Este ano, as minhas férias foram muito boas e descansadas (noc-noc-noc, já bati três vezes na madeira para que assim permaneçam, apesar de já terem acabado).
Ao contrário das férias de há dois anos em que passámos o tempo todo a caminho de hospitais, um hospital a cinquenta quilómetros do outro, dois internados mal, mal ao mesmo tempo, e ora piorava um, ora piorava outro, até que um teve alta e o outro piorou e depois o que teve alta piorou e voltou ao hospital para, poucos dias depois, piorar definitivamente e se ir e o outro ir para casa com alta mas cada vez mais debilitado. E, como se fosse pouco, logo depois, creio que no dia em que o que morreu (mais concretamente, a que morreu) se enterrou, soubemos que um primo do primo, rapaz mais novo que nós e saudável como um pêro do campo, tinha ido desta para melhor sem que nada o fizesse prever, deixando-nos atarantados, sem conseguirmos perceber, sem querermos acreditar.
No outro dia, por mail, falei numa amiga que morreu no início deste ano e que me deixou abalada, até porque foi a primeira que se foi. Dizia eu que, até aqui, era geralmente avós, tios, sogros, gente mais velha, os que estavam na linha da frente. Mas, afinal, não foi a primeira, não. O primeiro foi este que, incompreensivelmente, se foi no verão de há dois anos. Ainda hoje nos parece mentira.
Mas nada disto vem ao caso. O que vem é que, este ano, tive umas férias 'grandes' tranquilas e, portanto, descansei. Vim com o corpo descansado. E não sei se acumulei descanso a mais ou se foi o organismo que não se adaptou ao ritmo do dia-a-dia ou se é que aterrei num período carregado, carregado de trabalho, ou se, de repente, se conjugaram vários projectos disruptivos e que exigem bastante de mim -- o que sei é que, nos primeiros dias da rentrée, tive uma espertina desgraçada. E, mesmo tendo, ao fim de alguns dias, quase normalizado, ainda me acontece, de vez em quando, ir para a cama perdida de sono mas, uma vez deitada, espertar e ficar às voltas ou, outras vezes, acordar a meio da noite e está bem, está, voltar a dormir é o voltas, ou, mais chato ainda, acordar mais cedo do que devia e, claro, ver que já não vai dar tempo e, toda chateada, já não conseguir adormecer. E sonho. Sonhos nos quais acordo e que me deixam a pensar neles. Sonhos bizarros. Eu não preciso de dormir muitas horas durante a semana -- até porque tento repor ao fim de semana -- mas preciso que sejam horas seguidas, de penalti e de género apagão. E esta moda nova, de agora andar com dificuldade em dormir descansadamente durante as (poucas) horas que estou na cama, anda a maçar-me. Nunca me tinha acontecido.
Foi, pois, com curiosidade que li no Madame le Figaro: Ce que vous devriez faire pour vous rendormir après un réveil en pleine nuit.
E porque pode ser útil a alguma das pessoas que, por aqui, me acompanha, vou partilhar algumas dicas.
Foi, pois, com curiosidade que li no Madame le Figaro: Ce que vous devriez faire pour vous rendormir après un réveil en pleine nuit.
E porque pode ser útil a alguma das pessoas que, por aqui, me acompanha, vou partilhar algumas dicas.
1. Não ver as horas. Ver as horas faz com que calculemos as horas que faltam até nos levantarmos e isso aumenta o stress. Nem ter à vista despertadores, visores de telemóvel, etc. Aliás, dizem que uma hora antes de se ir para a cama já não deveria haver telemóveis ou computadores ligados a despertar a nossa atenção.
2. Ao longo dos exercícios respiratórios que se seguem, manter sempre a língua encostada ao céu da boca, tocando na parte interior dos incisivos. Respirar segundo o ritmo 4-7-8. Contar até 4 enquanto inspira pelo nariz, contar até 7 enquanto retém a respiração, contar até 8 enquanto expira pela boca. Ao fim de pouco tempo, o corpo deverá sentir já algum torpor.
3. Se o sono não chega, encaminhe-o para tal. Pense que o corpo está pesado, enterrado no colchão. A cabeça, as costas, as coxas. Pense no corpo, sinta-o pesado. Provavelmente, entretanto, adormece.
