Ontem, por todos os canais onde se passava, lá estava o ataque à civilização e o Marega e os que não tinham apoiado o suficiente o Marega e mais o racismo!, racismo!, e a repugnância, e o fim da picada.
Parei as minhas leituras e fui ver de que se tratava: Marega, um jogador negro de aspecto possante, foi apupado e insultado e, muito compreensivelmente, fartou-se. E, mostrando que os tem no sítio, mandou os racistas irem dar banho ao cão e saíu do campo.
Foi isto. A coisa conta-se, pois, em duas penadas -- e o repúdio, sendo veemente e convicto, em menos que isso.
Pois hoje continua a não se falar noutra coisa. O tema devorou o coronavírus e a eutanásia. Um enxame de #somos.todos.marega e #abaixo.o.racismo.no.futebol invadiu os media. As televisões estão cheias de comentadores exaltados, todos na mesma, em roda: a mastigar, a regurgitar, a voltar a mastigar, a comerem o regurgitado uns dos outros -- em non stop. Falam, falam e não acrescentam nada. Até porque não há mais nada a acrescentar. A argumentação perde eficácia quando repisada ad nauseam.
Depois, noutros fóruns, discute-se se somos ou não somos racistas. Diz-se de tudo. E tudo é verdade e mentira ao mesmo tempo pelo que vale dizer tudo e o seu contrário. Uma discussão fútil levada a cabo por gente que parece descerebrada. Parece que é preciso pôr um rótulo colectivo e, como não é fácil pôr o mesmo rótulo na cabeça de dez milhões de pessoas, não saem do mesmo sítio. Em algumas pessoas, parece haver necessidade de auto-punição como se, pelo facto de uns serem racistas, todos termos que ser. E, uma vez mais, com generalizações, lá se perde a eficácia e objectividade da argumentação.
Ainda hoje, um conhecido meu, ao falar numa outra situação que nada tem a ver com o futebol, dizia que tinham arranjado 'meia dúzia de pretos' para irem fazer um certo trabalho. Devo ter feito uma cara de espanto pois caíu nele e disse, a rir: 'Caraças, ainda aparece para aí um Marega a chamar-me racista'.
Ora eu, do que lhe conheço, não consigo dizer que seja racista. É ultramontano e bota de elástico, é provinciano e, cá para mim, tem um parafuso a menos. Mas posso concluir que os portugueses, no seu conjunto, são racistas lá porque um zé-cueca se sai com uma parvoíce daquelas? Claro que não. Por cada um que se sai com tiradas parvas há outros tantos e muito mais que conseguem falar sem dizer parvoíces.
Agora uma coisa que eu acho ainda mais parva, mas mesmo completamente parva, é o Miguel Sousa Tavares, no noticiário da TVI, ter lá levado o André Ventura para o confrontar sobre este tema e sobre a sua reacção.
Um bailarico. O André Ventura pôs o Miguel Sousa Tavares a rodopiar, a dançar de fininho.
O André Ventura não é parvo. Tem boa memória. É uma verdadeira picareta falante. E não tem escrúpulos. Como bom populista que é, mistura coisas acertadas, fáceis de perceber, coloca-se do lado do zé-povo -- os simples, os bons, os que dizem as verdades -- e contra os intelectuais e políticos que têm a mania que são inteligentes e que só querem mostrar a sua superioridade perante o dito zé-povo. E, logicamente, o que sai dali é um cocktail bom de beber, que escorrega que nem ginjas pela goela dos incautos, ingénuos, desiludidos da vida, rebeldes sem causa.
Portanto, se o Miguel Sousa Tavares pensou que ia enquadrar o André Ventura, esteve muito longe de o conseguir. O que levou foi uma abada. Perante um André Ventura desenvolto e aguerrido, sempre colado ao povo, o que se viu foi um Miguel a ouvir e calar, incapaz de conter a torrente verbal do grande demagogo que é o Ventura.
Façam muito mais favores destes ao Chega, façam, e depois venham ganir baixinho e chuchar no dedo sem saberem o que fazer perante a ascensão do bicho. Continuem a dar-lhe palco e verão como, num ápice, ele papa o CDS, devora as pernas ao PSD e se torna charneira na Assembleia.
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Ai Chega, Chega...
Ai Chega, Chega...
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[E queiram descer um pouco mais caso queiram saber de mais uma do 'alarmismo militante da TSF']
Boa noite, ujm
ResponderEliminarVeja este vídeo e se puder leia o livro.
