Volto a ler -- aqui e ali, com mais ou menos sal e pimenta, com mais ou menos sofisticação -- que os ucranianos, os ocidentais, os americanos, os civilizados e outras aves que tais é que provocaram o coitado do Putin que apenas queria anexar a Ucrânia.
Dizem, aberta ou veladamente, que esta guerra teria sido evitada se a Ucrânia tivesse aceitado deixar de ser um país, se os seus cidadão tivessem aceitado ser russos e se nunca tivessem tido a veleidade de pertencer a qualquer associação que os defendesse caso Putin resolvesse pô-los com dono à viva força.
Defendem que muitas vidas e muito sangue teriam sido poupados se tivesse sido feito a vontade de Putin e dos seus acólitos.
Talvez fosse verdade.
Se a deixassem, a Mãe Rússia poderia voltar a sentir-se imperial, big mamma Russia. E a seguir poderia ir buscar o que Mikhail Gorbatchov, esse looser, deixou que se perdesse. Old mamma Russia poderia voltar a sentir-se imensa, medieval e poderosa. Poderia sonhar como os czares sonharam. Ah... os grandes salões dourados, os imponentes tronos, as intimidatórias mesas de seis metros, as tapeçarias, os espelhos, a obediente guarda de honra... tudo isso serve para quê quando a Rússia está reduzida à Rússia...? Porque haverá de haver quem tente impedir a sacred mamma Russia de anexar mais territórios?
Assim, contrariada, coitada da mamacita Russia, tem que invadir, violar, torturar, matar, passar por cima, destruir, reduzir a pó, roubar a Ucrânia e os ucranianos.
Putin não se importa, claro. Não obedeceram têm que pagar. Nada de mais. Mostra ao mundo que é o legítimo herdeiro dos czares. Forte. Capaz de todos os crimes deste e de todos os mundos. Impiedoso. E quem diz herdeiro dos czares diz de Estaline. Olha-se ao espelho e humildemente acha que ainda tem algum caminho para andar, muita gente para matar, até que fique ao lado do paizinho Estaline.
O mundo pode olhar com perplexidade para tamanha estupidez, tamanha burrice, tamanha depravação, tamanha barbaridade, que ele, o insuflado Putin, e os seus devotos, não estão nem aí.
Ele porque, para ele, só ele existe e quer lá ele saber da opinião dos que o criticam ou da dor dos que sofrem.
Os outros, os devotos -- uns porque acham que Putin, por ser russo, ainda representa o comunismo, outros porque acham que ele é o representante dos grandes mestres da cultura russa, outros porque gostam de se pôr do lado dos invasores e dos assassinos, outros porque nasceram para ser escravos e gostam de ser espezinhados e outros porque simplesmente gostam de ver os outros a serem reduzidos a nada -- defendem-no porque estão sempre ao lado dos que tentam sugar a alma dos outros. Esses continuam a defender Putin, o burro, cobarde e assassino Putin. E, pelo contrário, acusam os que não se deitaram no chão para que ele lhes passasse por cima.
Este mundo é assim. Uma tristeza. Enquanto houver assassinos torpes e insensíveis e gente que cegamente os defenda, este mundo será um lugar muito perigoso, muito triste.
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A Rússia, tal como a China, não são - nem nunca foram - potências imperiais: a vastidão dos seus territórios (e da sua influência) sempre lhes foi suficiente. Só uma leitura muito enviesada da história das nações pode levar a outras conclusões.
ResponderEliminarSó quem nunca leu - com olhos de ler - Gogol, Dostoeievsky ou Solzhenitsyn, ou quem nunca ouviu - com ouvidos de ouvir - Tchaikovsky, Rimsky-Korsakov ou Shostakovich é que pode mofar ou discorrer sobre a Grande Alma Russa sem reflectir.
(the soul & a bitter passion's fruit)
ResponderEliminarIncipient Daedalus
building up impromptu labyrinths
where the Minotaur of rancor awaits
to tear to pieces
the inner child.
Que espécie de monstros albergam os que, obcecados, vivem em busca do monstro nos outros?
(a alma e o acre maracujá)
Labirintos inconscientes
por Dédalos incipientes,
onde Minotauros rancorosos
devoram Meninos chorosos.
O "verdadeiro milagre" reside na dança simbiótica da criança endógena com o monstro privativo.
"Dirijo-me a outros com hesitante cautela porque sei que não falo ao outro: dialogo com máscaras.
ResponderEliminarNão é que as máscaras me repugnem per se, mas são labirinto escusado onde (em potência) se troca alegria por rancor, tempo por vaidade."
(o milagre do ardina)
Nostalgia p'los jornais da manhã;
p'los vespertinos também.
Saudades do tempo em que sobrava
tempo & dinheiro p'ra jornais
vagar & tempo p'rós ler também.
