Ao ouvir as perguntas de alguns jornalistas no fim da conferência de imprensa durante a qual António Costa explicou as medidas para os próximos quinze dias, voltei a pensar que deve ser preciso ter muita paciência para aturar gente que parece não perceber nada de nada e que não se coíbe nem um bocadinho em mostrar a futilidade em que se movem.
De cada vez que o PCP quer organizar alguma coisa, levanta-se uma onda de indignação empolada pela comunicação social que até parece que estão a querer andar a espalhar covid pelos próprios e pela população circundante. Já quando foi a Festa do Avante foi a mesma coisa. Depois o que se viu é que aquilo até foi uma coisa triste, quais gatos pingados meio abandonados, pelos cantos, afastados -- sem qualquer risco. Agora, em Loures, deve ser a mesma coisa: máscaras, afastamento, sem drama. As pessoas do PCP podem não ser especialmente criativas, podem não ser capazes de perceber l'air du temps e ter o golpe de asa para dar corpo a novas preocupações e tendências, mas são pessoas responsáveis, honradas e sérias. O seu historial deve merecer-nos respeito.
E eu, ao ouvir a fixação daqueles jornalistas todos a fazerem marcação cerrada em cima do Costa por causa do congresso do PCP, só me perguntei se aquela gente não sabe que mais de 1.000 pessoas ligadas ao mundo do espectáculo estiveram, este sábado, reunidas no Campo Pequeno.
Tanta histeria por causa das pessoas do PCP e depois silêncio e desinteresse totais perante o facto de o dobro das pessoas terem estado juntas no Campo Pequeno?
Nisto dos ajuntamentos, o problema não é propriamente o número de pessoas: é a forma como estão juntas. Se não houver abraços, brindes, festança, malta sem máscara à mesa em animadas almoçaradas (como há nos casamentos, aniversários, despedidas de solteiros, baptizados, etc) e se o espaço estiver bem ventilado, então, em princípio não deverá haver problema. A menos que o problema, para quem tanto se insurge, seja o de serem comunistas.
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Ao ler o comentário ao meu post O perigo dos burros em tempos de pandemia do ciclista extraordinaire que habita lugares de onde se avistam os mais largos horizontes, achei que tinha que puxar para aqui as suas palavras que são palavras de quem sabe do que fala.
Carl Sagan, afirmava que vivemos numa sociedade absolutamente dependente da ciência e da Tecnologia (grandes motores da civilização e do bem-estar) mas que a maioria das pessoas é ignorante nestes assuntos. Ou seja, uma receita para a desgraça.
Em regra, até aqui passava para a sociedade conhecimento testado, verificado, com potencial de previsão e que era globalmente aceite pela comunidade científica. Isto leva tempo. O que se passou com o SARS-Cov2 foi o processo científico em directo nos média, “live”.
Seria preciso perceber o processo científico, os avanços, os ziguezagues e os becos sem saída, a validação e reprodução pelos pares, para a maioria das pessoas compreender o que se está a passar. Sobretudo perceber que informação não significa conhecimento. Informação pode ser um código zero/um. E também que o conhecimento é parcial, nunca absoluto e que a ciência é o domínio da dúvida, do cepticismo, da permanente correcção. Não afirma o que está certo ou o que está errado mas o que se conhece com graus distintos de certeza. Se a isto juntarmos, a divulgação da informação feita por leigos, a vaidade de alguns investigadores à procura de notoriedade mediática, a competição entre as big pharma (fazer ciência custa muito dinheiro) e os especialistas do “achismo” e do “bitaitismo” (para não mencionar os charlatães) a mandar as suas postas por todo o lado, o cenário para a confusão fica muito bem composto.
É o populismo no seu esplendor a atitude dos jornalistas de serviço, o dedo acusador como se existise dos responsáveis um prazer sádico em aplicar as medidas de combate ao carcará-19.
ResponderEliminarA reflexão do João L. é de uma oportunidade tal que deveria ser publicada em edital para se perceber um pouco do que é a ciência e a realidade que estamos a viver no plano da construção de conhecimento.
Um belíssimo domingo, Riqueza.
"o problema não é propriamente o número de pessoas: é a forma como estão juntas." - concordo.
ResponderEliminarPorém, sou sincero faz-me um pouco de espécie termos de estar fechados em nossas casas, quando outros podem estar juntos sem uma "causa" suficientemente objetiva que o justifique. Isto independentemente de cores políticas.
Esta manhã, aqui na zona foi algo paradoxal. Esplanadas cheias de pessoas a passear, crianças a brincar, pessoas a fazer desporto e filas nos supermercados. Com o dia, desconfinou-se de manhã para se confinar à tarde. Parece-me contraproducente.
Olá Francisco,
ResponderEliminarAdorei, adorei, adorei. Carcará-19. Muito bom.
E totalmente de acordo com o que disse.
Dias felizes, Rico Chicão!
Olá Último,
ResponderEliminarPois, percebo-o, as suas perplexidades são também as minhas. Penso que o que ainda não está interiorizado é a necessidade de evitar espaços fechados e a necessidade de se andar de máscara em locais, mesmo abertos, em que há muita gente em circulação. Por onde se anda, continua a perceber-se que há muita gente para quem isto ainda não é claro.
Tirando isso, vamos levando, não é? Esperando que este pesadelo passe.
Dias felizes!