O dia esteve animado com reuniões, telefonemas e problemas de todas as cores e sabores.
Mas, no intervalo, ao almoço, voltei à limpeza geral. À medida que avanço no desbasto vou radicalizando.
Make my day, penso quando dou com uma fiada deles que podem virar pó digital num piscar de olhos.
A alguns daqueles mails que, ao princípio, olhava com respeito agora já pouco respeito me merecem. Penso: mas alguma vez na vida vou voltar a lê-los? ou há algum motivo para precisar de consultá-los? E, pimba, não há cá segundos pensamentos, vai delete de cabo a raso.
Depois de jantar, pensei: vou ordenar por dimensão. Xiiiiihhh. Já nem me lembrava... Havia uma que fazia apresentações pesadíssimas, carregadas de imagens e animações desnecessárias, palha, palha, palha. Cada mail para cima de 20MB. Um disparate. Carradas de abóboras gigantes. Olhei para aquilo e, trás, uma página deles para o galheiro. Sempre achei até falta de respeito invadir a caixa de correio alheia com ostentações e intermináveis pormenores, megas e megas. Jamais voltaria a ter paciência para slides e slides de bonecada e palha. Lixo.
Depois fui parar a um de quem também já mal me lembrava. Tinha o absurdo hábito de mandar todos os mails com meio mundo em conhecimento. Daquelas pessoas que chuta a responsabilidade para os lados, para cima, para baixo e para os cantos. Ecrãs cheios de tretas que ele enviava para meio mundo. Pensei: se já na altura a vontade que tinha era apagar instantaneamente tudo o que ele mandava, para que é que ainda estou a guardar isto? Pimbas. Delete forever.
Depois dei com outra pilha deles, facturas enviadas para conferência por uma anafada Isabel a quem tratavam por Belinha.
Isto naquela fase pré-histórica em que ainda não havia workflows automatizados. Digitalizavam as facturas num scanner e anexavam-as aos mails e o workflow funcionava artesanalmente. O responsável directo conferia e ele próprio enviava o mail para o responsável. Uma das guardiãs do processo era a boa da Belinha, por sinal a mais santa das criaturas. Estava sempre disponível, se alguém tinha dúvida sobre o que quer que fosse mesmo que fosso enrolo antigo, ela farejava arquivos onde quer que estivessem, vivos ou mortos, e aparecia com o processo. Tudo no mais low profile. Sempre de saia e blusa mas daquelas saias e blusas que não têm história. Podia ser freira sem hábito.
Até que um dia, depois das férias, ao perguntar: 'E aí? Novidades?', alguém disse: 'Não vai acreditar! O impossível aconteceu! O Idalino largou a mulher e juntou-se à Belinha!'. Fiquei de queixo caído. O Idalino era um funcionário meio totó, por acaso também meio gago, meio apanhado em verde, pequenino e magrinho. Ora bem. A santa da Belinha virou do avesso a cabeça do Idalino. Quando víamos aquele casal, ela quase o dobro dele, os dois muito pãozinho sem sal, ele cada vez mais enfezado, nem conseguíamos atinar com o romance que estava ali armado. Havia quem gozasse: 'Vocês não sabem é nada. Na cama, ninguém segura a Belinha, vira uma fera e papa o Idalino sem dó nem compaixão'.
Resumindo: para que é que ali tinha aqueles mails todos cheios de facturas agarradas? Lixo. Deixei apenas um mail para não me esquecer dela.
A ceifa hoje não se comparou com a de ontem. Nem dois mil devo ter apagado. Estou a entrar na monda fina e tenho que me abeirar deles só quando não estiver in the radical mood. Não quero apagar coisas de que posso sentir falta.
Portanto, deixei para lá.
E aqui chegada fui logo a correr para ouvir histórias. Gosto de ouvir. Ouço e vou-me lembrando de histórias minhas e de histórias alheias. Tenho com cada uma. Agora estava aqui a lembrar-me de uma passada comigo que é de se lhe tirar o chapéu. Daquelas que vou guardar para uma altura (ou um livro) onde me possa dar ao luxo de contar toda a espécie de histórias escabrosas.
Pois é verdade que tanto e-mail vai enchendo a nossa caixa de correio, de tal modo até que, de tão cheio, fica sem espaço disponível.
ResponderEliminarNa verdade, para mim, é das tarefas mais chatas ter de esvaziar o correio, detesto!
Mas já reparou nas histórias de vida que por si passaram, nesses simples ( ou não!) emails de trabalho?!
Continuação de boa limpeza, UJM, haja espaço para novas histórias!
Efetivamente existem mais que mais parecem livros da história do mundo.
ResponderEliminarUma verdade e contra mim falo: Mas algum Homem resiste e não dá em maluco caso uma mulher assim o queira?
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Cumprimentos poéticos.
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Para conseguir ler este texto tive de colocar um post-it em cima do irrequieto e adiposo rabo insuflado da criatura da esquerda ..
ResponderEliminarOlá Maria,
ResponderEliminarPois. Por isso, fui deixando estar. E sempre com receio que o assunto venha à baila e seja necessário ir buscar os mails sobre o tema. E sempre sem paciência para limpezas.
Até que a caixa ficou mastodôntica. E fiquei a pensar: para quê guardar tudo isto?
E é verdade: quantas lembranças se vão desdobrando à medida que vou revendo todas aquelas 'cartas' e 'bilhetinhos'...
Abraço, Maria. Obrigada.
- R y k @ r d o -
ResponderEliminarÉ verdade: histórias. Anos de istórias em milhares de mails.
E também é verdade: não é fácil um homem resistir a uma mulher sedutora. São muito frágeis, os homens.
Um dia feliz!
Olá Anónimo
ResponderEliminarDeixa-se ofuscar muito facilmente... Tem que exercitar a mente para que o olhar não se distraia assim tão facilmente.
Desejo-lhe um dia bem disposto!