Pensava que não ia ser capaz. Fui fugindo e escrevendo outras coisas. Ainda não sei se vou ser capaz. Não me sinto à-vontade para escrever quando ainda estou sob a emoção de uma perda ou quando sinto que o motivo da escrita ultrapassa a minha capacidade para escolher as palavras certas.
Mas, por tudo o que devo a Pedro Tamen, acho que devo tentar mostrar o agradecimento e a pena que sinto pela sua partida.
De vez em quando há mortes que são duras. Pensei isso, por exemplo, quando soube que tinha morrido o Bernardo Sassetti. Já foi há nove anos e continua a custar-me. Continuo a pensar que há um lugar que ficou e ficará para sempre vazio. Diz-se que o tempo tudo cura. Mas há ausências que o tempo não cura.
Gosto de dizer, porque o penso, que há pessoas que não morrem porque vivem em nós não pela sua presença física mas pelo rasto que deixam. Quem escreve, existe pelas suas palavras e elas sobrevivem quando os seus autores perecem.
Tenho aqui ao meu lado os livros de poesia de Pedro Tamen. De todas as vezes que os li, li independentemente da pessoa física que os escreveu. Mas eu sabia que era alguém que ainda estava vivo e de quem eu podia esperar mais poemas.
Também várias vezes aqui o disse: na era pre-covid em que eu andava pelas livrarias, se via algum livro traduzido por ele, não hesitava. Livros traduzidos por Pedro Tamen eram garantia de ser do meu agrado. Não era apenas a escrita na tradução, era também a intrínseca qualidade literária das obras que ele traduzia.
Ninguém é eterno embora sejam eternas as palavras dos (bons) poetas. Mas há um lugar que fica eternamente vazio quando alguém como Pedro Tamen morre.
(Mas não vale a pena continuar a tentar. Não sou capaz. Não sei o que dizer. Sei o que sinto mas não dizer o que sinto.)
"Gosto de dizer, porque o penso, que há pessoas que não morrem porque vivem em nós não pela sua presença física mas pelo rasto que deixam. Quem escreve, existe pelas suas palavras e elas sobrevivem quando os seus autores perecem."
ResponderEliminarComo diria Valupi: "exa(c)tíssimamente"
Um bom serão!
Um autor que não me aquece nem arrefece.
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