Depois da guerra de Putin, a grande dicotomia entre concepções de sociedade já não é entre a esquerda e a direita, mas entre os defensores da democracia (que existem à esquerda e à direita) e os simpatizantes de regimes autocráticos (que abundam na extrema-direita e na extrema-esquerda).
Teresa Ribeiro in Delito de Opinião
Sempre me identifiquei com a esquerda. Mas sempre com uma esquerda moderada, humanista, moderna, aberta à mudança e às diferenças, uma esquerda democrática, uma esquerda em que a liberdade é uma das grandes e inquestionáveis bandeiras.
Mas também uma esquerda tanto quanto possível pragmática, informada, coerente.
Sempre me distanciei da direita, não por ter o carimbo de direita mas por ser retrógrada, conservadora, frequentemente inculta, frequentemente não humanista, não aberta, por defender privilégios para elites que o são por motivos tantas vezes pouco éticos, por defender uma superioridade de classe, por, na prática, não pugnar pela igualdade de oportunidades, por ter tantas vezes uma visão desfocada e antiquada da sociedade, por frequentemente assentar em ortodoxias e preconceitos.
Dito isto, tenho que confessar que tem sido com alguma perplexidade que tenho assistido à reacção de algumas pessoas que tinha por gente de bem e que, perante a brutal e imperdoável invasão de um outro país com a clara intenção de o anexar, destruindo-o barbaramente, em vez de cerrar fileiras em torno do país invadido e agredido, consegue descobrir culpas do lado da vítima, tacitamente desculpando o brutal agressor. E do que mais impressão me faz é ser gente que eu identificava com uma esquerda esclarecida e que agora, para minha surpresa, vejo que é gente que se mostra cobardemente a favor da rendição e a favor da cedência à chantagem e ao terror que o criminoso vem espalhando.
E tenho pensado que, depois do que tenho visto, mais depressa separo as águas entre os que defendem o respeito pelo direito internacional, o respeito pela vida humana, o respeito pela democracia e pela a liberdade e os que, pelo contrário, condescendem, defendem ou disfarçam a admiração por estados totalitários, autocráticos, desrespeitadores de tudo o que a civilização conquistou, estados capazes de tudo, de todas as barbaridades, de todos os crimes, de toda a hipocrisia e mentira.
E, por pensar assim, foi com agrado que vi isto muito bem sintetizado pela Teresa Ribeiro no Delito de Opinião.
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Pinturas de Barnett Newman na companhia do Coro Infantil Misto Lorosae com Ina Lou
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Desejo-vos um bom dia
Saúde. Paz.
Olá UJM!
ResponderEliminarAqui, à escala do burgo, até sou capaz de compreender que a malta caia na esparrela de achar que a questão da guerra da ucrania é "a preto e branco" (ou até de democracia versus autocracia). Mas será mesmo assim? Aliás, essa teoria dicotómica "final" vai-nos levar a que solução mesmo? Estamos dispostos a prosseguir essa ideia até às últimas consequências?
Pelo caminho, permita-me continuar a alertar para um cuidado redobrado com estas teorias / linhas de pensamento dicotómicas e, sobretudo, fatalistas. Partilho duas sugestões de leitura (sim, são opiniões... infelizmente, trabalhos jornalísticos com perspetivas um pouco diferentes são raríssimos e geralmente só se encontram em meios de comunicação não ocidentais, tipo Al-Jazeera e afins):
https://setentaequatro.pt/entrevista/pedro-caldeira-rodrigues-o-controlo-mediatico-e-feito-de-duas-formas-uma-mais-subtil-e
(E, já agora, aquilo que se chama "anti-imperalismo" ou "anti-americanismo", em Portugal, é, nos próprios EUA, "anti-neoconservadorismo"... talvez fosse relevante a "esquerda" portuguesa que de alguma forma defende teses neocons pensar um bocadinho no que anda a fazer... )
https://www.commondreams.org/views/2022/06/28/ukraine-latest-neocon-disaster
Um abraço!
Paulo, olá,
ResponderEliminarTudo bom consigo?
Nisto forço-me a fazer uma leitura básica. Estamos perante um crime violento. Por isso, em primeiro lugar condeno o crime. E o pior é que não foi um acontecimento único. O crime continua. Por isso, a seguir peço que seja posto um fim ao crime -- ou seja, que o invasor se retire, que o criminoso pare de atacar o país invadido.
A seguir posso fazer uma série de outras análises mas, por enquanto, parecem-me todas fúteis. Discutir teorias ou fazer conjecturas enquanto um criminoso está em território alheio a destrui-lo parece-me fútil. Não o farei.
Contudo, gosto de ler segundo diferentes perspectivas pelo que lhe agradeço os links que enviou que, como sempre, fogem ao óbvio.
Obrigada, Paulo. E espero que continue a ser a pessoa especial que sempre achei que é.
Um bom fds!