Dia feliz. Dormimos bem. Acordámos cedo mas não absurdamente cedo. Claro que, por essa altura, já o avô estava de volta das suas incursões madrugadoras e, portanto, foi ele que preparou o pequeno almoço para os meninos. Mexeu ovos, comeram pão com manteiga e beberam leite. No fim, o avô perguntou-lhes se queriam frango ao que ambos logo quiseram pelo que cada um comeu uma asa de frango. A mãe quando soube ficou escandalizada.
[O jantar de sexta-feira foi frango no churrasco, não confeccionado em casa mas adquirido. Tendo eu trabalhado, não teria tido tempo de ir às compras e cozinhado a tempo de o repasto estar pronto quando os comensais se apresentassem. Mas, apesar de os mais pequenos comerem como lobos, comprámos demais e sobrou bastante].
Mas, então depois do pequeno-almoço, fomos todos às compras.
Para o almoço, uma vez mais, resolvemos simplificar. Não vi como ir ao supermercado, cozinhar, ir às compras e estar tudo a postos quando chegasse a hora de almoço e se nos juntasse o resto da turma. Por isso, fomos buscar a um restaurante que vende comida para fora.
Quando enviei a fotografia da ementa por sms ao meu filho e lhe liguei para saber o que queriam, até pensou que tivesse acontecido alguma coisa. Desde que nasceu que sabe que a minha onda é fazer tachos, panelas, tabuleiros a transbordar de comida e não de a comprar feita. Mas hoje teria sido impossível.
Portanto, foi isso. Um descanso. Até me soube bem. E a eles também que voltaram todos a fazer jus ao seu proverbial apetite.
Ainda me lembro de como eu era quando os meus filhos eram bebés ou pequeninos. O meu filho sempre foi um belo garfo. Fez um short cut entre a fase de mamar e a de comer de tudo. Odiava biberão e as papas davam-lhe vómitos. Nem o cheiro do cerelac ou do nestum ele suportava. Queria era comida de adulto. Um desatino. Para conseguir que ele bebesse leite, tinha que lhe dar o biberão quando estivesse ferrado no sono. Desse-lhe peixe frito com arroz de tomate e nem a pele do peixe ele queria que eu deixasse de lado: um entusiasmo. Ainda me lembro de uma indigestão que arranjou, devia ter um ano e tal, com o leitão da Bairrada que devorava. Estávamos de férias na Curia e queria lá ele sopinhas moídas ou comida de bebé. Qual quê. Quase se atirava em voo picado para as travessas de leitão, incluindo a pele estaladiça e respectivas batatas fritas. Se eu tentava impedi-lo, chorava furioso como se eu estivesse a privá-lo de se alimentar. Enfim. A minha filha era o contrário. Não gostava de comer. Era picuinhas, nunca tinha apetite, era super vagarosa, qualquer coisinha que achasse suspeita ou diferente do habitual rejeitava. Ainda é um bocado assim, excepto se for coisa que lhe agrade mesmo. Eu insistia, queria que ela comesse mais, distraía-a a ver se conseguia enfiar-lhe mais algumas colheradas à sorrelfa. Hoje percebo como tudo isso era disparatado.
Vejo como são os meus filhos: se os filhos não querem comer, não comem. Pelo contrário, ralham é se os vêem a comer demais. Talvez por isso, as crianças comem de tudo e comem de gosto.
Bem.
A seguir, ao almoço começou o forrobodó, tudo no maior chinfrim. Para ver se se mantinham sossegados, tive a ideia de fazerem o Got Talent ou The Voice. E foi uma festa. Uns foram para os quartos para ensaiarem. Os dois rapazinhos do meio resolveram compor as suas canções. O mais novo (o mais novo, não contando com o bebé) cantou uma canção interminável, cheia de sentimento, bem puxada à emoção. Canta bem e gosta de actuar. Enquanto isso, o bebé cantava ainda mais gritadamente e mais emocionadamente, quase abafando o canto do mano grande. O outro, aquele que é, em absoluto, um boa onda, cantou uma canção triste com uns meninos infelizes que tinham uns pais que não tinham trabalho. Uma coisa surpreendente. A menina, toda star, cantou o Trevo do Diogo Piçarra mas numa versão brasileira (e ficaram admirados de eu não conhecer pois, pelos vistos, é coisa bem conhecida, pelo menos na faixa etária dos sete aos onze anos) e ficou contente por ver que a ouvíamos com atenção. A seguir foi o mais velho. Mais crescido, com alguma timidez por ver os estarolas dos concorrentes e os adultos em volta na assistência, de cada vez que ia começar, desatava a rir. E eu com ele. Cantou o 'Vejam bem'. Pôs-se a cantar baixinho e, então, o avô desatou a cantar alto e bom som, quase o inibindo. Teve, então, que optar por uma canção em que o avô não competisse por ele. A seguir foi a votação mas, milagre dos milagres, empataram todos. Queriam, a seguir, desempatar mas, nessa altura, achámos que estava era na hora de irmos para a rua.
