Claro que houve a tremenda coragem de Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins, os homens que há 50 anos se montaram em cima de uma bomba (Teresa Lago dixit) e foram por aí afora, pelo espaço adentro, sem saberem se conseguiriam voltar, sem saberem se aquilo não explodiria, se não se desintegrariam todos em mil fanicos, se conseguiriam comunicar com a Base, se seriam devorados por monstros, se o combustível daria, se não morreriam à fome e de sede, para sempre náufragos numa jangada espacial sem possibilidade de resgate. Uma coragem quase insana, quase inumana.
Visto a esta distância, pasmamos como aquela verdadeira geringonça equilibrada num foguetão pronto a explodir, conseguiu a proeza que deixou o mundo pregado à televisão, todos incrédulos, emocionados. Mas correu bem.
E, para que tenha corrido, muita gente trabalhou durante anos, acreditando para além do que é razoável acreditar. Mas acreditaram. Confiantes nos seus conhecimentos, nos seus estudos e trabalhos, nos seus testes e nos seus métodos de trabalho. E foram, certamente, muitos os cientistas e engenheiros que colaboraram para que uma nave espacial, albergando uns valorosos homens, tenha ido à Lua e regressado com os mesmos que levara, prontos para contar as suas experiências.
Ainda hoje se vê aquilo e se pasma: ainda hoje, em certos pontos de Lisboa, na era das comunicações, a cobertura de rede é tal que caem as chamadas. Contudo, foram por aí, pelo vasto espaço sideral, e mantiveram o contacto, ouvimo-los, vimo-los com nitidez, conseguiram trasnmitir o som e a imagem. Afoitaram-se e tudo correu bem.
Quantos cálculos tiveram que ser feitos, quanta programação e simulação teve que ser desenvolvida -- e isto numa era em que os computadores eram a pedal face ao que é hoje a computação.
E se em todos estes festejos, justos festejos, ouvimos falar nos astronautas, foi com surpresa que li o artigo do Madame le Figaro Sans Margaret Hamilton, l’homme n’aurait pas marché sur la Lune. Afinal por trás de tudo esteve uma mulher. Uma matemática. Margaret Hamilton. Fiquei espantada.
Transcrevo da Wikipedia para ser em português:
Margaret Heafield Hamilton (Paoli, Indiana, 17 de agosto de 1936) é uma cientista da computação, engenheira de software e empresária estadunidense. Formou-se na Hancock High School em 1954 e estudou matemática na Universidade de Michigan. Formou-se em Matemática pelo Earlham College no estado de Indiana (EUA) no ano de 1958 e fez pós-graduação em Meteorologia no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Depois de se formar lecionou matemática e francês no ensino médio por pouco tempo, enquanto seu marido terminava a graduação. Mudou-se para Boston, Massachusetts para fazer pós-graduação em matemática pura na Universidade Brandeis. Em 1960 assumiu uma posição interina no MIT para desenvolver programas de predição climatológica nos computadores LGP-30 e PDP-1 (no Project MAC de Marvin Minsky) para o professor Edward Norton Lorenz no departamento de meteorologia Foi diretora da Divisão de Software no Laboratório de Instrumentação do MIT, que desenvolveu o programa de voo usado no projeto Apollo 11, a primeira missão tripulada à Lua. O software de Hamilton impediu que o pouso na Lua fosse abortado.
Na NASA, a equipe de Hamilton foi responsável por estar à frente do software de orientação de bordo da Apollo, necessário para navegar e pousar na lua, e suas variações usadas em várias missões (incluindo a Skylab, posteriormente).
Apollo 11
O trabalho de Margaret Hamilton evitou que o pouso na lua da Apollo 11 fosse abortado. Quando faltavam três minutos para a Apollo 11 pousar na lua, vários alarmes do módulo lunar começaram a tocar. O computador ficou sobrecarregado com atividades do radar de aproximação, desnecessárias para a aterragem.
No entanto, devido à arquitetura robusta do software, o sistema continuou funcionando de maneira que as atividades prioritárias interrompessem as menos prioritárias. Mas ela sabia, por ter escrito o código do computador, que ele seria capaz de realizar o pouso, pois foi programado para desconsiderar as tarefas desnecessárias no momento da alunissagem. A falha foi atribuída a um erro humano na lista de comandos a serem executados pelos astronautas.
Margaret publicou mais de 130 artigos, atas e relatórios relacionados aos 60 projetos e seis programas importantes nos quais ela esteve envolvida. Em 22 de novembro de 2016 foi premiada com a Medalha Presidencial da Liberdade pelo presidente dos Estados Unidos Barack Obama, honraria recebida por seu trabalho sobre o desenvolvimento do software de voo a bordo das missões Apollo da NASA (...)
O vídeo abaixo é muito impressionante. Uma homenagem extraordinária.
8:07 p.m. Mojave Desert. Moonlight strikes more than 107,000 solar mirrors to create a portrait of Apollo 11 computer programmer Margaret Hamilton. Bigger than New York’s Central Park, the portrait is a tribute to Hamilton's contributions to the Apollo program and the field of software engineering.
E agora Margaret Hamilton por ela própria
E eu só me interrogo: porque é que só hoje me dei conta do trabalho dela, da relevância da sua intervenção? Por ser mulher? Porque os trabalhos de programação passam despercebidos à maioria das pessoas? Ou fui eu que andei distraída? Na volta foi isso. Tudo.
Parabéns por ter trazido isto. Obrigado.
ResponderEliminar!972, Agosto na aldeia a sul da Estrela, chegado de dois anos de ausência.
No fresco da noite, o avô com vida da 1ªGG em França, oficina e madrugadas cedo a cavalo sob o céu de estrelas, filosofando dever haver algures um relojoeiro universal, usava normalmente relógio num bolso do colete e olhando para cima: pouco crente de o homem ter ido à Lua.
E olhar hoje para a imagem da senhora com Obama,
ocorrer-me a figura triste do pacóvio que lhe sucedeu.
Valente descoberta a sua.
Gostei.
Tantas vezes figuras centrais ficam na penumbra.
ResponderEliminarEu ignorante me confesso também nunca tinha ouvido falar da senhora.
Uma rica semana!