domingo, agosto 18, 2019

Nisto da greve do Pardal, Rui Rio e Francisco Louçã e mais uns quantos distraídos mostraram-se unidos na irresponsabilidade e na tremenda falta de sentido de Estado.
O mail de Fernando Frazão, um motorista (que escreve muito bem), explica o que estavam eles a preparar-se para fazer ao País.
Claro que a PGR e as Secretas não andam a dormir e que o Governo, felizmente, também não.
Recomendo ainda a leitura de "A seriedade e o prestígio da greve" de Helena Araújo.


O insuspeito David Dinis escreve no Expresso um artigo onde dá conta de uma coisa que, muito sinceramente, não me espanta mas que deixa a nu a irresponsabilidade dos que criticam a actuação do Governo ao garantir que o País não mergulhasse no caos que os motoristas pretendiam.

Transcrevo alguns pontos:

Motorista que transportou Marcelo avisou para “revolução civil”


Motorista que, em janeiro, transportou Marcelo escreveu um e-mail a ameaçar com uma greve que provocaria uma “revolução civil”. 

Governo mandou para PGR e secretas. email foi enviado há uma semana para uma estrutura do topo do Estado, na sexta-feira, horas antes dos plenários dos sindicatos. E fez soar os sinais de alarme. Não só por confirmar que os motoristas estariam dispostos a seguir uma estratégia de terra queimada, mas...

Em sete parágrafos, que o Expresso pode consultar, o email lembra o exemplo do Chile ou do Brasil 
26 dias foi quanto durou a greve no Chile, o governo caiu.(...)
A população vai revoltar-se e (...) está muito iminente uma revolução civil que pode não ser tão civilizada como o 25 de abril de 1974 (...)
O primeiro dia da greve talvez não tenha grande impacto, mas ao avançar-se para uma paralisação prolongada com a atenção dos media, poderá ser o caos total”, avisava Fernando Frazão, destacando à cabeça que o Algarve seria alvo preferencial “não só pela invasão de turistas, mas pela falta de gásoduto (...)
Nos primeiros dias, o Algarve foi, de facto, a região mais prejudicada pela falta de combustível. Só que o autor não contava com a eficácia da resposta do Governo ao apontar as consequências da paralisação. (...)
No segundo dia as prateleiras dos supermercados irão estar a 20/30% sem produtos de primeira necessidade; os postos de combustível estarão já a acusar rutura de stock, a agricultura começará a abrandar as colheitas para não perder os produtos da época. No terceiro dia as fábricas terão que parar pela falta da matéria-prima como pelo não escoamento do produto acabado; centrais termo-elétricas reduzirão a potncia e dar-se-à uma crise energética instalando-se o caos. (...)
Olhando para nós, uma greve dessas dimensões seria o desastre nacional
(...) A verdade é que a requisição civil travou os efeitos imediatos da greve. Mas durante a semana foram vários os avisos de responsáveis dos vários setores económicos a avisar: se a greve se prolongar por muito mais tempo, será inevitável haver problemas mais sérios.

O Expresso tentou contactar Fernando Frazão, mas sem sucesso.


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Gostei muito de ler o post a seriedade e o prestígio da greve de Helena Araújo no seu blog 2 Dedos de Conversa. A sua escrita é sempre estruturada apesar de espontânea e há uma franqueza inteligente nas suas palavras que dá gosto ler.

Começa assim este post:
in South African History Online
Ultimamente tenho pensado muito numa história que ouvi a um antigo prisioneiro de Robben Island. Fora levado para a ilha já numa fase final do apartheid, e participou nas últimas greves da fome que alguns prisioneiros jovens fizeram nessa época, para exigir a melhoria das condições de vida na prisão. Se bem me lembro, exigiam água quente no duche e outros confortos semelhantes. Os prisioneiros mais antigos discordavam dessas iniciativas, e criticavam-nos imenso por estarem a desprestigiar algo tão sério como uma greve da fome por motivos que lhes pareciam ridículos. Os mais velhos - que tinham lutado para ter água doce em vez de água do mar nos duches, para ter uma cama em vez da esteira de sisal no chão, para acabar com a lista de alimentos e calorias do menu prisional conforme a cor da pele - afirmavam que a greve é a última medida à qual se deve recorrer, e apenas por motivos realmente fortes. Caso contrário, diziam, retira-se seriedade e prestígio a esse instrumento de luta.  (...)
Recomendo a integral leitura pois se há matérias sobre as quais alguma reflexão é necessária.

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(A Helena Araújo está inocente quanto à escolha da imagem da chegada de prisioneiros a Robben Island que, de minha lavra, resolvi colocar junto às suas palavras)

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