Felizmente não conheço a depressão. Mas conheço quem a sofreu. E conheço quem a sofreu e soube que esse era o nome do vazio que se instalara dentro de si e conheço quem o sente mas não sabe que nome dar ao que sente.
Ainda este domingo, ao caminhar à beira-rio com a minha mãe, ela me falava de uma conhecida que passa parte dos dias na cama, sem vontade de se levantar e incapaz de sentir motivação para o que quer que seja.
E, agora que escrevo, recordo uma irmã de uma das minhas tias por afinidade. Era uma família grande, tudo gente muito divertida. Ela era casada e tinha dois filhos. A minha tia, uma das suas irmãs, dizia que não conseguia compreender aquela tristeza. O marido, homem forte e alegre, sofria por não conseguir afastar aquele pesado manto de tristeza de sobre a sua mulher. Ouvia a minha tia a conversar com a minha mãe, ambas sem perceberem, tentando encontrar razões, e lembro-me de prestar atenção, tentando também eu compreender. Sei que se tratava, a minha tia falava de médicos e de tratamentos, mas desconheço o tipo de acompanhamento, presumo que não tenha tido acompanhamento psicológico. Lembro-me de ouvir dizer: 'Coisas de cabeça... É o pior......' Creio que chegou a estar internada. Vivia perto das minhas avós num bairro tranquilíssimo, os filhos eram calmos, o marido era uma simpatia, tinha uma vida sem sobressaltos. Até que um dia se suicidou. Em todos ficou aquele misto de estupefacção e de resignação. Ninguém conseguia perceber porque sofria ela tanto mas também se admitia que talvez um dia não aguentasse mais.
Quem vive no mundo dos negócios, quem está ligado a empresas com recursos para pagar aos melhores, conhece a VdA. Fazem-se pagar, e bem, mas a verdade é que não desiludem. O actual escritório é um portento: a arquitectura e a decoração são extraordinárias. Passar nas imediações é ver aquele bando de mulheres ultra bem vestidas e de homens altamente executivos, todos confiantes e seguros de si.
Não é o único grande e importante escritório de advogados do país. Mas é um dos melhores, um dos mais carismáticos, um que tem uma presença fortíssima no mercado.
E, no entanto, o líder, o incensado grande líder, um dos considerados 50 homens mais poderosos do país, dá-nos aqui um impressionante testemunho daquilo por que passou. E com que tocante sinceridade e com que imensa humildade o descreve.
O vídeo é o último dos que partilhei abaixo. E aqui uma palavra de louvor ao Observador por esta série de entrevistas sobre a Saúde Mental e uma palavra à Sara Antunes de Oliveira que conduz a conversa com precisão e delicadeza.
Decidi começar por vídeos anteriores para que se conheça a face pública do João Vieira de Almeida (filho do carismático Vasco Vieira de Almeida).
E transcrevo o que dele se escreve no site da firma:
JOÃO VIEIRA DE ALMEIDA
João Vieira de Almeida, Senior Partner da VdA, preside ao Conselho de Administração.
Enquanto Sócio de Corporate e M&A, tem assessorado muitas das operações mais emblemáticas em Portugal, sendo reconhecido pelo mercado como assessor de primeira linha de grandes organizações. É membro de vários Conselhos de Administração e Presidente da Mesa de Assembleias Gerais de empresas.
Reconhecido pelo seu estilo de liderança ímpar, e por antecipar proactivamente os desafios do futuro do setor, prossegue vigorosamente uma visão assente no conceito “One Firm Firm”, tendo-lhe sido atribuído mérito sobre o desenvolvimento e afirmação da VdA, desde um escritório de 6 advogados a uma firma de mais de 450 pessoas, com uma forte presença internacional.O compromisso irredutível do João para com a cultura e valores da firma, com particular foco no espírito de equipa, na inovação e no empreendedorismo, consolidou estas dimensões como forças motrizes que caracterizam a VdA, aliadas a uma cultura aberta e inclusiva, onde todos os colaboradores têm a justa oportunidade de desenvolver o seu potencial, num ambiente profundamente colaborativo.