4. Coloque-se na posição que lhe for mais confortável. Se lhe der jeito, balance levemente, quase como se estivesse no útero materno. Balancé, balancé, balancé. Devagarinho. Deixe-se acalmar. Tranquilize-se.
5. Se nada disto funciona, levante-se, beba um copo de água ou uma infusão leve (sem cafeína), leia um bom livro. Não mais do que vinte minutos. Não se esqueça: não veja as horas, não espreite o telemóvel. Volte para a cama e durma. Durma um sono descansado. Durma nos braços de alguém: de um amado, de um anjo da guarda, de um sonho.
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Anda, Sergei, voa,
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Pinturas de Marie Fox (a primeira e a terceira), Pino Daeni (a segunda), Władysław Ślewiński (a quarta) e Alexej von Jawlensky (a última) -- tudo com mulheres a dormir -- ao som das folhas de Outono pela voz de Angelina Jordan, a menina cuja voz anda sempre carregada de blues. Prezo muito o valor das pessoas de valor mesmo quando são menores. No fim, o belo Sergei Polunin voa como se o mundo fosse durar para sempre e eu olho para ele com vontade de que a parte bela do 'sempre' caiba toda dentro dos meus efémeros instantes.
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E uma boa terça-feira. Be happy.
6 - Ataraxia é imanente, mas encontra-se oculta por denso artifício.
ResponderEliminar7 - Dia e noite, morte e vida, vigília e sono, ordem e caos: a aceitação desinteressada dos ciclos universais traz consigo nenhum erro.
8 - Muito embora as inúmeras palavras e os labores empreendidos, o telos da humanidade não pode ser outro senão o que é, e nenhum ser humano tornar-se naquilo que não é.
Lather, rinse, repeat until slumber reach.
Felizmente não faço a mínima ideia do que sejam insónias, aliás os momentos em que há coisas da vida que teoricamente tirariam o sono são aqueles em que este se torna mais fácil.
ResponderEliminarPor falar no seu malogrado amigo, recomendo esta interessante entrevista com o Prof. Vaz Carneiro:
https://ionline.sapo.pt/artigo/652775/-a-homeopatia-e-totalmente-inaceitavel-sao-copos-de-agua-a-ciquenta-euros-?seccao=Portugal&fbclid=IwAR3K2g1jOdUxAmI-O6s0Gleir36afoAVyR5bMdmy_RnVvIldfkBwys1w5Cg
Um belíssimo dia.
Sofro desse mal. Até hoje, nunca de forma paralizante - o que já teria sido de mim! Mas há dias em que é complicado, depois de uma noite muito mal dormida. Mas acho até pecado uma pessoa ir para a cama e adormecer sem sequer se lembrar dos maus comportamentos que poderia ter evitado durante o dia. Aquela história do "sono dos justos" é balelas. Como se não houvesse tanta gente egocêntrica que, por não querer saber dos outros, dorme que nem patinho descansadinho da sua vida desde que os problemas não o atinjam a si. Pessoas demasiado satisfeitas consigo próprias são um perigo. Imaginem o mal que deve dormir o Trump: upa, upa, nem dorme a pensar nos refugiados! Sinceramente, prefiro a insónia.
ResponderEliminarUm abraço,
JV
Pois eu quando tenho mais preocupações em mente é quando o sono se manifesta mais cedo, posso também acordar com mais frequência, mas enquanto não for hora de levantar o dito cujo faz logo o seu serviço.
EliminarAbraço.
Pois acredito. O meu comentário era meio irónico. E, lá está, longe de pretender abranger todas as realidades. Basta pensar nas pessoas com depressão, por exemplo, muitas delas têm fases em que dormem imenso (outras, como conheço, estão sempre nessa fase) e não é por não terem macaquinhos na cabeça...! Eu quando falo ponho o pecado a meio da conversa, católica que não sou, há de ser porque a conversa tem tanto de sério como de pouco sério. ;)
EliminarAbraço,
JV
9 - Dançar - apaziguar a mente, deixando o corpo submeter-se ao som - só ou acompanhada.
ResponderEliminarEu percebi, claro, JV.
ResponderEliminarE achei imensa piada a essa do pecado, olhe que eu católico que sou não me preocupo muito com ele.
Abraço.