Irá perceber o quão injustos são os seus raciocínios
https://youtu.be/45ey4jgoxeU
Bom vídeo Maria.
EliminarEfetivamente isto é um problema bem maior do que as pessoas têm consciência.
Como temos sido um país mais de emigrantes do que imigrantes (e estes últimos concentravam-se sobretudo em Lisboa), o problema não se notava. Mas ele estava latente e a imigração mais recente e difusa no território está a revelar isso mesmo.
Abraço,
Obrigado,
Paulo B
Olá Paulo. Foi um gosto partilhá-lo. Sei que há estudos que mostram o quanto o somos. Se puder trazer alguns para a ujm se convencer dessa realidade era ótimo. Acontece que me é tecnicamente impossível aqui inseri-los. Obrigada
EliminarHow to be an Ani racist de Ibram X. Kendi's
ResponderEliminarUm abraço
GG
E isto é só o começo. A TVI está a ser integrada no grupo da CMTV. O Paulo Fernandes parece estar a construir um grupo de comunicação social à imagem do grupo do Murdoch. Com uma agravante: a nossa sociedade não tem os níveis de qualificações médios da Inglaterra e dos EUA e, pior, não tem instituições públicas tão consolidadas e independentes como as desses países.
ResponderEliminarEsta deriva da comunicação social de massas (e não esquecer a aliança (agora mais low profile) do grupo do Balsemão com os envagelicos brasileiros...) Em conjugação com o cocktail explosivo de manipulação das redes sociais (numa sociedade sem o mínimo de conhecimentos digitais) pode vir a tornar-se uma coisa muito preocupante a muito breve prazo. Até porque o retrato robô que se começa a fazer do eleitor do Chega é preocupante, pois parece ter peso eleitoral (e num segmento intermédio que eventualmente fará propagar o vírus para os outros meios):
https://amp.expresso.pt/opiniao/2020-02-15-Quem-quer-votar-no-Chega-?
Abraço,
Boa semana.
Boa noite UJM.
ResponderEliminarEra preciso que quem "convida" populistas saiba bem preparar-se e expor bem as suas contradições, falsidades, meias verdades, etc.. com um discurso claro para quem está a ouvir..
Doutro "jeito"... acaba-se a servir de caixa de ressonância dos mesmos, palco e tribuna para espalharem a sua "mensagem"...
Quando ao Ventura nem sei ele acredita muito naquilo que diz.. cavalga a "onda" do momento a nivel internacional (e não só...) que conclui que lhe dará mais projeção e poder.. Fosse a "onda" outra e aí o veriamos a criticar .. os populismos :)
e como se vê o CDS já está a ser triturado... "chegará" ao Psd?
Olá Maria,
ResponderEliminarNão percebo. Quais meus raciocínios? Não estou a perceber.
O meu post tem a ver com a poluição absurda dos comentadores a pisarem e a repisarem ad nauseam os mesmos lugares comuns, esvaziando o sentido das palavras e com o palco que a TVI deu ao André Ventura permitindo-lhe arranjar mais apoiantes.
Estou a ser injusta? Com quem? Com os comentadores futebolísticos? Com o André Ventura? Com a TVI? A sério que não percebi.
Bom dia. Está a ser injusta com o facto de não ver nada de errado na piada do seu colega.
EliminarDeduzo que respondeu sem ter visto o vídeo pois penso que lá chegaria.
Acredita mesmo que Portugal com 500 anos de história em colonização de outras cores, com uma das guerras mais longas contra alguns desses povos é um paus geneticamente saudável a esta tipologia de funcionamento?
Veja o vídeo e leia, por favor. Com eles e outros eu percebi que era racista.
GG
Olá Paulo,
ResponderEliminarSempre muito objectivo e muito lúcido, trazendo sempre informação relevante. Ao ler o que escreveu, fiquei ainda mais apreensiva. Tem razão. Esta deriva quer da TVI quer da SIC não auguram nada de bom. E a maior parte das pessoas que conheço não lêem livros: lêem redes sociais. Assustador. E o retrato robot do Chega dá muito que pensar. Eu acho que a solução é não dar palco a estas ameaças. Mas a verdade é que é lá que estão sempre, no palco. Um susto, isto.
E obrigada pelo seu comentário. Traz uma forma interessante de ler estes fenómenos.
Uma boa terça-feira, Paulo!
