quarta-feira, agosto 03, 2022

Os mais qualquer coisa de entre os bloggers que sigo (Parte 2):
o mais cirúrgico e o mais inesperado.

 

No seguimento do post de ontem no qual festejei o blogger mais jovem, a mais criativa e o mais romântico, seguem-se hoje outros que se destacam.


O mais cirúrgico. Um dos mais oportunos, mais precisos e mais contundentes nas análises ou denúncias que faz. Não vai em cantigas, mantém-se fiel aos seus princípios e, por mais canelada que leve, não desarma nem baixa os braços. E não manda dizer por ninguém, não rodeia, não usa meias palavras. E como escreve bem... Para além do dia a dia há a série Revolution through evolution -- as recomendações ao início da semana, cada uma mais relevante ou curiosa que a outra. E depois há a turminha do desacato que atrai e que, à porta do blog, nos comentários, arma sempre uma divertida baderna. Esmeram-se nos nomes que inventam e batem-se taco a taco com os nomes que já fazem parte da mobília. Se fosse um bar, seria daqueles em que, a par de uma boa tertúlia, frequentemente acabam todos à batatada (para no dia seguinte lá estarem, de novo, todo caídos).

Valupi do Aspirina B

Alguns exemplos:

Ao assistir à entrevista a Luís Montenegro, dei por mim a concordar com o que sempre achei dele: eis aqui um tipo simpático, bonacheirão, com quem deve ser impecável estar na comezaina e na copofonia. E deste assentimento confirmado saltei para um estado de empatia. Sentia que conseguia sentir o que ele sentia acerca de si próprio ao ser apertado pelo excelente Paulo Magalhães. Foi assim que fiquei a saber, graças à magia da empatia, que o Montenegro sabe que mesmo nos seus melhores dias não passa de um político inane, merdolas.

O futuro da direita não decadente precisa da lhaneza e virtude de Moreira da Silva ou similares. Isto para começo da conversa.

in Empatia para Montenegro

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Quem ler mais esta ladainha contra as democracias liberais – Estamos a matar a democracia? – facilmente conclui que o putinismo da Soeiro Pereira Gomes é a consequência de já não se ouvirem os amanhãs que cantam. Passam agora os dias a olhar para o abismo, com as consequências que o outro há muito descreveu.

in Tadeuismo

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«Quando eu ponderar uma vida no crime, a primeira coisa que eu vou fazer é construir um altar todo em talha dourada em honra de Ivo Rosa lá em casa e rezar-lhe uma oração todas as noites.»

Araújo das piadolas

Existe uma campanha contra Ivo Rosa, a qual une a direita política e mediática num coro de perseguição obsessiva como nunca se viu igual a respeito de um juiz em Portugal – só comparável à perseguição a Sócrates. Tal deve-se à Operação Marquês, tendo começado logo que Carlos Alexandre ficou em risco de perder o controlo absoluto sobre o seu desfecho. É uma campanha que não aflige os partidos da esquerda pura e verdadeira, nem o PS, nem o ministério da Justiça, nem o sindicato dos juízes, nem o Presidente da República, nem a minha vizinha do 4º andar. Trata-se de uma campanha alegre, portanto, e que continua porque todo o dano que se lhe conseguir fazer promete trazer ganhos para o dano maior que se deseja venha a atingir Sócrates (logo, a também atingir o PS, embora o PS de Costa conviva muito bem com essa armadilha onde os direitolas estão enfiados a ver a caravana do poder a passar).

O Sr. Araújo e coleguinhas televisivos pagos pelo Balsemão são três dos mais influentes carrascos de Ivo Rosa na comunicação social “de referência”. Fazem-no a coberto do registo “humorista”, para que o cinismo e a sonsaria atinjam o grau máximo de veneno no espaço público. Na citação acima, este “comediante” recorre ao sensacionalismo para broncos e trata literalmente Ivo Rosa como cúmplice de criminosos. Só rir, né? O Estado de direito e as legítimas diferenças na interpretação e aplicação da Lei que se fodam, viva o culto dos justiceiros que despacham a bandidagem com cordame e autos-de-fé.

Um estudo da Marktest analisou 60 e tal figuras públicas e descobriu que Ricardo Araújo Pereira é a personalidade com quem os portugueses sentem mais empatia. Ocasião para recomendar a leitura do Against Empathy, onde a tese é precisamente a de que a empatia pode boicotar, e mesmo anular, a deontologia e a ética – ou seja, a empatia pode servir para as maiores canalhices. É o caso com esta pulharia paga a peso de ouro, as vedetas da indústria da calúnia.

in Against empatas 

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O mais inesperado. Inconstante. Incerto. Indescritível. Intuitivo. Insólito. Nem sei bem dizer porque lhe acho a graça que acho. Mas acho. Apesar de uma certa maluqueira, encontro ali opções estéticas que me agradam e um certo gosto pela provocação que também me agrada. Talvez seja um dos bad boys da blogosfera. É pena que seja tão maçadoramente bissexto e é pena que não se esforce mais. Não fora isso e habituar-me-ia ao seu encanto. Assim, apenas está quase lá...

O anão gigante

in Sharing is caring

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Paul Outerbridge
André Kertész

in Projecto Díptico vertical #283

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todos os instantes de

infalibilidade e glória

em que estive 

certo, axiomático, infalível, convicto,

por conhecimento ou instinto,

com e/ou sem argumentos,

vencendo adversários, contendas e litígios,

trocaria por este

em que a verdade é minha

e tudo o que quero 

é estar 

errado


in Summa cum laude 

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The Sisters of Mercy, Henriette Browne
Word of the Day por Bella Tokaeva

Empalidece a arte ao encarar o fruto da natureza.

Summa Theologica, S. Tomás de Aquino c.1272

 in  Ars autem deficit ab operatione naturae

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Amanhã tentarei continuar. Tenho ainda que falar do melhor mestre relojoeiro que, afinal, é um disfarce pois a verdade, verdadinha, é que poderia fazer parte da mesma tropa de choque a que também pertence o sniper mais certeiro da blogosfera. Ou do historiador mais lhano e objectivo cujos textos gosto de ler em voz alta para o meu marido. E de outros. Ou outras.

Contudo, o tema dos novos precários também está a pedir para eu o agarrar. O mundo mudou e a precariedade assume novos contornos e toca os mais insuspeitos. Noutros casos, são os precários que não querem deixar de ser precários. De uma forma ou de outra somos todos descartáveis e é bom que o assumamos com humildade. Mas é um tema caleidoscópico. Apenas a malta mais obtusa o vê como um tema linear suceptível de ser resumido num slogan que seja martelado em manifs de aspecto vintage.

No entanto, para falar disto terei que ter disposição para falar um bocado a sério e não sei se tenho paciência ou se aí desse lado há quem, a meio da silly season, tenha pachorra para uma conversa desse tipo.

Amanhã logo vejo.

Pormenor de Apocalypse Tapestry, Angers, França

Como la cigarra (Jaroussky/Andueza/Pluhar)

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Um dia bom

Saúde. Boa disposição. Paz.

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