sábado, abril 16, 2022

Depois de um tranquilo dia de verão in heaven, dois vídeos que recomendo.
O primeiro mostra um homem normal que já não chora há muito tempo e que tem muita dificuldade em adormecer.
O segundo mostra um homem que viveu por dentro os tempos do holocausto e que, aos 102 anos e com o coração devastado, se recusa a desistir de conseguir um mundo melhor

 


O meu dia foi tranquilo. Era para sermos mais a passar o dia in heaven mas as suspeitas de um caso de covid fizeram com que o agregado sob suspeita ficasse em terra e fossemos apenas nós os dois. Por isso, aproveitámos para trabalhar. O meu marido armou-se de roçadora e foi-se ao tojo e às silvas e eu, com vassoura de arame e pá metálica de cabo alto, fui-me à caruma e às folhas e pinhas caídas pelos caminhos.

Na quinta ao fim do dia, fui ao supermercado e, em casa, à noite, fiz uma jardineira. De manhã, embalei-a e, portanto, ao chegar ao campo, não tive que ir a correr para a cozinha. Pude ir passear, ver a primavera em flor, a fera peluda aos saltos e a correr, feliz da vida.


Depois de almoço, instalei-me no sofá e pus-me a ler o zonas de baixa pressão do António Guerreiro, livro que sempre leio de gosto. Aliás, leio António Guerreiro sempre de gosto. Agora ia dizer que é uma pessoa brilhante, com uma visão iluminada que vai dos clássicos aos colunistas mais fajutas da actualidade, mas lembrei-me no que ele escreveu sobre os que escreveram sobre Agustina quando ela morreu. Diz ele que todos louvaram Agustina esquecendo-se de falar sobre a sua obra. Por isso, não falo do António Guerreiro, falo da sua escrita. É clara, inteligente, informada, irónica. Ofereci este livro pelo Natal, espero que quem o recebeu também tenha gostado.

Mas estava a ler, deliciada com a leitura e com o agradável ambiente que me envolve quando estou aqui e, ao mesmo tempo, a pensar que deveria era ir lá para fora, varrer. 

O meu marido também já se tinha equipado com caneleiras e óculos de protecção e tinha abalado para o campo. Escuso de dizer que tenho que me auto-controlar ferreamente para não ir atrás dele para ter a certeza que não corta os orégãos que estão a despontar nem o rosmaninho, nem o tomilho, tão frágil, nem o alecrim, nem a sálvia. Mas já consigo dominar-me. Confio que ele há-de ter algum cuidado e não fazer aquilo que naturalmente faria: cortar tudo a eito.

Depois de ele ter ido, mais me motivei a ir também à minha vida.

Penso por vezes nisto: um dia que não tenhamos nada que fazer, o que faremos?

O meu marido tem andado cansado. Tem muito trabalho, por vezes horários complicados. Naturalmente, tendo oportunidade, deveria ter vontade de não fazer nada. E, no entanto, num dia que era para ser animado e acabou por ser calmo, em vez de aproveitar para descansar, foi de máquina ao ombro, para o mato.

E eu, que não ando menos cansada, sempre com trabalho e afazeres complementares, também não descansei enquanto não fui varrer caruma, fazer montes, apanhá-los e despejá-los, até que, por fim, já me doíam as mãos. 

E acabei e senti-me realizada, contente ao ver os caminhos mais limpos.

Não sei o que é estar sem fazer nada. Tratar da lida da casa e, no máximo, ler parece-me pouca coisa. Parece que tenho que ter sempre mais coisas para fazer do que o tempo de que disponho. E estava a varrer e a olhar para as árvores com vontade de, a seguir, ir buscar o podão para desbastar ramos baixos. Tenho que me tratar deste mal. Não fazer nada é capaz de ser coisa boa.

E, estando na sala, ocorreu-me, uma vez mais, que é uma chatice já não ter onde pôr carpetes de arraiolos pois estava mesmo a apetecer-me voltar a atirar-me a eles, bordar, ver aparecer os desenhos. Claro que haveria de ser uma festa com o urso peludo a ensarilhar os novelos de lã. Quando aqui está, passa a vida a sair a correr, a ladrar, para investigar cada pequeno barulho ou ladrar ao longe. Depois, chega aqui e cai perdido de sono. Mas é um sono leve, está sempre en garde.

Foi, pois, um dia tranquilo, banhado por um sol suave e dourado. Um dia de paz, a paz que deveria ser um direito indiscutível, universal (mas, claro, não a paz da rendição, a paz da cedência aos agressores e aos tiranos que violem o direito internacional, querendo anexar outros países).

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Agora, à noite, procuro as notícias. Vi televisão, li, vi vídeos. Os regimes totalitários são um perigo. Putin vive há meses fechado num bunker. Vive fechado para o mundo, para as pessoas. Ocupa a mente a forjar armadilhas, mentiras, a ouvir quem não lhe faz frente, a instruir a punição dos que o enfrentam (mesmo que apenas por segurarem uma folha em branco). Vive enredado na teia demencial que, ao longo de anos, foi tecendo. 

As atrocidades que ele e os que lhe obedecem cegamente estão a levar a cabo, com o apoio de uma população manipulada, são de uma pessoa ficar doente. Aquilo a que o mundo assiste está para além de maldade. É a total insensibilidade, a gente de Putin vive numa realidade alternativa, uma realidade desabitada, distópica.

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O vídeo abaixo mostra uma pessoa extraordinária e o que diz e a forma como o dia são também extraordinárias.

'I am heartbroken': Last surviving Nuremberg prosecutor on war in Ukraine

Benjamin Ferencz was just 27 when he successfully prosecuted 22 defendants for war crimes. Now he tells Amanpour it pains him to once again see atrocities in Europe


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Este segundo vídeo também é impressionante. O que aqui vemos é um homem normal que se vê apanhado na armadilha de um louco, de um psicopata. Zelenskyy envelheceu muito em dois meses. Não consegue chorar, não consegue dormir. Mantém uma racionalidade e um humanismo invulgares para quem vive o tormento que ele vive. 

Zelenskyy On Biden, Hating Russia, And Sleepless Nights

Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy talked about the emotional toll of the Ukraine war and his feelings towards Russia and Putin in an exclusive video interview with German newspaper BILD

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Coragem. Paz.

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