Olá Tiago,
ResponderEliminarO André Ventura, do que se vê, tem verbo fácil, tem a lição na ponta da língua e é um animal de palco. Acresce que usa frases simples, palavras de efeito directo. Ataca os 'bem falantes', os 'instalados' e, com isso, arregimenta a imensa mole de gente insatisfeita, mesmo que insatisfeita sem causa concreta.
Estava a ouvi-lo e a ver como o Miguel Sousa Tavares acabou por ir perdendo o pio contra aquela torrente de conversa fiada, uma misturada de argumentos. Colocou no mesmo saco o Marcelo, o Arménio, o Costa, os racistas, os hipócritas. E ele e o 'povo' do lado dos bons.
É um perigo apesar de ser apenas um bem falante sem conteúdo. Gente assim atrai gente perigosa que se aproveita de quem lhes dá crédito.
Abraço, Tiago. E dias felizes!
A deplorável situação que envolveu Marega traz à luz o racismo estrutural e institucionalizado na nossa sociedade. Isso deve ser falado sem que se diga que se trata de meia dúzia de lugares comuns e que ‘não há nada a acrescentar’.
ResponderEliminarA piada do colega de UJM é um bom exemplo de como preconceitos raciais estão enraizados sem que as pessoas pensem sequer nisso.
ResponderEliminarVocê tem razão, UJM e este seu Post é um saudável sinal de alarme relativamente ao populismo de Ventura. MST e Pedro Pinto, pessoas que respeito, cometeram um erro ao convidarem-no. Ventura nunca perde a menor oportunidade para ter palco e expor e vender o que pensa. André Ventura é um tipo inteligente (foi aliás um brilhante aluno de Direito, licenciando-se com uma elevadíssima nota final), bem informado, articulado, possuidor de um raciocínio rápido, um bom argumentador e esperto. Soube e sabe, muito bem, cavalgar a onda do momento, no que aos sentimentos mais primários, ou mais imediatos, que um determinado número de pessoas pensa. Quem não perceber isto, perde em qualquer confronto com Ventura. E isto tanto se aplica a jornalistas ou comentadores que o convidem e o tentam confrontar, como a políticos que, um dia, o irão enfrentar, debatendo ideias. Já outro dia, um outro jornalista, num qualquer jornal da noite, acabou por não conseguir encostar Ventura à parede, apesar das acusações que lhe fez, e de que ele se defendeu, como é seu hábito, utilizando a mesma receita que levou para o confronto com MST. Usa e abusa de exemplos, que mistura engenhosamente, vai ao encontro do que o tal zé-povo opina entre si e pensa, manipula factos de forma articulada e inteligente, confunde dissimuladamente, enfim, é um artista da política popular, reacionária e primária. Ventura, antes de criar o Chega, soube ver que existiam lacunas na política portuguesa, os tais sentimentos escondidos que muitos possuem, de carácter populista, e não hesitou em preencher esse vazio. Cavalgá-los. Ventura jamais entraria na Política para ser igual aos outros. Como fez, por exemplo, a Iniciativa Liberal. Não, Ventura veio para ficar (eu próprio, no início, quando ele foi eleito, não percebi o “fenómeno” que ali estava, se se lembra), pelas piores razões e motivos. E se se continuar a dar-lhe palco nas TVs, ou até nas rádios e na restante imprensa escrita, etc, Ventura ultrapassará, facilmente, a fasquia que já parece conseguir, de 6%. E, como candidato a PR vai conseguir extrapolar ainda mais a sua imagem populista. E alargar a sua imagem política. E MRS (e outros putativos candidatos a PR) que se preparem bem para os debates com ele. Como tem boa memória e hoje é fácil consegui-la, visto tudo o que se disse e fez está na Net, gravado, será fácil ele encontrar eventuais contradições e recorrer a elas com aqueles com quem se irá debater. O que é mais curioso e lamentável, a meu ver, é que não é só o tal zé-povo (ou parte dele) que o aprecia, mas igualmente uma certa burguesia da classe média, ou saudosista de Salazar, ou profundamente reaccionária. Infelizmente conheço alguns exemplos bem de perto. Por outro lado, aqueles que o admiram, ou apoiam, não conhecem o seu programa (aliás já revisto em função dos momentos, tal como as atitudes dele e ideias que lança para o ar), que é muito mau, sobretudo no campo económico e social. E até no dos direitos políticos. E como se não bastasse, como comentador do Benfica, no CMTV, ainda tem mais esse palco suplementar – já que o SLB é o clube de futebol que mais simpatizantes e adeptos possuiu, de longe, neste Rectângulo à beira-mar plantado. Assim sendo, não percebo, pois, a ânsia de convidar Ventura para isto e aquilo na TV. Olhando para o que o seu Leitor Paulo B. nos relevou e ainda bem, talvez se perceba. E depois, Ventura vende. É um produto que qualquer telejornal, qualquer debate, etc sabe que irá ter público e como tal níveis elevados de assistência. Há retorno convidando Ventura. Que um dia ainda acabará por ser um fenómeno político também graças às exposições televisivas. Naturalmente com mérito dele, igualmente, pois sabe melhor do que ninguém encenar, manipular, dissimular, enganar e perceber os sentimentos dos incautos. E neste ainda pacóvio, reacionário, beato e futebolístico país, basta ter-se um olho para se ser rei. E André Ventura tem dois, bem atentos e que nunca se distraem.
