sexta-feira, setembro 13, 2019

Reportagem da mulher-pássaro





Começo com uma imagem nocturna mas é só para despistar. O tema é outro: a seguir às casinhas seguem-se os passarinhos. 

Deixei de fora os pombos, não que os ache da ralé, do bas-fond do passaral ou coisa quejanda mas por serem bicho muito infestante, especialmente se houver quem os alimente quase à boca. Agora, felizmente cada vez menos. Não há muito, havia uma senhora que, perto de mim, todos os dias, ia para um banco do passeio, que é largo, e levava um grande saco cheio de bocados de pão e de milho. Atraía pombalhada que não vos digo nada, era pombo a vir de todo o lado, parece que ouviam sirene, vinha tudo à uma, uma coisa quase sinistra. Mas ela, coitada, ficava feliz com aquilo, acho que devia pensar que estava a fazer uma boa acção. Só que isto das boas acções, como é sabido, é coisa subjectiva. 
Veja-se a Teresa Guilherme: achava que as que tinha eram das boas e, afinal, deu no que deu, menos que pombo mal arraçado. A ver o que o juíz acha do assunto, se foi o Salgado que as tinha mal alimentadas ou se foi ela que, como aquela senhora no banco, não viu o que estava mais do que à vista. 
Mas isto para dizer que vi muito pombo mas não os fotografei. Também vi passarinho miúdo mas apanhá-los só à fisga ou com tripé. 
À fisga nem pensar, sou do bem. Nunca atirei pedras com fisga a passarinhos; mas os meus amigos da escola e o meu primo mais novo sim e eu, na altura, achava normal, brincadeira de rapazes. Até moí muito a cabeça ao meu melhor amigo, rapaz atilado, gozando com ele por não ser dado a essas aventuras que eu via nos outros rapazes. O meu primo, então, tinha cá uma pontaria. E depois comia-se os passarinhos. E eu gostava. Já fui muito bárbara. Primitiva, mesmo.
Mas, pronto, isto também para dizer que para passarinho miúdo na copa das árvores só à força de muito zoom e muito zoom não é compaginável com vento a dar-lhe ou com estar quase a andar quando disparo

Ou seja, só pássaro de bom tamanho. O chamado passarão. 

Este que estava num declive de areia mesmo à beira-mar era grande. Melro só se for de raça gigante. Não sei o que seja. Habituado ao infinito do mar e ao canto das ondas, não esteve nem aí para mim. Fotografei-o, aproximei-me e foi o que se vê: desprezo.


Aqui abaixo uma menina gaivota, toda mesuras, toda a fazer pose para a imagem ao espelho, coquette e cheia de formosuras. Só falta mesmo uma pulseirinha no tornozelo para ficar ainda mais feminina. 


Esta aqui a seguir não sei se será mesmo gaivota. Mais uma marquesa-gaivota, talvez. Só tapete de veludo, chão, para a menina, só se for alcatifado em verdes e azuis, E toda ela prosa, toda ela andar de gazela, bico escuro, coisa distinta, plumagem em tigresse. Nada de confianças com a plebe.


Segue-se a pernilonga bailarina. Creio que seja uma garça real. Mas não sei. Parecia jovem do Chapitô, andando sobre andas. Só sei que levantava o pezinho de cada vez que a suave ondulação trazia a ondinha. Muito atenta, dá ideia que não houve mexilhão tresmalhado que lhe tenha escapado.


Volto-me agora para a praça da vila. O chafariz cheio de pombos gulosos e de gaivotas aventureiras, molham-se, bebem, gozam a vida. Mas alguém se levanta de uma mesa, deixando migalhas ou restos nos pratos, eis que largam o lazer e já aí está a fauna da limpeza. Quer os pombos, quer as gaivotas. Qualquer dia aparece uma nova espécie urbana: a pombota, misto de pombo e de gaivota.

Como disse, pombos não fotografei, só gaivotas. E vejam a pinta desta madame aqui abaixo, andando, toda flauteada, como se fosse gente. Alguém lhe empreste uns óculos escuros, se faz favor.


E quando estão de papo cheio, elevam-se aos beirais e ali ficam a curtir um banho deste generoso e suave sol de Setembro.

Andar à pesca ou atrás dos barcos dos pescadores dá muito trabalho. Andar a rapinar batata frita ou restos de pão pita ainda a saber a hamburguer dá menos trabalho e sabe melhor. Chamem-lhes burras.


E, de regresso às águas, e o sol já a dourar-se para a cerimónia do entardecer, eis uma que se acha um pato ou um cisne, deslizando sobre o lago. Só lhe falta levar auscultadores para ir ouvindo Tchaikovsky, toda na perfeição, alheada das agruras do mundo.


E depois apareceu um ser curioso, patas encarnadas, armada em inspectora, a passar a pente fino o lodo. Só lhe faltava uma lupa ou uns óculos de alta graduação.

A fotografia não está especialmente nítida -- as minhas desculpas. A fraca luz já não me deixou obter melhor definição. Ou isso ou o meu compagnon de route que não parava de chamar por mim. Agora diz que o meu pára-arranca para fotografar passaralhos (quando começa a ficar furioso comigo, trata assim os pobres passarinhos) lhe faz doer as pernas. Como se eu acreditasse. Agora claro que me desconcentra. Veja-se como ficou a fotografia.


E não vos faço perder mais a paciência com tanta passarada. E olhem que só mostrei as que estão a andar ou a nadar ou a repousar. É que tenho bué a voar. Mas poupo-vos.

Termino com um casalinho. Ele ousado, pluma arrebitada, olhar de galaroz, todo pimpão. Ela toda hashtag, #MeToo, sem querer nada com manobras de sedução, toda a ameaçar com denúncia de assédio. Ou isso ou beata, não deu para perceber. Ou, então, mulher honrada, daquelas que não têm ouvidos nem olhos nem neurónios (não ouvi, não vi, não sei de nada). São as piores.


E, por ora, c'est ça (a propos: muitos franceses também por aqui) A luzinha que estou a usar para escrever é discreta, apontada ao teclado,  mas, ainda assim, estou a ser fortemente instada a desligar isto (sendo que isto é luz e computador). Este cavalheiro que aqui tenho ao meu lado não se habitua a ter uma blogger a teclar na sua cama. Não é millennial como eu. estas disparidades geracionais são um problema. Mas, pronto, hashtag vou dormir.

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E um dia feliz a todos vós, passarões e passarinhas.

2 comentários:

  1. #litudo
    #vivaasgaivotas
    #bomfimdesemana
    #sorrisofranco

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  2. Olá Gina,

    #GrandeGina#ex-GiGi
    #SempreInspirada
    #GandaSentido_de_Humor
    #love#love
    #tudoOqueEscreve

    Kisses!

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