segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Reencontro pós-covid e Inventing Anna

 


O sábado foi preenchido. Com os covides recuperados, juntámo-nos cá em casa para um brunch. Uma alegria. Os meninos felizes por voltarem a estar reunidos e eu talvez ainda mais por tê-los cá todos, de boa saúde, bem dispostos. 

Em casa do meu filho, o bicho varreu-os a todos. Em casa da minha filha apenas um dos meninos teve, apesar de não se encontrar explicação para os outros não terem apanhado, em especial o irmão que andou agarrado e em cima e em baixo dele, já ele estava sintomático. E o bizarro é que, a seguir, esteve engripadíssimo, todo apanhado, parecia que a covid lhe estava a dar com mais força que ao irmão. Contudo, para pena dele, todos os testes lhe deram negativo.

Já em casa do meu filho, numa das vezes, tendo a menina mais linda testado positivo, ao ligar-lhes, apareceu-me ao telefone o mais pequeno, em festa, cantarolando: 'A mana tem covid...! A mana tem covid....!'. Dias depois era ele: 'Estou com covid..! Estou com covid...!'.

Mas pronto, felizmente nada de grave e agora, pelo menos durante algum tempo, estão livres de maçadas.

Portanto, cá estivemos. Como é bom de ver, havendo um outro convalescente, a festa foi também com ele. Para alegria de todos, o nosso urso felpudo partilhou também do mimo colectivo. Nos dois dias de internamento perdeu para aí um quilo e meio. Impressionante. Não sei como é possível mas sei que aconteceu. Nestes dias cá em casa, em que dormiu como uma pequena lontra, já os recuperou e até parece que cresceu.

Depois, a meio da tarde, um dos meninos tinha um jogo e fomos todos vê-lo. Uma alegria para o menino ter tanta família na bancada a aplaudi-lo. Todos menos o avô que ficou em casa com o dog cabeludo. 

Depois do jogo fomos para casa do meu filho, onde o avô se juntou com a pequena fera. Aliás, quando ouviram bater à porta, dois deles exclamaram, numa alegria, que o urso peludo tinha chegado. Não o avô. O cão. Achei um piadão. Ainda não contei ao meu marido, primeiro porque não me lembrei, segundo porque não sei se vai achar a mesma piada.

Portanto, o sábado correu assim, em família, observando o afecto que une os meninos, a alegria por estarmos juntos. A vida, aos poucos, voltando à normalidade.

Nesse dia, depois de almoço, aceitei um café, esquecida que, quando bebo café sem ser de manhã, fico com o sono comprometido. De tarde, em sua casa, a minha nora também preparou um chá saboroso mas que, na volta, também tinha alguma cafeína. Portanto, de noite, estava com uma daquelas espertinas para as quais não há explicação. Só já de madrugada me lembrei a que se devia tal insónia.

Portanto, de manhã, quando tocou o despertador estava ainda no primeiro sono.

No domingo de manhã fomos buscar a minha mãe para a caminhada à beira mar. Como sempre, a festa é mútua: ela e o bicho felpudo têm um amor mútuo exuberante. Ele salta, ela abraça-o, ele encosta-se a ela, ela puxa-o para si. No entanto, estava frio e vento ali à beira-mar, desagradável. 

Já em casa dela, fui resgatar um mail que ela, sem querer, tinha movido para o arquivo e, portanto, não encontrava. Eram trabalhos de casa de inglês, coisa que leva totalmente a sério.

O domingo à tarde foi em casa, só nós. Tinha pensado que ia aproveitar para dormir mas comecei a ver o Inventing Anna e fui ficando agarrada. Já conhecia a história real de Anna Sorokin que tinha achado incrível, fruto dos tempos de ilusão que atravessamos. 

