quinta-feira, setembro 21, 2023

Dilemas sem solução evidente

 

Não posso dizer que o dia tenha sido dos mais tranquilos. As situações com a minha mãe vão ocorrendo mas aparecem-me, sempre, envoltas nos receios que ela tem e que, voluntária ou involuntariamente, não me permitem clareza de análise. Acho que já o referi (e talvez, até, mais que uma vez): tem mais medo dos medicamentos do que das doenças. Por isso, faz de tudo um pouco, para provar que não precisa ou que não pode tomar o que prescrevem. 

No outro dia um amigo médico enviou uma piada de médicos (não sei se sabem mas há milhares de piadas sobre médicos e doentes que os médicos animadamente trocam entre si). Nessa piada a que me refiro, um 'paciente' vai ao médico contrariado, apenas para fazer a vontade à mulher que acha que ele está doente. O médico prescreve uma coisa que não ata nem desata, apenas para o homem sair dali confortada e a mulher convencida. A verdade é que o comprimido provoca um efeito secundário que deixa o homem incomodado e o leva novamente ao médico. A seguir segue-se uma longa narrativa em que para tratar o mal que os comprimidos anteriores fizeram, o médico vai prescrevendo outros. Às tantas, o pobre 'paciente' já está mesmo doente, toma todos os dias dezenas de comprimidos e, ao fim de algum tempo, morre.

E, até porque, na realidade, a gente nunca sabe o que vai acontecer e porque, na verdade, a minha mãe é autónoma e independente e sabe o que faz e é senhora do seu nariz, nunca quero pressionar. Mas não é fácil. O meu lado pragmático, racional, objectivo, fica sem saber bem como lidar com estas situações com que me vou deparando. E depois, com alguma frequência, as decisões dela, baseadas (ainda que não conscientemente ou, pelo menos, não assumidamente) nos seus medos, não dão bons resultados.

Mas, enfim... Apesar de tudo ainda consegui dar um salto até à praia. Estava boa. Pouco sol mas temperatura amena. 

E tinha metido na cabeça levar uma toalhita, daquelas pequenas e ultraleves, para me deitar ao sol. Não sei onde é que estava com a cabeça. Mal a estendi na areia, a fera fez-se de lord e, imediatamente, deitou-se-lhe em cima. Pimbas. Tudo dele. Pensou, imagine-se, que a toalha era para Sua Excelência. 

Afastei-o, claro, mas fez-se de desentendido e o mais que consegui foi espaço para me sentar. 

Logo de seguida, levantou-se e, freneticamente, desatou a escavar à volta, enchendo a tolha de areia. Tive que me afastar para não ficar revestida a grãos de areia.

A seguir, quando apareceu água no buraco que fez, enfiou-se lá dentro. E depois, todo molhado, sacudiu-se. E depois voltou para a toalha. Ou seja, impossível refastelar-me. Estive de pé, pois claro. Portanto, aquele devaneio de estar a apanhar banhos de sol saiu-me duplamente furada.

Menos mal. Só de estar na praia já é bom. E caminhámos e fui à água. Mas se me molhei à gato, a minha valentia não deu para mais, não consegui coragem para mergulhar. 

Em casa fiz sopa e caldeirada. E telefonei. E estive a ler.

E, de concreto, para além do relatado, pouco mais.

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E que entre Jacob Collier, ao vivo em Lisboa, com  Somebody To Love

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E chamo a vossa atenção para este alerta (por favor carreguem no link para lerem o texto completo da autoria do sempre atento e sempre jovem Eugénio Lisboa):

Eça vai ter de dar muitas voltas, no túmulo, a tentar destemidamente evitar que lhe remexam nos ossos. E não vale a pena invocar a autoridade de eminências académicas, para justificar o injustificável: os textos e a vida do escritor falam por si. 

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Desejo-vos uma boa quinta-feira

Saúde. Paciência. Paz. 

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