Gosto de opinar quando percebo as coisas. Neste caso não percebo e gostava de perceber.
O que é que está em causa, em concreto, para quase duzentas pessoas (17 magistrados do Ministério Público, três magistrados, judiciais, dois representantes da Ordem dos Advogados, cerca de 145 elementos da PSP e nove da AT) lançarem uma rusga como se andassem à procura de droga?
Do que leio, varreram seca-e-meca (17 buscas domiciliárias, 5 buscas em escritório e domicilio de advogado e 20 buscas não domiciliárias) depois de andarem em escutas e o escambau durante não sei quanto tempo e, no fim, detiveram cinco pessoas e constituíram uns quantos arguidos, entre os quais que eu saiba um ministro e um ex-ministro, um chefe de gabinete e mais não sei quem.
E, para a coisa ter mais graça, mas graça de a gente ter vontade de se rebolar a rir, o Gabinete de Imprensa da Procuradoria-Geral da República emitiu um comunicado onde, en passant -- como quem não quer a coisa, como se não tivesse qualquer noção, como se não percebesse que, com uma destas, iria causar uma crise política atirando com um Governo de maioria absoluta abaixo --, lança um balde de porcaria para cima do Primeiro-Ministro, avisando que alguém de entre os escutados falou dele e que, por isso, ele ia também ser alvo de um inquérito autónomo.
Fez muito bem António Costa ao demitir-se. Tinha que ser. E demitiu-se com uma declaração que é digna de quem tem uma boa cabeça, os tomates no sítio e o coração a funcionar bem (aquela subtil tremura na voz quando falou na mulher não engana).
Homem que é homem chama os bois pelos nomes e enfrenta os touros de frente e foi o que ele fez. (Mulher que é mulher também, só que, no caso, é de homem que se fala)
A minha opinião sobre António Costa é conhecida: acho-o um homem sério, honesto, competente, dedicado à causa pública, um homem inteligente, culto, bem formado, com visão, um homem que ama Portugal. Estou-lhe agradecida pela sua boa governação e por ter sabido honrar Portugal dentro e fora de portas. Foi um grande Primeiro-Ministro.
Mas agora já estamos no day after.
Aconteceu. A crise aconteceu.
Face a isto, ou há uma acusação concreta e grave no prazo de uma ou duas semanas contra António Costa ou o abusivo sentimento de impunidade e a incompetência do Ministério Público ultrapassam tudo o que é normal e alguma coisa tem que acontecer, nomeadamente a demissão da Procuradora e uma reflexão profunda sobre a ineficiência e a impunidade gratuita, descarada, do Ministério Público em particular e da máquina da Justiça em geral.
E, também face à crise gerada, o que vai acontecer a seguir?
Está nas mãos de Marcelo.
Acho bem que haja eleições. Tem que ser. Não podem subsistir dúvidas sobre a lisura e legitimidade de quem vier a seguir. O mundo está um lugar perigoso e os governantes têm que ter força e apoios que não falhem. Em democracia isso é garantido pelas eleições (assim os eleitores pensem com a cabeça e não com os pés...)
Idealmente, juntavam-se as Legislativas às Europeias para não poluirmos demasiado o espaço público com campanhas eleitorais non stop.
Mas, antes de se formalizar o que quer que seja, diria que primeiro há que esperar pela aprovação do OE 2024.
Depois, até às eleições, talvez em Junho, ou Costa faz o favor de se manter em funções de gestão, a executar o OE, ou alguém do actual Governo sobe a Primeiro-Ministro (Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes ou Fernando Medina). O País ficará a ser bem governado e haverá estabilidade qb até que um novo governo tome posse.
E depois as eleições.
O PS terá, provavelmente, maioria absoluta. Já não com António Costa como Primeiro-Ministro mas com outro Secretário-Geral que, entretanto, será eleito.
É pena constatar mas é a verdade: a única alternativa seria o PSD mas o chocarreiro Montenegro não tem ponta de ADN para Primeiro-Ministro e os portugueses podem ter muitos defeitos mas, na hora de decidir, não costumam ser parvos. O PCP e o BE já eram. A IL é uma brincadeira. O CDS inexiste. E o Chega, senhores, pode andar com a comunicação social às costas e vice-versa mas não passa de um saco de vento podre. Os portugueses ajuizarão e decidirão.
Mas tudo isto passa pela decisão do Presidente da República que, face ao que aconteceu, terá que decidir qual o rumo a seguir.
Portanto, finalmente, chegou a sua hora. Este é o seu momento, esta é a hora de Marcelo Rebelo de Sousa.
Só espero que, em vez de andar a passear à noite com as televisões ao lado, pare um pouco para pensar. O País agradecer-lhe-á se for sensato, moderado, contido, e que pense, acima de tudo, no bem do País.
"O PS terá, provavelmente, maioria absoluta"
ResponderEliminarÓ UJM, quer parecer-me que nem no PS alguém pensa isso...