Somos modernos, quiçá humanos
celebrando a desumanização.
Qu'espécie d'humanos seremos?
Que futuros humanos virão?
We're modern, maybe humans
cheering on dehumanization.
What kind of humans are we
breeding with such expectations?
(philosophia perennis / urreligion)
ResponderEliminarStrolling up & down
Sisyphus lane
at the right time
in the tight place
sidestepping stones
with uncanny grace
Not all philosophers are poets, still
all poets are philosophers.
Not all philosophy is poetry, still
all poems are philosophy.
Philosophers and poets perish,
Poetry/Philosophy won't:
Man is the supreme poet,
God as The Supreme Poem.
K
ResponderEliminarAlguns dos amantes da Grande Alma Russa cristalizaram em torno das almas dos grandes mestres russos: Gogol, Dostoeievsky ou Solzhenitsyn,Tchaikovsky, Rimsky-Korsakov ou Shostakovich.
Os oligarcas e a corte de corrupção que gira em torno do Kremlin podem ser defendidos, nos seus actos sangrentos, por terem existido os referidos mestres?
Justifica e defende Hitler da mesma maneira?
Desejo-lhe um bom dia
Com a recente morte de tantos oligarcas, é natural que qualquer assalariado divulgue “que muitas vidas e muito sangue teriam sido poupados se tivesse sido feito a vontade de Putin”,
ResponderEliminarse bem que ainda há quem mantenha enraizado que não se deve falar de política, senão vai-se para a prisão, que não se deve resistir, senão derrama-se sangue … que o ditador acabará por cair da cadeira naturalmente, pelo que devemos esperar sentados e com muita calma.
І нехай Україна переможе!
Reductio ad Hitlerum: sempre o mesmo argumento de quem não tem argumentos ponderados.
ResponderEliminarNão defendo ninguém; limito-me a registar a hipocrisia dos incontáveis "justiceiros do teclado" que pensam sabe-se lá o quê (nada?) do conflito no Iémen, da destruição e morte na Líbia, da perseguição dos ucranianos pró-Rússia no Donbas e que agora, por manifesta incapacidade intelectual ou necessidade de agradar à voz do dono, se descabelam histrionicamente.
Quem manda nisto tudo (não o senhor Putin, nem o zombie Biden) quer reduzir drasticamente o n.º de seres humanos existente: não há nada como uma guerra a larga escala para o conseguir - como já referi noutro comentário, estamos apenas no início e não, não defendo nem abomino a guerra, porque ter emoções pelo Inevitável é simples perda de tempo. O senhor Putin, o sabujo Zelenskyy, o zombie Biden são apenas testas-de-ferro para dar à populaça rostos pelos quais se atiçam adorações/ódios balofos.
Será, V., um emissário de Deus? Quiçá do Diabo?
ResponderEliminarPaira acima de todos, incluindo dos senhores do mundo, e tem explicação para todos os factos, factos esses naturalmente não ao dispor dos simples humanos.
É muito jogo.
Esta Europa sempre viveu de guerras. A dos 30 anos (1618-1648) então foi uma coisa brutal. Católicos e protestantes batalharam-se e devastaram zonas inteiras, tudo por interesses políticos, geoestratégicos. Andam por aí uns pobres generais, não sei como ainda não lhes bateram, a tentar explicar, racionalmente, o que é isto de guerras e conflitos de interesses. Mas não adianta porque os jornaleiros televisivos a quem, com nobres excepções, falta conhecimento histórico e geográfico, querem bordoada, emoção, espectáculo. Espero que isto não dê para o torto, e que a Europa não se envolva, mais uma vez, em guerras a mando de interesses que não lhe dizem respeito. Consta que estas novas bombas arranham mais do que aquelas duas de 1945. Entretanto, pode ser que a senhora UJM nos dê duas palavras sobre a ocupação israelita na Palestina, das desgraçadas mulheres afegãs abandonadas pela NATO, dos pobres iemenitas subjugados pelos humanistas sauditas, que há dias executaram 86 condenados num só dia, na Etiópia, na Líbia, Mianmar, Síria, Etiópia, Ruanda, para onde o senhor Boris pretende enviar refugiados, e outros conflitos latentes. Também, já agora, das históricas palavras da senhora Madeleine Allbright, que quando era Embaixadora dos EUA na ONU, nos anos 90, impôs e fez aprovar sanções ao Iraque após a invasão do Kuwait. Perante a morte de milhares de crianças iraquianas, em consequência directa das sanções, Albright respondeu na já icónica entrevista à CBS: «Acho que é uma escolha muito difícil. Mas o preço, pensamos, valeu a pena». Porque ser cego não é defeito, não saber ler é que é tramado. Excelsa prosa a sua UJM, bem-haja.