ResponderEliminarPleasure Inducing Devices
ResponderEliminarUma das poucas vantagens que restam, quando a decadência alastra, é a possibilidade de ensaiar a irreverência com um pouco mais de requinte; outra é tentar manter os horizontes limpos.
No meu novo robe ................ Beija-me o sincipúcio
Esta manhã ........................... Mas nunca antes da
Outro alguém. .......................................... Temese.
Bashō * .............................................. a kullervo
(* Tradução inglesa: Lucien Stryk)
Post Scriptum - Iterações? Ná! Cérebro sequencial.
(As caixas de comentário são um hit-or-miss affair - não são lugares para conversas/respostas sérias.)
Racismo?
ResponderEliminarImaginem o que seria um branco a integrar esta equipa, e os comentários que se fariam ouvir em qualquer estádio desse ou doutro qualquer país da África subsaariana.
Só os brancos com demasiado tempo livre fazem de tudo um bicho-de-sete-cabeças - e é por esta actual tendência de fazer de minudências, prioridades, que os Andrés Venturas desta vida acabam por congregar a atenção e o favor dos cidadãos cujas principais, e legítimas, preocupações são a remuneração digna do seu trabalho e a educação dos filhos.
Há Leitores que passam por este excelente Blogue (que já vai em muito mais de que 4 milhões de visualizações. É obra! Mon Dieu!) que me levam a pensar naquela velha “máxima” do PIPI, esse grande erudito do início deste ainda jovem Século.
ResponderEliminarDou um humilde exemplo,
Citação:
“Penso, logo Existo!” - notável observação do grande Descartes.
Quatro Séculos e picos após tão sábia conclusão surge uma outra não menos profunda constatação do não menos ilustre PIPI.
Citemo-la:
“Fodo, logo penso!”
Nem mais! Vou reflectir no assunto. Ou seja, como combinar ambos os pensamentos filosóficos.
Nada como o "Saber"!
Olá AV,
ResponderEliminarQuando se envolve o que se quer dizer num palavreado interminável, que é o que tem acontecido nas televisões e nas redes sociais, o que resulta é uma cacafonia, poeira, poluição. E perde-se a essência.
E volto a dizer: conheço o meu colega. Não vale a pena dramatizar e ver racistas em toda a gente que faz uma piada. Pode ser com alentejanos, louras, pretos.
Dias felizes para si, AV!
Olá Maria,
ResponderEliminarJá vi o vídeo. Interessante e didáctico.
Mas repare uma coisa: que há racismo, claro que há. Mas querer que toda uma nação seja racista lá porque há alguns, isso não. A GG é racista? Eu não sou. Porquê então ver um racista em qualquer pessoa? Portugal é um país acolhedor, inclusivo. Há alguns, claro, e devem ser condenados. Daí a dramatizar e ver inimigos e racistas em todo o lado, lamento mas não alinho. Fundamentalismos não são bons.
Uma bela quarta-feira para si, GG.
Bom dia ujm
EliminarEu descobri que afinal era racista ou melhor tinha atitudes racistas depois que vi esse vídeo e comecei a estudar sobre o assunto.
Negar a existência de que somos um pais de racistas é um dos maiores fundamentalismos que existem. Designa-se por "racismo estrutural" isto de que falamos. Não o querer ver e aceitar que nos é intrínseco enquanto povo é recusar a mudança para as pessoas racializadas.