Olá João,
ResponderEliminarOs outros partidos estão de gatas, a tender para a irrelevância.
O PS vai unir-se.
Nos momentos difíceis é que se vê quem é quem.
(Acho eu de que..,)
Bom dia,
ResponderEliminarNão será demasiada coincidência esta crise política exatamente após a suspeita de “cunha” de MRS no tratamento das meninas? O virar a direção da opinião pública noutro sentido?
ResponderEliminarO lítio e o hidrogénio provocam reacção em cadeia....
A.Vieira
Declaração de interesses:
ResponderEliminarSempre estive um bocado azedo com a falta de solidariedade de Costa para com Sócrates.
Lembro que Sócrates, ao que se sabe, nunca prejudicou o estado português enquanto primeiro-ministro independentemente das trapalhadas, ou não, não sei e não estou interessado em saber, estou-me nas tintas.
Quanto a António Costa, penso que este homem, é uma pessoa integra. E acaba por ser vitima da judicialização da politica.
A demissão de Costa, é uma jogada de mestre, e porquê, no meu entender?!
António Costa, já estava farto de ser primeiro-ministro. Levou com uma pandemia e duas guerras com as dificuldades económicas que resulta para a europa, por outro lado, estava farto das sacanices de Marcelo, a juntar à luta de galos no partido para a liderança com os intervenientes a ganharem espaço televisivo com sucessivas bicadas ao governo, Costa passou a manta.
António Costa, olhando para a fragilidade do ultimo paragrafo na acusação, percebeu que em nada vai dar por não haver provas substanciais, e de consciência tranquila, aproveitou com um rasgo de politico experiente e atento, sair de cena. Com a reprogramação do PRR quer no tempo, quer no aumento de verbas aceites e contratualizadas com Bruxelas, António Costa, sabe que não há perigo com o PRR e que nenhum governo próximo vai impedir o fluxo de dinheiro para a economia.
Costa sabe também, que o OE vai ser aprovado para conveniência do país, e Marcelo, só demite a assembleia após a aprovação do mesmo. Ora, com todas estas nuances, Costa, vai descansar, sabendo que o OR tem pernas para andar e beneficia o PS eleitoralmente, e aproveita para preparar com tempo a candidatura a PR.
Quem ficou de calças na mão foi a direita, que se preparava para chutar Montenegro e puxar a arreata do cavalo do sebastianismo passista. Já não teve tempo, agora têm que levar com um candidato perdedor pela frente.
Esta, é um bocado ao lado, mas irritou-me ler que um ministro do governo brasileiro dizer uma bosta destas depois de uma situação de xenofobia no aeroporto de Lisboa:
ResponderEliminar-"O ministro da Justiça do Brasil reagiu esta terça-feira a um alegado caso de xenofobia de uma portuguesa a uma brasileira e insinuou aceitar a repatriação de brasileiros se "Portugal devolver junto o ouro".
Ora, segundo historiadores, o ouro do Brasil não foi roubado, foi garimpado o que é uma coisa diferente. De acordo com a lei, 80% do ouro ficava no Brasil e só 20% vinha para Portugal. E até, parece que, feitas as contas, que veio menos de 20% do ouro garimpado para Portugal.
O ouro do Brasil robusteceu economicamente o Brasil. Segundo historiadores, parece que no começo de garimpo dos minerais, e neste caso o ouro, havia cerca de 300 mil colonos sul americanos e passados 80 anos, já eram 5 milhões.
Este governante brasileiro devia aprender um bocadinho de historia, ficava-lhe bem.
Socialismos ou a utopia permanente, trágica, inútil, incompetente, destruidora .
ResponderEliminarFique com o seu xuxialismo....Ccastanho!!!!!!
A.Vieira
O A. Vieira está nervoso. Em Fevereiro o povo português passa-lhe a receita. Já agora, a toma é para levar até ao fim. Não se esqueça.
ResponderEliminarOlá UJM
ResponderEliminarA propósito do seu último parágrafo, penso que o "passeio" significou mais do que parece. Eis o que hoje escrevi no FB:
O AZAR DOS TÁVORAS
Hoje que a coisa já acalmou (até amanhã) vale a pena passar em revisão o "passeio" de Marcelo, ontem às 10h00 da noite com a Comunicação Social atrás para ir "mostrar" à sua Ajudante de Campo o Beco do Chão Salgado, o local onde o Marquês de Pombal mandou assassinar os Távoras os Condes de Atouguia e o Duque de Aveiro, como vingança de um suposto atentado contra o Rei D. José por este andar "enrolado" com uma das Távoras.
O palácio do Duque de Aveiro foi arrasado e o chão salgado para nada mais ali crescer.
Simbolicamente este "passeio" significou o quê?
Um abraço e que continue a desfrutar do merecido descanso.