quarta-feira, setembro 15, 2021

Os bizarros, os maravilhosos e os políticos
-- ou quando a moda é irreverência, sonho, manifesto e diversão

 


Imagino que quem saiba fazer leituras sociológicas consiga estabelecer correlações entre a moda e a sociedade em que se insere.

A minha mãe há dias falava da moda dos vestidos a dois tons de que eu nunca antes tinha ouvido falar. Explicou que isso mais não era do que aproveitar restos de tecidos e, com eles, fazer uma peça única. Contou que se lembra de, quando era miúda, ter um vestido verde com florzinhas e outro num outro verde -- e um terceiro com o tecido que sobrara de ambos. Penso também na disruptiva moda da minissaia que era quase um manifesto a favor da liberdade por parte das mulheres.

Nestas minhas limpezas e arrumações saíram-me à cena alguns vestidos do final dos anos 80, princípios dos 90. Havia umas lojas nas Amoreiras que tinham vestidos vindos de Inglaterra que me faziam perder a cabeça. E como por essa altura ia com alguma frequência a Paris trazia também de lá vestidos que me encantavam. Vestidos e não só. Lembro-me de ter comprado um casacão encarnado, desestruturada, largo, macio, que adorava usar. Agora, ao ver essas peças que guardei com carinho, acho uma moda exagerada, exuberante. Seria talvez a época dos yuppies, dos deslumbramentos. Talvez essa moda espelhasse o ar daqueles tempos. Deitei tudo fora.

Depois a moda foi-se simplificando, democratizando, nivelando estratos e estratos etários. A profusão de grandes lojas de pronto-a-vestir de boa qualidade a valores acessíveis veio a reflectir aquilo a que se assistia noutros fóruns: a grande circulação entre países, os  programas Erasmus, os voos aéreos a baixo custo, os acordos entre países do espaço europeu -- e tudo o mais --  deitaram abaixo as fronteiras e as barreiros e a moda perdeu o elitismo, a exclusividade. Novos e velhos, ricos e pobres e, por vezes, homens e mulheres, vestem-se agora, no mundo ocidental, praticamente da mesma maneira.

E eis que chegamos a 2021, um dos malfadados anos Covid mas também o ano em que, graças à vacina, as sociedades começam a dar passos no sentido da retoma de alguma normalidade. Depois de os grandes espectáculos, galas e desfiles terem estado suspensos, eis que os temos de volta. Com os devidos cuidados e as necessárias adaptações mas, santíssimo sacramento, com que vigor os temos de volta!

Vale tudo: os vestidos de princesa, os vestidos de diva, os vestidos de maravilha, os vestidos-manifestos, os vestidos andróginos, a pura loucura, o puro nonsense. Não sei se é um tremendo boom de criatividade, se é uma explosão da vontade de liberdade, se é um valente pontapé nos preconceitos e nas baias. Vale tudo. E vale tudo com um sorriso de provocação e boa disposição. É como se, em tudo, houvesse um statement: viemos para ficar, faremos o que nos der na bolha. 

A gala que teve lugar no pátio do Metropolitan Museum of Art de Nova York -- onde se junta tudo o que é personalidade que sabe usar a moda -- mostrou modelos que certamente ficarão para a história. Desde a exuberância ficcionada do mundo dos youtubes, dos influencers, até à irreverência mais inesperada, à leveza etérea de modelos saídos de contos de fadas, a modelos inusitados e fantásticos que parecem inventados para o mundo do gaming, desde a sensualidade mais tradicional è exibição mais arrojada da animalidade que existe dentro da mulher -- de tudo ali se viu.

E que não se olhe para isto como um desfile em que a futilidade se deu a luxos e provocações nunca antes vistos. Não. O tema não é para leigos, é para sociólogos e para antropólogos.

E, estou em crer, para estetas. 

Na ligeirinha só para curiosos como eu.


























TAX THE RICH


The weird, the wonderful and the political: highlights from the 2021 Met Gala red carpet


The Met Gala has returned to the steps of the Metropolitan Museum of Art after a year off due to Covid-19. There were multiple show-stopping outfits from Lil Nas X while Kim Kardashian and her estranged husband Kanye West turned heads by dressing entirely in black, even their faces. Amid the glamour, some guests highlighted social issues. The Democratic congresswoman Alexandria Ocasio-Cortez had 'tax the rich' written in red across the back of her white gown and the sports star Megan Rapinoe carried a clutch bag with the words ‘in gay we trust’ 



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Podem ver-se mais modelos ou o nome dos designers ou de quem veste na Madame le Figaro, no Harper's Bazaar ou na Vanity Fair

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Desejo-vos um belo dia


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