segunda-feira, maio 09, 2022

Dias em família -- e eu à espera de um milagre
(e não me refiro a arranjar um amante mais novo)

 




O Verão chegou antecipadamente, todo ele calor, corpo a pedir pouca roupa, cheiro a terra quente e cheiro a mar, meninos em cima uns dos outros, adultos numa boa onda, todos na brincadeira, dias a crescerem, o ursinho felpudo a brincar e a receber carinho, uma luz doce no ar.

Estive com todos, cozinhei para eles, vi-os a comer de gosto, sentei-me à sombra, ouvi os passarinhos, vi as flores, vi como os meninos crescem de dia para dia, vi como o afecto entre eles se mantém.

E passeei com a minha mãe à beira mar, e fomos às compras e conversámos. Está cada vez mais jovem, veste-se agora como não se vestia quando tinha trinta anos: calças frescas, túnicas claras, ténis brancos, bolsinha no tom. Viu um casaquinho todo aberto em verde entre o alface e o pistachio e logo o agarrou, o provou e comprou. Gosta agora de se vestir com cores alegres e luminosas. O meu marido admira-se por desatarmos a falar quando nos encontramos e seguimos conversando até que nos despedimos. Acho que mais ela que eu. E espanta-se porque isso também acontece entre mim e a minha filha. Não percebe como temos sempre assunto. Ele pergunta: 'Tudo bem?' e, pela resposta -- que pode ser apenas 'tudo' -- ele já se dá por contente. E a verdade é que percebe se é mesmo 'tudo' ou não. Mais do que isto já lhe parece conversa a mais. Outras vezes o cumprimento é ainda mais minimalista: diz apenas o nome da pessoa. Mas a verdade é que às vezes presta atenção à minha conversa com os outros pois ao fim do dia ou no dia seguinte vem perguntar-me o que é que estávamos a dizer sobre algum assunto. Mas é assim. Como espectador à distância ainda vá que não vá. Para mais do que isso já não tem muita paciência.

O urso felpudo a andar em duas patas para tentar ver o cão que ouve na casa dos vizinhos do lado


No sábado a minha filha organizou com a miudagem um Taskmaster. Uma das várias tarefas que foi inventando era ver qual deles me punha a rir mais depressa. Só dela ter essa ideia já me deu vontade de rir. Ainda eles não tinham tentado já eu me desfazia a rir. O que me deu mais vontade de rir foi eles verem-me a rir ainda eles não tinham feito nada. E só de pensar nisto já estou a rir-me. 

Não tentem perceber. Não há explicação. Rio-me só de pensar que queriam fazer-me rir e que, antes de terem começado, já eu estava quase a chorar de rir -- o que os deixou desconcertados sem saberem como superar a prova. E isto dá-me imensa vontade de rir (que querem que eu faça...?)

Portanto, desistiram. Então a minha filha teve uma nova ideia: não era fazerem-me rir a mim, era fazerem rir o avô. E aí a coisa fiou mais fino. O que me ri. Eles a contarem piadas, a fazerem palhaçadas... e  o avô impávido e sereno. Por fim lá assomava um sorriso. E eles queriam que ele risse mesmo. A minha filha disse que o sorriso chegava, que era o máximo que iam conseguir dele. O que me ri...

No outro domingo eu tinha-lhes dado a grande novidade: tínhamos descoberto um programa e tínhamos ambos estado o tempo todo a rir. Claro que eu rio e ele sorri mas, lá está, isso para mim é igual a riso. O Taskmaster. E eles todos: 'Mas está já a acabar! Isso já dá há umas semanas. Não perdemos um episódio. Fartamo-nos de rir.' -- e isto quer do lado da casa da minha filha quer da do meu filho. E, portanto, pelos vistos toda a gente conhecia o programa menos nós dois. Vimos a semana passada e vimos esta, de facto o último episódio. A ver se vem aí nova série pois é divertidíssima. Também tem a ver com o sentido do humor dos participantes. Estes eram mesmo boa onda.

