor conhecê-las do que desconhecê-las.
É que poucas coisas há no mundo, na natureza, na vida, que não sejam susceptíveis de serem modelizados, analisados (qual o padrão que seguem, como se distribui a frequência de ocorrências, etc) e, a partir daí, efectuar previsões, detectar desvios e o seu significado, etc.
Claro que nem todas as abordagens à matemática são iguais. Há quem seja super estudioso, quem não dê um passo sem percorrer os cânones, sem ter a certeza da fundamentação de cada raciocínio. Nunca fui assim. Sou muito intuitiva. Sou de me atirar de olhos fechados, frequentemente sem ser capaz (ou, melhor, sem paciência) de explicar como lá cheguei. Quando estudava e os meus conhecimentos eram postos à prova, acontecia-me muito, mesmo sem querer, ver-me colocada em piloto automático, a dar respostas imediatas mesmo a problemas complexos. A sensação que tinha era que atirava ao calhas. Como geralmente acertava, ganhei a fama de inteligente. Ainda hoje quando me encontro com os colegas da altura, referem situações em que 'dei baile' ou coisas do género. Em geral não me lembro de nada disso. Lembro-me, sim, que, na altura, quando mostravam o seu espanto, eu achava que, na volta, eu era um bluff, que dizia a primeira coisa que me vinha à cabeça e que, apenas por mera coincidência, acertava.
Hoje sei que o cérebro tem mecanismos de tipo 'atalhos' em que, a partir de certos indicadores que o cérebro capta, os neurónios estabelecem circuitos super rápidos. Claro que isso é involuntário e independente da nossa vontade. O que eu poderia fazer, voluntariamente, era determinar-me a não dar ouvidos à minha intuição. Mas nunca o fiz. Por preguiça e talvez pelo prazer de correr riscos, sempre tive, sobretudo, a tentação de me deixar ir, às cegas. Claro que hoje, também sem querer, já tendo a ser mais prudente. Mas isso traz-me maior insegurança e maior consciência das minhas limitações.
E se estou com esta conversa é porque estive a ver vídeos sobre a intuição em matemática versus o suposto 'rigor' matemático. Interessantíssimo, interessantíssimo.
Mas porque podem ser um bocado herméticos ou desinteressantes para quem não goste especialmente do tema, tenho aqui um vídeo que me parece de interesse mais geral.
Como a matemática traz ordem ao nosso universo | Talítia Williams
A estatística Talithia Williams sobre como a matemática é o caminho mais claro para a compreensão da nossa existência.
O que tem a matemática a ver com a teologia? De acordo com a Dra. Talithia Williams, professora de matemática e comunicadora de ciências, bastante.
Em pouco menos de três minutos, Williams explica como a matemática liga o mundo natural com ideias mais profundas de ordem e propósito. A matemática, diz ela, ajuda-nos a compreender tudo, desde a migração dos peixes até aos padrões que vemos na natureza, revelando a estrutura do nosso universo.
Williams acredita que a matemática é mais do que apenas números – é uma linguagem universal que oferece insights sobre a nossa existência. Esta interseção entre matemática, natureza e cultura revela algo profundo e profundo sobre as nossas vidas e o propósito por detrás delas.
Há pérolas intemporais,
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=CsuHTuRQVb8