Lá diz o outro "cada um sabe de si e Deus de todos"
Um abraço
GG
Tenho a certeza que o Paulo trará estudos que lhe mostrarão tal. Contudo propor-lhe um simples exercício: de todas mas mesmo todas as pessoas desde o topo até à empregada da limpeza, com que se cruzar, apenas no âmbito profissional, até hoje veja quantas são pretas ou mestiças (até já estou a excluir ciganos, índios, asiáticos...).
EliminarFaça uma monitorização pessoal assim tipo
Ceo x
Limpeza x
Estafeta X
No fim do mês some tudo.
Depois interrogue-se?
Olá P.
ResponderEliminarDesta vez estamos alinhados, sintonizados e gostei de ler o que escreveu do princípio ao fim.
Obrigada!
PS: Já me fartei de rir com o vídeo que me enviou!
Dias felizes, P.
Olá caleidoscópico criador de nomes, cada um mais crazy que o anterior,
ResponderEliminarDecadência, irreverência, requinte e horizontes limpos são palavras e conceitos que se conjugam muito bem. Tomara que frutifiquem. Fico curiosa.
Gostei do jogo de espelhos.
Contudo receio não ter conseguido compreender as palavras de kullervo porque não sei o que é Temese. O Tamisa? Não quero crer que esteja a dizer que tenciona afogar-se. O sentido deve ser outro. Quer esclarecer-me ou isso não encaixa no hit-or-miss style que aqui é requerido?
Uma noite descansada, muitos-nomes.
Daimon,
ResponderEliminarMuito de acordo consigo. De tudo se faz um caso, de tudo se faz um drama, por qualquer coisa se dizem milhares de palavras envoltas em ruído e exagero. Acaba por se perder a noção do que é essencial. Ou melhor: acaba por se perder o respeito pelo que é essencial.
E concordo: este registo de condenação permanente é o terreno fértil para os Venturas desta vida. A ver vamos como vai evoluir esta nossa recente democracia perante os desafios que se avizinham.
Olá P.
ResponderEliminarSabe que já cá tenho os dois Pipis? Se calhar não deveria ter comprado pois já tenho tantos livros... para quê mais estes dois...? 😜
Já comecei a ler e gostei mas achei que é mesmo conversa de homem armado em malandreco. Até fiquei com vontade de escrever coisas assim mas seguindo uma perspectiva feminina... coisa mais requintada.
A ver se um dia tenho tempo para me dedicar a uma aventura assim.
Paulo,
ResponderEliminarSomos um país racista? Acha mesmo isso?
Se houvesse um inquérito sério, que percentagem de racistas haveria?
Arrisco dizer que não mais que uns 5%.
Arrisco dizer que somos boa gente.
Há estudos sobre isso? O Paulo que sabe destas coisas, o que diz?
Olá UJM,
EliminarObjetivamente não sei de estudos. Nem me parece que haja estudos para classificar um país como racista.
O conceito é muito variável. O que me parece é que existem, naturalmente, vários comportamentos discriminatórios, muitos deles graves, que passam até por brincadeiras ou expressões "normalizadas" dentro do grupo dominante, mas que têm com certeza um efeito discriminatório muito mais profundo do que se imagina.
Pessoalmente e da minha experiência pessoal, noto isso nos meus comportamentos quando os analiso de forma mais consciente. Apesar de pessoalmente e conscientemente não ter qualquer intenção discriminatória. Uso expressões como a desse seu amigo por brincadeira e em contextos muito específicos privados. Mas por vezes vejo que isto extravasa, com outras pessoas, esse contexto privado e ocorre nos espaços públicos. Mais, nos locais que frequento estes comportamentos até são mais visíveis por exemplo para com os ciganos.
O vídeo acima da Maria aborda essa problemática. Que é mais óbvia em países com uma grande diversidade de comunidades e com grandes níveis de desigualdade como os EUA. Apenas disse que em menor escala e ponderando um pouco, revejo-me um pouco no problema.
Abraço,
ResponderEliminarDados do European Social Survey
Não consigo inserir o link nem o artigo da Joana Gorjão Henriques de 2/9/2017. Apenas como exemplo
Um resto de bom dia
GG
Olá Maria,
EliminarSim, lembrei-me por exemplo do european social survey - https://www.europeansocialsurvey.org/about/singlenew.html?a=/about/news/essnews0075.html que aborda essas questões também. E existem vários trabalhos científicos em Portugal que versam o assunto. A Joacine e o André Ventura são só dois exemplos que, pela análise jornalística, até parece que são trabalhos credíveis!
