Um dia, os historiadores, sociológos, antropólogos, psicólogos e afins haverão de analisar o nefasto papel dos jornalistas na degradação da democracia e da cultura das pessoas. Não posso falar das pessoas em geral mas falo, com convicção, das pessoas em Portugal.
E nem vou aqui falar no que os programadores televisivos fazem, promovendo a divulgação de toda a espécie de artistas de meia tigela, sem qualquer qualidade, porcaria sobre porcaria, por esse país fora. Nem vou falar na exploração de desgraças e delinquências que é feita nos programas da manhã e da tarde. Nem vou falar na não divulgação dos bons compositores e intérpretes, dos bons escritores, dos bons pintores, escultores, bailarinos, actores, na não divulgação de investigadores, bons cientistas, inesquecíveis professores, abnegados médicos, grandes arquitectos e engenheiros, excelentes profissionais das mais variadas especialidades.
Não. Vou falar apenas nos espaços informativos.
E o que tenho a dizer é que os jornalistas, para além do mais, estão a degradar a sua profissão. O espaço que os jornalistas dão a comentadores, a gente a quem põem um microfone à frente, é sinistro para o jornalismo e para a qualidade da informação.
Não me parece que os jornalistas devam monopolizar todo o espaço informativo mas deveriam garantir que a escolha daqueles a quem dão a palavra é criteriosa. Lembro-me, por exemplo, de Fareed Zakaria. Gosto de ver os seus programas. Ele abre espaço a muita gente mas é gente preparadíssima, gente inteligente e culta a quem ele enquadra muito bem, colocando questões pertinentes ou observações irrepreensíveis.
Aqui não. Aqui os telejornais são invadidos por toda a espécie de gente, quer através de reportagens absurdas, em que colocam perguntas estúpidas a gente que apanham na rua, sem qualquer critério, quer através de comentadores-avençados que invadem os noticiários. A uma mulher que não percebe nada de coisa alguma ou a um homem ressabiado com a vida, a gente que, mal se apanha com uma câmara à frente, diz o que lhe vem à cabeça sem saber do que fala, é aberto espaço informativo e/ou de opinião como se fossem representativos de qualquer coisa quando nem a eles próprios sabem representar-se. Uma coisa que não se aguenta de tão nefasta e perversa que é, uma coisa que enerva e que deveria preocupar quem tenha dois dedos de testa.
Eu sei que não devia dizer isto, até porque sou anti-violência, mas é o que me ocorre: nisto dos incêndios quase me apetece que alguém invada o estúdio e dê um par de estalos àqueles jornalistas que para ali estão a empolar, a dramatizar, a atiçar incêndios e a alimentar o ego dos incendiários. Para eles aquilo é um festim, um happening televisivo, mas a mim aquilo revolta-me, enjoa-me, apetece-me nunca mais ver televisão.
Alguém devia explicar àqueles estúpidos que não há incêndios que comecem espontaneamente num monte de palha, num terreno abandonado, no SIRESP ou num ministério. Um incêndio começa porque alguém o provoca. Ponto. E é isso que tem que ser combatido. Um incêndio começa por uma de três razões: negligência, acidente ou má fé.
Portanto, deveria ser isso que deveria passar nas televisões:
Não provoque incêndios deliberadamente ou por maldade. Se o fizer, irá de cana e pagará uma multa que o deixerá nas lonas.
Ou:
Se souber de vizinhos, familiares ou gente parva dada a comportamentos negligentes (fazer queimas ou queimadas em lugares ou épocas desaconselhados para isso, ou atear fogueiras ou coisas do género) ou com taras pirómanas, avise de imediato as autoridades.
E se, em vez de passarem, durante horas a fio, imagens dantescas que incentivam os maníacos e de ouvirem gente a dizer toda a espécie de inanidades, gente maledicente e que gosta de se queixar de tudo e de todos, passassem reportagens sobre o que aconteceu aos que foram apanhados nas teias da justiça por terem pegado fogo a seja o que for, bem mais educativo seria. Mostrem gente que se tenha arrependido, mostrem gente que dê tudo para poder voltar atrás e não ter feito o que fez. Sejam criteriosos, caraças, sejam inteligentes.
