Isso desencadeou sentimentos bairristas, territorialistas como se fosse questão de credo ou clube de futebol. Não apenas os mais conservadores mas também os que se julgavam revolucionários, todos eram contra. Todos queriam defender os seus sistemas e todos achavam péssimos todos os outros. O núcleo que defendia que se avançasse apesar de toda a oposição, em que eu me incluía, sofreu toda a espécie de destratamentos. A oposição era intensa e vinha de todos os lados. Ir para a guerra sem ter aliados é coisa suicida. Mas eu e mais uns dois ou três éramos assim: acreditávamos nas coisas e atirávamo-nos de cabeça.
O grande salão era pequeno para que todos os CEOs mais os respectivos Directores Financeiros e Directores de Planeamento, Estratégia e Controlling, entrincheirados e coordenados entre si, atirassem a matar sobre os pobres indefesos que queriam que eles abdicassem das suas idiossincrasias e passassem a falar a mesma linguagem.
Todas as semanas, uma vez por semana, havia uma tortura daquelas. As reuniões começavam às duas e acabavam quando acabassem, sempre muito tarde.
Pessoa de muitas actividades, quer no meio empresarial quer no académico quer, ainda, no político, em dias em que já não aguentava mais, inventava uma desculpa, um compromisso inadiável (embora inexistente) e pirava-se.
Sendo pessoa conhecida, vou mudar-lhe o nome. Digamos que se chama José Pires Oliveira.
Um dos piores era um que nós dois achávamos intelectualmente um bocado limitado mas que falava pelos cotovelos, invocando argumentos sobre argumentos, cada um mais disparatado do que o outro. Víamo-nos aflitos para rebater as parvoíces que ele dizia, sempre com ar exaltado, como se estivesse a defender a pátria. Este tinha dois nomes em comum com o meu aliado. Digamos que se chama José Oliveira.
Num desses dias, o meu 'sócio', José Pires Oliveira chegou-se a mim e disse-me ao ouvido que ou matava o outro ou se raspava. Raspou-se.
No dia seguinte de manhã cedo, estava eu no trânsito, um trânsito congestionado, eu estafada da canseira da cena da véspera e estafada do trânsito, recebo uma chamada. (Estava em alta voz, claro). Vi José Oliveira. Ao meu 'sócio' eu tinha-o, nos contactos, como José P. Oliveira.
Era normal, quando se pirava, o José P. Oliveira ligar-me logo na manhã seguinte para saber como é que a coisa tinha acabado. Já estava à espera da chamada dele.
Estranhei o silêncio pois, em situações normais, ele estaria a rir e a chamar burro ao ao outro. Mas nada. Silêncio. Então perguntei: 'Está? Está a ouvir?'
E então aconteceu o pior. O José Oliveira, o burro, respondeu: 'Estou, estou...'.
Não sei se conseguem imaginar a aflição... Sem ter como escapar, enfiada no carro, por um momento fiquei siderada, congelada. Depois respirei fundo e assumi: 'Não leve a mal mas ontem saí de lá muito cansada, estou farta de reuniões que duram horas e em que não se consegue avançar. Tanta resistência por causa de uma coisa que todos deviam abraçar pois todos fazemos parte do mesmo Grupo. Mas, pronto, não vamos reatar a discussão de ontem. Ligou-me para...?'
Ele deve ter engolido em seco e conversou como se nada se tivesse passado.
E nunca mais tocámos naquele triste episódio.
E hoje lembrei-me disto ao ver e ouvir o vídeo abaixo. Na altura, quando se percebe a gaffe, quem vive uma destas só quer enfiar-se por um buraco adentro. Mas, reconheçamos, visto de fora, é um pratinho daqueles...
Heloísa Périssé ligou para o ginecologista, mas...
| Que História É Essa, Porchat? | GNT
__________________________________________________
Fiz estas fotografias durante a caminhada da tarde
__________________________________________________
Um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.
O sistema a implantar em todo o grupo devia ser o SAP......
ResponderEliminarA.Vieira