Já agora o link para a notícia do público sobre esse trabalho / investigadora que refere: https://www.publico.pt/2017/09/02/sociedade/entrevista/portugal-e-dos-paises-da-europa-que-mais-manifesta-racismo-1783934
Também gostei do vídeo partilhado por Maria, pela análise de expressões e conversas quotidianas, do que pressupõem, e do que poderiam ser alternativas.
ResponderEliminarQuanto à questão colocada por UJM, existe investigação na área dos estudos étnico-raciais e desigualdade, sim. Não sendo a minha área, conheço algum trabalho desenvolvido no CES, em Coimbra, e no CIES, em Lisboa - veja o excelente trabalho desenvolvido por Cristina Roldão, por exemplo. Um grande obstáculo para se fazer um dos tais ’inquéritos sérios’ nesta área, a que se refere, é o facto de a nossa lei não permitir a inclusão de questões sobre origem étnico-racial nas estatísticas oficiais. Ainda recentemente, o INE recusou uma proposta de inclusão de uma pergunta de resposta facultativa sobre origem étnico-racial no Censos 2021, feita pelo grupo de trabalho criado para o efeito por decreto-lei. A leitura do parecer do INE é muito interessante por si só https://cse.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=378553239&att_display=n&att_download=y
Poderemos sempre fazer o exercício proposto por Maria, claro ...
Pivôs de jornais televisivos x
Apresentadores de programas de televisão e rádio x
Deputados na Assembleia da República x
Juizes x
Embaixadores x
Jornalistas x
Comentadores na comunicação social x
Actores TV e cinema x
Reitores x
Professores universitários com agregação e catedráticos x
...
Dias bons a todos.
https://www.google.com/amp/s/www.vox.com/platform/amp/first-person/2020/1/17/21070351/meghan-markle-prince-harry-leaving-royal-family-uk-racism
ResponderEliminarhttps://www.nytimes.com/2020/01/09/opinion/sunday/meghan-markle-prince-harry.html
ResponderEliminarTem razão! Aqueles 2 livros, estarão, digamos, hoje em dia, "fora de moda". Há um certo machismo, embora não seja tenha sido esse o objectivo de quem escreveu aquilo. Mas, é linguagem forte. E os Sermões são de ir às lágrimas!
ResponderEliminarCuriosamente, um deles, precisamente os Sermões, foi-me oferecido por uma amiga (que tem cá uma pedalada que só visto, a par de inteligente e culta e...dar aulas numa universidade. Naturalmente os seus alunos não a imagina a ler aquilo). O 1º comprei-o eu. Faz bem às depressões!
Divirta-se!
E para quê não fique a pensar que estás questões do racismo estrutural estão apenas relacionadas à cor deixo-lhe este link dos 3 que a autora do blog fez sobre os desenhos anti-semitas de Vasco Gargalo. Eu sou das que acredita que ele não teria a perceção da origem e das implicações desta representação.
ResponderEliminarEu não tinha até ao dia em que os li.
http://conversa2.blogspot.com/2020/02/faca-se-entao-um-desenho-1.html?m=1
Ao ler os comentários que aqui surgiram e a discussão, ou abordagem – como lhe queiram chamar -, sobre o racismo, fico algo espantado com o que fui lendo. Acho muito pertinente a interrogação que UJM faz quando pergunta se somos um país racista. Em minha, humilde, opinião, acho que nós não somos um país de racistas. E assumo totalmente esta minha posição. Vou mais longe. Acho imensamente cabotino e até miserável que se tome a nuvem por Juno. A árvore pela floresta. O facto de existirem e serem noticiados casos de racismo, que, indiscutivelmente, devem ser condenados e, no limite, criminalizados, quando for o caso, não nos deve levar a generalizar e dizer que somos um país racista. A maioria da população dita de não branca, seja negra, indo-paquistanesa (e porque não chinesa?), etc não é discriminada, diariamente, não é ultrajada, não é maltratada, etc. Poderão ser vítimas de “agressões” salariais, como bem sabemos (explorados miseravelmente), ou até a viverem situações próximas da escravidão (como sucede em algumas plantações ou culturas no Alentejo, que o Governo chuta para o lado, não quer saber), mas isso são fenómenos próprios do Capitalismo que temos no nosso “pacífico e bondoso” Rectângulo. São questões do foro judicial e não racial, estes. Quanto ao restante, desde agressões policiais a indivíduos de raça negra, convém que haja uma análise séria sobre como foram praticadas e em