A seguir, ao almoço começou o forrobodó, tudo no maior chinfrim. Para ver se se mantinham sossegados, tive a ideia de fazerem o Got Talent ou The Voice. E foi uma festa. Uns foram para os quartos para ensaiarem. Os dois rapazinhos do meio resolveram compor as suas canções. O mais novo (o mais novo, não contando com o bebé) cantou uma canção interminável, cheia de sentimento, bem puxada à emoção. Canta bem e gosta de actuar. Enquanto isso, o bebé cantava ainda mais gritadamente e mais emocionadamente, quase abafando o canto do mano grande. O outro, aquele que é, em absoluto, um boa onda, cantou uma canção triste com uns meninos infelizes que tinham uns pais que não tinham trabalho. Uma coisa surpreendente. A menina, toda star, cantou o Trevo do Diogo Piçarra mas numa versão brasileira (e ficaram admirados de eu não conhecer pois, pelos vistos, é coisa bem conhecida, pelo menos na faixa etária dos sete aos onze anos) e ficou contente por ver que a ouvíamos com atenção. A seguir foi o mais velho. Mais crescido, com alguma timidez por ver os estarolas dos concorrentes e os adultos em volta na assistência, de cada vez que ia começar, desatava a rir. E eu com ele. Cantou o 'Vejam bem'. Pôs-se a cantar baixinho e, então, o avô desatou a cantar alto e bom som, quase o inibindo. Teve, então, que optar por uma canção em que o avô não competisse por ele. A seguir foi a votação mas, milagre dos milagres, empataram todos. Queriam, a seguir, desempatar mas, nessa altura, achámos que estava era na hora de irmos para a rua.
O ar estava saturado de tanta humidade mas não estava nem muito vento nem chovia. Portanto, ala que em casa, fechados, a coisa fica ingerível. E então andaram a caçar tesouros, andaram de carrossel, andaram a comer fatias douradas e pão quente e eu comi uma coisa que adoro, uma azevia com recheio de grão. Já mais para o fim da tarde regressámos a casa. Nessa altura o bebé foi para casa com os pais para ver se dormia a sesta. Mas alguns dos outros, especialmente a menininha, também já davam sinais de rabugice. Tinham tido, na véspera, um jantar com os tios e tias do lado da mãe e respectivos primos pelo que tinham estado a pé até à meia-noite, tendo depois acordado às oito da manhã. Por isso, perto das oito da noite já estavam na implicância uns com os outros.
O jantar foi outra vez tercearizado. Mandámos vir pizzas feitas em forninho de lenha, pizzas das boas. E fiz outra coisa: numa frigideira, um fio de azeite, cebola ripadinha e salsa cortadinha. Alourou e amoleceu lentamente, depois juntei frango (do frango assado da véspera) cortado aos bocadinhos. A seguir juntei ovos e fui envolvendo até estar com aspecto de ovinhos mexidos. Acompanhado com arroz branco. E salada de tomate.
Entretanto, o bebé já tinha regressado mas os pais foram jantar com amigos.
E foi o jantar e foi o apetite geral e a alegria de sempre. No fim, o bebé veio ter comigo: 'Há geado?'. Ao princípio não percebi: 'Geado?' e ele, 'Sim, geado. Ali' e apontou para o frigorífico. Havia gelado, sim senhor.
E foi o jantar e foi o apetite geral e a alegria de sempre. No fim, o bebé veio ter comigo: 'Há geado?'. Ao princípio não percebi: 'Geado?' e ele, 'Sim, geado. Ali' e apontou para o frigorífico. Havia gelado, sim senhor.
