segunda-feira, fevereiro 10, 2020

Estás vendo coisas





Muitas vezes já aqui o disse: ao vivo, sou uma pessoa reservada, sobretudo em relação ao que me diz respeito. Em ambiente social, falo pouco de mim, prefiro prestar atenção aos outros, ouvi-los, saber deles. Apesar de ser bastante assertiva na defesa das minhas convicções, reservo a minha energia para falar do que me interessa e o que me interessa a maior parte das vezes não tem a ver comigo.

Contudo, quando aqui escrevo, é frequente contextualizar as ideias a partir da minha própria experiência. Assim, é frequente evocar memórias ou registar acontecimentos que presenciei ou vivi e só depois partir para o tema em si. Muitas vezes me interrogo sobre o que me leva a fazê-lo. A explicação que me parece mais fácil tem a ver com o facto de apenas aqui escrever tarde e más horas, quando o dia chegou ao fim, frequentemente estando já esgotada e sem grande cabeça para textos elaborados. Usar-me como objecto de escrita é, assim, subterfúgio fácil para quando as mãos têm vontade de escrever e a mente já pede descanso.

Contudo, hoje, ao ler 'O lado negro da mente', de Kerry Daynes -- que é psicóloga forense e consultora do governo britânico para casos de alto risco --, dei com uma justificação que me agrada mais. Transcrevo:
Contar as nossas histórias pessoais, nomear e reconhecer as nossas experiências, é a principal forma como as pessoas dão sentido ao mundo. Para a maioria de nós, isso significa falar com os amigos ou a família; para outros, é a terapia ou o aconselhamento. A premissa mantém-se: através do simples acto de falar, processamos e compreendemo-nos a nós e aos outros. Quando não contamos as nossas histórias, ou não as podemos contar, elas manifestam-se de outras formas. As emoções precisam de uma voz. Sem ela, acabam por se escapar. 

De seguida a autora fala de um outro facto que me parece ser a razão subjacente a muitos dos males deste mundo:
(...) a arte de falar é mais fácil para uns do que para outros. Para rapazes e homens, muitos deles ainda socializados numa multitude de formas destrutivas para dissimular a fraqueza e a dureza dos seus problemas, a ideia de partilhar um profundo sofrimento emocional com alguém continua a ser inconcebível, mesmo no século XXI. Quando somos castigados ou gozados por expressar, ou mesmo, ter sentimentos, iremos tender a esforçar-nos bastante para parecermos fortes e impassíveis. Excepto no que se refere à ira. O condicionamento masculino é mais predisposto a aceitar ira, uma emoção que tem mais que ver com 'fazer' do que com 'sentir'. 

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Tirando isso, e embora avessa a publicidades, só tenho a acrescentar que o creme corporal iogurtado de gengibre é uma maravilha: macio, muito hidratante, com um perfume fresco e picante. Ficou o meu corpo perfumado e ficou o quarto em que eu estava quando o fiz deslizar na minha pele.

Também estou agora a usar, para lavar as mãos, um gel com aroma de gingerbread e devo dizer que me traz alegria. Os miúdos ontem estavam intrigados, diziam que parecia que cheirava a canela. É um cheirinho bom, inusitado e agradável.

Também posso ainda referir que misturando na mesma chávena uma saqueta de chá branco e outra de gengibre se obtém uma infusão preciosa. Ainda hei-de experimentar juntar uma casquinha de laranja e, quando as rosas do jardim da minha mãe florirem, hei-de trazer de lá uma para experimentar juntar uma pétala. Mas, claro, quando puser a pétala de rosa, não ponho a casquinha da laranja para que não anule o perfume da rosa. Ou talvez até tudo junto fique bem. Hei-de experimentar também.

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As duas selfies bem como as fotografias dos prédios vistos de baixo e do apelo à poesia foram feitos este domingo em Lisboa. 


E, para não virar costas ao desafio, aqui vai, pela pena de Maria Teresa Horta, um Poema sobre a recusa:

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus
dedos
se ter formado o afago

Sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado

Minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda

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2 comentários:

  1. Você, ou o que revela da sua personalidade, é um caso curioso do ponto de vista psicológico. Possuidora de características que tanto a podem ajudar na vida, como o contrário. Há um misto de uma certa arrogância, um certo auto-convencimento, um certo narcisismo, uma auto-confiança (e auto-estima) um pouco exagerada, tudo em doses – aparentemente – de algum modo elevadas. Não é defeito, nem deixa de ser. Sintoma de alguma insegurança? De necessidade de afirmação? É curioso como as pessoas acabam por revelar mais à cerca de si, na Blogosfera, do que em convívio com terceiros. Como aliás dá a entender ser esse o seu caso. Há uma certa ousadia, que nos procura transmitir, mas que, ao que julgo perceber, não é uma atitude no tal convívio com terceiros. E o que revela essa ousadia? É verdadeira, ou não propriamente? Há como que uma necessidade, inconsciente (?) de se afirmar, revelar aspetos da sua personalidade. Constata-se também que aprecia que a elogiem, que concordem consigo. Não é defeito. Apenas uma característica da sua personalidade. E depois, a sua reação quando é confrontada, ou contrariada, é igualmente interessante, psicologicamente falando. A impressão que fica, é que há uma certa fragilidade em si. Pela forma como por vezes aborda assuntos, tópicos, questões e reage a comentário, mas, sobretudo e mais importante, como transmite o que pensa sobre determinados aspetos, que coloca, ou releva, ou suscita, nos seus Post. Já, em duas ocasiões, distintas, naquilo que escreveu, ou abordou, pela forma como o fez, uma espécie de necessidade de se afirmar, o que é curioso, mas, ao mesmo tempo deixa algumas interrogações, retirei partes do que escreveu para exemplificar.
    Tomaz F.

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  2. Olá Tomaz F,

    Não sei que lhe diga. Penso que quando lê o que escrevo me imagina deitada no divã e, provavelmente, imagina-se a si, numa cadeira a ouvir-me. E vai recolhendo pistas para ver se consegue perceber que raça é a minha. Mas, se me permite, eu estou mais para veterinários do que para psicólogos ou psiquiatras. É a que a si o vejo confundido sobre se sou convencida ou frágil, se sou carente de aprovação ou se sou ousada. E percebo-o porque nem eu saberia responder-lhe. Mas se fosse um veterinário a observar-me certamente não teria dúvidas: 'pedigree não tem, raça apurada muito menos, trata-se é de um vulgar rafeiro de rua, um cruzamento de muitas raças, bicho habituado a andar por tudo o que é beco e viela, avenida ou beira da praia'.

    Quanto à sua dúvida sobre se a minha maneira de ser me ajuda na vida ou o contrário o que posso dizer é que nem uma coisa nem outra. Se é que me entende.

    Agora de uma coisa pode estar certo: ao ler o que escreveu, ficou-me um gostinho amargo. É que o que escrevo deve mesmo ser desinteressante para que o Tomaz, tal como acontece com vários outros Leitores, se interessem mais por mim do que por aquilo que escrevo. E isso dá-me pena. É que eu sou tão pouco interessante... E se o que escrevo ainda o é menos, bolas, deve mesmo ser uma porcaria...

    Ou isso foi para me deixar ainda mais fragilizada, Tomaz...? Que falta de caridade a sua.

    Mas, olhe, deixe lá. Volte sempre.

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