que contexto, a fim de se avaliar se essas reacções foram, ou não, motivadas por razões de ordem racista. Já assisti quer no comboio da linha de Cascais/Lisboa, quer em Bairros sociais mais degradados (por razões profissionais), quer noutras circunstâncias, a situações, entre brancos e pretos, algumas vezes até violentas, e confesso que, independentemente da linguagem utilizada (desde “preto de merda”, a “branco da puta que te pariu”, a “escarumba” a “facho branco”, etc), não acho que o que ali está sejam, na maioria dos casos que presenciei – embora haja excepções – casos racistas, mas simples violência verbal, para agredir o/s adversário/s e dali, claro, partir-se para uma cena de pancadaria. Já tive de apartar uns indivíduos, pretos e brancos, numa confusão dessas, apelando ao bom senso e calma, e quando me vieram com a merda do racismo, de um lado e do outro, porque os brancos também souberam utilizar esse argumento, fiz-lhes ver que aquilo era “conversa da trampa, que os não levava a nada”. E conversando se conseguiu alguma paz. Isto para dizer que actualmente o tema Racismo está a ser exageradamente dimensionado, politicamente instrumentalizado e, nesse sentido conviria que houvesse alguma reflexão sobre a questão. Há racismo? Há, concordo. É um problema nacional e transversal ao país? Não é. E dizer isso é pura demagogia! Uma boa parte dos jovens como tenho constatado, no meu dia a dia, convive sem problemas com raças diferentes das suas. O mesmo na maioria da população. Convivem, casam, namoram, têm relações de amizade, de boa vizinhança, etc. O que acontece é que uma minoria assume atitudes racistas. E aí lá está, não podemos tomar a nuvem por Juno, como dizia no início. Deste modo, termino compreendendo e subscrevendo a pergunta que a UJM fez, se se achava que éramos um país racista, de algum modo deixando transparecer que achava que não. Sou exactamente da mesma opinião. Em resumo, haja calma, não tentemos distorcer a realidade e aceitemos que não somos um país racista, embora se verifiquem situações dessas, que, naturalmente, uma vez sucedidas terão de ser não só combatidas, mas criminalizadas. O caso Marega, por exemplo, foi um acto de racismo. Já tenho sérias dúvidas, do que li e vi e vim a saber, que o outro caso, da tal Cláudia, tenha contornos racistas. Quando muito excesso do exercício de autoridade. Enfim, hoje, deixamo-nos levar cada vez mais pelas emoções e por motivos de ordem política para fazer considerandos. Termino dizendo que me estou – completamente – nas tintas se não concordarem comigo. É para o lado que dormirei melhor!
ResponderEliminarNão poderia estar mais de acordo consigo. É um facti:racismo explicito não existe em Portugal.
EliminarHá uma outra dimensão que é a das entrelinhas e que se designa por racismo estrutural.
Fique bem.
GG
P. Neste caso concordo com a Maria. O racismo não é só a ação explicitamente racista. E digo-lhe mais, afirma que o caso Marega é racismo, mas... Sinceramente, nesse caso até acho que se aplica exatamente os critérios que usa para delimitar racismo. Naquele estádio os explicitamente racistas seriam uma ultra minoria. Inclusive dentro das centenas de pessoas que fizeram os grunhidos audíveis de macacos. Se há sítio onde a violência verbal é permitida (até legalmente - veja esta notícia no público: https://www.publico.pt/2020/02/18/desporto/noticia/tribunal-aceita-possa-insultar-futebol-1904542). Aquele episódio lamentável em Guimarães é só um entre milhares tão ou mais graves (vi cenas, quando era miúdo, nos jogos das antigas distritais muito muito piores...).
EliminarMas isto tudo para dizer que não é a questão estrita de uma suposta diferença racial como motivo único para um atentado a integridade física e psicológica de um indivíduo que define o racismo.
E também por isso, julgo que não faz qualquer sentido uma classificação de sociedade como racista ou não. Portugal não é uma sociedade racista, como nenhuma o é. Prevalecem vários comportamentos de cariz racista ou, no mínimo, discriminatórios para com grupos sociais minoritários. Inclusive acções que, sim, têm também uma natureza económica. E social. E política. E sim, o sistema social, económico e político pode ser organizado / configurado para impor essa discriminação.
