O quarto ali do fundo está a servir de armazém de presentes de Natal. Fraco armazém. Este ano não há frescuras nem excessos. Apenas utilidades. Utilidades por contraponto a futilidades.
Dito assim parece bem. Até a mim, que sou suspeita, me parece bem.
Contudo, note-se que a utilidade e a futilidade são conceitos fluidos. O que utilidade para um é futilidade para outro. Um livro é útil ou fútil? Depende do livro, depende da pessoa que o vai receber. Ou umas meias. Se forem do tipo meias da tia pode ser que sejam utilidade. Se forem meias malucas pode ser futilidade. Ou o contrário.
Portanto, resumindo: nada a acrescentar.
Para mim só há uma coisa que eu gostava de ter. Já o anunciei. Há anos que alimento um secreto desejo de tal. Mas nunca me atrevi. Há coisas que requerem circunstâncias. E não que eu esteja certa de que as circunstâncias já existem mas, naquela minha nova onda de fazer (quase) tudo o que quero, achei que idos são os tempos de procrastinação. Se alguma vez os houve. Perguntei ao meu marido: 'Sabes o que é que eu gostava de ter pelo Natal, não sabes?'. Olhou para mim, espantado: 'Não. O que é?'. Há coisas que não dá para acreditar: 'A sério?! Não sabes? Já disse mil vezes'. Espantado: 'Não sei. Não faço ideia'. Voltei a dizer-lhe. Não disse nada, nem sequer quis detalhes. Isso preocupa-me. Se fosse eu, perguntaria logo mil coisas: cor, tamanho, tipo, etc. Ele nada. Fico sempre meio arrependida pois pode acabar por me aparecer o oposto. Uma vez, no início dos inícios, eu tinha-lhe dito que tinha visto um anel de ouro muito fininho com dois corações juntinhos, de marfim, debruados a ouro. Na altura ainda não havia consciência em relação ao marfim. Ou não seria marfim? Seria madrepérola? Não me lembro. Só sei que, quando o recebi, ao abrir a caixinha, vi um anel de ouro branco com um rubi. Fiquei parva. Nem queria acreditar. 'Mas o que é que isto tem a ver com o que eu gostava?'. Não se torceu nem amolgou: 'Gostei deste'. Pronto. Como se o que eu tinha dito fosse irrelevante. Outra vez vi uma moldura linda, em ouro velho, uma coisa em talha mas não excessiva, até com um toque de elegância. Íamos a passar e eu disse: 'Olha, se não souberes o que me oferecer, acho esta moldura muito bonita'. No Natal recebi uma moldura. O oposto, do mais linear e moderno que se possa imaginar, em aço escovado. Fiquei furiosa. Naquela altura ainda não tinha percebido que o mindset dele é o oposto do meu.
Portanto.
Ou seja, já não digo nada.
Mais:
Ontem, estava eu ao sol, tocou-me o telemóvel. Um número não identificado. Atendi. Uma voz de homem perguntou se era eu. Confirmei. Disse que estava ao portão com uma coisa para mim. Quando me viu, disse que deixava ali. Deixou e pirou-se. Abri o portão e apanhei. Hoje, ainda mal estava eu a acabar de saborear a minha saborosa papa matinal (kefir, abacate, cajus, arandos, mel, canela) tocaram à campainha. Espreitei. Um rapaz ao portão perguntava se eu era eu. Confirmei. Disse-me que deixava ali. Deixou e pirou-se.
Este é, pois, o 'novo normal' no meu Natal. Não é mau de todo. Excepto que, ao abrir as caixas, fico na dúvida com o que vejo. Ao vivo, teria ponderado. Mas penso que neste 'novo normal' do Natal, as ponderações devem ser guardadas para coisas mais úteis. Por exemplo, para decidir o tipo de pão que trago do supermercado. Aliás, devo aqui confessar, o pão é que anda a dar cabo da minha elegância. Há pão de toda a espécie e feitio e eu, que sempre gostei de pão e que, ainda por cima, gosto de experimentar coisas diferentes, não resisto. Ou isso, ou variedades de kefir. Ou frutos secos. Misturas de.
Bem.
Dilemas à parte.
Voltando aos presentes, tenho aqui três sugestões para presentes úteis.
Umas luvas de tricot, quiçá até fáceis de fazer em casa, quentinhas e muito práticas, em especial para quem conduz:
Hoje foi 30% dona-de-casa, 70% não.
ResponderEliminarBeijinhos e boa sexta-feira:))
30% algodão e 70% poliéster ..
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