Choveu. Esteve ventoso e frio. Mas à tardinha abrandou, veio um pouco de sol, deu para passear um pouco. Aliás, a meio da tarde, durante um pouco, o sol chegou-se à sala e a minha filha foi sentar-se lá fora, numa pedra, a ler e eu abri as portas de vidro para que os meninos brincassem como se estivessem na rua. Coloquei uns tapetes para que não estivessem sentados ou de joelhos na tijoleira e ali estiveram, entretidos, a montar exércitos com bonecos do playmobil. Eu, que estava perdida de sono, deitei-me no sofá grande na esperança de um retemperador cochilo. Mas não deu, estava sempre a rir-me com as coisas que os ouvia a dizer.
Como geralmente acontece, acabaram a disputar os bonecos um do outro. Às tantas um queria um cavaleiro e o outro, para desvalorizar o objecto da cobiça e dissuadir o irmão, perguntou 'mas para que o queres? não passa de um bárbaro anão montado num pequeno pónei...' ao que o irmão mais novo, eterno sacrificado, respondeu: 'não é nada, é um cavaleiro de verdade'. Passado um bocado, a mesma coisa, o mais novo a querer uns que o irmão tinha. Que não, nem pensar, não podia dar. Em contrapartida podia dar-lhe umas 'anãs orfãs'. Olhei. Eram umas figuras femininas de facto mais pequenas do que as outras e que aparentemente não faziam parte daquele grupo. Com estas coisas, a dar-me vontade de rir a toda a hora, passou-me o sono.
Andam todos contentes. O mais crescido, de vez em quando, do nada, vem abraçar-se a mim. Meu menino lindo.
Não falta muito para estar da minha altura. Numa das fotografias da cómoda aqui do quarto está ele, sentado, ainda mal se aguentando sozinho, casaquinho de malha, bebé fofinho e, desde sempre, sorridente e bem disposto.Devia estar com saudades, deve estar contente de aqui estar. A minha filha disse que o mais novo lhe disse que estavam a ser as melhores férias de sempre. Ela explicou-lhe que não são bem férias já que estão com escola e ela e nós a trabalhar. Mas não interessa, se a ele lhe parecem férias, e das boas, ainda bem, é porque são.
Da casa do meu filho chegam fotografias do belo pão que por lá se faz, vê-se e até parece que cheira a pãozinho quente e bom, desta vez feito também com farinha de aveia, escreveu a minha nora. E também fotografias dos belos acepipes que por lá se confeccionam. O mais pequeno, três anos feitos quase em vésperas do mundo virar outro, volta e meia, durante o dia, liga-nos. Quer saber onde estamos, o que estamos a fazer, o que vamos comer. De tarde, a mana estava a jogar e mano estava furibundo à espera que a mana acabasse para jogar ele a seguir. Perguntei-lhe: 'E os pais?'. Disse que estavam lá em baixo. Nem sei se sabem as chamadas que ele nos faz. Liga para o grupo 'família' e, portanto, recebemos a chamada ao mesmo tempo. Hoje, quando a ligação ficou instável e, por um instante, deixámos de ouvi-lo, diz ele, a seguir, à tia: 'Ficaste sem rede'. Parece que nada neste novo mundo representa qualquer mistério para ele. Tem três anos e já sabe o impacto da deficiente cobertura de rede.
À noite, quando falávamos de novo, eu estava encostada à minha filha para aparecermos ao mesmo tempo na imagem e os meninos estavam atrás de mim, abraçados a mim, um com a cabeça no meu ombro e outro com a cabeça colada à minha do outro lado. O meu marido, na ponta da mesa, disse apenas: 'Distanciamento social'. Rimo-nos. A minha filha disse: 'Pois...'. Eu já sabia que não seria capaz. Nem um minuto durou. Só tenho pena de, no domingo, não ter abraçado os outros tr~es. Mas naquele dia, pelos contactos todos que tínhamos tido e, apesar de termos ido a casa tomar banho e mudar de roupa, foi prudente. Nas tenho umas saudades danadas de também os abraçar.
À noite, quando falávamos de novo, eu estava encostada à minha filha para aparecermos ao mesmo tempo na imagem e os meninos estavam atrás de mim, abraçados a mim, um com a cabeça no meu ombro e outro com a cabeça colada à minha do outro lado. O meu marido, na ponta da mesa, disse apenas: 'Distanciamento social'. Rimo-nos. A minha filha disse: 'Pois...'. Eu já sabia que não seria capaz. Nem um minuto durou. Só tenho pena de, no domingo, não ter abraçado os outros tr~es. Mas naquele dia, pelos contactos todos que tínhamos tido e, apesar de termos ido a casa tomar banho e mudar de roupa, foi prudente. Nas tenho umas saudades danadas de também os abraçar.
Voltei a não conseguir pegar num livro. Tenho sempre qualquer coisa para fazer e, quando paro, dá-me sono. E, uma vez mais, não vi quaisquer notícias. Fomos dar uma voltinha lá abaixo por volta das seis e o meu marido quis regressar a casa para ver as notícias na rtp3 pois disse que, senão, voltaria a não conseguir vê-las. Mas nem lhe perguntei o que há de novo. Provavelmente tudo na mesma.
Temos estado a ver coisas da Netflix no computador da minha filha. Estive também com ela a escolher coisas para vermos nos próximos dias. O meu marido também viu algumas e há bocado disse-me que, se calhar, era coisa boa para também termos, em especial quando aqui estamos. Na volta... Dizia-se aquela coisa de 'qualquer dia ainda fuma...' e eu, por este andar, 'qualquer dia ainda me ponho no facebook...'. Modernices. Ah, que vontade de rir me dá isto tudo.
O bebé disse que de tarde tinham ido dar um passeio a uma floresta. O meu filho depois contou onde foi. Não seria exactamente uma big floresta mas foi uma mudança de ares. É bom passear. Sinto vontade de passear. O nosso país é tão lindo, tem terras tão lindas. Penso que conheço muito mas a toda a hora descubro lugares onde nunca estive. Só que agora não sei quando poderemos voltar a ir por aí, em turismo. Só se tivesse uma caravana. Muitas vezes isso esteve em cima da mesa mas nunca nos deixámos convencer. Mas agora seria uma solução para podermos fazer turismo.
Enfim. Sonhar não custa.
Quanto ao resto, a vida continua
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As fotografias foram feitas esta tarde e
I get along without you very well foi o Chet Baker quem disse, não eu
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Um bom dia de domingo
Para o aso de não ter já lido e ouvido: http://www.fernandopaulouro.com/2020/05/as-primeiras-cerejas.html
ResponderEliminarOxalá
ResponderEliminaros meninos não venham a ser, amanhã,
considerados como recursos,
“Recursos Humanos”,
mas sim e sempre como pessoas,
Pessoas Humanas.
Dá gosto ler as suas crónicas
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