Se os desleixados e doentes souberem a que se arriscam e se se sentirem merecedores de censura e repulsa social, talvez se tratem, talvez se inibam da próxima vez que sintam vontade de fazer porcaria.
E, nisto tudo, volto à mesma: qual a missão da ERC? Nenhuma? Fazerem de mortos? Parece que a qualidade da comunicação social, em especial das televisões, pode ir-se degradando progressivamente que os da ERC não mexem uma palha. Não tem uma acção educativa, persuasiva, influenciadora. Nada. Serve para quê, então? Alguém me diz?
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Já agora: tanto comentador anti-PS que levam às televisões, tantos, tantos, tantos cagalhoças em horário nobre, tantos troca-tintas, tantos engraçadinhos, tanta parvalhona, tanta intelectual de pacotilha, tanto cabotino, tanto pseudo, tanto palhaço, tanto beatinho-apertadinho, tanta gente que, uma forma ou de outra, tenta arrasar tudo o que o António Costa decide ou faz, tudo o que o governo quer levar adiante... e, afinal de contas, as sondagens revelam que os portuguesas se marimbam para essas opiniões da treta e pensam pela sua cabeça: o PS já está praticamente com o dobro das intenções de voto do PSD, o CDS a caminhar para a total irrelevância, um dia destes a valer menos que o PAN. Portanto, se a ideia de enxamear as televisões com aquela gente era dar cabo do PS parece que o tiro está a sair-lhes pela culatra.
Não obstante, algum efeito nefasto tanta falta de qualidade e de boa informação há-de ter na cabeça dos portugueses nem que seja incentivar o culto da proverbial tendência portuguesa para a desvalorização do que é bom e para cultivar a desgraça e o espírito depreciativo.
Portanto, por uns motivos ou por outros, está na hora de alguém fazer aquela gente das televisões mudar de rumo. Penso eu de que.
Portanto, por uns motivos ou por outros, está na hora de alguém fazer aquela gente das televisões mudar de rumo. Penso eu de que.
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As pinturas são da colombiana Fanny Sanín e não precisam de ter a ver com o que escrevi para estarem aqui.
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Bem. E para que isto não acabe num desagradável tom negativo, permitam que, a despropósito, aqui plante uma preciosidade: a Canção da Paciência. José Afonso, um grande de Portugal.
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E até já.
E até já.
Concordo plenamente. Como pessoa desde cedo ligada à informação, arrepia-me também o estado lastimoso a que chegou a comunicação social em Portugal. Acho muito bem que os partidos desses direitolas que pululam por tudo o que é tv, jornal, revista política, radio e agência de informação levem uma derrota estrondosa nas próximas eleições. Para não quererem à viva força conspurcar a sociedade com lixo informativo e manipularem as consciências.
ResponderEliminarUma vergonha a comunicação social ,um vale tudo para captar audiências ,o que demonstra a qualidade dos jornalistas que temos ,não há um programa cultural ,teatro ,comédia sei lá ,telejornais em que em vez de informar,se procura fazer opinião ,jornais em que se dá só realce aos crimes e desvarios de alguns ,opinadores de trazer por casa alguns que mais tarde se sabe não são recomendáveis ,enfim ,por isso não contam comigo para estar horas a ver e ler intrujões .
ResponderEliminarSabemos bem que interessa manter uma boa massa bruta para satisfazer os interesses instalados.
ResponderEliminarÉ certo que até às eleições pega-se em tudo o que der, mas parece-me que o tiro sairá pela culatra.
O problema é que quem tanto se apraz com a desgraça alheia com segunda intenções, tem pelo menos um dos pés na psicopatia.
Um abraço.
[(Y)] - [(Y)] - [(Y)]
ResponderEliminar[(Y)] - [(Y)] - [(Y)] = A tradução são 3 Emojis "Polegar para cima", que querem significa o meu total apoio ao post da UJM!!
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