Desando de canal em canal e só consigo parar longe dos canais mais mediáticos. Hoje o que vi foi uma reportagem sobre trenós na Lapónia. Neve, cães, um senhor sorridente: bem bom. Não vi do princípio, não sei a que propósito vinha mas gostei.
Ontem, para meu espanto, passámos por uma entrevista do Goucha ao Tony Carreira. Não conseguimos ver. O meu marido, tal como Mestre Plúvio, também perguntou: 'Mas o que o leva a dar esta entrevista? Não se percebe. Aceita dar uma entrevista para falar da filha que morreu?'. Não encontrei resposta. Achei que aquilo tinha tudo para ser indecoroso. Desandei. Passado um bocado, intrigada com a situação, disse: Deixa lá ver, se calhar não é o que estamos a pensar. Admiti que se calhar estava a ser preconceituosa: um pai que perde uma filha não tem vontade de dar entrevistas. Digo eu. E lá fui espreitar. Nem um minuto me aguentei. Qualquer coisa ali me pareceu uma perversa e macabra forma de exibicionismo.
Não tenho dúvidas que o entrevistado, como qualquer pai normal que perde um filho, deve estar devastado. Mas o que leva um pai devastado a dar uma entrevista na qual o entrevistador apela ao sentimento, à dor, à lágrima? Sujeitar-se àquilo porquê? Foi o Goucha mas podia ter sido a Cristina Ferreira. A obscenidade por ali não tem limites.
E já não sei se foi ontem ou hoje, nem sei a que horas foi, estava a fazer zapping, passei por um canal em que estava aquele que não sei se já foi inspector da judite ou o quê. Hernâni Carvalho. Sempre que passo por ele, está com ar incrédulo a perguntar o que leva um filho a matar o pai, a mulher a matar o marido, a namorada o namorado, a Segurança Social a não pagar a reforma, o tio a violar o sobrinho. Sempre indignado, sempre com ar de ingénuo surpreendido. Não sei a que horas ou em que canal. Aliás, acho que sei. Acho que na SIC mas não sei em que canal da SIC. Nunca consegui ver mais do que dois ou três minutos. Desencanta crimes, histórias tenebrosas, quanto mais escabrosas melhor, e por ali fica a foçar. Passo e fujo ou, outras vezes, ouço uns segundos a ver se tem melhoras. Não tem. Só lhe falta desenterrar mortos.
Está agora a faltar-me o nome para esta gente: aqueles bichos que comem animais mortos. Necrófagos, acho. Capaz de ser isso. Necrófagos.
As televisões portuguesas andam de desgraça em desgraça. Os que perderam tudo, os que estão metidos em toda a espécie de trabalhos, os que padecem de doenças incuráveis, os que perderam uma perna, os que se auto-mutilam, os que passam e usam droga nas cadeias, os que ficaram perdidos nos labirintos da mente. Sei pelas apresentações ou de passar por lá. Não consigo deter-me em nada disto. Tenho saudades dos programas sobre jardins. Se apanho a Paula Moura Pinheiro também fico a ver. De resto vejo o House. Sou viciada nele. E na música da banda sonora.
A programação das televisões portuguesas, pelo menos nos canais principais e pelo menos nos horários que costumo querer frequentar, é uma lástima.
Anos e anos a fio a destilar veneno, a visitar desgraças, a ouvir denúncias e queixumes, a dizer mal de todos e de tudo só pode causar uma deformação na personalidade colectiva do pessoal que assiste -- para além de abrir a porta aos populistas desta vida. Uma verdadeira lástima.
Tirando isso, posso dizer que a minha roseira descarada, depois de dar rosas escandalosas de tão cor-de-rosa, amarelas, cor-de-salmão e brancas, está agora transformada numa bem comportada roseira que dá cachos de rosinhas encarnadas. Das anteriores encarnações nem vestígios. Se não tivesse fotografado eu própria duvidaria. Chocante. A outra, a que sempre só deu rosinhas encarnadas, agora não apenas está cheia delas, rosinhas, encarnadas, como tem algumas que não são bem rosas muito menos encarnadas.
Não sei explicar isto. Aliás, começo a pensar que o que é inexplicável mas belo é melhor que assim permaneça. As coisas são mais belas se permanecerem inexplicáveis.
