segunda-feira, janeiro 30, 2023

Post desinteressante sobre a minha maleita

 



Calhou, a semana passada, ter que andar muito a pé. E, dito isto, se forem como o meu marido, corrigir-me-ão lembrando-me que, pelo menos na sexta-feira, se andei cerca de 20.000 passos, foi porque quis. Certo. Pelo menos uma boa metade foi isso. Ninguém me obrigou. Aliás, ele bem tentou atalhar. Mas eu estava numa de urbana e o frisson das montras, das luzes, das esplanadas cheias, da gente a sair dos trabalhos, tudo aquilo me pareceu demasiado sedutor para lhe virar costas. E só não andei o dobro porque vi que, para meu desconsolo, a Casa dos Gelados estava fechada. Senão teria continuado Avenida de Roma abaixo e, depois, dali, a pé, debaixo de um frio hostil, de volta até lá bem acima, ao topo da Rio de Janeiro. Isto depois de ter andado cerca de uma hora a bater perna na Avenida da Igreja e para cima e para baixo -- naquelas transversais que fazem de toda aquela zona até ao Mercado de Alvalade um bairro que tem tanto de tradicional quanto de moderno.

Creio que já contei que noutra vida resolvemos viver por aquelas bandas e, depois de muito escolhermos, encontrámos uma casa ampla com seis grandes assoalhadas e o luxo de um pequeno logradouro devidamente ajardinado. Isto para além de estar perto do jardim de Alvalade. Pensámos que nos tinha saído a sorte grande. Não esperávamos era o boicote concertado dos meus filhos. Não conseguiam ver-se afastados dos amigos, dos lugares que frequentavam, nem ela do namorado, nem ele do pavilhão desportivo onde treinava. Uma crise... Queríamos morar numa casa mais ampla, mais perto dos nossos trabalhos, num lugar de que gostávamos muito. E nunca nos passou pela cabeça que, para eles, fosse tamanho o drama. Abandonámos a ideia, claro. Nunca poderíamos ser felizes se os nossos filhos se sentissem infelizes.

Algum tempo depois ela mudou de namorado, ele passou a praticar outro desporto e quando entraram para a universidade estariam muito melhor ali. Se calhar a casa era a acertada, o momento é que ainda não era. Mas, pronto, fizemos-lhes as vontades e nunca se sabe se a vida que escolheram teria sido essa se nos tivéssemos mudado para aquela bela casa.

Contudo, toda esta zona desde a Guerra Junqueiro, Roma, Igreja, Alvalade e por aí, in between, é e será sempre para mim um lugar de eleição.

Mas isto para dizer que na sexta-feira andei bastante com um frio desgraçado. Já na quarta feira à noite, por razões que não vêm ao caso, tinha feito quase outro tanto num sobe e desce de ruazinhas para cima, ruazinhas para baixo e, identicamente, sob um frio que penetrava até às entranhas, até à medula das articulações.

E no domingo anterior, em que andei também a caminhar, usei uns ténis que vi logo que podiam ser bonitos mas, para caminhada, nem pensar.

Resultado: estou aflita de um joelho. Quando a coisa se anuncia assim forte só lá vai com um anti-inflamatório potente mais gelo e perna estendida. Mas calhou, no sábado, irmos passar o dia ao campo. Por isso, não havia como estar com aqueles sacos congelados nem havia anti-inflamatórios. E ainda andei um bocado. Portanto, ao fim do dia estava péssima. Ontem à noite, para além das dores, sentia-me até febril.

Este domingo foi passado no bem bom, perna estendida, gelo, medicação e... canadianas. 

Ao jantar pedi ao meu marido que fizesse o favor de me ir buscar os comprimidos. Como estava a ver o Paulo Portas e conversando, no fim não sabia se tinha tomado ou não o comprimido. Como estou com a dosagem máxima não me arrisquei a tomar outro. Agora estou aqui a rezar a todos os santinhos que já o tivesse mesmo tomado, senão amanhã não apresentarei melhoras. O meu marido não me apenas me recrimina por achar que tenho andado demais, ainda por cima já não me sentindo muito católica do joelho, provocando esta lesão, como se aborrece por achar que sou cabeça no ar. Amofina-se todo por eu não saber se tomei ou não o comprimido, diz que tenho que passar a prestar mais atenção a estas coisas. Pois tenho. Mas só me apetece dizer-lhe: tarde piaste. Deveria era, antecipadamente, forçar-me a fazer as coisas sem ser en passant. 

Enfim.

