Estava na farmácia, deambulando por entre os expositores, tentada por mil promoções -- protectores solares, cremes para prolongar o bronzeado, sprays para hidratar o cabelo, colagénio sob todas as formas -- quando entrou um homem jovem, bonito, de óculos escuros. Olhou para mim, sorriu e cumprimentou-me muito bem.
Disse-lhe boa tarde, disfarcei mas fiquei ali parada, a fazer de conta que estava a ver os produtos e a puxar pela cabeça. De onde é que ele me conhecia para me cumprimentar assim? Conhecê-lo-ia eu também?
Depois chegou a minha vez. Fiquei num balcão. Depois chegou a vez dele e ficou num outro balcão, um pouco afastado. A funcionária foi lá para dentro à procura do que eu tinha pedido e aproveitei para olhar de soslaio para o jovem. Estava a ser atendido por uma técnica que se derretia em sorrisos. Ouvi então a voz dele. E, de súbito, fez-se-me luz: um conhecido, super-super-conhecido cantor! Na volta, cumprimentou-me por achar que eu o tinha reconhecido.
E, como quase sempre, quando a gente os conhece da televisão, ao vivo constata que têm uns palmos a menos. Não que seja baixo, não é, nem isso interessa para nada, só que não é tão alto como o imaginava. Mas não foi por isso que não o reconheci. Não reconheci simplesmente porque sou despistada. E provavelmente estas pessoas muito conhecidas pensam que toda a gente os reconhece.
Também acontece cruzar-me com uma outra pessoa muito conhecida que passa por aqui a correr. Ao contrário de muitos e muitas corredoras que por aqui passam, cumprimenta sempre com um sorriso. Acho simpático. Mas na primeira vez também só o reconheci já ele devia ir a uns bons quilómetros. Tinha-me parecido que o conhecia e não me lembrava de onde.
Quando para aqui vim morar, estranhava muito que toda a gente se cumprimentasse. Agora também eu já faço o mesmo.
Claro que isto é exequível quando nos cruzamos com poucas pessoas.
Por exemplo, hoje almoçámos no centro de Lisboa. Deixámos o carro no parque subterrâneo ali perto e andámos um pouco numa das mais movimentadas avenidas da cidade. E obviamente ninguém cumprimenta ninguém. Aliás, ninguém olha para ninguém. Uma pessoa daria em maluca se cumprimentasse toda a gente com que se cruza num lugar assim.
Depois de uma vida inteira a viver e a trabalhar em lugares hiper movimentados e a ter que andar todos os dias no meio do trânsito, agora isso já nos incomoda. Aliás, temos sempre vontade de fugir a sete pés da confusão urbana quando nos vemos metidos nela...
Por fim, a seguir ao almoço, e já eram três e tal da tarde, como estava um calorão dos diabos, em vez de passearmos por ali, acabei por procurar o fresquinho de uma livraria.
Comprei os 'Poemas Reunidos' de Pedro Mexia e o 'Diário Incontínuo' do Mário Cláudio.
De tarde, já estive a ler o poemário do Mexia e agradou-me sobremaneira. É uma poesia muito honesta e, de certa forma, intensa. Hesito na palavra 'intensa'. É que, por vezes, a poesia dele pode até parecer leve. Mas eu leio-a como muito sentida, muito despojada, reduzida ao essencial, por vezes bastante pesada. Muito íntima.
Lembro-me sempre de um meu amigo, grande leitor, que não pegava em poesia e que, para me provar que a poesia é coisa fútil, fazia o exercício de ler um poema como se fosse prosa. E, lida assim, palavras corridas, o melhor poema parecia não mais que um farrapinho de prosa, uma textozinho triste. Ao ler, não fazia as pausas, não deixava que as palavras respirassem, não dava espaço ao silêncio que é essencial para que se sinta a emoção que o poema encerra.
Também já folheei, embora apenas muito pela rama, o diário de Mário Cláudio. Se calhar, também vou gostar de ler. Gosto cada vez mais de ler coisas que a gente sente como muito autênticas. O desfiar dos dias geralmente é assim. Talvez se pareça mesmo com as páginas de um blog (como a Susana o referiu).
E fico-me por aqui. Vou ver se consigo deitar-me mais cedo. Devia mudar o meu ritmo que desafia as ortodoxias circadianas.
No outro dia, nestas minhas irregularidades do sono, acordei a meio da noite e era de madrugada e continuava sem dormir. E, para meu espanto, por diversas vezes, ouvi passar várias pessoas a correr. Não era várias ao mesmo tempo. Não. Passava um. Passado um bocado eram dois pois ouvia a passada da corrida e percebia que falavam um com o outro. Passado um bocado, outro. Senti-me estupefacta. Ainda nem deviam ser seis da manhã, eu ainda à espera de adormecer, e ali andavam, frescos e enérgicos.
No outro dia também me surpreendi com outra coisa: fomos passear o cão já a noite estava a cair (o que não é difícil pois os dias estão a mergulhar na noite a um ritmo cada vez mais acelerado) e, às tantas, passou por nós a correr, com calção curtinho, blusinha de alças, um daqueles aparelhos de medições de sinais vitais no antebraço, uma mulher numa velocidade que nos deixou de boca aberta. Às tantas até seria atleta. Eu teria algum receio de andar a passear ao cair da noite sozinha mas aquela mulher não estava nem aí, parecia um carro de corrida.
E, pronto, nada mais tenho a acrescentar. E desculpem se é só isto.
Desejo-vos um bom fim de semana.
Parece que Nuno Melo passou pela coudelaria de Alter, selou um puro sangue, e zarpou de espada em punho, a caminho de Olivença. As ultimas noticias, são de que fora visto para os lados de Juromenha a beber água do Alqueva . E segundo testemunhos ali presentes, o ministro dos negócios estrangeiros, montado num jumento clamando a Melo, para rédea curta no puro sangue. Ao que parece, lá para segunda-feira já devem estar em Olivença a assinar o tratado.
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