ResponderEliminarTodos somos enviados da Eterna Insatisfação, até o demo.
ResponderEliminarA Vontade Divina é tudo.
Por muito que custe aos seres humanos, não parece crível que o Universo contemple planos para a criação doutras entidades eternas alternativas. Por conseguinte, é natural que um belo dia destes se encontrem reúnidas as condições suficientes para que a humanidade seja colectivamente erradicada do catálogo universal.
Não interessa: Tudo é necessário - até deixar de o ser.
Mas se a sua réplica, estimado/a leitor(a), é a de que deveríamos lutar pela preservação para a eternidade do gene homo sapien sapiens, parece que já desperdiçámos cerca de quatro mil séculos. Quantos mais teremos para começar a arrepiar caminho?
Olá Segismundo,
ResponderEliminarEspero que todos os dias se entretenha a desenhar veados ou javalis na caverna. Ou não vive numa caverna? Devia. Se os nossos antepassados viveram, como é que não lhes repete os hábitos...?
Ouça: não me diga que costuma atacar à pedrada o seu vizinho do lado, caso lhe apeteça comer o frango que ele leva no saco?
Se o que temos que fazer é repetir o que fizeram os nossos antepassados, como explica os avanços que (apesar de tudo) a humanidade vai conseguindo?
Se os de uma tribo atacaram outra, se os de um país invadiram outros e se sempre isso aconteceu, então que mal tem a Rússia ter invadido a Ucrânia...? É essa a sua lógica, não é, Segismundo? Vivemos sempre com os pés enterrados na lama do passado, é isso, não é? É assim que pensa, não é?
Já agora outro apontamento. Já o disse mil vezes que não penso que haja guerras boas e lamento a pouca sorte de quem as sofre na pele, seja na Europa, na Ásia, em África, ou onde quer que seja.
Mas, se falo na chacina que estupida, absurda, cruel e imperdoavelmente a Rússia está a levar a cabo sobre a Ucrânia, tenho que falar ao mesmo tempo na Palestina, no Iémen, na Líbia e em todos os lugares em que a guerra vai causando devastação? Porquê, pode explicar?
Se falo numa pessoa que tem olhos verdes, terei que falar nos que têm olhos pretos, olhos castanhos, olhos azuis, um de cada cor, nos estrábicos, nos míopes, etc?
Se falo num coxo, tenho que falar nos manetas, nos marrecos, nos carecas, nos barrigudos, nos que roem as unhas, nos que não sabem dançar apesar de não serem coxos, etc...?
É assim que quer que eu funcione? E porquê, pode dizer-me?
É assim que o Caro Segismundo funciona? De cada vez que fala de uma coisa, começa a falar de todas as relacionadas? E não se ensarilha? E há quem tenha paciência para o ouvir nessa empreitada...?
Sempre gostava de ver.
Olhe, sabe o que lhe digo? Cá para mim, o meu Caro o que é é um chato de primeira. Sabe o que o salva? É que, apesar de tudo, escreve bem e, vá lá saber eu porquê, até lhe acho uma certa graça.
Olá K,
ResponderEliminarSe para si a vida é apenas a espera até à morte, deve ser gira essa espera... Caraças. Que desconsolo. Fica sentado numa sala vazia, a girar o caleidoscópio e a fazer risquinhos nos dias do calendário? A vida não é senão um lento e penoso counting down?
Não há nada que o encante? O motive? O enterneça? Não há nada que o faça sorrir e sentir o coração aconchegado?
A vida, para si, é uma repetição, a humanidade a andar em círculos? Ou melhor: numa monótona e triste espiral que a conduzirá para o longo desfiladeiro que precede o buraco negro que nos há-de engolir?
Credo.
Olhe. Não quer puxar pela cabeça e aparecer aqui com uma boa novidade, com uma ideia afável, com sorrisos nas palavras? Vá lá, K., puxe lá pela cabeça...
Pois, o Lovecraft em mim não está p'ra frivolidades furta-cores, só para excentricidades tenebrosas.
ResponderEliminarK,
ResponderEliminarO Caríssimo é assim a modos que gótico, não é?
Qual barroco...? Ná. Gótico.
Confirma?
Caro Desconhecido/a,
ResponderEliminarPeço desculpa mas li o seu comentário, publiquei-o mas, ao responder, como ficou no meio dos outros, acabou por ficar como que 'escondido'.
Concordo que ainda há quem tenha medo de falar de política, em especial contra tiranos. Mas se ficarmos todos calados, quem parará os ditadores?
Mesmo quando não é confortável (ou seguro) devemos deixar que a nossa consciência fale e lute por aquilo em que acreditamos.
Obrigada pelo seu comentário e também espero e desejo que a Ucrânia vença esta guerra absurda e cruel.
Um bom domingo.