Porque penso que os exemplos de quem consegue lidar com os seus estados de ansiedade e de quem consegue ultrapassar as crises depressivas são relevantes, partilho o vídeo no qual a modelo Cara Delevingne fala da sua experiência de depressão e ansiedade.
E porque neste tipo de doenças -- que ainda se encontram envoltas em tabus e que envergonham ou assustam quem as sofre -- é importante que se perceba que há mais quem tenha passado por isso e que ajuda falar, pedir apoio, procurar tratamento, deixo o link para um artigo em que se fala de 30 pessoas famosas que já passaram por elas. E ponho o link para este artigo porque este tipo de pessoas costuma ser visto como se sempre rodeadas de brilho e glamour e, afinal, sofrem dos mesmos problemas que toda a gente.
Hugh Laurie, o Dr. House, 'herdou' a depressão da mãe e começou a ser depressivo na adolescência (aspecto para o qual a Luísa tem chamado a minha atenção) |
Mas se conhecesse outros casos, de gente anónima, que me parecessem ser também um bom exemplo, também deles me faria eco.
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A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e o psicólogo Alex Rocha falam de
Depressão - mitos e verdades
E aqui falam de Suicídio
(e falar nisto, segundo leio e ouço, nomeadamente neste vídeo, pode ajuda a evitá-lo)
Falemos -- sem vergonha, sem culpas
(como refere a Isabel Pires)
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E a todos desejo um dia muito bom.
Bom dia Ujm,
ResponderEliminarLi tudo o que por aqui se escreveu estes dias. Tudo certo. Tudo sentido. Mas talvez estejamos a ver a doença pelo lado errado. Talvez o objectivo não deva ser curá-la mas sim encontrar nela uma razão e com isso conseguir ultrapassar as dificuldades da vida. A personalidade, o carácter e a doença mental confundem-se, faz tudo parte do que somos. Sem os grandes doentes mentais que existiram ao longo da história não teríamos arte, filosofia, religião, ciências, inovação... sem as depressões talvez não tivéssemos gente a dar a volta à vida. É perigoso pensar que tudo tem tratamento, corremos o risco de ficar todos iguais. É a vida, é a diversidade da vida. No que tem de bom, de mau, de riso e tristeza. Talvez alguns de nós tenham uma característica mais acentuada. Talvez alguns fiquem com toda a tristeza e outros com toda a vontade e outros com toda a racionalidade e outros com toda a loucura, mas foi esta diversidade que nos fez humanos. Talvez seja algo do qual devemos ter orgulho, de carregarmos com os extremos da safra, talvez com esse orgulho se viva mais do que com a vontade de ser igual aos outros.
Um abraço para todos. Espero que não me interpretem mal, mas se o fizerem tenham em conta que também eu sou louca, ou como se dizia antigamente santa, ou bruxa, ou como se diz hoje em dia esquizofrénica. :-) Rita
Não deixa de ter razão, Rita e por mim podem e devem andar todos por ai. A questão é que o que nos separa em termos ontológicos dos primórdios é exatamente essa possibilidade de não vivermos em estado de tensão permanente que implica um grande sofrimento e causa muito a todos os que estão à sua volta.
ResponderEliminarA questão põe-se exatamente aqui: viver em alerta permanente como se todos fossem inimigos como se tivéssemos que estar sempre em alerta máximo para não sermos caçados mas uma caça imaginária porque claro existem sempre, nunca deixaram de existir os caçadores e os caçados embora com outras roupagens.
Não Rita, não se pode admitir todas as loucuras e ou /doenças mentais pois se assim fosse teríamos que admitir os pedófilos, os bullies, os agressores sexuais, os psicopatas...
Há uma linha vermelha que tem que ser bem demarcada.
Viver com pessoas depressivas à nossa volta é um autêntico tormento. Ofereço-lhes o meu ombro, mas sobretudo encaminho-as para ajuda técnica.
Eu e outra amiga ainda a semana passada combinamos lanchar com outra, assim num sitio sossegado porque essa 3ª não está nada bem. Anos assim. Sepre com lamurias, com queixas, de baixa, não vai às compras porque aquilo deprime-a, não se arranja porque dá muito trabalho... mas é raro o dia que não recebemos um telefonema com lamentações disto e daquilo, daquele e "daqueloutro". Fomos ambas munidas com várias sugestões de técnicos a quem poderia recorrer e com cartas dadas na praça. Resposta: depois tenho que largar os medicamentos e tenho medo. Foi-lhe explicado que isso não é assim do pé para a maão e blá blá blá. Já me ligou com uma lamentação. A minha resposta foi esta:
- Acabou. Telefona ao teu psiquiatra ou então às farmacêuticas que te vendem essa porcaria. No dia em que decidires fazer uma psicoterapia para te trtares como deve ser estarei cá. Até lá não. Lamento.
Custou-me e muito porque é uma amiga de mais de 20 anos mas teve que ser.
Cp,p esta tenho conhecido ao longo da vida estas pessoas que acabam por ser tóxicas para os outros.
GG
O que eu tenho perdido por aqui, mas tal como a UJM bem disse penso que os comentários aos posts anteriores devem permanecer e falar por si.
