segunda-feira, janeiro 06, 2020

O futuro está a chegar depressa demais: algumas evidências


A realidade é fractal mas, quando nos aproximamos do que nos é familiar e perdemos a perspectiva do todo em que nos inserimos, esquecemo-nos disso e preocupamo-nos é com os nossos problemas, com os nossos sentimentos, com os looks das colegas, com as jogadas faltosas da equipa adversária ou com os dichotes das estrelas mediáticas sejam elas artistas de telenovela, deputados ou comentadores televisivos.

Acontece também que nos habituámos à fartura de assuntos: hoje é o crime que a televisão propaga, amanhã são as eleições internas numa qualquer agremiação, depois de amanhã é a negligência médica na clínica A ou a agressão à médica no hospital B. 

Se um assunto destes prende as atenções, todos se atiram a ele como cão a osso. Até que o público diz que já chega. Chega-se a um ponto em que não há paciência para um mesmo assunto repetidamente sob os holofotes. Impacientes e sempre ansiando por assunto novo, por novas stories, por novo post, as pessoas facilmente se desinteressam pelos anteriores. 

A futilidade tem vindo a tomar conta de nós. O foco da atenção anda rasteiro e, por isso, tudo rapidamente se torna repetitivo, déjà-vu, uma seca.

Mas, se subirmos na árvore fractal, perceberemos que mais do que a repetição das petites histoires em cada ramo, há uma denominador comum e esse denominador é uma rápida erosão das condições de habitabilidade do planeta. O clima está a alterar-se de uma forma que desestabiliza o equilíbrio do habitat que nos tem assegurado a sobrevivência.

Não é de hoje. Não se chega aqui de um dia para o outro: foi uma trajectória. Ainda é nela que estamos. 

Os baixos custos, a globalização, a competitividade necessária, o consumo como motor de desenvolvimento. Que haja emissão de gases que provocam efeito de estufa, que se degradem e infestem os solos, que se poluam os rios e os mares, que desapareçam espécies e coisas assim são apenas algumas das consequências. 

É este o modelo que conhecemos, é nele que nos sabemos mover. Não somos apenas as vítimas deste modelo: somos os agentes, os responsáveis. 

Mas os efeitos desse modelo no planeta estão à vista. 

E é bom que o percebamos para que tenhamos coragem para abdicar de convicções que julgávamos certas e inabaláveis, para abdicar do conforto em que nos movemos, para abrirmos a mente a diferentes formas de pensar, para sermos capazes de influir na agenda política.

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Inundações com uma gravidade incomum, incêndios que duram meses e que vão alastrando a outras regiões, glaciares a quebrarem e a desaparecerem, tempestades violentas -- este já não é o futuro que temíamos, este já é o presente.

Os vídeos do Guardian que abaixo escolhi são apenas uma amostra






Não há panaceias simples. Que ninguém pense que com medidas avulsas, isoladas, temporárias, se consegue inverter a tendência. Não. Temos que ter a consciência de que é preciso muito, muitas mãos, muitas medidas, muita criatividade, muita inteligência, muita coragem, muito despojamento para se conseguir travar o vendaval, o fogo, o degelo, o dilúvio. 

Mas há gestos que, não sendo a panaceia, são isso mesmo: um gesto. Um gesto bom. Plantar árvores. As árvores certas, nos sítios certos.


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Usei imagens de fractais que encontrei na net sem conseguir identificar a sua autoria

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Até já

5 comentários:

  1. Mesmo! As árvores certas nos sítios certos e da maneira certa (https://www.independent.co.uk/voices/planting-trees-climate-crisis-environment-a9207086.html).

    Um gesto simples: quando em Novembro do próximo ano passarmos por debaixo de um imponente sobreiro ou Carvalho, apanhemos umas bolotas e deixemos-as repousar no frigorífico, dentro de um saquinho, com um bocadinho de terra meio húmida. Em Fevereiro, procuremos um terreno em abandono, de preferência anteriormente ocupado por uma atividade produtiva qualquer. Enterremos as bolotas.

    De resto, as iniciativas habituais de plantação de árvores, no máximo, servem propósitos de educação ambiental; podendo até ser até bem nefastas, como se sublinhar ali em cima!

    Um abraço! Boa semana.

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  2. Olá Paulo, de novo,

    Eu já tenho o meu cantinho de paraíso -- e não me refiro a ter feito uma boa acção e, por isso, estar a contar que, depois de ir desta para melhor, tenha um lugar à minha espera no céu.

    Havia de ver como era o terreno da nossa casa no campo quando para lá fomos: só mato rasteiro e pedras. Agora é quase um bosque. Árvore a árvore plantada. E também desbastar as que foram nascendo como pequenos arbustos. E as árvores chamaram os pássaros e ali agora tudo medra de uma maneira que dá gosto.

    Mas começámos por plantar choupos que morreram todos. Comecei por pensar que aquilo podia ser um grande jardim. Disparate. Há que respeitar os lugares.

    É das grandes felicidades desta vida: ouvirmos os pássaros a cantar numa árvore plantada por nós, uma árvore pequena, de palmo, cujo crescimento acompanhámos com desvelos de mãe.

    Abraço, Paulo! E uma grande semana.



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    1. Uma maravilha o que fez (e faz). E assim sim, tem um belo jardim.
      Não imagina as horas que passo simplesmente a ouvir e ver os pássaros, a apreciar a paisagem e respirar todos aqueles perfumes (mesmo eu, com um olfacto péssimo).

      Uma boa semana, aqui com uma banda sonora para acompanhar (o filme - sci-fi - acho-o razoável, mas não extraordinário... já da banda sonora, gosto muito!)
      https://youtu.be/RTFFmH85y5A

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  3. Olá Paulo,

    Porque diz que tem um olfacto péssimo? Passa a vida a desvalorizar-se... agora até o olfacto... Não acredito. Quem gosta de sentir os perfumes da natureza tem um bom olfacto. É tão bom estar no campo, simplesmente a sentir a maravilha dos sons, das cores, dos perfumes.

    E muito obrigada pela bela música.

    Dias felizes para si, Paulo.

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    1. Verdade. Tenho problemas alérgicos e um desvio pronunciado do cepto, que me prejudica muito o olfacto (e o paladar).
      Mas a explosão de perfumes na natureza é tão intensa que até eu tiro grande prazer de tal fenómeno!

      Abraço,

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