terça-feira, setembro 14, 2021

Quando um estranho confessa o seu amor através de uma carta...

 


De vez em quando o algoritmo do YouTube sugere-me os vídeos de Thoraya Maronesy, uma jovem simpática que consegue a proeza de arrancar os mais sentidos e secretos testemunhos a estranhos que se cruzam com ela nos jardins em que monta arraiais com o seu equipamento.

Já algumas vezes aqui tive Thoraya. Esta coisa de alguém, quando instado a isso, ser capaz de contar os segredos mais intensos ao mundo, surpreende-me. E o facto de parecer que toda a gente guarda um segredo pronto a ser divulgado parece-me extraordinário.

No outro dia contei como, por vezes, pessoas desconhecidas se acercavam de mim e, sem preâmbulos ou justificação, me contavam assuntos muito seus, íntimos, aflições. A mim nunca me aconteceu isso: ter vontade de desabafar junto de estranhos. Pode parecer que não mas a verdade é que sou demasiada reservada para isso. 

Em contrapartida, perante os que me são mais próximos não guardo segredos. Falo abertamente e, se calhar, até um bocado desabridamente, do que penso. 

Em momentos em que alguns rodeios ou meias palavras seriam aconselháveis eu falho: digo o que penso sem delongas. Nisso como em tudo na vida acho que é um disparate perder tempo ou persistir em caminhos errados -- e não consigo dizê-lo de outra maneira. Se alguma coisa me preocupa, não está na minha natureza escondê-lo. Verbalizo-o abertamente. Por isso, intriga-me a capacidade que algumas pessoas têm para esconder o que pensam, o que sentem, o que querem. Pensarão que têm duas vidas? Esta para ser desperdiçada e outra, então, para compensar o tempo perdido na primeira? Não percebo. 

Imagino-me a ir um dia num parque e a ser abordada por uma qualquer Thoraya desta vida. Não gosto de virar as costas a um desafio, muito menos a um tão engraçado e, ainda por cima, conduzido por uma pessoa tão simpática. Mas, mesmo que quisesse corresponder, de que segredo poderia eu falar? 

Mas o desafio desta vez é outro e é ainda mais tentador: escrever uma carta a alguém que se ame ou amou. E a este desafio eu não viraria costas. 

Gosto de cartas de amor. Já o disse: prefiro recebê-las. Mas, se tiver que escrever uma, escrevo. 

Aliás, aqui, vendo bem, quantas vezes já as escrevi? Se me desse ao trabalho de reuni-las, obteria um livro inteiro de declarações de amor. 

Aquilo de que não tenho experiência é de escrever cartas de amor, ou melhor, declarações de amor, a quem não me ame. Não me lembro de alguma vez ter gostado de alguém que não gostava de mim. Acho que não é mérito: é pragmatismo. Lá está: aversão a perder tempo. Também não me lembro de esconder o meu amor, mesmo no início. Sou mais de seduzir, desafiar, agir à descarada. 

Vita brevis. Esse é o meu lema, esse é o fio condutor dos meus actos. Vita brevis. Ou seja, bola para a frente e força nisso.

Não me imagino a consumir tempo de vida a esconder um amor. Claro que poderia acontecer estar apaixonada por quem não gostasse de mim. Mas aí acho que via a coisa com realismo: santa paciência, não dava, não dava. Partia para outra. O que não falta são homens e, no meio de tantos, algum haveria de ser a meu gosto e sensível aos meus encantos. Agora estar a querer alguém e, em vez de ir à luta, às claras, deixar-me estar a queimar tempo com platonices, fosquices, suspiros pelos cantos, tristezas eternas, isso não. Não faz o meu género. Pode ser muito poético mas não é para mim. Eu, nisto dos amores, sou mais prosa. Poesia sim mas como preliminar, como acompanhamento ou como sobremesa. A substância, para mim, está na prosa. E prosa em versão hands on. 

Carta de amor? Sim, até poderia aqui escrever uma a um amor imaginário, ficção da pura a fingir de verdadeira. 

Meu amor, por onde andas? Espero por ti e nada me dizes. Saberás a dor em que a minha alma fica? Saberás o vazio que cresce no meu coração? Espero que me procures, todos os dias o espero, todos, e não vens. Como negar, amor meu, que sinto a falta das tuas doces palavras e das tuas tórridas tentações? Sinto tanto a tua falta. Por onde andas? Os anos passam e as nossas mãos não se tocam e os nossos corpos não se encontram. Porquê? Que sentido faz isso? O que andamos a fazer? Não queres experimentar o azul dos mais longos abraços ou o branco da luz do êxtase? Não fujas de mim. Não fujas. Estou à tua espera. Vem.

Poderia continuar, escrever uma carta de amor a preceito. Gosto de derramar palavras de amor. Mas não escrevo. E não o faço por respeito para com os pinga-amores que suspiram, suspiram mas não passam disso, ou que sonham, sonham e não acordam para a vida. Também têm direito a achar-se especiais. Por isso, não escrevo. Fico-me por aqui na companhia dos bem dispostos amantes impossíveis que Thoraya tão bem sabe apanhar.

Strangers Confess Their Love Through Love Letters
Um projecto de Thoraya Maronesy


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E, já agora, a propósito de cartas de amor, com vossa licença, uma vez mais:

“My dearest one" Benedict Cumberbatch reads Chris Barker’s letter to Bessie Moore



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Haley Reinhart interpreta Can’t Help Falling in Love 
Pinturas e escultura representando Diana, essa grande dissimulada, essa grande maluca.
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Nota:
Não tenho conseguido responder aos comentários pois o tempo não me chegado ou, se me chega, o sono tira-me o tapete. Adormeço mesmo sem dar por isso. As minhas desculpas. A ver se consigo pôr o sono em dia para ver se isto entra os eixos. Aceitem as minhas desculpas.

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Desejo-vos uma terça-feira muito boa
Saúde. Motivação. Força.

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