ResponderEliminarHá um aspeto fundamental da Depressão que é a culpabilidade, uma vivência subjetiva de indignidade pela interiorização enviesada de um defeito afetivo natural ou de algum ato que conduziu à retirada do amor dos outros. A dimensão de culpabilidade manifesta-se desde o delírio de culpa da estrutura psicótica, à culpabilidade que uma parte da vida mental sabe ser subjetiva, mas que dela não se consegue livrar, típica de estruturas de personalidade globalmente diferenciadas ou de tipo neurótico - elaboração consistente da noção de existência separada, ajuste ao princípio da realidade, capacidade de comentar as suas vivências internas e poder considerá-las estranhas...
Numa dinâmica quasi-neurótica temos ainda a disposição depressiva ou depressividade, uma disposição de personalidade caracterizada por um tédio vital, uma vida pautada por desaires aos quais a pessoa se vai acomodando, uma nostalgia de um ideal passado.
Uma das pessoas que para mim melhor teoriza a depressão é o Coimbra de Matos, grande parte do seu pensamento está compilado no livro "A Depressão", Edições Climepsi.
E, sim, é importantíssimo falar sobre suicídio quando tal tendência se manifesta.
Rita,
"Talvez o objectivo não deva ser curá-la mas sim encontrar nela uma razão e com isso conseguir ultrapassar as dificuldades da vida."
Isso já é quase uma cura, conseguir elaborar as bases do problema e assim ultrapassar as dificuldades é sinal que há cedência de mecanismos problemáticos a mecanismos mais adaptativos.
"Sem os grandes doentes mentais que existiram ao longo da história não teríamos arte, filosofia, religião, ciências, inovação..."
De modo algum, felizmente todas essas áreas beneficiaram do trabalho de pessoas com os mais variados graus de saúde mental. É certo que será positivo poder encontrar algum talento em pessoas gravemente doentes, mas pressupor que só os grandes doentes mentais atingem graus elevados de criatividade e inventividade é um equívoco enorme.
"É perigoso pensar que tudo tem tratamento, corremos o risco de ficar todos iguais."
Não é perigoso pensar que tudo tudo tem tratamento por ficarmos todos iguais, esse risco não corremos, pois felizmente há diversas formas de se ser tendencialmente saudável.
Poderá ser "perigoso" quando esse objetivo é colocado de forma irrealística face a casos exceicionais de pessoas tão gravemente perturbadas que terão invariavelmente de beneficiar de cuidados por toda a vida.
"Talvez alguns fiquem com toda a tristeza e outros com toda a vontade e outros com toda a racionalidade e outros com toda a loucura, mas foi esta diversidade que nos fez humanos."
A nossa saúde mental não é um Totoloto, tem uma pré-história e uma história de fatores patogénicos. Todos nós vivenciamos em maior ou menor grau uma panóplia de sentimentos e estados de alma, mas organizações da vida mental maladaptativas que causam sofrimento ou outros tipos de consequências nefastas são outra coisa.
Apesar das confusões, a sua abertura de espírito é bem-vinda.
Um abraço!
Boa noite Ujm, desculpe-me usar este seu canto para responder mas os comentários acima foram-me dirigidos. Assim gostava de dizer que aceito tudo o que foi dito, mas nesta cabeça já não há confusões, quando muito opiniões diferentes das que aqui se explicam. E que não escrevi o comentário a pensar nas pessoas que me responderam, mas sim naquelas que como eu têm problemas, para que a solução passe mais pela aceitação e menos pela tentativa inglória de artificialmente tentar ser “normal”. Também tenho amigos tóxicos, gente que nem eu aturo, que tomam medicação e vão ao médico, mas no fundo não se aceitam. É só isto. Um beijo a todos. Rita
ResponderEliminarRita,
EliminarFez algumas afirmações perentórias que não são do domínio da opinião, são empíricamente incorretas.
Penso que estamos todos absolutamente solidários no combate ao estigma acerca da doença mental o que não invalida que se procure esclarecer as pessoas que, sim, podem, no limite, resolver aquilo que lhes é severamente penoso, contando para isso com quem caminhe incondicionalmente com elas pelo tempo que for necessário.
Se eu não confiar nas potencialidades das pessoas em sinergia com uma boa dose de conhecimento científico e sensibilidade afetiva, bem posso ir ali à Fontes Pereira de Melo entregar a minha cédula profissional.
Claro que cada um é livre de viver como queira, mas há caminhos que valem a pena e esteja descansada que esses caminhos não conduzirão "normalidade artificial" alguma, mas a novas formas de viver de acordo com a unicidade de cada um 😉
Um abraço!
Tenho lido este e os posts dos dias anteriores, difíceis e dolorosos. Nestas alturas, não tenho palavras e sinto que só podemos estar aqui para as pessoas e fazer-lhes sentir que pensamos nelas. Os gestos simples fazem diferença. Como a amiga que traz refeições feitas por ela, embaladas individualmente, para a amiga que acabou de perder um filho muito novo, para que ela se alimente, mas não tenha que cozinhar; os amigos que conduzem amigos ao funeral de um neto para que o avô não tenha que conduzir; a vizinha que traz compras de alimentos essenciais para alguém que não está bem, sem que lhe tenha sido pedido para o fazer; o colega que se oferece para fazer o trabalho de um colega que não está bem mas não pode estar de baixa.
ResponderEliminarComento aqui também para dizer a Rita que senti o texto que escreveu. Vejo as coisas de forma mais relativa, mas também penso que todos temos uma ou outra característica mais acentuada, nalguns casos mesmo muito mais acentuada, e que o contrário também acontece. Também acredito que o resultado disso pode ser muitas vezes criativo e que temos algum caminho a fazer para deixar de estigmatizar.