sexta-feira, dezembro 02, 2022

Um dia no spa -- e não venham falar-me em vida de cão

 

No outro dia, pessoa altamente entendida na raça do nosso urso felpudo, vendo-o, considerou que deveria ser tosquiado pois estava com nós no pelo e aquilo já não ia lá com a nossa técnica heurística. Só ultimamente atinámos com a escova-cardadeira adequada. Aquilo não é pelo, é lã e como tal deve ser tratada. Mas tarde demais. Além disso, era na base 'deixa lá a dona pentear' e, quando ele resolvia que já chegava, eu, que não tenho instintos ditatoriais, deixava-o ir. Portanto, aquela farta cabeleira foi-se enleando. De vez em quando, cortávamos os nós. Por vezes, formavam-se quase bolas de pelo. O pelo externo enleado em volta do sub-pelo. 

Percebemos que nada disso, o problema tinha transcendido as nossas capacidades caseiras. Entregámo-lo, pois, nas mãos de um mestre premiado, experiente. Não sabia que os groomers também são avaliados e trofeuizados. Mas são. E este é um desses.

Nós com medo que a fera se lhe atirasse, o trucidasse, o comesse vivo. Zero. Este groomer é daqueles que não dá abébias. Macho alfa. Em poucos segundos estava a pegar na fera, a pô-la em cima da mesa, a laçá-la e a pôr-lhe uma ligadura de gaze em volta da boca. De cada vez que o pobre ursinho tentava revoltar-se, ele punha-lhe o braço em redor, dava-lhe inquestionável ordem de calma, anulava-lhe a vontade de ser rebelde. Fui filmando. O meu filho resumiu: assertividade física. Tal e qual. 

Foi penteado, a lã desensarilhada, tosquiado, foi para o banho, esteve com amaciador e hidratante, foi enxaguado, secado, penteado, novamente tosquiado, penteado de novo. E, durante todo o processo, quase dócil.

Saiu de lá com metade do volume, pelo compacto mas rasteiro, macio. Vison, seda. De vez em quando anda à volta, à procura do pelo, estranha-se a si próprio. E veem-se-lhe bem os olhos, parece outro. Imagino que ele próprio veja o mundo de outra maneira. Há bocado esteve aqui sentado a olhar para mim. E eu para ele. Depois encostou-se, quis que eu lhe fizesse festas. Claro que sim, não as regateio. Não tenho feitio para ser macho-alfa. Por isso toda a gente me diz que eu, para ele, sou uma ovelha. Felizmente, ao meu marido parece que reconhece como pastor.

De casa dos meus filhos iam chegando fotografias dos meninos já com árvores de natal e demais decorações. As casas bem bonitas. Entretenimento caseiro em tempo de viroses. Do lado da minha filha estão em recuperação, embora um ainda um pouco empanado. Gripe A, disse a médica. Fortes, tinhosas, demoradas de curar. Do lado do meu filho, foi um, agora é outro com febre. Vá lá que parece que mais ligeiras que a dos primos. Isto depois da mãe ter tido covid pela terceira vez este ano (estando vacinada e revacinada). Portanto, isto está bonito. 

Agora à noite, depois de os dois (mais o contrapeso, outrora urso cabeludo) termos ido passear na praia e de termos jantado, senti muito frio. Isto, embora não esteja temperatura para isso. Não querendo desafiar a sorte, aqueci-me o mais que pude. Quando me senti aquecida, deu-me o sono. 

A minha filha perguntou-me se já tínhamos feito a árvore de Natal. Não. Nunca tenho paciência para isso. O meu marido é que costuma fazê-la. Eu sou mais para luzinhas. Comprei dois fios com luzinhas que acendem com pilhas. Colocá-las-ei dentro de jarrinhas de vidro ou de copos altos. Acho que farão uns belos pontos de luz em cima das mesas. Também comprei uma grinalda com umas estrelinhas. Pensei pôr à volta do corrimão do rés-do-chão para o primeiro-andar. Afinal é curta, só dá para o primeiro lanço. Mas fica bonito. Também tenho uma arvorezinha estilizada, dourada, com pontinhos de luz. Está na pedra da lareira e fica lá todo o ano. A ver se também se enfeitam as árvores no jardim com bolas grandes. Mas não eu. Quanto muito, ajudo.

Não tenho grande paciência porque é coisa efémera. Se fizesse sentido, deixaria as bolas nas árvores o ano todo, gosto de ver. Ou as luzinhas em casa. Fica a arvorezinha da lareira e se calhar também poderei usar os copos altos com as luzinhas. Mas as do corrimão ou outras não faz sentido manterem-se. Montam-se agora para desmontar a seguir. Não tenho grande paciência.

O que sei é que este feriado me soube a férias e gostava de assim continuar. Há bocado, vi notícia de uma galeria a norte e pensei que me apetecia que nos metêssemos no carro e fossemos até lá. Depois pensei que amanhã (ou melhor, hoje) é sexta-feira, dia útil. Não dia de passeio. Ah, que vontade de ser dona do meu tempo. Caraças.

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As imagens, geradas com recurso a Inteligência Artificial, são da autoria de Kevin Lamb

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Uma boa sexta-feira

Saúde. Animação. Paz.

6 comentários:

  1. Faltou portanto, a foto do "boneco" , antes cabeludo, agora todo produzido...
    Confesso que li o texto esperando, no final, deliciar-me com foto atualizada da grande fera . Fiquei desiludida, hoje 🙃
    Um bom fim de semana.
    Maria

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  2. Olá Um Jeito Manso, diz que Também para se ser cão é preciso ter sorte. E eles bem merecem.Dao-nos tanto. Só faltou uma foto do depois. Antes já conhecemos. Um beijinho e bom fim de semana 😘

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  3. Queria eu dizer que também para SE ser cão é preciso ter sorte. Com o meu Cocker acontecia isso. E ao tosquia ló ficava envergonhado e escondia se . Um beijinho e bom fim de semana

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  4. Olá Anónimo/a

    Os vossos desejos são ordens para mim. E, bem mandada como sou, já estou a tratar do assunto.

    Ontem à noite deu-me a preguiça para fazer o transbordo das fotografias e dos vídeos para o computador.

    Obrigada pelo beijinho que retribuo.

    Um bom fim de semana para si também.

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  5. Olá Maria,

    Por acaso, quando estava a escrever. estava a pensar que tinha que ilustrar o texto com o 'making of'. Mas depois, ensonada, foi mais rápido ir buscar aqueles cães 'quitados' e intercalá-los no texto.

    Mas não quero sabê-la desiludida. Portanto, daqui a nada terá o antes e o depois.

    Um bom fim de semana, Maria!

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  6. Olá Pôr do Sol,

    Este meu não sei se será envergonhado se desconcertado, sem perceber o que lhe tinha acontecido. Não sei. Hoje, quando eu estava sentada, veio várias vezes sentar-se encostado às minhas pernas, muito encostado, mesmo a pedir festas. Dá ideia que se sente algo fragilizado, a precisar de algum consolo. Mas sabe-se lá... coitadinho.

    Beijinhos, Sol Nascente. E um belo fim de semana!

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