As redes sociais e a ficção que se engendra em torno de quem gosta de se mostrar em locais que invariavelmente serão descritos como fantásticos -- sejam paisagens que se dirão do outro mundo sejam restaurantes que despertarão a gula e a inveja alheia -- são o caldo perfeito em que podem medrar histórias que não lembram ao careca (e, como é sabido, nada contra os carecas). 

Pode uma vida ser descrita através da auto-reportagem que dela se vai fazendo, mostrando-se com amigos, mostrando toilettes, mostrando sorrisos, pôres-do-sol, recolhendo corações, likes, dedinhos de aprovação, palavras reduzidas a metade..? Diria eu que quanto muito reflecte as andanças dos avatares que tomaram o lugar das pessoas de verdade. Ou que ajudam a forjar identidades de estrelas que a qualquer momento se irão despenhar. Mas isso sou eu que estou fora deste mundo.

Bem sei que as redes sociais estão cheias de pessoas que acabam por fazer a vida ganhando gorjetas, borlas, recebendo as compras do supermercado, roupas, cremes, dinheiro, e tudo apenas por publicitarem essas marcas nas suas stories, vídeos, fotografias. Algumas, segundo me dizem, acabam por viver bastante bem, só com isso. Fogo fátuo, forçosamete.

Anna Sorokin mais não é do que um fruto extremados destes tempos. Junte-se a isto a superficialidade de quem se convence que se é apenas porque se aparece ou que se é rico apenas porque se é visto ao pé dos ricos, ou a ganância e a futilidade de quem aceita tudo acefalamente por pensar que pode partilhar os lucros de uma galinha dos ovos de ouro, e aí temos como uma jovem sem um tostão conseguiu enganar meio mundo, receber empréstimos de bancos que acreditavam que era uma herdeira rica, frequentar restaurantes e hotéis caríssimos, fretar aviões e tudo o que lhe ocorresse. 

A série da Netflix espelha isso muito bem. Isso e o bluff que tantas vezes está associado ao delírio dos unicórnios, essas startups que, não sendo nada, valem milhões. A personagem do namorado dela, Chase Sikorski, representa bem a estupidez e a cegueira colectivas que frequentemente envolve a angariação de fundos para reforçar capitais de projectos que não passam de mãos cheias de nada.

Mas, então, dizia eu, pus-me a ver a série e, com esta minha pulsão para o excesso, fui vendo de seguida, episódio após episódio. Até que a pequena fera acordou da sua sesta e veio para o pé de mim. Até aí tudo bem. Só que, ao fim de dois minutos de bom comportamento, logo quis brincar comigo, pondo a pata em cima do computador, puxando-me a meia, tentando arrancar a franja do tapete, indo buscar uma almofada para tentar arrancar uns bordados que lá tem, etc. Ou seja, impossível estar quieta. 

Ouvindo-me a zangar com ele, o meu marido resolveu intervir, dizendo que o melhor seria irmos dar um passeio com ele.

Fomos. Caía uma chuvinha de nada, coisa que nem atenua a seca nem deixa secar a roupa estendida. Daquelas coisas de que se diz que não coisa nem sai de cima. Resumindo: chegámos a casa de noite, todos molhados. Escuso de dizer que limpar o urso é um desafio: quer roubar-me a toalha, puxa-a, quer fugir com ela, brinca e desafia-me ele, saltando para cima do sofá ainda molhado, depois saltando para o chão. Parece que ri enquanto faz isso.

Com tudo isto, foi já depois de jantar e aqui sentada que me deu a pancada: adormeci. Não durou muito pelo que estou aqui que não me aguento, naquelas noites em que o sono me envolve, me baixa as pálpebras, quase me vence. Ou seja, um fim de semana dos bons mas curto demais pois agora é que eu estava capaz de entrar em fim-de-semana. 

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Fotografias de  Daniel Holfeld ao som de YEИDRY x Lous and the Yakuza - Mascarade | A colors show 

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

Boa sorte. Boa saúde. Tudo a correr pelo melhor

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