A minha menininha mais linda tinha descoberto uma app que via o match entre um casal. Pensava eu que seria por signos, por algum questionário, qualquer coisa. Mas não, apenas a partir do nome. E, então, estava a mostrar à tia como era e a fazer o exercício com casais conhecidos. No meu caso salvo erro deu oitenta e tal por cento com o avô. Pareceu-me bem. E, por acaso, até acho que os nomes são relevantes. O meu primeiro namorado tinha o mesmo nome que o terceiro, aquele com que me casei. Dois grandes amores. O do meio tinha um nome que não me dizia grande coisa. Ou melhor: que feria a minha sensibilidade. E, no entanto, é um nome normal. Mas uma pessoa com aquele nome não podia ter sido feita para mim. No caso do meu marido, quando a namorada dele da altura estava a descrever o namorado, pela descrição, achei que só poderia estar a falar daquele que me trazia enfeitiçada. E quando lhe perguntei o nome dele e ela o disse, tive a certeza que era ele. Na verdade, ao tê-lo visto e ao ter pensado que era o homem da minha vida, sempre soube que não poderia ter outro nome. Por isso, e não quero cá saber de coisas, também acho que os nomes são determinantes na vida de uma pessoa e na probabilidade de alguma coisa vir a dar certo entre duas pessoas. 

Com estes esoterismos e conversas malucas pode parecer que estou a renegar a minha vida de pessoa racional, dada à ciência e a rigores. Mas não estou. Simplesmente há coisas que não têm explicação.

Tirando isso, já é dia 9 e vamos ver o que nos traz. O que eu queria que trouxesse não posso aqui dizer até porque é coisa impossível. Mas gostaria que trouxesse um milagre. Não acredito em nossas senhoras encavalitadas em cima de azinheiras ou coisas assim. Mas acredito em milagres verdadeiros, sim. Existirmos, cada um de nós, é um milagre. A vida das flores é um milagre. Eu estar a pensar e escrever e vocês aí desse lado a saberem destes meus pensamentos sem saberem quem sou e sem me verem ou ouvirem é um milagre. Tantos milagres. Porque não acontecer um milagre bom que salve vidas e abra espaço para a reconstrução do futuro de todos quantos perderam tudo? 

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Mas, enfim, não dormi muito nem descansei muito neste fim de semana (e a semana tinha sido obra) pelo que passo já para a apresentação de um filme que deve ser uma graça: o amor entre uma mulher digamos que já com alguma vida vivida e um homem bem mais novo. A ver se consigo descobrir como ver este filme.

Se eu, por uma birra qualquer, me separasse do meu marido 

(coisa que me parece improvável pois toda a vida tivemos birras e sempre me esqueço delas na meia hora seguinte. Às vezes tenho a vaga impressão que teria razão para estar chateada com ele mas já não me lembro exactamente porquê. E na hora seguinte nem disso me lembro. Poder-se-ia dizer que é demência, coisa da senilidade. Mas acho que não, sempre foi assim)

e fosse uma separação para valer, acho que, para arranjar novo namorado, teria que ser bem mais novo, talvez uns vinte anos a menos. Senão mais valia fazer as pazes e voltar a aturar o velho, ou seja, o actual.

Les Jeunes amants

Shauna, 70 ans, libre et indépendante, a mis sa vie amoureuse de côté. Elle est cependant troublée par la présence de Pierre, cet homme de 45 ans qu’elle avait tout juste croisé, des années plus tôt. Et contre toute attente, Pierre ne voit pas en elle “une femme d’un certain âge”, mais une femme, désirable, qu’il n’a pas peur d’aimer. A ceci près que Pierre est marié et père de famille.

 

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Fotos feitas cá em casa, aqui na companhia de Ludovico Einaudi com The Water Diviner

Nota: Tentarei responder aos comentários durante o dia de amanhã

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Paz. Esperança. Um milagre

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