Há um blog que leio com a admiração com que contemplo as montras Hermès. Nem uma peça a menos nem uma a mais, nem convencional nem provocador, nem pretencioso nem simples. Belo, perfeito, sofisticado.
Há um blog que sabe surpreender-me, que me surpreende sempre positivamente, que tem um toque de sofisticação e bom gosto, que revela uma inspiração feita de mãos na terra, de corpo lavado pela chuva, de palavras certeiras e bem cerzidas, de toadas poéticas que aparecem não se sabe bem de onde.
Há um blog que é feito com punhos nas palavras, que vai à jugular, que tem ilustrações de uma qualidade e oportunidade que causam espanto, tiros sempre na mouche.
Há um blog que não deixa passar uma em branco, que revela um espírito matemático, que é rigoroso, crítico, inteligente, culto, bem escrito e onde se dizem coisas com as quais geralmente me identifico.
Há um blog que é uma janela aberta para o mundo, uma arca de tesouros, uma fonte de ensinamentos. Aparentemente sempre neutro, de vez em quando toma posição e, então, a gente percebe que é para levar mesmo muito a sério.
Há um blog que é uma janela aberta para o mundo, uma arca de tesouros, uma fonte de ensinamentos. Aparentemente sempre neutro, de vez em quando toma posição e, então, a gente percebe que é para levar mesmo muito a sério.
Há um blog que volta e meia fica em pousio e que por vezes até me arrelia por ser tão intransigente, tão mau, tão bruto. Mas gosto, apesar disso. É rigoroso com a língua portuguesa, é rigoroso em geral. Pena é que não saiba temperar com alguma fleuma. Mas, vá, desculpo-o. E gosto.
Há um que anda desaparecido. Um de que gosto tanto. Gosto de quando fala do mar, de quando fala da montanha, de quando fala da terra, de quando fala de livros, de quando fala da vida em geral. Por onde anda ele?
Há um que hospeda muita gente, todos diferentes, todos com voz muito própria, todos gente muito livre, e onde pontua a fogosa e irreverente dona do pedaço que é a alma e a graça da casa.
Há um que raramente é actualizado, que provoca, que por vezes parece vulgar mas que acho inteligente, malicioso, insolente, e que, por isso e por outras coisas, me agrada.
Há um que é actualizado várias vezes por dia e que é de uma tal franqueza, de uma tal criatividade, de uma tal inocência e que revela uma tal boa maneira de ser que acho um caso à parte. O caso da blogosfera.
Há um que anda pouco produtivo mas que é o blog de um homem bom, um homem que gosta de livros.
Há um que é escrito com o coração à flor da pele, com raiva nos dedos, que denuncia sem papas na língua, que escreve quase dizendo o que penso.
Há um que tem graça, tem leveza, tem bom humor, tem an eye for details, é boa onda. Uma boa companhia.
Há um que conheci há pouco tempo mas de que gosto muito, escrito por uma mulher que é mulher por dentro e por fora e que escreve bem, sobre coisas que reconheço e que, talvez por isso, vou ler sempre com simpatia.
Há um que é actualizado apenas quando o rei faz anos e que, quando escreve, escreve, escreve, escreve. Mas que escreve como um príncipe, como um arruaceiro, como um libertino e, por isso, me faz estar sempre à espera que o rei faça mais vezes anos.
Há um que anda bissexto, que gosta de provocar, que é um permanente piscar de olho ao público, em especial ao feminino, que finge que se arma em bom, que diz disparates insuportáveis mas que escreve bem e revela inteligência e a quem, por isso, perdoo tanta parvoíce.
Há um que é feito de pequenos postais, de pequenas histórias, de insólitas rêveries, e que me dá sempre vontade de ir lá dizer que já chega, que está na altura de se deixar disso, que estou à espera de um texto a sério. Ou será que os textos escritos a sério, quando aparecem, é numa outra morada?
Há um blog de que tenho saudades. Que será feito dela? Estará bem, a sua autora?
Há outro de que, apesar de tudo, tenho muitas saudades. Muitas. Não devia. Mas tenho.
E, claro, há muitos outros de que aqui, agora, não falo apenas porque o dia tem uma hora a mais mas já a consumi toda.
Mas em relação a todos me sinto agradecida porque gosto de os ler, porque me trazem novidades, diferentes maneiras de ver, porque me divertem, me provocam, me despertam para outros mundos, me desafiam, me ajudam a ser mais outra, me ajudam a ser esta que aqui têm.
Mas em relação a todos me sinto agradecida porque gosto de os ler, porque me trazem novidades, diferentes maneiras de ver, porque me divertem, me provocam, me despertam para outros mundos, me desafiam, me ajudam a ser mais outra, me ajudam a ser esta que aqui têm.
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As fotografias deste post bem como a que encima o blog são de Nick Knight.
E uma vez mais June Tabor interpreta uma das minhas canções de eleição: Lili Marleen
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Estive a tentar descobrir que blogues são, em vão :( seria possível colocar links?
ResponderEliminarHá (aqui) um blog de escrita fluída e viva, que jorra fresca como uma nascente de água, onde gosto de beber palavras, ideias, sentimentos. Um diário de vida, apimentado de crítica saudável e toques de humor, iluminado de belas imagens e embalado por boa música e onde se descobre sempre algo novo.
ResponderEliminar:)
Penso que reconheci ‘Duas ou três coisas’, ‘Âncoras e nefelibatas’, ausente de forma preocupante dado o seu último post, e talvez ‘Arpose’. Mas há mistérios que devem ficar isso mesmo.
