A minha avó tinha uma amiga, anos mais nova que ela, que era uma mulher quase proscrita. Aliás creio que seria mais ou menos da idade da minha mãe. Tinha um cabelo comprido, ondulado, arruivado. Usava-o frequentemente apanhado em rabo de cavalo que prendia com fitas largas e coloridas. Era olhada de lado, falava-se dela à boca pequena. Era a outra de um homem casado. Ele tinha uma família, era um homem de sociedade. E tinha, ali, naquele bairro, uma outra família, clandestina: essa mulher e o filho de ambos. Ia visitá-la de vez em quando num grande carrão e, quando o rei fazia anos, levava-a a passear. Ela era bonita, vistosa, curvilínea, seios fartos, alegre. Mas pouco saía de casa e a alegria era restrita a quem convivia com ela.
Uma dessas divas era Sophia Loren. Tinha uma beleza atípica que eu não reconhecia como extraordinária. Achava-a exótica, não propriamente bela.
Anos mais tarde, estava a falar disto com um colega que me disse que tinha viajado com ela no avião e que, até ao fim, tinha estado na dúvida se era ela pois parecia quase uma velhinha quase pequenina. No entanto, nessa noite, tinha ido a uma recepção na qual lá estava ela. E era outra, sensual, toda elegante, com um porte que impunha respeito. E, quando foram apresentados, ele quase se sentiu intimidado com o seu charme. Mas, dizia ele, ah, minha querida, a Cardinale é uma graça, uma sedutora... mas a Sophia... ah... a Sophia é outra coisa...
Esse meu colega, de quem tenho muitas saudades, era um valdevinos de primeira. Tinha sido apanhado pela mulher a sair do prédio da amante. Sujeito a um vexame, obrigado a sair de casa, mudou-se para casa da amante, uma mulher interessante, uns vinte e tal anos mais nova que ele. Ao fim de algum tempo já não se aguentava com a sua jovem namorada, até porque ela tinha um filho pequeno e ele já não tinha paciência para crianças pequenas nem para mulheres com TPM. Tendo uma casa de 'praia' na Linha, volta e meia inventava que tinha uma viagem de serviço, fazia a mala... e ala moço que se faz tarde... escapava-se para a sua bela casa, uma casa com um belo jardim. Conheci essa magnífica casa. Contíguo ao seu jardim estava o jardim da casa de uma italiana da idade dele, uma italiana que apanhava banhos de sol toda nua. Ao fim de algum tempo ou a italiana saltava o muro ou ele saltava o muro para o lado dela. E, dizia ele, era como se estivesse a fazer amor com a Claudia ou com a Sophia, toda aquela fogosidade italiana, todas aquelas belas palavras de amor condimentadas com pimenta.
Claudia Cardinale, sempre.
ResponderEliminarHoje, Eva Green.
Olá João,
ResponderEliminarÉ, não é? Tem um toque de candura, um leve toque de malícia, um toque de joie de vivre e, ao mesmo tempo também, tem aquela vontade que se lhe percebe de gostar de cativar.
E tem razão, não tinha reparado, é o mesmo género da Eva Green. Bem pensado, sim senhor.
Um belo domingo, João, apesar dos pingos da chuva e de tudo o resto.