sábado, novembro 19, 2022

Umas ceninhas cá minhas, incluindo uma culinária a la minute
-- Isto e, na voz de quem a sabe toda, a Liberdade e a Segurança --

 


Ando atrasada na resposta aos comentários e a alguns mails (e peço desculpa por isso), ando com várias leituras atrasadas, ando com sono atrasado, ando com vontade de escrever várias coisas e receosa de não ser capaz por temer adormecer a meio. Ando assim.

O dia foi, de novo, pesado, cheio de suspeitas e, ao fim do dia, com uma revelação bombástica que me fez fazer um telefonema denunciador. Dia pesado, repito.

Faz-me falta ter algures, a meio do dia, uns minutos de descanso. Não sei se é da idade, se é de, este ano, apenas ter conseguido tirar cinco dias de férias, se é da sucessão de maçadas a que esta fase me obriga, se é de tudo isto junto. Mas, seja pelo que for, o facto é este: preciso de intervalar.

Soube bem, no meio disto, caminhar à beira da praia. Aliás, no meio não porque isto aconteceu já à noite. Um frio de rachar. Digo-vos: de rachar. Ainda por cima, com vento a potenciar o frio. Aproveitei para fazer os meus telefonemas enquanto andava. Por isso, nem deu para contemplar o reflexo da lua no mar. Se calhar nem havia lua para reflectir. Não faço ideia. Às tantas, a ver se aquecia, dei uma corrida. O bicho não costuma ver-me a correr. Veio também a correr e a saltar como se aquilo fosse uma brincadeira a dois. Como estava com a trela, embora extensível, o meu marido mandou-me parar de correr para não ter que vir também a correr atrás de nós.

Antes de irmos à praia, fui, numa corrida, ao supermercado. Comprei uma dourada grande. Isto para além de fruta, legumes, kéfir, pão, queijo. 

Quando chegámos da praia, atirei-me aos tachos. Fiz assim:

Chamo chapa mas é aquela coisa às ondinhas que se põe no fogão e que tem uma pega comprida. Aqueci a dita ao máximo. Juntei um fiozinho de azeite, uns salpicos de sal, folhas de louro. Quando tudo bem quente, coloquei a dourada, também salpicada de sal e de orégãos e levemente regada por um fio de azeite. Passado pouco tempo, virei-a. Ao lado, num tacho com um pouco de água, coloquei batatas com casca cortadas aos bocados, feijão verde e brócolos. Quando cozidos, escorri e coloquei-os na chapa ao lado do peixe. Virei os legumes para ganharem o sabor. 

Quando servi, coloquei por cima um pouco de sumo de lima. Tudo bem bom. 

(Gaba-te cesta)


Abro ainda um parêntesis no meu estado de fadiga para contar só mais uma coisa. Desde a semana passada o dog andava com um cheiro estranho. Não identificávamos. Cada vez pior. Cada vez mais notório que era o hálito, um hálito diabólico. Uma coisa cavernícola. Não compreendíamos que raio de cheiro fétido era aquele, cada vez mais impossível. Ao princípio, como tínhamos aberto um saco novo de ração e embora fosse da mesma marca e de frango, admitimos que qualquer coisa na composição produzisse um estranho efeito, misto de peixe podre, de lixo fora de prazo. Mas já era demais e cada vez pior. Há dois dias, à noite, ainda fomos comprar daqueles sticks para higiene dental. Efeito zero. 

Pesquisei na net, e, avaliada a evolução da coisa, resolvemos marcar consulta no veterinário.

Face ao temperamento tumultuoso do bicho-fera quando estranhos tentam fazer coisas de que ele não gosta, já estávamos a imaginar o stress de ter que açaimá-lo, provavelmente ter que ser anestesiado para ser observado.

Mas eis que ao fim do dia ouço o meu marido a dizer que lhe tinha visto um pau no céu da boca, ao fundo, entalado entre os dentes, de lado a lado. Nem consegui perceber. Pensei que ele tinha visto mal. Fui tentar inspeccionar. Não foi fácil mas, ao fim de algum tempo, confirmei. Uma coisa inacreditável. Um pau atravessado, entre os últimos dentes de cada lado do maxilar superior. 

Mas, forte como é, um baita cão pastor, o valentão não se queixava de nada e comia e bebia normalmente. Isto com um pau daqueles, ainda grosso, quase como um lápis, preso no céu da boca.

Atalhando: o meu marido tentou fazer a extirpação, o bicho saltou, o meu marido tentou enfiar-lhe a mão na boca, ele furioso já a reagir um bocado à bruta, o meu marido muito calmo... até que conseguiu mesmo e lhe sacou o pau. Fétido. Há mais de uma semana na boca, o pau devia estar podre, exalando um cheiro nauseabundo. 

Não há explicação.

A boca deixou instantaneamente de cheirar mal. Portanto, saiu-nos esse peso de cima. 

Posso ainda deixar aqui um outro insignificante apontamento. De manhãzinha, vendo que estava um ventinho de feição e um solzinho modesto mas quiçá efectivo, fiz uma máquina de roupa em velocidade rápida. Em boa hora pois não choveu e secou que foi um mimo. Roupa seca ao vento e ao sol é de uma super-eficiência. Fica lisinha e fresca, boa para guardar directamente.

E, pronto, já chega de prosa solta, fico-me por aqui. Posso apenas ainda dizer que o dia teve outra coisa boa: não tive que me empoleirar em saltos altos. E outra: não tive que falar em inglês nem em espanhol. Isto de uma pessoa poder passar um dia inteiro a falar português é daqueles prazeres que não deve ser dado por adquirido.

Finalmente: uma vez mais, as minhas desculpas por não agradecer ou responder aos comentários e aos mails mas estou pedrada de sono. Pedradérrima. Juro.

Mas deixem que, antes de me ir, partilhe um pequeníssimo vídeo com umas palavras que fazem algum sentido e talvez vos tenham alguma utilidade. Ou seja, haja por aqui alguém que diga coisas assisadas...

"Escravidão e caos" | Zygmunt Bauman


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Fotografias respectivamente de Boguszak, Thaddäus "hozzography" Biberauer, Wendy Stone uma vez mais daqui
Acompanha-nos Mitsuko Uchida que interpreta Piano Concerto No. 25 in C Major K. 503 de Mozart

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Um bom sábado
Saúde. Bom descanso. Paz.

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