ResponderEliminarOlá Redonda,
ResponderEliminarPois... costumo aceder aos pedidos dos Leitores mas, desta vez, perdora-me-á mas não... Não posso. A opinião que se forma de alguma coisa é pessoal e eu não quero influenciar ninguém. Nem quero melindrar quem quer que seja. Eu, lendo o que escrevi, acho que que é mesmo aquilo e que dá para perceber mas, se não dá, ainda bem.
Sorry, Redonda, não leve a mal.
Abraço.
Oh, Luísa, palavras tão boas de serem lidas, que bem me souberam, que simpatia a sua. Muito obrigada, Luísa. E claro que o seu blog é um dos que ali refiro.
ResponderEliminarUm abraço!
Olá AV,
ResponderEliminarÉ isso aí. E agora deixo à sua interpretação saber o que é que quero dizer com 'é isso aí', se tem a ver com os seus palpites, se tem a ver com o que diz de os mistérios deverem permanecer mistérios.
Obrigada pela sua compreensão.
Uma boa semana, AV!
Também não reconheci nenhum...e não reconheci aqui o Arpose ( como sugere a AV ) que é um dos que visito com regularidade (e de que gosto muito).
ResponderEliminarTal como a Redonda, também gostava de saber quem é quem, pois alguns parecem bem interessantes...mas pronto, não revela...
Beijinhos e uma boa semana:))
Olá Isabel...
ResponderEliminarNeste caso não me deixo convencer... gostava de fazer-lhe a vontade, percebo a curiosidade... mas não. Um dia destes volto à carga mas de uma outra maneira, talvez completamente explícita, com os links. Ou, então, não. Talvez um ainda mais misterioso, imaginando quem são os autores.
Beijinho, Chabeli. Um dia feliz!
Se eu lesse outros blogs também teria curiosidade em identificar os visados... mas como o umjeitomanso é caso único, descoberto por acaso, ponto de retorno por agrado, não há motivo para tentar o choradinho. Mas gostei de ler as descrições: faz gosto imaginar o tipo de espaços que serão. É bom saber que bons lugares, boas ideias, boas histórias, boas companhias, boas pessoas, boas palavras.
ResponderEliminarUm abraço,
JV
Acho que o gajo que escrevia aquele último blog que mencionou morreu. Espero que não, mas tenho esse pressentimento.
ResponderEliminarOlá JV
ResponderEliminarTem razão. São portos de abrigo, locais de passeio, bosques perfumados, parques de diversão, oratórios, púlpito onde se anunciam rebeliões. No intervalo do trânsito ou quando aporto aqui à noite, volto a eles. E eu estou grata aos seus autores por me acompanharem ao longo dos dias.
Abraço, JV! E não há mais poemas...?
Olá Anónimo,
ResponderEliminarAcha? Olhe que não, olhe que não. Se tivesse morrido, como é que o comentário ao qual estou a responder teria aparecido escrito, não me diz?
;)
Na sombra da noite
ResponderEliminarSobe a rua e vê
Um vulto na sombra
Da luz amarela
Salpicos de líquido que fluoresce.
Lá em cima
No cume escuro
Perde o medo:
Sabe que na sombra da noite
Não há gente, ouve-se a prece.
Um abraço!
JV
Não sou um entendido, mas gostei JV! O anterior então... confesso... Muito interessante. Se tiver por aí um blog onde vai depositando, partilhe.
EliminarCp,
Obrigada, Paulo. Não tenho blog, nem depósito de poemas! Quem sabe um dia...
EliminarAbraço,
JV
Olá JV!
ResponderEliminarE eu que nunca desconfiei que havia aí uma alma de poeta. E ousada. Acho sempre que é preciso coragem para ousar a poesia. Ainda por cima pessoas que conhecem a boa literatura, a boa poesia. E a JV ousa. E é bonito. Imagino um lobo silencioso no cume, como que rezando, chamando as poetas ousadas. E a ideia agrada-me e acho que liga bem consigo.
E o poema é fresquinho, nasceu para o comentário, ou estava no cofre?
JV, já lhe disse: mulheres que lêem são perigosas, mulheres que escrevem muito mais e se escreverem poesia, então, nem se fala.
Abraço!
Agradeço-lhe as aplavras, UJM. Fico feliz por ter apreciado a ideia, seja ela qual for! Este saiu fresquinho. Tinha há tempos rabiscado um dos versos e lembrei-me de lhe pegar. Também nunca me imaginei (nem imagino) poeta. Isto é coisa mais recente, que me tem dado para rabiscar umas palavras soltas, umas ideias repentinas, para depois talvez voltar a elas. Atribuo ao excesso de cansaço dos meus dias atuais: a cabeça pede distração, revolta-se contra a repetição dos dias, pensa coisas tontas, ideias fora de enquadramento... E quem sou eu para não fazer a vontade a uma pobre cabeça cansada? ;)
EliminarAbraço,
JV
Pois saiba, JV, que nada melhor do que uma cabeça cansada. Não há freios, auto-censura, sai em bruto, sai sem filtro.
ResponderEliminarQuando a cabeça lhe pedir que deixe sair as palavras, aproveite e deixe-as seguir o seu caminho e, uma vez elas a verem a luz do dia, deixe-as ficar. Guarde-as. Ou divulgue-as.
Gosto delas.
Abraço, JV!