sábado, abril 15, 2023

Ah... este admirável mundo novo.
Reverter o processo de envelhecimento, termos sistemas computorizados a lerem por nós e a sintetizarem a informação colhida em milhões de documentos, termos veículos sem condutor que nos transportam, etc, etc, etc...

 

Ao fim da manhã fui ao supermercado. 

Escolhi o meu pão, um baguette rústica, um pão de centeio com nozes. 

Quando estava a colocar as embalagens no carrinho um homem que ia dizer que era meio velho mas que talvez não fosse muito mais velho que eu. Contudo, se não era velho, parecia. O pão está em cacifos de vidro e há uma pinça para os retirar através de uma abertura. 

Pois o estupor do velho meteu a mão (sem luva) pela abertura e pôs-se a apalpar os pães, um a um, acabando por tirar o que lhe pareceu melhor. Várias pessoas assistiram incrédulas àquilo, fazendo esgares umas para as outras. Mas eu não me contive. 'O que é que o senhor está a fazer? A apalpar o pão?'. Pois o estúpido virou-se para mim: 'Que mal é que tem?' Perguntei-lhe se não sabia. Desafiadoramente disse-me que não. Expliquei-lhe que as outras pessoas não têm que levar pão já apalpado por ele.  E ele: 'E que mal tem isso?'. E eu: 'Não sabe? Acha higiénico?'. O velho furioso: 'Apalpei sim, senhor. E não vejo mal nenhum nisso'.

Pensei que todos os Boaventuras desta vida devem dizer o mesmo.

Olhei em volta a ver se via alguém da Segurança para me queixar mas não vi. E toda a gente que ali estava a assistir, visivelmente incomodada, ficou calada. É o costume. Nas redes sociais toda a gente manda bocas. Ao vivo, de frente para os parvos, a malta prefere ficar calada.

Resumindo: fiquei furiosa.

A seguir, na caixa, estava na ponta a enfiar no carrinho as coisas que o rapaz da caixa ia passando. Nem levantava a cabeça, ia jogando a mão e enfiando no saco que estava no carrinho. Às tantas pareceu-me que já tinha guardado o saco das maçãs mas pensei que estava equivocada. Depois laranjas. Pensei o mesmo mas, como era tanta coisa e tudo tão rápido, julguei que o meu cérebro estava a brincar comigo. A seguir veio um saco de salada mas como tinha comprado dois pensei que se calhar aquele era o segundo. Mas quando apareceu um saco de agriões, uma embalagem de legumes para a sopa, um detergente multiusos amarelo aí percebi que alguma coisa não estava certa. Dei o alerta: 'Estão a passar coisas que não são minhas' e já lá estavam mais umas poucas já passadas pela caixa. O rapaz parou. Apontou para o que estava antes da caixa. Disse-lhe que não, não eram coisas minhas. O rapaz disse que não havia separador, que as coisas do cliente seguinte tinham sido postas encostadas às minhas.. 

Aí o homem que estava atrás de mim acordou e ficou em transe, como se eu estivesse a arrumar coisas que não eram minhas. Furioso: 'O que é isso? Isso é meu!'. Respondi: 'Bem sei. O senhor não pôs o separador'. E ele, furioso por eu estar a pôr em causa a sua eficiência: 'Ora essa, não pus? Pus, sim senhora. Então não está ali?' E apontou o separador a seguir às suas coisas. Eu disse: 'Sim. Mas não pôs entre as minhas coisas e as suas'. E ele, verdadeiramente furioso: 'Então não está ali?' E voltou a apontar para o separador no fim das suas coisas. E ameaçador: 'E faz favor de não ficar com as minhas coisas'. O rapaz da caixa atrapalhado, tendo que chamar o supervisor, e explicando: 'Um cliente não colocou o separador, registei as coisas como se fossem da cliente da frente'. E o cliente: 'É mentira, pus, está à vista de toda a gente'.

Quando, no parque, estava a contar ao meu marido que um velho atrás de mim tinha armado uma confusão, vi-o a vir com o carrinho dele. E disse: 'Olha, lá vem ele'. E o meu marido disse: 'E achas que é velho? Se calhar não tem uma idade muito diferente da nossa'.

Fiquei a pensar. 

Fiquei também a pensar que o velho do pão deve ter chegado a casa a dizer que uma dondoca se tinha metido com ele por ele estar a apalpar o pão e que o velho da caixa deve ter contado à mulher que uma dondoca qualquer quis ficar com as compras dele e depois ainda se desculpou por ele não ter posto o separador quando toda a gente viu que tinha posto, sim senhor.

Tudo relativo. E tudo muito doido.

Tirando isso.

Esteve frio de tarde. Tive que voltar a usar uma capa de lã. 