E, de relevante, acho que hoje não fiz nada a não ser transplantar uma espécie de bonsai do vasinho em que estava para um vaso maior, um que o meu marido teimou em não trazer dizendo que não tinha nada a ver com os outros mas que eu insisti pois acreditei que ele só estava a dizer aquilo para não estar na fila para pagar. Acho que ficou bonito. A ver se amanhã fotografo para vos mostrar.
De resto foram reuniões pegadas, tantas, tão prolongadas e tantos telefonemas que acabei a ter que despachar as coisas aqui até às quinhentas. E não é que goste de reuniões longas...(bem tenho lido os comentários) mas não sou a única e há sempre quem tenha muito que dizer. Nem sou viciada em trabalho (embora possa parecer). Simplesmente parece que não consigo sacudir de cima de mim o que parece que teima em chover-me em cima. Uma coisa do meu destino, só pode ser.
Enfim.
Esse jornalista notabilizou-se no caso “Palito”
ResponderEliminarhttps://youtu.be/Zz6h71iQOMk
https://youtu.be/hjj48z3D_HY
Um bom dia com alegria!
UJM,"deixe" o Tony Carreira falar.Faz.lhe bem.Esperava este seu comentário...
ResponderEliminarOlá. O programa que refere - também um dos que consigo ver até ao fim - passa diariamente na RTP 2, pelas 20.40. Esta série é sobre os belos lugares do mundo.
ResponderEliminarQuanto aos programas choradinhos para pedir audiências põem-me a léguas.
São lindas as suas rosinhas. Ao sol, devem ser um mimo.
Uma tarde com alguns perfumes das tardes boas.
Ainda o anónimo -O mestre plúvio diz não gostar das músicas do Tony.(ora essa ía lá tamanha pessoa gostar daquilo).Pergunto ao mestre-mestre,porque escreveu isso no fim? Mestre já experiênciou a dor? Onde entram as cantigas na sua linha de pensamento quando estamos a falar de um homem a sofrer. E depois, é lindo também ver a carneirada( a fina,claro) atrás do pluvio- é tão inteligente o plúvio escreveu aquilo tão bem.UJM, eu quero lá saber das Tvs.Houve os que silenciaram a dor...nunca saberemos o que pensaram
ResponderEliminarHá perto de dez anos fui a um casamento em Cascais. Entre os convidados esteve... Tony Carreira. Para ser sincero, fiquei muito bem impressionado com o homem. É verdade que o modo de vestir dele revelava uma notória falta de gosto, mas o comportamento que ele teve ao longo da boda foi irrepreensível, sem vedetismos de qualquer espécie. Com um sorriso (aparentemente, pelo menos) tímido, acabava por aceder aos muitos pedidos das convidadas para tirarem selfies com ele, mas logo a seguir retirava-se para um canto, não roubando, nem por um momento, o brilho da festa aos noivos. Apagava-se voluntariamente.
ResponderEliminarAté aqui, tudo bem. O que aconteceu a seguir foi surreal. A dado momento apareceram, contratados pelo pai do noivo para animarem a festa, três ou quatro cantores de ópera, dos verdadeiros, do Teatro de São Carlos. Eu nem queria acreditar: frente a frente estiveram o Tony Carreira, por um lado, e três ou quatro cantores de ópera, por outro! Os cantores fizeram de conta que o Tony não estava ali e cantaram algumas das árias de ópera mais populares (La Donna è Mobile, Casta Diva, La Calunnia, etc.), com enorme profissionalismo e extraordinária qualidade. Os convidados gostaram muito, aplaudiram muito, mas ninguém quis tirar selfies com os cantores. As selfies estiveram reservadas para o Tony Carreira e uma atriz de telenovela que também esteve presente na boda e de cujo nome não me recordo (náo vejo telenovelas).
Os cantores de ópera do São Carlos costumavam atuar em festas de casamento e outras, para reforçarem o fraco ordenado que o Estado Português lhes pagava. O Tony Carreira, por seu lado, iria nessa mesma noite debitar a sua pimbalhada no Pavilhão Atlântico, perante milhares de pessoas que já desde há vários dias tinham esgotado a lotação do pavilhão. Decididamente, em Portugal a qualidade e o mérito não compensam.
Mestre Ribeiro,releu o que escreveu?
EliminarAnónimo maldoso cujo comentário não publiquei,
ResponderEliminarPorquê a maldade gratuita? Não publiquei nem vou publicar a maldade que escreveu. Não gosto de pessoas más. Não foi contra mim que escreveu mas não gosto de ofensas maldosas como as que fez, mesmo que dirigidas a outro comentador.
Tenha juízo.