sexta-feira, abril 16, 2021

Dia após dia.
Nem parece que estou dentro de Abril

 


Tive uma reunião cedo, à primeiríssima da manhã. Além disso, hoje era dia de lavar o cabelo o que me faria levantar ainda mais cedo. Como se não bastasse, uma hora e tal antes ouvi batucar como se alguém estivesse a bater com um martelo no jardim. Estando com os vidros abertos, ainda mais ouvia. O meu marido estava a pé, na realidade preparando-se para a sua caminhada pré-matinal. Disse-me depois que era alguém arranjando qualquer coisa já não me lembro se era no passeio se no jardim da vizinha. Resultado: não dormi mais. Estou, pois, aqui perdida de sono. 

E tinha a reunião ao dealbar da manhã mas depois, até à seguinte, tinha meia hora de intervalo. Estando com o cabelo molhado, tinha pensado: ajeito o cabelo, passo um brilhozinho nos lábios. 

Essa primeira foi do mais maçador: tudo noutra língua, eu estava por favor, nada ali me interessava, gente que não se calava nem por mais uma. Estava na reunião, um telefonema urgente. Mal acabou a reunião, já com um quarto de hora de atraso, respondi ao telefonema e entrei na seguinte já com dois minutos de atraso. Sem tempo de ajeitar o cabelo ou passar um brilhozinho de framboesa nos lábios.

E estava na reunião e uma pessoa só a ligar. Eu desligava e mandava mensagem a dizer que ligava de volta e, logo a seguir, nova insistência. Por isso, mal acabou a reunião, liguei. Telefonema longo. Mal tivemos tempo para a breve caminhada da hora de almoço. Almoçámos a correr. Ele saiu para ir para junto da equipa e eu entrei noutra reunião.

E não continuo pois foi neste registo até às sete. Contudo, uma das reuniões não correu bem. Um dos intervenientes é má pessoa, é provocador, é descarado e, ainda por cima, pouco elegante. O alvo dele não fui eu. A outra pessoa enervou-se, levantou a voz, mostrou forte desagrado. Depois da reunião, telefonámo-nos: eu comentei a rudeza e a estupidez do outro. Ele disse que não tinha paciência nem vontade de aturar aquilo. Creio que, mais dia, menos dia, a coisa vai acabar mal. Há pessoas tóxicas, que minam qualquer ambiente à sua volta. Ainda debaixo daquela má onda, fui finalmente para a rua, para respirar.

Liguei, então, à minha filha -- cinquenta e cinco minutos --, depois à minha mãe -- onze minutos. Só depois fiz o jantar. Tarde, tarde. Hora imprópria para começar a cozinhar. Arroz de frango com bocadinhos de bacon e alguns legumes de permeio. Enquanto o frango cozinhava, ligou o meu filho. Mais rápido: quatro minutos e quarenta segundos. Quando acabou o telefonema, pus a máquina da roupa a trabalhar. Jantámos às dez e tal. Depois arrumei a cozinha. Vim para aqui e respondi a mails. Depois adormeci. Entretanto acordei e vi o House, desta vez com ele a acabar em lágrimas, coisa mais fofa. Um homem apaixonado e a disfarçar as emoções é do mais touching que existe. E agora, quase às duas da manhã, ainda estou nisto. Não tive tempo para ver flores, para olhar pela janela, para espreitar as gordinhas. Ou para ver as notícias. Estou aqui em total estado de inocência.

Assim passa o tempo: sem que se dê por ele. Estamos já na segunda metade de Abril, um mês misericordioso. Casei-me em Abril, mês de todas as primaveras, de todos os ensejos, de todas as madrugadas.

Sempre gostei de passear nas ruas de Lisboa e ainda mais em Abril. Um dia destes vou passear para o Chiado. Mas não poderá ser para já. Temos mato para cortar, imagino como estará toda aquela natureza à solta lá in heaven. O Chiado vai ter que esperar. 

Ah, é verdade: ontem verifiquei uma coisa do além. As duas rosas amarelas, lindas e luminosas, que no outro dia fotografei tinham ficado cor de salmão. Vim a casa a correr buscar a máquina para registar. Se não fosse tão tarde agora ia buscar essas fotografias. A ver se amanhã me lembro. Uma coisa de loucos. A minha mãe, no domingo, esteve a averiguar se era o mesmo pé de roseira. Pensou que poderia haver dois pés. Mas não: um único pé. Rosas múltiplas e mutantes. Um milagre.

E, perante a evidência de tais milagres, como poderia eu não ser crente e devota? Como...? 

Creio e venero a infinita superioridade e o infinito mistério da natureza. Ámen.


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Eu sei que pode parecer que, encaixar aqui o vídeo seguinte, é de loucos. Talvez. Mas não é apenas o jovem que é belo, andrógino, elegante, fascinante. É a casa. Que casa... deus meu, que casa... que casa habitada por um tão belo exemplar. Céus, que casa... céus, que rapaz... 

[Não vem aqui a propósito...? Ai não que não... Há coisas que vêm sempre a propósito. Vão por mim].

Inside Troye Sivan's Victorian-Era Melbourne Home 

| Open Door | Architectural Digest



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Kate Moss é fotografada por © Nigel Shafran enquanto Marlene Dietrich interpreta Falling In Love Again

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Desejo-vos uma sexta-feira completamente sexta-feira: boa demais

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