De volta à sala, já todos arrebitados e bem dispostos, foi a galhofa e a brincadeira. Primeiro estiveram a fazer de conta que iam operar um deles: anestesista, cirurgião, enfermeiro. Tirar o apêndice. O mais crescido dizia: pinça, bisturi, agulha; e o bebé ia passando um pauzinho não sei de quê, o martelinho do xilofone, uma caneta. O mais crescido prosseguia: uma cana de pesca. O bebé passava a coisa de apagar velas. O mais crescido dizia: boa, já apanhei um robalo. A seguir veio outro que ficou a agarrar a cabeça do paciente. Iam pôr-lhe uma bochecha robot. E vá de anestesia. O que me rio a ouvir as maluqueiras deles.
Pelo meio, eles próprios rebolavam, riam.
Por fim, a cirurgia já tinha virado wrestling com os quatro rapazinhos nas lutas amalucadas, a voarem uns sobre os outros.
A menina estava com a tia nos penteados, na manicura, nas massagens. Estiveram também a ver recordações que a tia guardava em caixinhas e que sempre preservei intactas, tal como ela cá as deixou, nomeadamente um vestido de noiva para a Barbie que a minha mãe fez como se fosse um vestido a sério, em seda e tule, uma verdadeira obra de arte.
Nessa altura, a ver se os rapazes se acalmavam, lembrei-me de brincarem às adivinhas.
Nessa altura já o avô estava deitado no seu sofá a ver televisão, razoavelmente conformado à impossibilidade de se manter a ordem.
Aderiram mas não a adivinhas ditas mas por mímica. Nessas coisas, a minha filha brinca com eles como uma igual e foi uma risota, uma diversão. Coisas engraçadas, coisas inesperadas, coisas com muito sentido de amor. Por exemplo, o mais crescido (onze anos) pôs-se a teclar. Os outros: pianista!, informático!, escritor! e ele: Não. Um dirigente do Benfica a enviar mails. Pimbas. Palavra de sportinguista.
E assim foi até que os que tinham ido jantar fora chegaram. Fiquei na sala a ver se descobria uma meia do paciente que tinha estado a ser operado pois andava com um pé à vista. Lá achei. E em menos de um par de minutos todos se vestiram, despediram, beijinhos e até daqui por poucos dias.
Agora a casa está quase arrumada e silenciosa. Estou a ouvir a Katie Melua a cantar canções natalícias.
Hoje de manhã, encontrei uma senhora que conheço que me disse que, pelo Natal, cá em casa deve ser uma alegria, uma casa cheia. Depois corrigiu: no Natal e sem ser no Natal. É verdade: tenho a sorte de ser muitas vezes, de ser Natal muitas vezes por ano. E tenho a sorte de todos gostarem uns dos outros -- que é o que mais me enche de felicidade -- e de gostarem de estar juntos, cá em casa.
Hoje de manhã, encontrei uma senhora que conheço que me disse que, pelo Natal, cá em casa deve ser uma alegria, uma casa cheia. Depois corrigiu: no Natal e sem ser no Natal. É verdade: tenho a sorte de ser muitas vezes, de ser Natal muitas vezes por ano. E tenho a sorte de todos gostarem uns dos outros -- que é o que mais me enche de felicidade -- e de gostarem de estar juntos, cá em casa.
Já passa bem da uma da manhã e o meu marido já se foi deitar. E eu para lá caminho.
Conforme ontem tinha dito que ia tentar, juntei aqui, para vos mostrar, algumas fotografias das minhas decorações natalícias. Como se vê, é tudo muito pouco elaborado: meia bola e força. Gosto de luzinhas, gosto de motivos simples, coisas que num instante se disponham e que, no fim das festas, rapidamente se recolham.
E já é domingo e, uma vez mais, não vi televisão nem sei de notícias ou temáticas relevantes para o futuro da humanidade. Mas, para dizer a verdade, não me fez muita falta. Terei tempo de saber a quantas ando até porque o que é mesmo importante vive dentro de mim, num cantinho do meu coração.
Conforme ontem tinha dito que ia tentar, juntei aqui, para vos mostrar, algumas fotografias das minhas decorações natalícias. Como se vê, é tudo muito pouco elaborado: meia bola e força. Gosto de luzinhas, gosto de motivos simples, coisas que num instante se disponham e que, no fim das festas, rapidamente se recolham.
E já é domingo e, uma vez mais, não vi televisão nem sei de notícias ou temáticas relevantes para o futuro da humanidade. Mas, para dizer a verdade, não me fez muita falta. Terei tempo de saber a quantas ando até porque o que é mesmo importante vive dentro de mim, num cantinho do meu coração.
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E, por ora, nada mais.
A todos desejo um belo dia de domingo.
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