Abraço,
O Chega é o CDS a mudar de nome e o Marega só saiu depois de marcar o golo em cumprimentos de ordens superiores...Sim presidente, dizia o Deco.
ResponderEliminarJC
O Racismo faz parte da História da exploração do Homem pelo Homem e é a Direita exploradora que agora vem chorar lágrimas de crocodilo só para ficarem bem na fotografia como se o racismo fosse um vício ou um defeito. No racismo o que está em causa é a divisão dos Homens em superiores e inferiores Na Alemanha fascista o racismo passou a ser teoria oficial do regime.
ResponderEliminarJCM
Maria e Paulo,
ResponderEliminarTemos na família um caso que poderá servir de exemplo. Somos uns poucos de irmãos, todos com filhos. Um de meus irmãos, tem 2 filhos há já algum tempo a viverem no Reino Unido. Um deles apaixonou-se por uma rapariga negra. Ele louro de olhos claros. Esse meu irmão inicialmente aceitou mal a situação. Mas o rapaz não quis saber e muito bem. Ama quem bem lhe apetece. Todos os restantes irmãos, onde me incluo, apressá-mo-nos a felicitá-lo. Lá está, entre uma geração que vai dos 55 aos 63, só um elemento reagiu - e inicialmente - mal. Os outros não. Já o rapaz está feliz e todos os primos, meus filhos incluídos, nem lhes passou pela cabeça dar qualquer importância ao facto de a noiva ser negra. Portanto, não vejo nenhum racismo estrutural, recuso-me a aceitar tal na nossa sociedade. Há gente racista e há gente que não é racista. Todos os dias me cruzo na rua com gente de raça negra ou outra não branca e nunca assisti a actos racistas. Em Lisboa e pelo resto do País. Isso não impede que se pratique alguma pedagogia relativamente ao assunto. E se penalize quem pisar o risco e agir de forma racista. Mas, não acredito nessa teoria que a Maria aqui expõe. Embora esteja no seu direito.
Passe bem Maria,
Abraço, Paulo
Paulo B.,
ResponderEliminarPermita-me só mais uma “achega”. O tais “comportamentos discriminatórios para com os grupos sociais minoritários” que refere é uma questão, em minha humilde opinião, que tem a ver com o Sistema Capitalista. Um preto rico é bem aceite nesta nossa sociedade, um preto pobre pode ser alvo de um acto racista.
O Teodore Obiang da Guiné Equatorial, por exemplo, era imensamente considerado pelo Luís Amado (essa abjecção política que o PS produziu), ao ponto de ele ter contribuído, enquanto MNE, para vir a ser observador da CPLP. Obiang pôs uns tantos milhões no Banif, Amado sai de MNE e vai para o mesmo Banif (e até vem a comprar o “Banco Mais” de um amigo meu e ex-colega da Faculdade de Direito de Lisboa, que tem histórias…do tal Amado, no Banif sujo pelo dinheiro do Obiang).
Aqui há uns anos, fui convidado por um cliente para jantar no Gambrinus. Entretanto, ao mesmo tempo, chegava àquele restaurante um alto dignitário angolano (desde há uns tempos muito na berra pelos piores motivos - um homem), que aliás veio a criar uns tantos conflitos diplomáticos entre Angola e Portugal. Isto, quando Zédu era o PR desse país - e mesmo depois. Chegou numa viatura Mercedes cujo modelo ainda não circulava em Portugal (qualquer coisa na ordem de várias centenas de milhares de Euros, o seu custo. Nada contra…desde que o povo angolano tenha pão para a boca, que não tem, como bem sabemos), conduzido pelo seu motorista…branco. Nem imagina a consideração e obséquio com que ali foi recebido! Só visto. Claro, só a despesa dele era equivalente a vários de nós ali sentados.
Isto não invalida que os brancos que contactaram com esse alto dignitário e que acolheram o tal Teodore, não tivessem preconceitos raciais contra eles. Se calhar tinham. Ou não. Não sei. Agora que um preto pobre pode ser alvo de actos racistas é um facto. O que não é espectável para com um preto, ou negro, rico. O Capital tem grande respeito pelo dinheiro. Para ele, o dinheiro não tem cor. Nem cheiro. Em Latim diz-se: “Pecunia non Olet”(o dinheiro não tem cheiro).
Quanto ao caso Marega, discordo consigo. Aquilo foi um acto racista. Os energúmenos – e não interessa que fossem uma minoria - que o insultaram procuraram mostrar-lhe que ele era igual a um símio.