Distinguido em 2018 pelo The Lawyer como European Managing Partner of the Year, tem implementando as melhores práticas internacionais de gestão na VdA, que constitui hoje um case study de Harvard e tem sido amplamente reconhecida por sucessivos prémios nacionais e internacionais, incluindo a distinção de FT Most Innovative Law Firm in Continental Europe, que lhe tem sido atribuída consecutivamente nos últimos anos.
Pelo que refere, João Vieira de Almeida agora está bem, embora se mantenha vigilante. E continua a procurar a tranquilidade e o equilíbrio que lhe vem das montanhas. E fala abertamente da sua experiência e vê-se que fala com tocante sinceridade quando refere os que sofrem o que ele sofreu sem o apoio e os meios de que felizmente usufrui.
Há saída para a depressão e é importante que os que a atravessam acreditem nisso e procurem ajuda. Não há que esconder o que se passa ou tentar atravessar sozinho o sofrimento de um vazio tão negro.
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João Vieira de Almeida em 2013
Também li, mas não aprofundei o caso, embora me tivesse tocado.
ResponderEliminarRealmente, o mundo hoje é diferente de antigamente, foi- se a calma, o dia a dia tranquilo, as profissões estáveis...
Hoje, o mostrar profissionalismo, o corre corre da vida, o trabalho que se prolonga em casa, tudo concorre para a instabilidade emocional, sucesso, euforia, frustração, tudo se vai misturando. E a cabeça aguenta?!
Olhe, UJM, desculpe alongar-me: a minha nora, com os filhos doentes, não mete baixa para lhes dar assistência, pede para eu ficar com eles todo o dia , porque é coordenadora e a equipa está dependente dela.
Pode!!!!??
Eu ficava em casa e o trabalho esperava por mim... Maria. Boa semana!
As depressões de que se fala são sobretudo as atmosféricas. Agora, o que está a dar é a “depressão Armand”.
ResponderEliminarDas outras, as que mais me afligem são as das crianças, as depressões infantis.
Imagino como é/seria a saúde mental das crianças arrancadas à infância para preencher internatos ou para trabalhar. Um crime ..
https://www.tuasaude.com/sintomas-de-depressao-nas-criancas/
Olá Maria,
ResponderEliminarEstou em crer que em cima do culto do sucesso há a praga das redes sociais que fomenta a ilusão do 'fantástico!', do 'melhor do mundo', a felicidade suprema, a necessidade de mostrar aos outros que não se está a ficar para trás, que se come o melhor prato no melhor restaurante, que se vê o pôr do sol mais perfeito. Essas coisas. E, nessa ânsia de mostrar aos outros que se está bem, na maior, tudo em cima, a alma pode ir ficando para trás.
Mas também há isso, o de não querer não estar presente se calhar com receio das avaliações, se calhar com receio de sair da fila das promoções. É um mundo ingrato, sim.
E em casos como o do João Vieira de Almeida as pessoas não apenas têm que ser bem sucedidas como são entrevistadas para explicar o que fazem para ser bem sucedidas e tudo isso cansa. Inevitavelmente cansa. E o cansaço, quando é escondido à força, cava buracos negros dentro das pessoas.
Eu, quando os meus filhos eram pequenos e ficavam doentes, sentia-me impotente. A minha sogra raramente podia vir ficar com eles e a minha mãe ainda dava aulas. E eu tinha sempre projectos, cheios de prazos, e mais reuniões, compromissos. Faltava, claro, mas ficava preocupadíssima. Hoje com computadores portáteis, comunicações, possibilidade de trabalhar remotamente quando as funções o permitem, a vida está facilitada.
Mas a vida, em especial nas grandes cidades e creio que em especial para quem tem que sobreviver nas grandes empresas, é complicada.
Desejo-lhe uma vida tranquila, feliz... e, de preferência, com os netos de boa saúde...:)
Um dia feliz, Maria.
Olá Estevão,
ResponderEliminarO Armand...? Não é a Beatriz que já por aí vem, espaventosa e depressiva?
Quanto a depressões infantis deve ser terrível. E tem razão. Crianças institucionalizadas... o que devem sofrer. Ou crianças em famílias desestruturadas ou em que há violência ou fome. Sobre isso nem gosto de pensar, aflijo-me, sinto-me mesmo mal.
Obrigada por lembrar. Nunca é demais termos presente o que não fazemos para que todas as crianças do mundo tenham infâncias felizes.
Um dia feliz, Estevão.