No sábado, a minha filha, ao ouvir-nos, dizia que qualquer dia estamos como os marretas, sempre a implicarmos um com o outro. Não digo que não. O que nos vale é que não temos pachorra para andarmos aborrecidos e, portanto, as implicações são sempre sol de pouca dura.

Mas estou lesionada, o joelho um bocado inchado e a doer-me. De tarde estiveram todos na praia, mega jogatina na areia e depois lanche na vila, e eu a roer-me, danada para pegar nas canadianas e ir pôr-me lá a vê-los mesmo que de longe. Para a areia seria impossível de todo. Mas o meu marido tirou-me isso da ideia. E nem teve que se esforçar muito pois quando estou com o joelho assim fico incapacitada de todo.

E, portanto, é isto. 

(E, afinal, todos os males fossem estes, não é?)

[E aqui chegada penso que o mal do joelho já deve ter chegado à cabeça. Senão a que propósito escreveria eu um post a falar de uma treta destas? Desculpem-me, ok? Isto passa]

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Pinturas de Paula Modersohn-Becker na companhia de uma valsa primaveril atribuída a Chopin, muito apropriada sugestão do Ccastanho a quem agradeço.

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Uma boa semana a começar já em beleza esta segunda-feira

Saúde. Boa sorte. Paz.

10 comentários:

  1. É Alvalade assim mesmo, com a Tabacaria Garrett, com o cinema Alvalade os iogurtes e o autocarro 7 para a Praça do Chile e custava 1 escudo. Fazia recados, levava facturas aos clientes e fazia de cobrador e na Av. da Igreja ia depositar o dinheiro e os cheques no BPA e mais abaixo era a Nova Lisboa e cá em cima a Igreja e a pastelaria Biarritz. Alvalade era um pequeno Mundo onde todos se conheciam.

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  2. Espero que melhore do seu joelho.

    Quando estudava no IST parava na Mexicana.

    A.Vieira

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  3. Olá UJM.
    Também tenho esse problema (inflamação da articulação) no joelho direito.
    Um Ortopedista, receitou-me um anti-inflamatório à base de Iboprofeno e gelo duas vezes por dia. Não resultou.
    Um fisioterapeuta disse-me: - em vez de gelo põe calor, usa aquele gel que se coloca no micro-ondas e aplica Fisiocreme de manhã e à noite.
    Melhorei e muito, ao ponto de passar semanas sem me lembrar que tenho este problema.
    Não curou (porque de quando em vez é recorrente) mas aliviou.
    Há "cenas" assim.
    As melhoras.

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  4. Monteiro

    E os rissóis quentinhos ou o bife do Tico Tico?

    Gostei muito de ler a sua descrição. Tal e qual. E ainda há sapateiros como antes e há estofador e há lojinhas para todos os gostos.

    Há quem prefira Campo de Ourique mas eu sempre preferi todo este bairro que se mantém com o mesmo carisma ao longo dos tempos.

    Obrigada!

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  5. Olá Alexandre,

    Quem sabe não nos encontrámos por lá... O meu namorado da altura e respectivos colegas e namoradas dos colegas faziam da Mexicana a sua sala de estudo, o seu poiso, o seu ponto de encontro. Vinham do IST (eles) e nós, as raparigas, vínhamos das respectivas faculdades.

    Mas, quando eu estava só com ele, íamos para uma quase em frente, na Guerra Junqueiro. Não me lembro do nome. Tinha uns croissants óptimos.

    Bons tempos, não eram? Que gostinho tão bom a liberdade.

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  6. Olá Corvo,

    Deixou-me um bocado na dúvida. Sempre prescreveram gelo para as inflamações, E, de facto, fico com o joelho inchado, vermelho e quente. Mas não estou a dar-me nada bem com o gelo, aumenta-me as dores. Mas receio que o calor não ajude a desinflamar... Uma chatice, isto.

    Muito obrigada pelas dicas e pelo seu cuidado.

    Um dia bom para si, com o joelho em boa forma.

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  7. Bom dia!
    Aconselharam-me um pacho de argila
    Com um pingo de vinagre. Põe-se durante meia hora e a seguir deita-se fora.
    As melhoras.

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  8. Na Guerra Junqueiro era a Copacabana !

    A. Vieira

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  9. A. Vieira,

    Exacto! Como me fui esquecer...?

    Obrigada!

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  10. Boa tarde, Sara,

    A próxima vez que passar pelo Celeiro, tentarei ver se têm argila. Tentar não custa.

    Muito obrigada!

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