Agora estou aqui a escrever isto, o cão dorme aqui, deitado ao lado da porta de vidro. Deve estar cansado, tanto que correu de um lado para o outro. Cão de guarda a sério.

A robínia aqui à porta está florida com os seus delicados cachos de florzinhas brancas. Se não fosse tão tarde, ia agora lá fora fotografá-las porque à noite ficam lindas.

Ao jantar, como sobremesa, comi nêsperas que colhi pouco antes. Tínhamos uma nespereira que já cá existia, pelo menos trinta anos. Agora já existem mais quatro e estão todas carregadas. A natureza é mãe.

Depois de jantar estivemos a ver mais um episódio de Sommerdahl, uma série fantástica que passa às 10 na RTP2, uma das poucas coisas que se conseguem ver na televisão e, cá em casa, quase a única que agrada simultaneamente aos dois.

Posso ainda contar que, de tarde, estive a escrever. O meu marido perguntou o que é que eu estava a escrever. Disse-lhe que um conto, para um livro de contos. O meu marido perguntou: 'Vê lá se não é nada que vá envergonhar o teu filho'. Estava a gozar porque lhe contei que, quando contei ao nosso filho que tinha escrito um livro e que ia concorrer a um prémio, ele me perguntou se era alguma coisa da qual ele se envergonhasse. Nesse caso, disse-lhe que não, era inócuo. Mas neste caso, dos contos, tive que responder ao meu marido que temo bem que ele vá envergonhar-se, sim (isto admitindo que o livro um dia será publicado, claro). O meu marido encolheu os ombros. 

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Vivo uma vida simples e os avanços tecnológicos incomodam-se não pelos seus inquestionáveis benefícios mas pelos riscos que comportam, em especial quando não há regulação, não há consciência colectiva dos reais perigos, não há tempo para pensar e avaliar bem no que estamos a meter-nos. 

A tecnologia é cada vez mais acessível, mais ubíqua, mais aberta. E a tecnologia anda por uma estrada e a ética anda por outra, paralela. E, para os distraídos, relembro que as paralelas nunca se encontram.

Os dois vídeos abaixo mostram temas distintos. Mas são faces de um futuro, nuns casos um futuro mais próximo, noutros um futuro um pouco incerto. 

Já nem falo no ChatGPT, uma coisa fabulosa e diabólica (já proibida em algumas instâncias, mas que, mesmo proibida, há-de reencarnar noutros produtos). Mas falo em veículos sem condutores ou, ainda mais preocupante, em mecanismos para reverter o processo de envelhecimento. 

Os vídeos não estão ainda traduzidos mas aqui os deixo. A quem possa interessar.

Putting an autonomous vehicle to the test in downtown London

I recently had the opportunity to ride in a car made by the British company Wayve, which has a fairly novel approach to self-driving vehicles. While a lot of AVs can only navigate on streets that have been loaded into their system, the Wayve vehicle operates more like a person


Exclusive Conversation With Geneticist & Harvard Professor David Sinclair

David Sinclair is a man who claims his ‘biological age’ is 10 years less than his actual age of 53. The Harvard Geneticist is a leader in longevity science. Watch him in a riveting conversation with Kalli Purie, Vice Chairperson, India Today Group at the #IndiaTodayConclave. The two discuss the formula to look younger, how healthy sugar is for you, whether fruits are a good substitute for sugar, the newly-researched stress-busting food, the benefits of red wine and the magic of metformin.

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As imagens, uma vez mais, não têm nada de nadica a ver com nada. Mostram a arte de Marianne Evennou, uma decoradora que faz maravilhas com pouco, inclusivamente decorando com arte e engenho pequenos espaços. Apeteceu-me partilhar convosco, só isso.

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Um bom sábado
Saúde. Pés na terra. Paz.

1 comentário:

  1. UJM. Viva.

    Eu já não aguento cenas dessas, e não me calo, dantes relevava, agora não sei se é da idade, mas estou mais zangado com a vida e encontrar cepos desses...

    Há outra coisa que me irrita solenemente. Quando não tenho horas para chegar ao destino, por vezes desço dos 130 ou 140 habituais e ando a 70-80, e nesse andamento, sinto que não devo prejudicar andamento de quem tem mais que fazer normalmente encosto e facilito ultrapassagem encostando o mais possível na brema, e então o que acontece?!Contado por mim varias vezes, em cada dez condutores, há em média um a dois que agradece, o resto são autenticas bestas! Bestas é o que são essa canalha. E não me venham com problemas de literacia porque os carros vão dos mais humildes até aos topo de gama.

    A maioria deste povo é estupido, lamento dizer , já morreu a minha utopia do homem novo, uma treta.

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